terça-feira, 29 de junho de 2010

A LOUCA DA CASA


Por Jonas Madureira

No semestre de inverno de 1899 e 1900, o último grande representante da teologia liberal, Adolf von Harnack, proferiu sua famosa série de dezesseis conferências sobre a “A essência do cristianismo”, na Universidade de Berlim. Essas palestras foram recentemente traduzidas para o português, pela editora Reflexão, sob o título “O que é cristianismo?”. Sem dúvida, trata-se de um conjunto de documentos dos mais importantes e definidores do modus operandi do liberalismo teológico do final do século XIX.

Acredito que esse modus operandi é basicamente marcado pela condenação e eliminação da apologética e da filosofia da religião. Duas disciplinas que eram consideradas até então como imprescindíveis para o bom exercício da teologia. Um exemplo emblemático dessa perspectiva pode ser visto nas palavras que Harnack proferiu na abertura de sua primeira conferência:

A pergunta ‘o que é cristianismo?’ só pode ser respondida em sentido histórico, isto é, pela ciência histórica e pela experiência adquirida na vida ao longo dos anos. Ficam, assim, excluídas as questões levantadas pelos apologistas e pelos filósofos da religião.

Qual a razão dessa condenação? Qual o motivo da aversão à apologética e à filosofia da religião? Essa condenação e aversão é fruto de uma visão de ciência que acredita ser possível excluir elementos que ameaçariam a suposta imparcialidade ou neutralidade acadêmica e científica. Em outras palavras, a exclusão da apologética e da filosofia da religião é resultado de uma crença de que é possível fazer teologia sem pressupostos religiosos.

Essa crença é bastante coerente com o “espírito de época” em que Harnack vivia. No final do século XIX, o positivismo representava uma concepção científica quase hegemônica na Alemanha. Nas diversas disciplinas, predominava o seguinte lema: “Fatos empíricos, nada de especulação e conceitos vazios”. A perspectiva positivista dos “fatos” exigia a eliminação de toda especulação que presumisse o conhecimento das verdadeiras causas dos fenômenos — como é o caso da “teologia clássica”, por exemplo — em detrimento da pesquisa dos fenômenos e de suas relações com as leis naturais.

Outro dado importante é que as “ciências da natureza” (física, química, biologia, etc.) gozavam do status de modelo de “ciência”. Portanto, qualquer disciplina que pretendesse ser científica tinha de investigar o seu “objeto” segundo o método das “ciências da natureza”, ou seja, tinha de investigá-lo a partir da esfera do cientificismo. Um exemplo dessa atitude é a obra Psicologia Fisiológica, de Wilhelm Wundt, mais conhecido como o fundador do primeiro laboratório de psicologia experimental, em Leipzig, em 1879, e que estabeleceu o método da física como o mais apropriado para o concurso da psicologia.

De fato, essa subserviência das “ciências do espírito” (história, psicologia, filosofia, teologia, etc.) às “ciências da natureza” representa a grande tendência presente no final do século XIX. Ou seja, para que disciplinas como a teologia, a história ou a psicologia pudessem ser consideradas como “ciência”, o objeto de estudo de tais disciplinas deveria ser quantificado e submetido a métodos de análise e observação das leis empíricas.

Foi essa subserviência que transformou a teologia numa espécie de “louca da casa”. Veja, na casa das “ciências” (a Universidade), a teologia sobrevive como que aprisionada num sótão, escondida de tudo e de todos — ao menos, presença garantida na biblioteca! Afinal, ela é louca, vive falando de realidades transcendentes, de homens que andam sobre as águas, sobre a ressurreição de mortos, sobre um nascimento virginal, a vida eterna, etc. Temas considerados pela “ciência” como absurdos. Então, uma vez tachada de louca, só lhe restou aceitar sua condição de insanidade. Não é mesmo?

O problema é que se a louca da casa aceitou mesmo tal destino, não aceitou de qualquer jeito. É verdade que, por um lado, ela ficou de fora olhando as outras disciplinas atuando na sociedade, mas, por outro, para não sumir de vez, se limitou a marcar presença nos “seminários teológicos”, que, por sua vez, têm o justo e necessário objetivo de formar missionários e pastores para a igreja.

Porém, eis que surge, em terras brasileiras, uma “luzinha” no fundo da caverna — mas no fundo mesmo! E essa “luzinha” tem um nome curioso, um nome aparentemente mais palatável para o gosto dos que vivem na casa das ciências: chama-se de as “ciências da religião”. Nesse pequeno espaço, cedido por algumas poucas instituições “religiosas”, a teologia de certo modo tem falado. Mas a que preço? Ao preço de falar sem ser apologética e, principalmente, de ter que evitar — sob pena de ter que voltar para o sótão! — defender a existência de sistemas filosófico-religiosos mais consistentes. Ou seja, a louca da casa pode sair do sótão, mas terá de usar sempre a camisa de força da economia, da sociologia, da história, da psicologia, etc. Que dureza, ein?!

“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens” 1Co 1.25

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jesus teve as orações respondidas?















Por Jorge Fernandes Isah


Responda!

... silêncio...

Vou dar mais um tempo para você pensar...

... Refletiu?... Então, diga?... Sim ou não?...

Primeiro, gostaria de dizer que Cristo é a segunda Pessoa da Trindade Santa, portanto, é Deus. São tantos os versículos que apontam a Sua divindade, que é desnecessário indicá-los. Qualquer conhecedor mínimo da Escritura não terá problemas em aceitá-la como verdadeira, pois Ele mesmo diz: “Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou” [Jo 12.44-45].

Segundo, Cristo é 100% Deus e 100% homem. Igualmente há muitos versículos que confirmam esta assertiva. Também creio que o conhecedor mínimo da Bíblia não terá problemas em aceitá-la como verdadeira. E sempre tenho em mente que a humanidade serve à divindade, e, por isso, acredito que a humanidade de Cristo está a serviço da sua divindade, não o contrário. Ou seja, sempre que houver alguma dúvida, apelarei para a divindade do Senhor; exatamente por ela preceder e ser a origem da Sua humanidade. Como está escrito: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” [Gn 1.26]. Em outras palavras, o Cristo-homem existe pela vontade e poder de Deus, sendo Ele o Adão perfeito, o espírito vivificante, o segundo homem, o Senhor, que é do céu, diferente do primeiro Adão, a alma vivente, terrena [1Co 15.45-47]. O que me leva a meditar sobre a eternidade do Cristo-homem. Seria Ele eternamente homem assim como é eternamente Deus?

Apenas para não deixar a pergunta sem resposta, a qual poderei esmiuçar em outra postagem, acredito [sem me aprofundar no assunto], que o Cristo-homem é eterno, ainda que assumisse a natureza corpórea no tempo, pela encarnação, mas desde sempre foi o Verbo, Deus e homem, como os apóstolos dizem:

“O segundo homem, o Senhor, é do céu” [1Co 15.47];
"
Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" [Hb 5.6];
"O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós" [1Pe 1.20];
“No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” [Jo 1.1].

Porque Cristo é, sempre!

Esta afirmação pode parecer contraditória em relação ao parágrafo anterior; acontece que o Cristo-homem veio a ser pleno na encarnação, quando assumiu a forma humana, visto Deus ser Espírito [Jo 4.24]. Porém, como essência, Cristo sempre foi Deus e homem, pois, caso contrário, haveria um dilema: se a natureza humana foi criada [como essência], Cristo não seria imutável, não seria eterno, logo, não seria Deus. E essa possibilidade é inimaginável e inadmissível à luz da Escritura.

Terceiro, Cristo orou várias vezes ao Pai. Também está na Escritura. Sem entrar nos motivos pelos quais Ele orava: se para nos ensinar; conseqüência da comunhão que havia entre Pai e Filho; se para demonstrar humildade, e revelar a obra de Servo Sofredor que viera realizar; esse não é o objetivo do texto. Mas evidenciar que Cristo orava constantemente ao Pai, como fato inegável.

Quarto, como Deus, Ele sabia tudo o que iria acontecer. Portanto, não há possibilidade, nem a factibilidade, de se afirmar que Cristo pediu ao Pai o que não estivesse dentro do plano eterno; como algo realizável a se realizar, como algo exeqüível a se cumprir. Por qual motivo pediria o irreal e o não-existível?

O problema está em se acreditar que Cristo pediria e não seria atendido. Então, sabendo que não teria a sua solicitação considerada, por que oraria? Visto ser um com Pai [Jo 17.21], e estar em plena comunhão com Ele, tinha a resposta, antes de pedir. Como Criador do mundo, sem o qual “nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3], e como sustentador “de todas as coisas pela palavra do seu poder” [Hb 1.3], parece-me improvável Cristo dirigir-se ao Pai pedindo o impossível[1].

Feitos os esclarecimentos iniciais, transcreverei os versículos que supostamente apontam a não concretização, parcial ou total, da oração do Senhor[2]:

1) "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” [Lc 23.34].

2) "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua" [Lc 22.42].

3) “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [Jo 17.15].

Primeiro, Cristo pediu pelo perdão dos que o crucificaram, mas seria apenas daqueles que efetivamente levaram-no à cruz, naquele tempo? Pilatos, os fariseus, os soldados romanos, os judeus? Ou estaria a pedir pelos eleitos? Na verdade a igreja foi quem o crucificou; por nós, Ele morreu [At 20.28; Ef. 5.25;1Ts 5.10, Ap 1.5], não por todos os homens, muito menos os que já estavam condenados antes da fundação do mundo.

Alguém poderá inquiri: “Mas essa realidade já não estava definida? Jesus não sabia que pela Sua morte todos os eleitos estariam perdoados? Por que então clamou ao Pai o perdão?”.

Na cruz, mesmo diante de todo o sofrimento e injustiça cometidas contra Ele, o Seu coração estava tão cheio de amor e misericórdia para com os Seus, os eleitos, que Ele deixou-os evidenciados. Não como um simples exemplo de obediência, humildade, amor, compaixão, mas por ser obediente, humilde, amoroso e misericordioso em verdade. Falou do que o Seu coração estava cheio; falou do que sentia; mesmo sendo eu, você, e os remidos em todos os tempos, culpados pela Sua crucificação. Ele demonstrou o amor com que nos amou, não somente expiando-nos, mas também clamando pelo nosso perdão.

Outra implicação quanto ao sentido da oração do Senhor é dada pelo verso: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus... E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim” [Jo 17.9,20]. Cristo jamais oraria genericamente por todos, indistintamente. Não oraria pelos eternamente condenados, nem por aqueles que não seriam perdoados. Como diz Isaías: “Mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” [Is 53.12]. O sentido de todo o Evangelho é Cristo orando pelos eleitos, o Seu povo, aquele por quem morreu e também ressuscitou.

Segundo, se Cristo pediu ao Pai para afastá-lo do cálice, e não ser crucificado, estaria em contradição, pois, disse: “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora” [Jo 12.27]. Pertencendo-lhe a vida, e sabendo que a daria, e para isso veio ao mundo, por que pediria ao Pai para não dá-la? “Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” [Jo 10.17-18]. Cristo a deu, e poderia muito bem não a dar se quisesse, nem precisaria orar para não dá-la, mas desde sempre quis dá-la, assim como o Pai também quis que o Filho a desse, por amor de nós [Jo 12.30].

Como homem, Cristo inquietou-se, angustiou-se, afligiu-se diante da proximidade da morte, mas isso não quer dizer que Ele tenha, em algum momento, desejado não cumprir a obra que por sua vontade estava prestes a executar. Novamente, entra aqui um dos atributos divinos, a imutabilidade; e Cristo, sendo Deus, tinha a Sua vontade inalterável, perene, eterna. É uma definição complexa, porém, se levarmos em consideração que as duas naturezas de Cristo não se contrapunham, de que não havia oposição entre elas, mas uma coordenação tal que “cada forma de Cristo, como Deus e ser humano, desempenha as suas atividades próprias em comunhão com a outra”[3], jamais poderemos afirmar a mutabilidade do Senhor, e de que, assim, Ele não desejou realizar aquilo a que veio fazer. Não há como aceitá-la nem mesmo como uma mera hipótese, impossível de ser cogitada pelo Filho.

Terceiro, a questão aqui é definir o que seja “mal”. A palavra pode implicar em muitas coisas, desde o pecado cometido pelos eleitos; ao sofrer-se o mal, seja pelos pecados de outros, seja pela influência maligna; até mesmo a alusão direta ao diabo. A ARA apresenta a seguinte tradução: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno”. Os versículos anteriores e posteriores dizem que o Senhor está a falar que o “mal” é o “sistema” que odeia e odiará cada vez mais tudo o que se refere a Deus, inclusive aos eleitos; porque Ele nos deu a palavra do Pai, “e o mundo os odiou, porque não são do mundo assim como eu não sou do mundo... não são do mundo, assim como eu do mundo não sou” [v. 14,16].

A alegação é de que Cristo orou para que fossemos livres do mal, mas os crentes não o foram, visto passarem por perseguições, sofrimentos, tribulações, dores, morte, etc. Sendo assim, a oração do Senhor não teve “eficácia” junto ao Pai, que não nos livrou do mal. Dizer que a palavra significaria “livrar-nos da condenação”, é apenas a tentativa de se mudar o foco da questão, pois Cristo sabe perfeitamente que o eleito “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” [Jo 5.24], “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” [Jo 10.28]. Portanto, jamais será condenado.


Mas será esse sentido impróprio?


Em várias passagens, Cristo orou por algo que sabidamente aconteceria, inapelável. Por exemplo, ora para que sejamos um com o Pai [Jo 17.21]; para o Pai guardar aqueles que deste a Ele [Jo 17.11]; para que fossemos enviados ao mundo, assim como o Pai o enviou ao mundo [Jo 17.18]; para sermos santificados na verdade, sendo a palavra do Pai a verdade [Jo 17.17], etc.

O verso que talvez clarifique o significado de “mal” aqui é: “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” [Jo 17.12]. Evidencia-se o sentido de “preservação dos santos”, do Senhor nos resguardando da condenação, ao ponto em que nenhum dos que o Pai lhe deu se perderia. Cristo cumpriu e cumprirá a Sua missão de guardar e cuidar dos Seus, mesmo nos momentos em que a Igreja passe por aflição, dor, sofrimento. Estaremos sempre mantidos por Ele, para Ele, como está escrito: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” [Rm 8.35].

Alguém poderá dizer: “Mas o significado de mal em Jo 17.15 não é esse. O termo refere-se ao Maligno, o diabo, visto a palavra grega usada ser ‘ho poneros’, a mesma utilizada em Mt 13.19”.

Tenha o “mal” o sentido de mau, maligno, dano, malfeitor, Satanás, etc, o certo é que Cristo nos preservará de sucumbir ao mal, de sermos destruídos por ele, enganados, feitos discípulos do mal, pois a nossa salvação foi planejada e executada de tal forma que somos preservados para ela, porque mediante a fé estamos guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo [1Pe 1.5]. Fomos reservados para o glorioso dia de Cristo, cuja missão foi a de nos salvar, mas também a de nos guardar completa e finalmente da condenação.

Portanto, a conclusão é: todas as orações de Cristo foram atendidas, confirmadas na palavra do próprio Senhor: "Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste" [Jo 11.41-42]. Aqui o significado de ouvir não é apenas escutar, mas de ser atendido, ter a oração respondida, positivamente. Cristo estava à porta do sepulcro de Lázaro, o qual ressuscitaria como cumprimento da oração de Jesus. E tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro sai para fora” [Jo 11.43].

E o defunto saiu.

Notas: [1] O fato do Senhor ser o Deus do impossível, e para Ele tudo ser possível, não quer dizer a realização daquilo que não estiver decretado eternamente. Isso implicaria na não-imutabilidade divina, na não-perfeição, na não-santidade, sugerindo que Deus é passível de engano, visto ser necessário corrigir seus planos e adequá-los aos acontecimentos no decorrer da história. E esse, como sempre digo, não é Deus, mas um "deusinho chulé", feito à imagem e semelhança do homem imperfeito e volúvel.

[2] Desenvolvi o texto a partir da preciosa pergunta do irmão Natan de Oliveira, no post anterior: “Como você explica a oração de Jesus ‘Senhor perdoa-os porque não sabem o que fazem...’?”. E por nunca ter considerado a questão, decidi refleti-la aqui detalhadamente, mesmo eu e o Natan termos iniciado o debate na seção comentários, já citada.

[3] Teologia Sistemática, de Franklin Ferreira e Alan Myatt, Editora Vida Nova, página 489, citando Mark Noll.

Fonte: KÁLAMOS

A Água Branca e a Mesa Branca



Por Pr. Marcos Granconato

No bairro da Água Branca, em São Paulo, existe uma igreja evangélica cujo pastor é difícil de ser definido em sua teologia. Alguns dizem que ele é liberal; outros que é adepto da teologia do processo; outros ainda dizem que ele é expositor do teísmo aberto. Pessoalmente, suspeito que ele seja tudo isso: uma espécie de ornitorrinco teológico – o tipo de pastor que ensina qualquer coisa que pareça moderna ou pouco ortodoxa, deixando a maioria das pessoas contentes, diante de um pregador que tem a “mente aberta”, muito diferente dos “cabeças duras” que defendem o cristianismo histórico.

Até aí, nada de novo. O meio evangélico está repleto desses novos pastores de perfil intelectualista, considerados representantes da vanguarda do pensamento cristão e vistos pelo povo ignorante como filósofos profundos muito à frente de seu tempo. Poucos crentes estão preparados para perceber que, na verdade, as idéias desses teólogos pós-modernos são carentes não só de profundidade, mas também de alicerce escriturístico sólido, chegando a ser heréticas. De fato, longe de serem inovadores em suas concepções, os tais pastores são apenas proponentes atuais de heresias bem antigas. Sabiam que o ornitorrinco tem veneno?

Mesmo sendo somente mais um entre os tais teólogos sofisticados de hoje, o pastor a que me refiro chama a atenção com colocações cada vez mais ousadas e distantes dos pressupostos básicos do cristianismo. Por exemplo: ele ironiza qualquer noção sobre os juízos de Deus, questiona a ética cristã clássica baseada na Bíblia e apresenta aos seus ouvintes um deus novo, bem diferente do Deus de Abraão, de Moisés e de Paulo.

Recentemente, porém, o pastor do bairro da Água Branca se superou, ao fazer comentários que arrancaram aplausos efusivos dos espíritas! Sim, do famoso pessoal da “Mesa Branca”. De fato, num artigo que escreveu, sua visão se mostrou tão longe da Sã Doutrina que um site kardecista publicou o texto com plena aprovação e chamou seu autor de “pastor com ‘P’ maiúsculo”!

Por que esse elogio veio de pessoas tão distantes do evangelho? Bem, o que ocorreu foi o seguinte: conforme noticiado nos jornais, os jogadores evangélicos do time do Santos se recusaram a entrar numa entidade espírita de apoio a crianças com paralisia cerebral para distribuir ovos de Páscoa. Evidentemente, todos os incrédulos massacraram os jogadores. Nada de surpreendente… O que chocou muitos crentes, porém, foi a manifestação do pastor da Água Branca que, unindo-se aos inimigos da fé, escreveu o artigo acima aludido, condenando a atitude dos jogadores.

Entenda bem o problema: é claro que nenhum crente deve se opor ao belo trabalho de ajuda às pessoas deficientes. Aliás, nenhuma outra religião tem uma história tão rica em ações em prol dos que sofrem como o Cristianismo. Porém, o que os cristãos devem saber é que é errado realizar obras sociais de mãos dadas com os expoentes da mentira (2Jo 9-11). É também errado praticar a solidariedade fazendo isso de forma a promover o nome de uma instituição herética, cujos membros praticam boas obras não para a glória de Deus, nem por terem nascido de novo, mas sim visando a uma reencarnação melhor (2Co 6.14-17). Aliás, é bom lembrar que “práticas do bem” assim motivadas não valem nada, pois, para Deus, só conta a piedade procedente da verdade (Ef 4.24). Por isso, os crentes não devem se associar com os espíritas, nem mesmo para distribuir ovos de Páscoa! O mestre da Água Branca, porém, não levou nada disso em conta e criticou com vigor os atletas crentes, arranhando a imagem deles. O veneno do ornitorrinco está nas unhas!

Condenar a atitude dos atletas, contudo, não foi nada perto dos conceitos de espiritualidade que o pastor da Água Branca expôs naquele mesmo artigo. Longe de harmonizar-se com Paulo, para quem a base da espiritualidade é a habitação do Espírito Santo no homem que crê em Cristo (1Co 2.12-16), o mestre da Água Branca enalteceu as crenças em geral, apontando como válida a espiritualidade supostamente presente em todas as religiões, sem nenhuma exceção. Segundo ele “a espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé”, ou seja, para o tal pastor, a legitimidade exclusiva da espiritualidade cristã (cf. At 4.12; Ef 4.4-5) é uma triste falácia!

Como se não bastasse esse chocante desvio, o pastor, na sequência de sua argumentação, condenou a discussão sobre temas como céu e inferno, autoridade exclusiva das Escrituras, homossexualismo, reencarnação, evolucionismo e outros assuntos tão importantes para a formação de uma mentalidade verdadeiramente cristã. Ele sugeriu que discutir esses temas é prática sem qualquer relevância, cujo resultado é somente a criação de divisões entre as pessoas. Portanto, segundo sua concepção, o dever pastoral e cristão de corrigir o erro, admoestar na verdade e condenar a mentira (2Co 10.4-5; 2Tm 4.1-5) não deve ser posto em prática, pois gera barreiras e ataques pessoais, o que é ruim para a sociedade como um todo (será que o pastor esqueceu o que Jesus disse em Lucas 12.51-53?).

Depois, para fechar com chave de ouro, o tal pastor concluiu seu texto defendendo a aproximação de todos os credos. Sim, budistas, muçulmanos, cristãos, hinduístas, enfim, todos os devotos de todas as tradições de fé, no entender do nosso amigo, devem dar as mãos e juntos lutar contra o sofrimento humano “que a todos nós humilha e iguala”.

Foi o máximo! O pessoal da Mesa Branca explodiu de alegria (fez lembrar 1Jo 4.5). Finalmente, os espíritas encontraram um pastor que, como eles, ataca a “visão radical e exclusivista” dos crentes e reconhece a validade do kardecismo. Mais do que isso: acharam alguém que se une a eles na afirmação de que todas as crenças são boas, posto que servem para desenvolver a espiritualidade dos homens!

Para nós, contudo, os crentes de verdade, ficou a tristeza de ver mais uma vez a água branca, cristalina na verdade, da doutrina bíblica, se tornar turva na boca de supostos pastores cristãos, enquanto os proponentes de antigas doutrinas do diabo acrescentam mais uma cadeira ao redor da sua mesa branca, a fim de brindar a chegada de um novo amigo. Ah, o maior predador do ornitorrinco é a serpente!

Soli Deo gloria

O texto abaixo foi escrito por Marcos Granconato, e publicado aqui com sua autorização. O autor do texto é Bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida, Atibaia, São Paulo, onde é professor de teologia sistemática e ministra cursos de história da igreja. É também formado em Direito pela Universidade São Francisco, em Brangança Paulista. Formou-se em 2009 no Mestrado em Teologia Histórica no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, da Universidade Mackenzie, em São Paulo. É pastor da Igreja Batista Redenção, em São Paulo, e foi um dos preletores na 3ª Conferência FielPara Jovens, em 2005.

Fonte: Blog Fiel

Criação: verdade ou mito?


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

Richard Dawkins escreveu recentemente um livro insolente, cujo título é: Deus, um delírio. O propósito deste proclamado autor é ridicularizar a fé cristã e negar acintosamente a criação. Em breve, porém, tanto Richard Dawkins quanto sua obra estarão cobertos de poeira e Deus estará, como sempre esteve, imperturbavelmente assentado em seu trono de glória. Nenhuma doutrina é mais combatida atualmente do que a verdade exposta em Gênesis 1.1: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. De onde veio o universo? Para responder a essa questão, várias teorias foram criadas:

1. A teoria da geração espontânea - A teoria da geração espontânea diz que o universo deu a luz a si mesmo. Não houve um criador nem uma causa primeira. Essa posição pode ser sintetizada na seguinte sentença: “Ninguém vezes nada é igual a tudo”. A ciência prova que o universo é formado de massa e energia. Também a ciência atesta que o universo é governado por leis. Sabemos que massa e energia não criam leis nem as leis criam a si mesmas. Logo, as leis foram criadas. Por quem? Pelo acaso? A resposta está na Bíblia: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Se é inimaginável para nós ver um relógio sem pensar que um relojoeiro o fez. Se é impossível para nós ver uma casa sem pensar que um pedreiro a construiu. Muito mais estonteante é pensar que esse vasto universo surgiu espontaneamente.

2. A teoria da explosão (Big Bang) - A teoria do Big Bang diz que o universo surgiu de uma gigantesca explosão cósmica. A pergunta é: Será que o caos pode gerar o cosmos? Será que a desordem pode gerar a ordem? Será que uma colossal explosão pode gerar um universo com leis, movimentos, harmonia e propósito? Seria mais fácil acreditar que se jogássemos para o ar milhões de letras, elas cairiam na forma de uma enciclopédia. Seria mais fácil acreditar que se lançássemos uma bomba atômica numa região, levantar-se-ia dessa poeira uma cidade com praças e jardins. A desordem não produz ordem nem o caos produz o cosmos. Os astrônomos chegam a dizer que o diâmetro do universo deve chegar a 10 bilhões de anos-luz. A velocidade da luz é 300 mil quilômetros por segundo. Sendo assim, se tomássemos uma nave espacial percorrendo a fantástica velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, gastaríamos 10 bilhões de anos para ir de um extremo ao outro. Será que uma gigantesca explosão produziu esse vasto universo governado por leis? Sabemos que a terra é o lugar adequado para nossa sobrevivência. Seria isso produto do acaso ou de uma explosão? Se estivéssemos mais pertos do sol, seríamos queimados; se estivéssemos mais longe, morreríamos congelados. Precisaríamos mais fé, para aceitarmos a teoria da explosão como origem do universo do que crer que, no princípio criou Deus os céus e a terra.

3. A teoria da evolução das espécies - Charles Darwin em 1859 lançou em Londres o livro Origem das Espécies. Esse livro tornou-se o credo de milhões de pessoas a partir do século dezenove. Hoje, ensina-se a evolução nas Escolas e Universidades como se essa teoria fosse uma verdade científica. Segundo Darwin o mundo é o produto de uma evolução de milhões e milhões de anos. Essa evolução é regida pela seleção das espécies, ou seja, a sobrevivência do mais apto. O supracitado livro de Darwin tem mais de oitocentos verbos no futuro do subjuntivo (suponhamos). Trata-se de um amontoado de suposições. O relato de Gênesis, porém, está de acordo com as descobertas da ciência. Somos seres programados geneticamente. Deus colocou em nós os códigos de vida. Podemos ver mutação de espécies, mas não transmutação. Você pode ter diversos tipos de cães, mas jamais verá um cachorro se transformando num leão. Você pode ter diversos tipos de macacos, mas jamais verá um macaco se transformando em homem. Está correto o enunciado: “A ciência corretamente analisada jamais entrará em contradição com a Bíblia corretamente interpretada, pois ambas têm o mesmo autor: Deus”. Reafirmamos, portanto, nossa fé: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Dízimo é válido nos dias de hoje?


Por André Aloísio

O dízimo nos moldes que nós temos no Antigo Testamento não é mais aplicável nos nossos dias. No Novo Testamento nós temos as ofertas voluntárias para sustentar a obra de Deus.

A Epístola aos Hebreus, principalmente os capítulos 9 e 10, deixa bastante claro que todas as cerimônias do Antigo Testamento foram abolidas com a vinda de Cristo, pois elas apenas tipificavam Aquele que viria, eram sombras da realidade que é Cristo. Além dessa epístola, Paulo fala constantemente sobre a abolição das cerimônias do Antigo Testamento no Novo Testamento, como em Gl.4.8-11, Cl.2.8-23, etc. Assim, a questão é determinar se o dízimo fazia parte da lei cerimonial ou da lei moral. A lei moral é permanente (Mt.5.17-18) e a cerimonial, como eu disse acima, é transitória. Assim, dependendo de onde o dízimo se encaixa, ele é válido ou não para os dias de hoje. Quando analisamos o Antigo Testamento percebemos que o dízimo estava totalmente amarrado ao sistema sacrificial daquele tempo, e havia vários tipos de dízimo (Lv 27.32; Nm 18.21-28; Dt 12.6-17; 14.22-28; 26.12). Estando dessa forma ligado aos sacrifícios e ao sacerdócio veterotestamentário, o dízimo como era praticado no Antigo Testamento é impraticável nos dias de hoje. Assim, ele está incluso dentro da lei cerimonial e, dessa forma, não é mais aplicável no Novo Testamento.

Alguns usam a passagem de Mateus 23.23 para defender que o dízimo é válido atualmente. Mas é importante observar que, apesar do Novo Testamento começar sua narrativa com o nascimento de João Batista e de Jesus, a Nova Aliança só começou, de fato, quando Jesus morreu (Mt 26.28; 27.51; Cl 2.14; Hb 9.11-17). Assim, quando Jesus disse o que está escrito em Mt 23.23, eles ainda estavam no Antigo Testamento. Portanto, essa passagem não pode provar a validade do dízimo para o Novo Testamento.

Outros tentam defender a validade do dízimo com a passagem de Hebreus, capítulo 7. Porém, nessa passagem o autor da carta apenas mostra a superioridade de Cristo em relação ao sacerdócio do Antigo Testamento usando Melquisedeque como um tipo de Cristo, pois Arão (representando o sacerdócio veterotestamentário) pagou dízimos a Melquisedeque na pessoa de Abraão, mostrando sua inferioridade em relação à Melquisedeque. O objetivo da passagem não é falar sobre a validade ou não do dízimo para os dias de hoje, mas mostrar a superioridade do sacerdócio de Cristo.

Dito isso, é importante mencionar que, atualmente, muitos "cristãos" estão prontos para negar a validade do dízimo para os nossos dias, não porque querem dar mais, mas porque querem dar menos, ou até mesmo nada. Para esses eu digo que quem supostamente se converteu ao Senhor, mas não converteu o seu bolso, deve reavaliar sua conversão. O cristão reconhece que não apenas 10% do seu salário pertence ao Senhor, mas todos os seus bens. Assim, o verdadeiro cristão faz planejamentos financeiros para não gastar em coisas supérfluas, a fim de poder contribuir com o máximo possível para o Reino de Deus, voluntariamente. O verdadeiro cristão não busca viver uma vida de luxo, pois seu deus não é o dinheiro, e sim o Senhor, a quem Ele coloca em primeiro lugar.

Tomemos como exemplo a contribuição da igreja primitiva. A viúva no templo deu tudo o que tinha (Lc.21.1-4). Os primeiros cristãos vendiam propriedades e depositavam todo o valor aos pés dos apóstolos (At.4.34-37). Os pobres da Macedônia contribuíram acima de suas posses (II Co.8.1-3). Esse é o padrão que o cristão deve seguir.

Devemos também lembrar que os pastores que Deus designou para pastorearam o rebanho precisam de sustento, sendo responsabilidade da igreja provê-lo (1Co 9.3-14; ). Portanto, as ofertas voluntárias também são usadas para compor o salário do pastor, provendo os recursos materiais necessários para que ele continue anunciando o Evangelho.

Para aqueles irmãos que congregam em igrejas onde o dízimo é praticado (como também é o meu caso), tenho recomendado que continuem contribuindo com o dízimo, mas considerando-o em seus corações como uma oferta voluntária, e não se satisfazendo em contribuir apenas com a décima parte, mas com o máximo possível, como acontecia na igreja primitiva.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Adoração ou Desperdício?


Por Jonas Madureira

Em A arte e a Bíblia, Francis Schaeffer (1912-1984) disse que “os cristãos não devem se sentir ameaçados pela fantasia e a imaginação. Pelo contrário, os cristãos devem desenvolver a capacidade de, através da imaginação, voar além das estrelas”.

É muito estarrecedora a incapacidade que temos de dialogar com a cultura pós-literária. Temos muita gente lidando com palavras, mas infelizmente pouquíssimos heróis trabalhando com imagens. Seria essa nossa fraqueza uma consequência remota de nossa tradição protestante iconoclasta?

O pastor e ativista social Erwin McManus diz que “orientar a igreja de tal forma que ela se torne uma comunidade inteiramente orientada pelo texto impresso é uma sentença de morte. As pessoas simplesmente não leem”. Vou logo dizendo que não sou contra a cultura do livro e sim contra a ideia de que o livro é o único recurso útil para expressar o pensamento ou uma ideia. Por isso, acredito que é urgentemente necessário desenvolvermos a arte de capturar e produzir imagens que comuniquem as verdades do Evangelho em nosso contexto.

Porém, acredito que, para realizar tal proeza, seja necessário dilatarmos o nosso conceito de adoração, orientado exclusivamente para a música e o ensino da palavra. Você já parou para pensar que a moçada pós-literária, universitária, e que ainda está presente em nossas igrejas, só tem dois espaços para participar da liturgia? Os caras ou podem cantar e tocar ou pregar. Nada mais que isso!

Pois é, nosso conceito de adoração precisa ser dilatado o quanto antes para o uso da escultura, da pintura, do cinema... Mas para que isso aconteça, precisamos ultrapassar duas dificuldades. De um lado, a cultura de massa, de entretenimento, que é meramente consumista e individualista; e, do outro, a cultura da justa “luta pelo pobre”, que por razões aparentemente coerentes vê nas artes o diletantismo de uma sociedade do desperdício.

Veja, alguém poderia muito bem dizer: “tem muita gente morrendo de fome para que a igreja fique preocupada com a arquitetura de seus templos e a arte de suas liturgias!” Quem de nós nunca ouviu esse discurso? O próprio Jesus ouviu algo assim quando um de seus discípulos resmungou porque uma mulher havia derramado um bálsamo caríssimo sobre sua cabeça: “Para que este desperdício?”, disse o discípulo, “Este perfume poderia ser vendido por muito dinheiro e dar-se aos pobres”. Porém, não podemos nos esquecer do que disse Jesus, logo em seguida: “Ela praticou boa ação para comigo... Onde for pregado em todo mundo este evangelho, será também contado o que ela fez” (Mt 26.7-13).

É isso. Até breve!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Qualificações dos Presbíteros: Justo

Juliano Heyse (editor)

antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si Tt 1:8

Introdução

Esta é uma qualificação que faz parte de um trio que aparece no fim da lista de Tito: justo, piedoso e que tem domínio de si. Trata do relacionamento para com os outros homens (justo), para com Deus (piedoso) e para consigo mesmo (tem domínio de si). Só aparece aqui em Tito e aponta para a justiça de uma maneira geral, ao estilo de Rm 13:6-8.

Grego

Em Tito δικαιοζ - dikaios

Strongs - reto, justo, vituoso; num sentido mais restrito, dar a cada um o que merece e isto em um sentido judicial; emitir um juízo justo em relação aos outros, seja expresso em palavras ou mostrado pelo modo de tratar com eles

Rienecker e Rogers -

Outras versões

Outras traduções do mesmo termo em português:

Almeida Revista e Atualizada (ARA)justo
Nova Versão Internacional(NVI)justo
Almeida Revista e Corrigida(ARC)justo
Nova Tradução na Linguagem de Hoje(NTLH)justo
Tradução Brasileira(TB)justo

Comentários

Broadman – íntegro ou justo (cf. 1 Ts 2:10), já que ele terá que arbitrar disputas entre outros.

D. A. Carson (-)

Jamieson, Fausset e Brown para com os homens.

João Calvino Ele chama de justo, aquele que vive entre os homens sem causar dano a ninguém.

John Gill íntegro nos procedimentos dele com os homens, dando a cada um o que é devido; correto e sincero nas suas conversações com os santos; e fiel nos seus conselhos, admoestações e reprimendas.

John MacArthur (-)

Matthew Henry Justo em coisas que concernentes à vida civil, e retidão moral e eqüidade nos tratamentos, dando a cada um o que é devido.

New American Commentary O presbítero deve ser "justo" ("correto", "íntegro")." Ele deve estar comprometido em fazer o que é certo.

William MacDonald Em sua atitude para com os outros o presbítero deve ser justo. Em relação a Deus, ele deve ser piedoso. E quanto a ele mesmo, deve ter domínio de si.

Conclusão

A palavra aqui não tem o sentido técnico, teológico, ligado à justificação; mas é aquela justiça encontrada no homem correto, equânime, que dá a cada um o que é devido. Trata-se de um cumpridor das leis e que não demonstra preferências e parcialidades. Isso é muito importante porque o líder na igreja atua em grande medida como juiz (1 Co 6:5). Ora, quando um líder comete um erro de julgamento, ainda mais quando parece ser proposital, isso é destrutivo para o corpo e tira completamente a credibilidade dele. Parcialidade, falsidade, injustiça não combinam com a maturidade cristã esperada do presbítero.

Próximo Artigo: Piedoso


Fontes

Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento – William MacDonald – Ed. Mundo Cristão
The Broadman Bible Commentary – Broadman Press
The MacArthur Bible Commentary – Thomas Nelson Publishers
Bíblia OnLine 3.00 – SBB
Definindo o que são presbíteros – artigo de D.A.Carson - http://www.bomcaminho.com/dac001.htm
The New American Commentary – Broadman Press
Chave Linguística do Novo Testamento Grego – Ed. Vida Nova

Tradução (onde necessário): Juliano Heyse

Sinceros, mas enganados!


Por Esli Soares

Como filho desta geração, nascido nesse caldeirão de misticismo travestido de piedade, eu vi muita coisa acontecer: o dente de ouro, o cair no espírito, a unção do riso ou do choro, os encontros... “é tremendo”. Depois descobri que isso tudo tinha acontecido 20 ou 30 anos atrás, em outros lugares do mundo, e – como aqui – pouco tempo depois, esses que foram ungidos, que receberam o poder, estavam, se não pior, do mesmo jeito que antes, e buscavam novas unções para si. Reafirmo: esses movimentos não me impressionam, se isso é do Espírito, devo admitir que o “Espírito” está atrasado.

Essas práticas “novas” – já não tão novas assim – esses costumes diferentes, esse misticismo, essa necessidade pelo novo, inusitado, essa absorção de elementos heterodoxos nas igrejas, me lembraram uma das muitas experiências vividas por Israel durante os 40 anos de peregrinação no deserto, registradas no Livro do Êxodo, no cap. 32; 1 a 6:
"Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão e lhe disse: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe terá sucedido. Disse-lhes Arão: Tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e trazei-mas. Então, todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este, recebendo-as das suas mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então, disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. Arão, vendo isso, edificou um altar diante dele e, apregoando, disse: Amanhã, será festa ao SENHOR. No dia seguinte, madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se. "

Moises subiu ao monte Sinai e passou ali 40 dias, durante os quais Deus escreveu com o próprio dedo nas tábuas de pedra as Palavras da Aliança. Mas o que chama a atenção nessa passagem, é a volição do povo de Israel. Bastaram 40 dias, a ausência de Moisés, e o povo perverteu o coração. Esse povo se sentia abandonado, então corre atrás do sacerdote que, pressionado, cede ao pedido da multidão: “faça-nos um deus que vá adiante de nós”. Sem ter coragem de dizer não, Arão pede todo ouro para trabalhar em prol desse projeto. Surpreendentemente o povo pega todo o ouro que possuía, unidos como um só e ofertam para esse deus. Um detalhe ainda mais surpreendente é que ao término da fundição do bezerro, Arão não só faz um altar na frente dele como, também, conclama festa santa ao Senhor.

É preciso compreender quem era esse povo. Eles conheciam bem a Deus. Eles viram as 10 pragas; passaram a pés secos pelo Mar Vermelho; comeram o maná e as codornizes enviados por Deus; beberam água da rocha em Refidim; em batalha, venceram aos amalequitas e no pé do Sinai, eles receberam do Próprio Deus, os 10 mandamentos. De dia, a presença do Senhor os conduzia na jornada pelo deserto com uma coluna de nuvens os protegendo do sol escaldante; à noite a proteção e direcionamento vinham da coluna de fogo que aquecia e iluminava a fria escuridão.

Esse povo tinha grandes experiências sobrenaturais com Deus. Ele era o povo escolhido, era para eles que Deus se revelava. Mas essas experiências sobrenaturais não foram acompanhadas de obediência à palavra de Deus. Talvez, é aqui que a Igreja da atualidade mais se parece com Israel. Nós também queremos mais, e este mais é quase sempre dissociado de real devoção e obediência a Deus. Assim como era para eles, nós também temos a revelação de Deus. Só que para nós, ao contrário do que muitos pensam, Deus está mais próximo. O advento de Jesus, sua morte vicária, substitutiva, nos religou a Deus. Ou seja, tudo o que Israel esperava, para nós é algo concreto, realizado. Mas não é só isso, para que a Palavra de Deus chegasse às mãos de Israel foram necessários 40 dias e as tábuas de pedra. Para nós, em contrapartida, é só abrirmos a Bíblia, bonita, pequena ou grande, de vários modelos, acessível praticamente a todos. Mas mesmo assim queremos mais.

É aí que mora o perigo. O povo sabia onde estava Moises, e parte da vontade de Deus já havia sido claramente revelada. Mas eles tinham necessidades, precisavam de um deus que os atendesse, um deus presente, “próximo”, mais simples, mais fácil. Para atender a necessidade do povo, que pedia “mostra-nos Deus”, Arão faz um bezerro de ouro. O povo não queria outro deus. Na passagem, na maioria das traduções a expressão é: “faze-nos deuses que vão adiante de nós”, mas no original hebraico o termo traduzido por deuses é Elohin, a mesma expressão usada para descrever o Criador em Gn 1;1. E o que foi traduzido como “faze-nos” pode ser facilmente entendido como “mostra-nos”. Aqui percebe-se onde o povo errou. Deus, o único, é quem dita as regras. É ele quem se revela, não adianta o povo insistir, é Deus que coordena as agendas, com um rei, é ele quem controla os encontros e audiências. Não que o povo estivesse realmente abandonado ou perdido. As narrativas anteriores mostram que os anciãos e todo povo é chamado para congregar com Deus. Mas esse mesmo povo que pergunta a Arão: “Onde está Deus?”- Amedrontado, não quer ouvir diretamente a Deus, e prefere que Moisés seja o intermediário (Ex 20;19). É assim conosco também, a igreja do nosso tempo é uma igreja que não quer ouvir a voz de Deus que fala nas Escrituras. Corremos atrás de um modo mais fácil, mais acessível, mais simples e controlável. Queremos intérpretes, mestres, ungidos que nos mostrem Deus.

Erguemos nossos altares diante da imagem que fazemos ou que fazem de Deus para nós. Essa imagem não é, necessariamente, de gesso, de barro ou de ouro, mas sim qualquer simplificação, ou seja, qualquer intenção de minimizar Deus destacando uma ou outra de suas características, em detrimento da plenitude de seu próprio Ser. Buscamos o Deus que cura, ou que liberta, ou que faz prosperar. Achegamo-nos a ele e o cultuamos na expectativa de recebermos suas dádivas. É nesse momento que nos distanciamos da vontade de Deus, e, como no caso de Israel, podemos nos tornar idólatras.

Bastou apenas um pequeno desvio, um errinho simples – lembre-se aquele bezerro era tão somente a representação de IAVEH, o Deus que os tinha tirado do Egito – e o povo claramente quebrou o 2º mandamento. Talvez toda essa história, à primeira vista, não tenha muita relação com as nossas experiências. Mas, assim como Israel tropeçou e caiu na idolatria, nós também, se não prestarmos atenção, nos tornaremos idólatras e estaremos passíveis da mesma condenação. A sinceridade de Israel nessa passagem não é questionável. A idolatria deles não está em quererem outro deus, mas em fazer para si uma imagem do Deus libertador. O bezerro era a figura de um dos deuses egípcios. O que Israel fez foi misturar o que foi revelado (Ex 20) com o que era cultural. Tal mistura produziu idolatria.

Não é diferente para nós. Buscamos um relacionamento com esse deus fragmentado, pequeno, controlável – eu sirvo a Deus do meu jeito, dizem – Queremos o poder de cura ou o de libertação, e queremos do nosso jeito, no nosso tempo, e forçamos uma interação com a divindade: “eu determino...”, “receba, receba...”, “Deus vai opera hoje aqui, você crê?” Não estamos dispostos a obedecer à voz do Único Deus soberano, o Deus Revelado, de quem, com reverência e santo temor, devemos nos aproximar de acordo com suas próprias orientações. Misturamos o Deus da Bíblia, com conceitos culturais, pensamentos filosóficos ou afirmações cientificistas; a “onda” é interpretar a Bíblia e o Deus da Bíblia a partir do sentimento, para isso usam até a “física quântica”. Não se engane isso é espiritismo barato, que se apropria de teorias científicas para introduzir valores e conceitos fora da Bíblia, diminuído Deus, é exaltando o homem e sua pretensa decisão ou liberdade.

Cuidado! Erros sutis provocam grandes desgraças, introduzir uma mentira para fazer a verdade ser mais facilmente aceita, é sacrificar a ídolos! É trazer fogo estranho ao altar! A condenação é certa, e o castigo de Deus é duro. A desobediência leva à morte, só nessa ocasião cerca de 3000 homens foram mortos por ordem de Moisés (Êxodos 32;28). Nadabe e Abiú, filhos de Arão, morreram porque fizeram o que Deus não tinha ordenado (LV 10;1 e 2). Uzá morreu junto a Arca da Aliança, pois por zelo, tentando impedi-la de cair, tocou na Arca, e isso era proibido (2 Sm 6;6 a 8).

Sinceridade não é sinônimo de verdadeira adoração, Jesus afirma que os samaritanos cultuavam a Deus no monte Gerizim (Jo 4;22), mas sem conhecimento da vontade de Deus, esse culto era tão condenável quanto a hipócrita observância das leis do templo pelos judeus. As pessoas podem estar sinceramente enganadas, e isso não as fará menos enganadas. É o conhecimento da Verdade que liberta (Jo 8;32) e não a sinceridade que nos torna aceitáveis.

Por fim, a omissão é igualmente culpada, Arão foi responsabilizado pelo desvio do povo, e só não morreu pela intercessão de Moises (Dt 9;20). Tolerar o erro, não é o mesmo que amar o irmão que erra. Somos chamados, vocacionados, capacitados pelo Senhor, com dons (Ef 4;7) para ensinar – trazer conhecimento da Verdade que liberta – com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado (Ef 4;12) e não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro (Ef 4;14). Será que estamos atentos a isso (2Pe 3:17)? Estamos conferindo nossa rota no mapa que é a Bíblia (2Jo 1;9)? Será que o nosso culto é feito como Deus nos instruiu (Jo 14;21,Hb 11;6, 1Co 11:23)? Ou temos trazido elementos do Egito (Lc 21;34)? É fogo estranho que temos em nossos púlpitos (2Pe 2:1)? Ou o martelo que esmiúça a penha, o fogo consumidor (Jr 23;29), a Verdade que liberta (Jo 8;32), a Palavra de Deus que é apta para discernir as intenções do coração humano (Hb 4;12)?
Em Cristo, Esli Soares

Sua Bíblia Merece Confiança?













Por Jorge Fernandes Isah

Há algo que realmente não entendo, e do qual não li, até agora, nenhuma explicação plausível para o sua veracidade. Os exegetas e hermeneutas reformados(1) sempre afirmam que a Escritura é inerrante, divinamente inspirada e infalível, contudo, esse conceito não é corroborado em relação às cópias e às traduções. Algumas simples perguntas:

Primeiro, se as cópias e traduções não são infalíveis, como saber se o original é?... Talvez, respondam: o texto bíblico afirma que a Escritura é infalível... Tudo bem, concordo. A Escritura diz isso de si mesma. Mas se o que temos são cópias e traduções do original, o qual já não existe, é possível inferir então que nem tudo que está escrito na Bíblia é correto, certo? Já que elas (as cópias) não são infalíveis, inerrantes e divinamente inspiradas, como saber se o que está escrito é certo ou errado?

Segundo, outros diriam: O volume de cópias contendo um mesmo princípio e texto revela que ele é verdadeiro... Mas se as cópias não são infalíveis, não é possível ao erro ser copiado inúmeras vezes e constar de inúmeras cópias, permanecendo como erro, a despeito da quantidade de provas da sua existência?

Terceiro, Deus, o qual garantiu a infalibilidade, inerrância e inspiração da Bíblia não seria poderoso o suficiente para "garantir" que as cópias(2) também permanecessem tal como os originais, e fossem fielmente transmitidas nos séculos vindouros? Por qual motivo Ele não preservaria essas qualidades às cópías, visto que elas chegariam ao Seu povo, no futuro, como a expressão da Sua revelação ao homem?

Muitos teólogos e estudiosos dizem que apenas os originais ou autógrafos são inerrantes, infalíveis e divinamente inspirados. Porém, como é possível que se saibam inerrantes, infalíves e divinamente inspirados se não existe um só autógrafo na atualidade para comprová-lo? Existindo apenas cópias desses originais, as quais, para eles, não detém as características dos autógrafos, o que teríamos seria a Palavra fiel de Deus? Em outras palavras, o que eles defendem é a impossibilidade de se crer naquilo que as cópias dizem, ainda que o digam dissimuladamente; enquanto outros, descaradamente, confirmam essa falsa premissa.

Pelo que consta, apenas o pr. Paulo Anglada(3) entre os reformados, sustenta a fidelidade das cópias, as quais mantêm as mesmas virtudes dos originais. E junto-me a ele em coro. Não é possível eu pegar a minha Bíblia e lê-la, acreditando ser a Palavra de Deus, sem que ela seja inspirada, inerrante e a infalível revelação do próprio Deus. Do contrário, seria um livro qualquer, e não a regra de fé e vida do cristão. Como os liberais e emergentes asseguram: seria apenas um livro moral entre tantos livros morais existentes.

Portanto, para mim, permanece um enigma essa declaração dos exegetas reformados (pelo menos, parte deles), e os seus argumentos levam-nos a apenas uma constatação: a Bíblia que lemos pode não ser a Palavra de Deus. E isso, no mínimo, é um absurdo, visto que eles mesmos são guiados e orientam outros a guiarem-se por ela.

Pode as cópias conterem algo que o texto original não contém? Não. A própria palavra de Deus garante que a Bíblia é a expressão da revelação divina, e de que Ele preservá-la-ia fielmente contra qualquer corrupção (Dt 4.2, Jr 1.12, Sl 119.160, Mt 24.35,1Pe 1.23-25).

Desde a igreja primitiva, por exemplo, sabe-se que as cartas paulinas eram copiadas e lidas em várias igrejas em continentes diferentes (circulavam entre as inúmeras igrejas), e nem por isso pairou qualquer dúvida quanto à sua legitimidade.

Para mim, é apenas mais uma contradição humana entre tantas que os religiosos evangélicos têm. E o que fica, ao fim, é a Escritura infalível, inerrante, poderosa e inspirada divinamente: a palavra do bom e gracioso Deus(4).

OBS: (1) Não é uma crítica exclusiva aos reformados, nem um tom de criticar os reformados. É que o crente, reformado ou não, no intuito de, muitas vezes, garantir a veracidade de algum dogma ou conceito, se cerca de "garantias" humanísticas provenientes em sua maioria da ciência, em especial da metodologia, arqueologia e filosofia que, ao invés de assegurar, confunde aquilo que é explícito na revelação escriturística. Os reformados acertam na maioria dos seus princípios, mas não dá para concordar naquilo em que erram. É pouco, mas ainda assim, são erros. E o que falar dos batistas (e sou um batista), dos pentecostais e neo-evangélicos?

(2) Interessante que os textos utilizados para as diversas traduções até o séc XIX foram o Texto Massorético hebraico e o Textus Receptus grego (Texto Majoritário; nas língua originais), os quais perfazem mais de 98% das cópias preservadas ainda hoje; onde há uma impressionante uniformidade textual e, historicamente, foram desde o princípio recebidos pela igreja como cópias fiéis do texto original.

A partir da metodologia "crítica" adotada por Westcott e Hort, cuja base é simplesmente a de “confiar” na cópia mais antiga, na cópia mais próxima do original, mormente os códices Sinaítico e Vaticano (texto eclético; menos de 2% das cópias), o espírito cientificista e racional tem procurado levar ao descrédito o Texto Majoritário.
Somente entre os textos ecléticos há mais de 3.000 diferenças entre si, e muito mais em relação ao Texto Majoritário (o qual, como já disse, tem uma uniformidade maravilhosamente admirável).

(3) O pr. Paulo Anglada é pastor presbiteriano da Igreja Presbiteriana Central do Pará, proprietário da Knox Editora, e autor de vários livros. Em especial, abordando a questão escriturística, indico o ótimo livro “Sola Scriptura” (leia o meu comentário ao livro AQUI), Editora Os Puritanos, onde ele defende a suficiência da Bíblia a despeito da descrença liberal (e às vezes ortodoxa) dos defensores do texto crítico, também conhecido como movimento da Crítica-Textual ou Alta Crítica.

(4) Entendo que, como as cópias, Deus preservou as traduções que se baseiam nas cópias igualmente preservadas. O texto eclético, de onde se originou a Almeida Atualizada, Almeida Século XXI, NVI, e a aberração chamada NTLH, mostra a sua “fragilidade” pela quantidade de erros (p.ex., o papiro P66 apresenta uma média de dois erros por versículo), pelo número reduzido de cópias (demonstrando sua pouca ou nenhuma utilização pelas igrejas), e o próprio descrédito com que a igreja o tratou (o Códice Sinaítico foi "salvo" por pesquisadores russos quando estava prestes a ser incinerado no mosteiro ao sopé do Monte Sinai em 1859).

Sabemos também que muitos heréticos dos primeiros séculos corromperam e “reescreveram” parte da Bíblia, como Marcião, por exemplo; os quais, bem como suas doutrinas, foram rejeitados pela Igreja Primitiva, assim como os textos apócrifos. Fica a pergunta: não é estranho que após dezenas de séculos no ostracismo, somente pouco mais de cem anos atrás o texto eclético ganhou “status” de palavra de Deus?.

Assim, creio que a tradução fiel ao Texto Majoritário é a realizada por João Ferreira de Almeida, disponível no Brasil como ACF (Almeida Corrigida e Fiel, editada pela SBTB); e, desta forma, Deus preservou infalivelmente a Sua palavra em língua portuguesa.