domingo, 14 de junho de 2009

A Igreja brasileira e a síndrome de Nimrode


[Imagem: Torre de Babel, de Pieter Bruegel]

Por Leonardo Gonçalves

Quando Deus criou o homem, o fez com um propósito. Ele desejava que este se espalhasse por toda a terra, levando a sua imagem, semelhança e glória (Gn 1.8). Foi em Gênesis 11.4 que os homens se rebelaram contra o designo e decidiram fincar o pé em um lugar só ao invés de se espalhar. Eles desejaram ter seus nomes conhecidos em um crescimento localizado. Liderados por Nimrode, estes homens se ajuntaram em Babel, com o intuito de fazer notória e grandiosa a sua obra a fim de obter fama ao invés de se espalharem sobre a terra. Algo muito semelhante pode ser visto na igreja brasileira contemporânea. A cada dia que passa, podemos perceber um maior número de pastores, líderes e denominações acometidos da síndrome de Nimrode. Eles desejam a fama antes de qualquer coisa, querem tornar seus nomes conhecidos, levantar a bandeira dos seus ministérios, exaltar suas denominações, tudo isso através da construção se suntuosos templos, formando ao redor de si um império, ao invés de se preocuparem em levar a glória do evangelho aos continentes e ilhas remotas.

O plano de Deus, de Gênesis ao Apocalipse, sempre foi resgatar a humanidade perdida em todos os cantos da terra. Vemos no capítulo 12 de Gênesis a revelação do evangelho para todas as famílias da terra. Todos os povos da terra seriam abençoados em Abraão (Gl 3.6-8). Infelizmente os seus descendentes, a linhagem de Israel, cometeram o grave erro de pensar que Deus era propriedade exclusiva deles; esta nação jamais teve uma visão missionária como Deus queria. O que segue então é a história de um povo que, apesar de escolhido por Deus, conseguiu distanciar-se do criador e do seu plano para as suas vidas, apropriando-se da Lei de Deus - que tem como base o amor (Mt 22.37-40) – e transformando em uma religião legalista e exagerada, que promove mais escravidão que libertação. Israel enfurnou-se, trancou a porta da salvação para eles e para outros, e ao invés de proclamar a glória de Deus entre os povos (Sl 67.2-3; Sl 96.1-3), passou a odiar os gentios e samaritanos.

É impossível fazer uma leitura do episódio do Antigo Testamento e não traçar um paralelo com a igreja brasileira contemporânea. Infelizmente, nossos pastores estão mais preocupados em construir impérios do que contribuir com o reino de Deus. A maioria não quer investir em missões simplesmente porque a igreja fundada no exterior não pode ser legalmente incluída no patrimônio da igreja mãe. Não bastasse isso, existe ainda o preconceito. Conheço um missionário que, depois de um período de grande escassez no campo, regressou a sua igreja com um pedido de auxilio financeiro. O pastor, entre tantas desculpas que poderia ter dado, preferiu ser franco, direto: “Eu vou pegar o dinheiro da igreja e gastar com índios? Larga mão de mexer com esse povo e vem logo pra cá, porque aquilo lá não é gente não! Eu vou investir aqui, onde o meu povo pode ver”. Basta um par de horas conversando com este missionário para perceber a profunda ferida gerada por este pastor. Passaram-se dois anos e a chaga ainda não cicatrizou.

Tal como Nimrode, a igreja brasileira (salvo raríssimas exceções) já não possui nenhuma noção do Reino dos Céus, mas continua a congregar-se ao redor dos edifícios (caríssimos), pensando que eles servirão de ponte entre Deus e nós (Gn 11.4). Não existe preocupação com valores espirituais: nossas comunidades só se preocupam com bens materiais, com cargos e poder. Nós confinamos Deus ao nosso gueto denominacional, e não estamos dispostos a ser espalhados pelo mundo a levar o evangelho de Cristo.

Mas para onde este descaminho irá nos levar? Creio que a resposta a essa questão pode ser encontrada na própria bíblia. Jesus declarou que muitos judeus tinham se tornando filhos do próprio diabo (Jo 8.44), tudo porque eles não estavam interessados em entrar no céu, nem facilitavam a entrada de outros.

Desperta, igreja! Desperta!

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Inspirado no livro "Porque a igreja não faz missões?", do pastor José Pontes Filho.

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