sábado, 31 de julho de 2010

Por Que Ler os Puritanos Hoje?


Don Kistler é ministro presbiteriano, fundador da editora Soli Deo Gloria, onde organizou e editou mais de 150 títulos. É também fundador e presidente da editora Northhampton Press. Obteve graduação dupla em oratória pela universidade Azusa Pacific College, na Califórnia e obteve ainda os graus de Mestrado em Divindade e Doutorado em Ministério.

Acredito que existem várias razões para o ressurgimento do interesse pelos Puritanos e seus escritos. Uma delas é que as pessoas estão ficando cansadas de coisas que a religião promete, mas não pode dá-las. Todo tipo de promessas são feitas, mas as pessoas investigam a religião por causa do interesse próprio, e quando estas promessas não se tornam realidade elas ficam desapontadas. Creio que elas também estão cansadas da religião superficial e sem seriedade em sua base. Muitas pessoas não louvam a Deus, porque o deus do qual a maioria ouve falar realmente não é o "Senhor Deus onipotente que reina para sempre e eternamente". Ele é simplesmente "meu amigo", e esta familiaridade certa mente produz desrespeito!

Os puritanos foram homens apaixonadamente obcecados pelo conhecimento de Deus. Eu listei 10 razões do porquê devemos ler os puritanos hoje, e cada uma delas é derivada diretamente da visão Puritana de Deus e das Escrituras.

1) Eles elevarão o seu conceito de Deus a um nível que você jamais imaginou fosse possível, e lhes mostrarão um Deus que realmente é digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu clássico livro Louvor Evangélico, disse: "A razão porque nós adoramos a Deus de uma maneira não séria, é porque não vemos a Deus em Sua glória". O homem moderno ouve falar de um Deus que não é digno de ser louvado. Por que ele deveria louvar a um Deus que quer fazer o bem, mas não pode ser bem sucedido porque o homem nÍ o coopera? Quem afinal é soberano? O homem o é!

Leia os puritanos e você se achará, num sentido espiritual, de alguma forma sozinho. Você se sentirá empolgado com aquilo que está lendo e com o que está sentindo em seu coração, e perceberá que não há muitas outras pessoas que entenderão daquilo que você está falando; esta pode ser uma solitária experiência! Quando você experimenta a visão que Isaías teve de Deus (Is. 6), e percebe que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que a sua mente possa compreender, você perceberá que o homem comum não pensa muito a respeito de Deus, muito menos no nível profundo que você está pensando.

Uma das razões de termos um pensamento tão pobre é porque lemos tão pouco. Ler ajuda-nos a pensar. Nós vivemos numa "cultura fotográfica" (visual) ao invés de uma cultura tipográfica (de letras). Tudo são fotos, vídeos e filmes. Todo trabalho está feito para nós e assim não precisamos lutar com conceitos. Outra pessoa interpreta as coisas para nós com imagens. Há 400 anos atrás, as palavras estavam congeladas, estáticas numa página e estas forçavam os leitores a trabalharem mentalmente com os pensamentos ali expressos.

2) Os Puritanos tinham um "caso de amor" com Cristo, e eles escreveram muito sobre a beleza de Jesus Cristo. Um dos maiores puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo sobre o céu, Goodwin disse: "Se tivesse que ir ao céu e descobrisse que Cristo não estava lá, eu sairia correndo imediatamente, pois o céu seria o inferno para mim sem Cristo". O céu sem Cristo não é o céu, e se Cristo não estiver lá, eu não tenho nenhum desejo de estar lá. Estes homens estavam apaixonados por Cristo.

James Durham escreveu na sua aplicação do sermão sobre Cantares de Salomão 5:16: "Se Cristo é amor como um todo, então todo o resto é repulsivo como um todo". Nós não nos sentimos assim em relação a Cristo, sentimo-nos? Queremos um pouquinho de Cristo, mas também um pouquinho de várias outras coisas. Mas o verdadeiro cristão quer Cristo e nada além de Cristo.

Samuel Rutherford escreveu o seguinte a respeito da beleza de Cristo:

Eu ouso dizer que escritos de anjos, línguas de anjos, e mais que isso, e tantos mundos de anjos como existem pingos de água em todos os mares e fontes e rios da terra não O poderiam mostrar-lhe. Eu acho que Sua doçura inchou dentro em mim até a grandeza de dois céus.


Ah! Quem dera uma alma tão extensa, como se estendesse até a linha final dos mais altos céus para conter o Seu amor. E ainda assim eu poderia conter só um pouquinho deste amor. Oh! que visão, de estar no céu, naquele lindo jardim do Novo Paraíso, e assim ver, sentir o cheiro, tocar e beijar aquela linda flor-do-campo, a árvore sempre verde da vida! A sua sombra seria o suficiente para mim; uma visão dEle seria a garantia do céu para mim.


Se existissem dez mil milhões de mundos, e tantos céus cheios de homens e anjos, Cristo não seria importunado para suprir todos os nossos desejos, e nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem é que sabe qual a sua profundidade até o ponto mais fundo? Coloque a beleza de dez mil mundos de paraísos, como o jardim do Éden em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os odores, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os amores, toda doçura em um só.


Oh! Que coisa linda e excelente isso seria? E ainda assim seria menos para o lindo e querido bem-amado Cristo do que uma gota de chuva em todos os oceanos, rios, lagos e fontes de dez mil mundos.

Isto é alguém que ama a Cristo, não é?

3) Os Puritanos nos ajudarão a entender a suficiência de Cristo. Isto sofre grandes ataques em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas hoje em dia você precisa da psicologia para ajudá-lo no curso de sua vida. Pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com seus sofrimentos espirituais, mas você precisa de algo mais para estas dores emocionais profundas que sente.

Existe um livro escrito por Ralph Robinson — contemporâneo de Thomas Watson em Londres — "Cristo: Tudo e Em Tudo". Robinson escreveu mais de 700 páginas sobre um versículo de Colossenses, "... porém Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:11). Você percebe que a questão é a nossa deficiência em entender a suficiência de Cristo. Se Cristo é tudo em tudo, como podemos olhar para qualquer outro, ou para qualquer outra coisa em busca de respostas?

No seu livro "O Tesouro dos Santos", Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre o versículo de Colossenses. Burroughs faz uma afirmação como segue: "Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai". Nenhum de nós argumentaria contra isso, não é mesmo? Isaías nos diz que Deus verá o "fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito". Assim, Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Burroughs continua: "Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!" Você compreende o raciocínio? Coit ado daqueles cristãos que gastam suas vidas inteiras se queixando acerca de seu destino na vida, como se Cristo não fosse suficiente. Que blasfêmia é dizer que Cristo é suficiente para satisfazer a Deus, mas não é suficiente para satisfazer a mim! Muito antes de existir um Freud, um Puritano solucionou o problema da "balela da psicologia" que tanto tem fascinado e agradado a igreja hoje.

4) Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Isto é o que Pedro disse (2 Pe 1:3-4). As Escrituras nos dão o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertinentes à vida e à piedade. O grito de guerra da humanidade hoje é mais ou menos assim: "Estou buscando a auto-estima", ou "Quero apenas estar de bem comigo mesmo".

Os cristãos não carecem de auto-estima; eles carecem de dispensar estima a Cristo! Isaías descobriu quem Deus era e daí ele soube quem de fato Isaías era. Eu me lembro de ter sido convidado para falar numa palestra em outro continente, e pediram-me para falar de mim. Não posso imaginar nada mais constrangedor do que as pessoas ficarem sabendo algo a meu respeito. No livro"Tesouro dos Santos" de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado "A Incomparável Excelência e Santidade de Deus" e é baseado num versículo do Velho Testamento "Quem é como Tu, oh Deu s, entre as nações?". É um sermão de 35 páginas, e Burroughs fala do esplendor de Deus em metade do sermão. Daí ele escreve sobre a segunda metade do versículo "e quem é como Tu, oh Israel?". Qual é o ponto em questão? Sendo que não há ninguém comparável ao Seu Deus, não há ninguém como você! Assim, você não precisa de auto-estima para sentir-se bem consigo mesmo; você precisa ter "Cristo-estima"; você precisa sentir-se bem com Deus.

Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como poderia alguém ter falta de auto-estima? Cristo deu Sua vida, pagando um alto preço por Sua Igreja. Isso é verdadeiramente digno, meus amigos!

5) Os Puritanos podem ensinar-nos sobre a extrema maldade da natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro intitulado "A Pecaminosidade do Pecado", e Jeremiah Burroughs escreveu "O Mal dos Males". Não há outra doutrina que importe sermos mais ortodoxos do que nesta. Porque se você está fora da doutrina do pecado, você está fora de toda doutrina. Este é o fio da meada que vai abrir todo o invólucro.

Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; as pessoas farão tudo que puderem para evitar o sofrimento, mas farão quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, isso, no entanto, é porque o pecado causa o sofrimento. De fato Burroughs vai ao ponto. O pecado é pior que o inferno, porque o pecado causou o inferno. E a causa é pior que a conseqüência da causa.

Obadiah Sedgwick, um presbiteriano Londrino proeminente e que era um membro da Assembléia de Westminster, escreveu um livro perscrutador "A Anatomia dos Pecados Ocultos" — um tratado sobre o clamor de Davi pedindo para ser liberto de pecados ocultos; aqueles pecados escondidos nos recessos mais íntimos de nossos corações. Aqueles pecados que não são conhecidos de mais ninguém, só por nós e Deus, pecados que são tão maus e condenados como quaisquer outros.

Jonathan Edwards disse o seguinte acerca do pecado: "Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos mau dependendo da honra da pessoa ofendida. Já que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mau". É por isso que não existe esse negócio de pecado pequeno (pecadinho), porque o mais leve pecado é um ato de traição cósmica cometida contra um Deus infinitamente santo.

Simplesmente por seu enorme valor literário, este material não tem preço. As imagens de Edwards em seu sermão"Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" são imbatíveis. Ele compara Deus com um arqueiro e seu arco em mãos; aquele arco está retesado e a flecha está diretamente apontada para o coração do homem; os braços do arqueiro estão trêmulos de tão firme que o arco está ao ser puxado. E Edwards diz que a única coisa que impede Deus de deixar aquela flecha voar e penetrar no sangue do pecador é o beneplácito de um Deus que está infinitamente irado com o pecado a cada dia. Um escritor secular que estava fazendo uma obra sobre Jonathan Edward s foi perguntado por um cristão: "Você sabe, se Edwards tiver razão então aquela flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?". A resposta foi a seguinte: "Às vezes eu não durmo! Só espero em Deus que Jonathan esteja errado".

6) Os puritanos nos ajudarão na vida prática. O livro de Richard Baxter, "O Diretório Cristão", tem sido chamado de "o maior manual de aconselhamento cristão jamais produzido". Antes do presente século todo aconselhamento era feito do púlpito ou durante uma visita pastoral à família para catequizá-la. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. É interessante notar que a palavra "psicologia" significa o estudo da alma. Suke, de onde temos "psyche" e de onde vem "psicologia" quer dizer "alma". Só que hoje em dia o que costumava ser a cura de almas pecaminosas, passou a ser a cura de mentes doentes (pecado virou doença). Esta tarefa foi tirada do pastor, o qual conhece a alma melhor que qualquer outro, e foi dada a conselheiros (psicólogos) dentre os quais, muitos nem mesmo crêem em Deus. Eles não podem curar males espirituais. O "Diretório" de Baxter mostra o gênio de um homem, que pôde aplicar as Escrituras em todas as áreas da vida. O Dr. James Packer chama este livro de o maior livro cristão já escrito.

O livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly é um modelo de manual devocional Puritano. A idéia era a de regular o dia inteiro de um indivíduo pelas Escrituras. O Dr. John Gerstner diz que este livro deu início ao movimento Puritano.

Não havia nenhuma área da vida, criam os puritanos, que não devesse ser regulada pelas Escrituras. Mesmo o tempo a sós deveria ser posto à disposição do uso da piedade. Nathanael Ranew escreveu uma refinada obra — intitulada "Solidão Aperfeiçoada pela Meditação Divina". Esta é uma obra puritana clássica sobre meditação espiritual. A premissa de Ranew é que, mesmo quando o cristão está só ele pode "melhorar-se" a si mesmo usando sua mente para o bem, meditando em Deus e em Seus atributos. Se existisse um 11º mandamento, este seria: "Não deveis desperdiçar tempo".

Os Puritanos escreveram vários destes "manuais". John Preston pregou cinco sermões em I Tessalonicenses 5:17 sobre a oração, entitulados "O exercício diário dos Santos", os quais estão incluídos no "Os Puritanos e a Oração".

R.C. Sproul escreveu o prefácio do livro de Jeremiah Burroughs "Tratado sobre Mentalidade Terrena". Eis aí um livro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa, ao invés de pensar os pensamentos de Deus e segundo Deus.

Os Puritanos tinham característica pastoral forte, além de serem muito teológicos. Christopher Love — sobre quem eu escrevi um livro "Um Espetáculo para Deus" — disse o seguinte, em seu terceiro volume sobre sermões de crescimento na graça:

Não olhe demais para os seus pecados, mas olhe também para a sua graça ainda que fraca. Cristãos fracos olham mais para os seus pecados do que para suas graças recebidas; Deus olha para suas graças e não atenta tanto para seus pecados e fraquezas. O Espírito Santo disse: "Ouvistes da paciência de Jó"; mas Deus leva em conta não o que existe de mau em seu povo, mas o que é bom nele. É mencionado o fato que Raabe escondeu os espias, mas nada é mencionado a respeito da mentira que ela contou. Aquilo que foi bem feito foi mencionado como louvável sobre Raabe. Já o que foi inapropriado está sepultado em silêncio, ou pelo menos não está registrado contra ela e nem como acusação contra ela . Aquele que desenhou o quadro de Alexandre com sua cicatriz na face, desenhou-o com seu dedo sobre a cicatriz. Deus coloca o Seu dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Oh, como é bom servir um Senhor assim, que é pronto a recompensar o bem que fazemos e ao mesmo tempo está pronto a perdoar e esquecer o que é inapropriado. Por isso, vocês que têm só um pouco de graça, lembrem-se que ainda assim Deus terá os Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. (Is 42:3)

7) Os Puritanos nos ajudarão no evangelismo que é bíblico. Grande parte do evangelismo feito hoje é centrado no homem, mas o evangelismo Puritano era centrado em Deus. Os puritanos tinham outra doutrina, que se tem perdido hoje em dia e tem o nome de "buscar" ou "preparação para a salvação". Era uma doutrina amplamente difundida entre os Puritanos ingleses e os reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão "Forçando a entrada no Reino", e antes disso foi ensinada por seu avô Solomon Stoddard. Stoddard escreveu "Um Guia para Cristo", q ue John Gerstner chama de o mais refinado manual sobre evangelismo reformado que ele conhece. Além deste, você poderia querer ler "O Céu tomado por violência" de Thomas Watson.

A doutrina da busca nos ensina que Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve se apropriar destes meios. Deixe-me dar-lhe um exemplo. A fé vem pelo ouvir, e os homens são salvos pela fé, ou melhor, os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus e eu percebo que não tenho fé para crer em Deus para a salvação, o que eu deveria fazer?

E é aqui que entra o "buscar". Se a fé vem pelo ouvir, então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus vai me salvar, seu meio normal será através da pregação do evangelho. Deus não tem obrigação de me salvar se eu escuto um sermão, mas Ele provavelmente não me salvará sem que eu escute um sermão sobre a graça de Deus.

O pecador, então, deve fazer todo o possível dentro de seu poder natural para amolecer o seu coração. Ele não pode merecer a salvação, mas pelo menos ele pode "cooperar" com Deus em sua salvação ao invés de opor-se a Ele. Eu não me torno agradável a Deus por estar buscando — desde que o esteja fazendo sem interesse próprio — mas eu estou sendo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo; e mesmo se Deus não me salvar, a minha punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam: "Se você não pode ir a Deus com um coração reto, então vá a Ele procurando por um coração reto". Busque ao Senhor.

8) Ler os Puritanos nos ajudará a ter prioridades certas. Segundo Coríntios 5:9 diz: "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis". Um puritano falou da seguinte maneira: "O sorriso de Deus é minha maior recompensa; Sua expressão de desaprovação é meu maior temor". Se é verdade que nós nos tornamos como as pessoas com as quais gastamos o nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastarmos tempo com os puritanos. Então, gaste o seu tempo com o melh or! O livro "Temor Evangélico" de Jeremiah Burroughs é sobre termos a prioridade correta. Trata-se de sete sermões sobre Isaías 66:2, sobre o que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus fala "É para este que olharei,..., e que treme da minha Palavra", então seria sábio sabermos o que é tremer da Palavra de Deus.

9) Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é justificado diante de Deus. Outro título do Solomon Stoddard é sua obra prima sobre justiça imputada: "A Segurança da Apresentação, no Dia do Juízo, na Justiça de Cristo". Não tenho como não enfatizar extremamente a importância de ser são e sóbrio sobre esta questão de justiça imputada nestes dias onde tantos não estão sendo sóbrios e claros na eterna diferença entre justiça imputada ou atribuída e justiça infundida. A diferença entre estas duas posições não é só a dist ância entre Roma e Genebra; mas é também a distância entre o céu e o inferno. Eu recomendo para as suas leituras sobre este assunto, o livro "Justificação Somente Pela Fé". Se você quer especificamente um livro puritano sobre esta questão, então leia "Os Puritanos e a Conversão", ou leia o livro de Matthew Mead, "O Quase Cristão Descoberto". Mead lista vinte e seis coisas que uma pessoa deve fazer como cristã. Fazendo estas coisas não prova que ela realmente seja cristã, no entanto não fazê-las prova que ela não é cristã. Não é para a fraqueza do coração. Esta era a versão do século 17 de "O Evangelho Segundo Jesus", 300 anos antes de John MacArthur ter escrito aquela obra preciosa.

10) Finalmente, olhemos para os Puritanos e a Autoridade da Palavra. Sabemos que as Escrituras são Deus falando conosco. O versículo clássico de Timóteo nos diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus" (literalmente soprada por Deus). E sabemos que seja o que for que Deus diga, nós devemos obedecer. De fato foi isto que o povo de Deus do Velho Testamento percebeu. Em Êxodo 24:7 eles declaram: "Tudo que o Senhor falou nós faremos, e seremos obedientes". Não há nada que o Senhor diga que nós não devamos fazer; e se não o fazemos nós não somos cristãos! A coisa é simples assim!

Um puritano que era membro da Assembléia de Westminster em 1643 escreveu: "A autoridade da Escritura Sagrada, por causa da qual se deve crer e obedecer, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja; mas depende totalmente de Deus (que é a própria Verdade) o autor da mesma. E por isso ela deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus".

Sabemos que quando Deus fala nós devemos ouvir. De fato, grande parte da Grande Comissão é ensinar às pessoas a se submeterem à autoridade da Palavra de Deus "ensinando-os a observar tudo que vos tenho ordenado" (Mt 28:20).

Isto é o que surpreendia as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas ficavam maravilhadas. Qual era a base para a admiração delas? "Ele estava ensinando-as como quem tem autoridade, e não como os escribas".

É exatamente assim que os pregadores devem pregar: com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. "Falai estas coisas, exortai e reprovai com toda autoridade. Não deixe que ninguém te despreze" Tito 2:15. Enquanto afirmamos que se Deus dissesse alguma coisa nós o obedeceríamos, nós nos esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. É a visão da Reforma do ministério do púlpito: quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo e não a de um homem. E isto quer dizer que deve ser obedecida.

Mas o que você escuta após o sermão? O melhor que você ouvirá é "Isto é interessante, terei que pensar sobre isto". Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para ter nossa opinião ou para pensarmos sobre o assunto. Ele nos deu Sua Palavra para que a obedeçamos. O Puritano Thomas Taylor escreveu:

A Palavra de Deus deve ser pregada de tal maneira, que a majestade e a autoridade dela sejam preservadas. Os embaixadores de Cristo devem falar Sua mensagem como se Ele literalmente o fizesse. Um ministro lisonjeador é um inimigo desta autoridade, pois se um ministro deve contar "placebos" e canções doces é impossível que ele não venha trair a Verdade. Resistir esta autoridade ou enfraquecê-la é um pecado temível, seja em homens de alta ou baixa posição. E o Senhor não permitirá que seus mensageiros sejam interrompidos. Os ouvintes devem: a) orar por seus mestres, para que possam transmitir a Palavra com autoridade, com poder e claramente; b) não confundir esta autoridade nos ministros como rudeza ou antipatia, e muito menos como loucura; c) não recusar a sujeição a esta autoridade, nem ficar ofendidos quando ela sobrepuja uma prática onde eles estão relutantes em largar; pois é justo para com Deus apagar a luz daqueles que recusam a luz oferecida.

Deuteronômio 30:20 equipara um Deus de amor com obediência à Sua voz, e diz que é assim que amamos.

Bem, era assim que os puritanos viam as Escrituras. Sua elevada visão de Deus veio de sua elevada visão das Escrituras. E se nós quisermos conhecer a Deus como eles, nós devemos amar Sua Palavra como eles amaram. E este amor aumentará somente através de estudo intenso e diligente. E ler os puritanos é a próxima boa coisa. É como ir a escola com as mentes mais brilhantes que a igreja já teve.

Onde você deveria começar? Recomendo ao iniciante os seguintes títulos:

O Amor Verdadeiro do Cristão ao Cristo Invisível, de Thomas Vincent.


A Maldade do Pecado ou O Dever da Auto Negação, Thomas Watson.


Amostras de Thomas Watson, um pequeno livro de dizeres coletados.


A Graça da Lei, Ernest Kevan; um bom livro sobre o papel da lei na teologia puritana.


Os Puritanos e a Conversão, Os Puritanos e a Oração. Dois excelentes compêndios que dão ao leitor o melhor do pensamento puritano sobre os respectivos temas.


Traduzido pelo ministério "Os Puritanos" e publicado na revista "Os Puritanos" em 1995.

O que os Inimigos de Cristo reconheceram


Por John Stott

Podemos sentir que pisamos em solo ainda mais firme quando observamos o que os inimigos de Jesus achavam dele. Eles por certo não eram tendenciosos, pelo menos não a favor dele. Lemos nos evangelhos que "eles o vigiavam", tentando "apanhá-lo em suas palavras". É de conhecimento geral que, quando um debate não pode ser vencido por meio da argumentação, os que apreciam uma controvérsia transferem a discussão para o campo pessoal. Na falta de argumentos, a lama pode ser um bom substituto. Até mesmo os registros da história da igreja estão cobertos pela lama das animosidades pessoais. Assim era com os inimigos de Jesus.

Marcos menciona quatro críticas (de 2.1 a 3.6). A primeira delas é a acusação de blasfêmia. Jesus havia perdoado os pecados de um homem. Ao fazer isso, ele estava invadindo território divino. Aquilo era uma blasfêmia arrogante, eles diziam. Mas é possível levantar a seguinte questão: se Jesus fosse de fato divino, então ele tinha o direito de perdoar pecados.

Na segunda crítica, seus adversários ficaram horrorizados (pelo menos foi o que eles disseram) com suas ligações com o mal. Ele confraternizava com pecadores. Comia com publicanos. Permitia que prostitutas se aproximassem dele. Nenhum fariseu sonharia ter esse tipo de comportamento. Eles recolhiam suas vestes e evitavam contato com esse tipo de gente, julgando-se justos ao agir assim. Não apreciavam a misericórdia e a ternura de Jesus que, embora "separado dos pecadores", recebeu o honroso título de "amigo dos pecadores".

A terceira acusação é de que sua religião era fútil. Ele não jejuava como os fariseus, ou mesmo como os discípulos de João Batista. Ele foi considerado um "glutão e um beberrão". que veio para "comer e beber". Um ataque assim raramente merece uma resposta séria. Jesus certamente foi uma pessoa alegre, mas não há dúvida de que levava a religião a sério.

Por fim, eles ficaram enfurecidos porque Jesus quebrou o sábado. Ele curou doentes no dia de sábado. Seus discípulos caminharam pelo milharal no sábado, apanhando e comendo milho, o que os escribas e fariseus proibiam por entender que essas atividades eram equivalentes ao trabalho de colher e debulhar. Ninguém, no entanto, tinha motivos para duvidar que Jesus não fosse submisso à lei de Deus. Ele se sujeitou à lei, e quando se envolvia em alguma controvérsia ele recomendava aos seus oponentes que a usassem como árbitro. Ele também afirmou que Deus fez o sábado para beneficiar o homem. Mas, como "Senhor do sábado" ele reivindicou o direito de colocar de lado as falsas tradições dos homens e dar à lei de Deus sua verdadeira interpretação.

Todas essas acusações são banais e carecem de sustentação. Assim, quando Jesus foi a julgamento, seus detratores tiveram que contratar falsas testemunhas para acusá-lo. Mesmo assim, elas divergiam entre si. Na verdade, a única acusação que seus inimigos conseguiram levantar contra ele não era de caráter moral, mas político. Quando o prisioneiro político colocou-se diante dos homens para receber a sua condenação, foi novamente declarado inocente. Pilatos, após várias tentativas covardes de fugir do problema, lavou as mãos publicamente e declarou-se "inocente do sangue deste justo". Herodes não conseguiu encontrar nada contra ele. Judas, o traidor, cheio de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos sacerdotes dizendo: "Pequei, traindo sangue inocente". O ladrão arrependido na cruz repreendeu seu companheiro por desrespeitá-lo e acrescentou: "este homem nenhum mal fez". Finalmente, o centurião, depois de ter presenciado o sofrimento e a morte de Jesus, exclamou: "Verdadeiramente este homem era justo".

Fonte: John Stott

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Cruz e o Eu


Por Arthur W. Pink

Antes de abordarmos o tema deste versículo, desejamos fazer algumas considerações sobre os seus termos. “Se alguém” — o termo utilizado refere-se a todos os que desejam unir-se ao grupo dos seguidores de Cristo e alistar-se sob a bandeira dEle. “Se alguém quer” — o grego é muito enfático, significando não somente a anuência da vontade, mas também o propósito completo do coração, uma resolução determinada. “Vir após mim” — como um servo sujeito a seu Senhor, um aluno, ao seu Mestre, um soldado, ao seu Capitão. “Negue” — o vocábulo grego significa negue-se completamente. Negue-se a si mesmo — a sua natureza pecaminosa e corrupta. “Tome” — não quer dizer leve ou suporte passivamente, e sim assuma voluntariamente, adote ativamente. “A sua cruz” — que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne, mas, apesar disso, é a marca distintiva de um verdadeiro crente. “E siga-me” — viva como Cristo viveu, para a glória de Deus.


O contexto imediato é ainda mais solene e impressionante. O Senhor Jesus acabara de anunciar aos seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de sua morte de humilhação (v. 21). Pedro, admirado, disse-Lhe: “Tem compaixão de ti, Senhor” (v. 22). Estas palavras expressaram a política da mentalidade carnal. O caminho do mundo é a satisfação e a preservação do “eu”. “Poupa-te a ti mesmo” é a síntese da filosofia do mundo. Mas a doutrina de Cristo não é “salva-te a ti mesmo”, e sim sacrifica-te a ti mesmo. Cristo discerniu no conselho de Pedro uma tentação da parte de Satanás (v. 23) e, imediatamente, a repeliu. Jesus disse a Pedro não somente que Ele tinha de ir a Jerusalém e morrer ali, mas também que todos os que desejassem tornar-se seguidores dEle tinham de tomar a sua cruz (v. 24). Existia um imperativo tanto em um caso como no outro. Como instrumento de mediação, a cruz de Cristo permanece única; todavia, como um elemento de experiência, ela tem de ser compartilhada por todos os que entram na vida.

O que é um “cristão”? Alguém que possui membresia em uma igreja na terra? Não. Alguém que afirma um credo ortodoxo? Não. Alguém que adota certo modo de conduta? Não. Então, o que é um cristão? É alguém que renunciou o “eu” e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Cl 2.6). O verdadeiro cristão é alguém que tomou sobre si o jugo de Cristo e aprende dEle, que é “manso e humilde de coração” (Mt 11.29). O verdadeiro cristão é alguém que foi chamado à comunhão do Filho de Deus, “Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9): comunhão em sua obediência e sofrimento agora; em sua recompensa e glória no futuro eterno. Não existe tal coisa como o pertencer a Cristo e viver para satisfazer o “eu”. Não se engane nesse ponto. “Qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14.27) — disse o Senhor Jesus. E declarou novamente: “Aquele que [em vez de negar-se a si mesmo] me negar diante dos homens [e não para os homens — é a conduta, o andar que está em foco nestas palavras], também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.33).

A vida cristã tem início com um ato de auto-renúncia, sendo continuada por automortificação (Rm 8.13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o deteve, foi esta: “Que farei, Senhor?” (At 22.10.) A vida cristã é comparada a uma corrida, e o atleta é chamado a desembaraçar-se “de todo peso e do pecado que tenazmente... assedia” (Hb 12.1) — ou seja, o pecado que está no amor ao “eu”, o desejo e a resolução de seguir nosso próprio caminho (Is 53.6). O grande e único alvo, objetivo e tarefa colocados diante do cristão é seguir a Cristo: seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pe 2.21); e Ele não agradou a Si mesmo (Rm 15.3). Existem dificuldades no caminho, obstáculos na jornada, dos quais o principal é o “eu”. Portanto, ele tem de ser “negado”. Este é o primeiro passo em direção a seguir a Cristo.

O que significa negar completamente a si mesmo? Primeiramente, significa o completo repúdio de sua própria bondade: cessar de confiar em quaisquer de nossas obras para recomendar-nos a Deus. Significa uma aceitação irrestrita do veredicto divino de que todos os nossos melhores feitos são “como trapo da imundícia” (Is 64.6). Foi neste ponto que Israel falhou, “porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3). Esta afirmativa deve ser contrastada com a declaração de Paulo: “E ser achado nele, não tendo justiça própria” (Fp 3.9).

Negar completamente a si mesmo significa renunciar de todo a sua própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino de Deus, se não se tornar como uma “criança” (Mt 18.3). “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Is 5.21.) “Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.22). Quando o Espírito Santo aplica o evangelho com poder em uma alma, Ele o faz “para destruir fortalezas, anulando... sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.4,5). Um lema sábio que todo cristão deve adotar é: “Não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3.5).

Negar completamente a si mesmo significa renunciar suas próprias forças: não ter qualquer confiança na carne (Fp 3.3). Significa prostrar o coração à afirmativa de Cristo: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Foi neste ponto que Pedro falhou (Mt 26.33). “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16.18). Quão necessário é que estejamos sempre atentos! “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Co 10.12). O segredo do vigor espiritual se encontra em reconhecermos nossa fraqueza pessoal (ver Is 40.29; 2 Co 12.9). Sejamos, pois, fortes “na graça que está em Cristo Jesus” (2 Tm 2.1).

Negar completamente a si mesmo significa renunciar de todo a sua própria vontade. A linguagem de uma pessoa não-salva é: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). A atitude de um verdadeiro cristão é: “Para mim, o viver é Cristo” (Fp 1.21) — honrar, agradar e servir a Ele. Renunciar a nossa própria vontade significa dar atenção à exortação de Filipenses 2.5: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”; e isto é definido nos versículos seguintes como auto-renúncia. Renunciar a nossa própria vontade é o reconhecimento prático de que não somos de nós mesmos e de que fomos “comprados por preço” (1 Co 6.20); é dizermos juntamente com Cristo:

“Não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc 14.36).

Negar completamente a si mesmo significa renunciar as suas próprias concupiscências ou desejos carnais. “O ego de um homem é um pacote de ídolos” (Thomas Manton), e esses ídolos têm de ser repudiados. Os não-crentes amam a si mesmos (2 Tm 3.2 – ARC). Todavia, alguém que foi regenerado pelo Espírito diz, assim como Jó: “Sou indigno... Por isso, me abomino” (40.4; 42.6). A respeito dos não-crentes, a Bíblia afirma: “Todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus” (Fp 2.21). Mas, a respeito dos santos de Deus, está escrito: “Eles... mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). A graça de Deus está nos educando “para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tt 2.12).

Este negar a si mesmo que Cristo exige dos seus seguidores é total. Não há qualquer restrição, quaisquer exceções — “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14). Este negar a si mesmo tem de ser contínuo e não ocasional — “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Tem de ser espontâneo, não forçado; realizado com alegria e não com relutância — “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl 3.23). Oh! quão perversamente tem sido abaixado o padrão que Deus colocou diante de nós! Como este padrão condena a negligência, a satisfação carnal e a vida mundana de muitos que se declaram (inutilmente) “cristãos”!

“Tome a sua cruz.” Isto se refere à cruz não como um objeto de fé, e sim como uma experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidos por meio de crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da cruz de Cristo são desfrutadas apenas quando somos conformados, de modo prático, “com ele na sua morte” (Fp 3.10). É somente quando aplicamos a cruz, diariamente, ao nosso viver e regulamos nosso comportamento pelos princípios dela, que a cruz se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Não pode haver ressurreição onde não há morte; não pode haver um andar prático, “em novidade de vida”, enquanto não levamos “no corpo o morrer de Jesus” (2 Co 4.10). A cruz é a insígnia, a evidência do discipulado cristão. É a cruz de Cristo e não o credo dEle que faz a distinção entre um verdadeiro seguidor de Cristo e os religiosos mundanos.

Ora, em o Novo Testamento a “cruz” representa realidades definidas. Primeiramente, a cruz expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus não veio para julgar, e sim para salvar; não veio para castigar, e sim para redimir. Ele veio ao mundo “cheio de graça e de verdade”. O Filho de Deus sempre estava à disposição dos outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos de espíritos malignos, ressuscitando mortos. Ele era cheio de compaixão — manso como um cordeiro, totalmente sem pecado. O Filho de Deus trouxe consigo boas-novas de grande alegria. Ele buscou os perdidos, pregou aos pobres, mas não desprezou os ricos; e perdoou pecadores. De que modo Cristo foi recebido? Que boas-vindas os homens Lhe ofereceram? Os homens O desprezaram e rejeitaram (Is 53.3). Ele disse: “Odiaram-me sem motivo” (Jo 15.25). Os homens sentiram sede do sangue de Jesus. Nenhuma morte comum lhes satisfaria. Exigiram que Jesus fosse crucificado. Por conseguinte, a cruz foi a manifestação do ódio inveterado do mundo para com o Cristo de Deus.

O mundo não se alterou, assim como o etíope ainda não mudou a sua pele e o leopardo, as suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em antagonismo. Por isso, a Bíblia afirma: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). É impossível andarmos com Cristo e gozarmos de comunhão com Ele, enquanto não tivermos nos separado do mundo. Andar com Cristo envolve necessariamente compartilhar de sua humilhação — “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13.13). Foi isso o que Moisés fez (ver Hb 11.24-26). Quanto mais intimamente eu estiver andando com Cristo, tanto mais incorretamente serei compreendido (1 Jo 3.2), tanto mais serei ridicularizado (Jó 12.4) e odiado pelo mundo (Jo 15.19). Não cometa erro neste ponto: é totalmente impossível ser amigo do mundo e andar com Cristo. Portanto, tomar a cruz significa que eu desprezo voluntariamente a amizade do mundo, recusando conformar-me com ele (Rm 12.2). Que me importa a carranca do mundo, se estou desfrutando do sorriso do Salvador?

Tomar a cruz significa uma vida de sujeição voluntária a Deus. No que concerne à atitude de homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato. Mas, no que se refere à atitude do próprio Senhor Jesus, a sua morte foi um sacrifício espontâneo, uma oferta de Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Ele mesmo disse: “Ninguém a tira de mim [a vida dEle]; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la” (Jo 10.18). E por que Ele a entregou espontaneamente? As próximas palavras do Senhor Jesus nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nisto, Ele é nosso exemplo. Citamos novamente Filipenses 2.5: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. Nas palavras seguintes, vemos o Amado do Pai assumindo a forma de um servo e “tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”.

Ora, a obediência de Cristo tem de ser a obediência do cristão — voluntária, alegre, irrestrita, contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento, menosprezo e perdas, não devemos vacilar; pelo contrário, temos de fazer o nosso “rosto como um seixo” (Is 50.7). A cruz é mais do que um objeto da fé do cristão, é a insígnia do discipulado, o princípio pelo qual a vida do crente deve ser regulada. A cruz significa entrega e dedicação a Deus — “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1).

A cruz representa sofrimento e sacrifício vicários. Cristo entregou sua própria vida em favor de outros; e os seguidores dEle são chamados a fazerem espontaneamente o mesmo — “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 Jo 3.16). Esta é a lógica inevitável do Calvário. Somos chamados a seguir o exemplo de Cristo, à comunhão de seus sofrimentos, a sermos cooperadores em sua obra. Assim como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Fp 2.7), assim também devemos nos esvaziar. Cristo “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20.28); temos de agir da mesma maneira. Assim como Cristo “não se agradou a si mesmo” (Rm 15.3), assim também não devemos agradar a nós mesmos. Como o Senhor Jesus sempre pensou nos outros, assim devemos nos lembrar “dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos”, como se fôssemos nós mesmos os maltratados (Hb 13.3).

“Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 16.25). Palavras quase idênticas a estas se encontram também em Mateus 10. 39, Marcos 8.35, Lucas 9.24; 17.33, João 12.25. Esta repetição certamente é um argumento em favor da profunda importância de prestarmos atenção e atendermos às palavras de Cristo. Ele morreu para que vivêssemos (Jo 12.24); devemos agir de modo semelhante (Jo 12.25). Assim como Paulo, devemos ser capazes de afirmar: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo” (At 20.24). A “vida” de satisfação do “eu” neste mundo é perdida na eternidade. A vida que sacrifica os interesses do “eu” e se rende a Cristo, essa vida será achada novamente e preservada em toda eternidade.

Um jovem que concluíra a universidade e tinha perspectivas brilhantes respondeu à chamada de Cristo para uma vida de serviço para Ele na Índia, entre as classes mais pobres. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida desperdiçada!” Sim, foi uma vida “perdida” para este mundo, mas “achada” no mundo por vir.

Carta ao Reverendo Van Diesel

Por Augustus Nicodemus Lopes

[Mais uma carta fictícia. Não existe o Reverendo Van Diesel, pelo menos não com este nome...]

Prezado Reverendo Van Diesel,

Obrigado por ter respondido minha carta. Você foi muito gentil em responder minhas perguntas e explicar os motivos pelos quais você costuma ungir com óleo os membros de sua igreja e os visitantes durante os cultos, além de ungir os objetos usados nos cultos.

Foto do armário do Rev. Van Diesel - óleo santo
importado de Israel
Eu não queria incomodá-lo com isto, mas o Severino, membro da minha igreja que participou dos seus cultos por três domingos seguidos, voltou meio perturbado com o que viu na sua igreja e me pediu respostas. Foi por isto que lhe mandei a primeira carta. Agradeço a delicadeza de ter respondido e dado as explicações para sua prática.

Sem querer abusar de sua gentileza e paciência, mas contando com o fato de que somos pastores da mesma denominação, permita-me comentar os argumentos que você citou como justificativa para a unção com óleo nos cultos.

Você escreveu, "A unção com óleo era uma prática ordenada por Deus no Antigo Testamento para a consagração de sacerdotes e dos reis, como foi o caso com Arão e seus filhos (Ex 28:41) e Davi (1Sam 16:13). Portanto, isto dá base para se ungir pessoas no culto para consagrá-las a Deus." Meu caro Van Diesel, nós aprendemos melhor do que isto no seminário presbiteriano. Você sabe muito bem que os rituais do Antigo Testamento eram simbólicos e típicos e que foram abolidos em Cristo. Além do mais, o método usado para consagrar pessoas a Deus no Novo Testamento para a realização de uma tarefa é a imposição de mãos. Os apóstolos não ungiram os diáconos quando estes foram nomeados e instalados, mas lhes impuseram as mãos (Atos 6.6). Pastores também eram consagrados pela imposição de mãos e não pela unção com óleo (1Tim 4.14). Não há um único exemplo de pessoas sendo consagradas ou ordenadas para os ofícios da Igreja cristã mediante unção com óleo. A imposição de mãos para os ofícios cristãos substituiu a unção com óleo para consagrar sacerdotes e reis.

Você disse que "Deus mandou Moisés ungir com óleo santo os objetos do templo, como a arca e demais utensílios (Ex 40.10). Da mesma forma hoje podemos ungir as coisas do templo cristão, como púlpito, instrumentos musicais e aparelhos de som para dedicá-los ao serviço de Deus. Eu e o Reverendo Mazola, meu co-pastor, fazemos isto todos os domingos antes do culto." Acho que aqui é a mesma coisa que eu disse no parágrafo anterior. A unção com óleo sagrado dos utensílios do templo fazia parte das leis cerimoniais próprias do Antigo Testamento. De acordo com a carta aos Hebreus, estes utensílios, bem como o santuário onde eles estavam, “não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Hb 9.10). Além disto, o templo de Salomão já passou como tipo e figura da Igreja e dos crentes, onde agora habita o Espírito de Deus (1Co 3.16; 6.19). Não há um único exemplo, uma ordem ou orientação no Novo Testamento para que se pratique a unção de objetos para abençoá-los. Na verdade, isto é misticismo pagão, puro fetichismo, pensar que objetos absorvem bênção ou maldição.

Você também argumentou que “Jesus mandou os apóstolos ungir os doentes quando os mandou pregar o Evangelho. Eles ungiram os doentes e estes ficaram curados (Mc 6.13).” Nisto você está correto. Mas note o seguinte: (1) foi aos Doze que Jesus deu esta ordem; (2) eles ungiram somente os doentes; (3) e quando ungiam, os enfermos eram curados. Se você, Van Diesel, e seu auxiliar Mazola, curam a todos os doentes que vocês ungem nos cultos, calo-me para sempre. Mas o que ocorre? Vocês ungem todo mundo que aparece na igreja, crianças, jovens, adultos e velhos... Você fica de um lado e o Mazola do outro, e as pessoas passam no meio e são untadas com óleo na testa, gente sadia e com saúde. Se há enfermos no meio, eles não parecem ficar curados. Pelo menos o membro da minha igreja que esteve ai por três domingos seguidos não viu nenhum caso de cura. Ele me disse que você e o Mazola ungem o povo para prosperidade, bênção, proteção, libertação, etc. É bem diferente do que os apóstolos fizeram, não é mesmo?

Unção de partes íntimas? Fala sério, mano!
Quando eu questionei a unção das partes íntimas que você faz numa reunião especial durante a semana, você replicou que “a unção com óleo sagrado e abençoado é um meio de bênção para as pessoas com problemas de esterilidade e se aplicado nas partes íntimas, torna as pessoas férteis. Já vi vários casos destes aqui na minha igreja.” Sinceramente, Van Diesel, me dê ao menos uma prova pequena de que esta prática tem qualquer fundamento bíblico! Lamento dizer isto, mas dá a impressão que você perdeu o bom senso! Eu me pergunto por que seu presbitério ainda não tomou providências quanto a estas práticas suas. Deve ser porque o presidente, Reverendo Peroba, seu amigo, faz as mesmas coisas.

Seu último argumento foi que “Tiago mandou que os doentes fossem ungidos com óleo em nome de Jesus (Tg 5.14).” Pois é, eu não teria problemas se os pastores fizessem exatamente o que Tiago está dizendo. Note nesta passagem os seguintes pontos.
  • A iniciativa é do doente: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor."
  • Ele chama “os presbíteros da igreja” e não somente o pastor.
  • O evento se dá na casa do doente e não na igreja.
  • E o foco da passagem de Tiago, é a oração da fé. É ela que levanta o doente, “E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5.15).
Ou seja, não tem como usar esta passagem para justificar o “culto da unção com óleo santo” que você faz todas as quintas-feiras e onde unge quem aparece. Não há confissão de pecados, não há quebrantamento, nada do que Tiago associa com esta cerimônia na casa do doente.

Quer saber, Van Diesel, eu até que não teria muitos problemas se os presbíteros fossem até a casa de um crente doente, que os convidou, e lá orassem por ele, ungindo com óleo, como figura da ação do Espírito Santo. Se tudo isto fosse feito também com um exame espiritual da vida do doente (pois às vezes Deus usa a doença para nos disciplinar), ficaria de bom tamanho. E se houvesse confissão, quebrantamento, mudança de vida, eu diria amém!

Mas até sobre esta unção familiar eu tenho dúvida, diante do uso errado que tem sido feito da unção com óleo hoje. De um lado, há a extrema unção da Igreja Católica, tida como sacramento e meio de absolvição para os que estão gravemente enfermos e se preparam para a morte. Por outro, há os abusos feitos por pastores evangélicos, como você. O crente doente que convida os presbíteros para orarem em sua casa e ungi-lo com óleo o faz por qual motivo? Ungir com óleo era comum na cultura judaica e oriental antiga. Mas entre nós...? Será que este crente pensa que a unção com óleo tem poderes miraculosos? Será que ele pensa que a oração dos presbíteros tem um poder especial para curar? Se ele passa a semana assistindo os programas das seitas neopentecostais certamente terá idéias erradas sobre unção com óleo. Numa situação destas de grande confusão, e diante do fato que a unção com óleo para enfermos é secundária diante da oração e confissão de pecados, eu recomendaria grande prudência e discernimento.

Mas, encerro por aqui. Mais uma vez, obrigado por ter respondido à minha primeira carta e peço sua paciência para comigo, na hora de ler meus contra-argumentos.

Um grande abraço,

Augustus

PS: Ah, o Reverendo Oliveira e o Presbítero Gallo, seus conhecidos, estão aqui mandando lembranças. Eles discordaram veementemente desta minha carta, mas fazer o quê...?

PS2: Desculpe ter publicado a foto que o Severino acabou tirando daquele seu armário no gabinete pastoral... ele não resistiu.

O Epicurista Gospel


Por Natan Oliveira

"E dizeis ainda: Eis aqui, que canseira!..." Malaquias 1.13a

"Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz o Senhor... Eis que reprovarei a vossa semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco das vossas festas solenes; e para junto deste sereis levados." Malaquias 2.2-3

Na antiguidade grega surgiram algumas escolas de pensamento filosófico que foram conhecidas como sendo os cínicos, os céticos, os estóicos e os epicuristas.

Os cínicos pregavam que a virtude seria encontrada no despojamento. Para ser feliz o homem, assim como os cães, precisaria de bem pouco. O mais famoso dos cínicos em um dado momento vivia em um barril. Os cristãos em geral não são dados ao despojamento, e geralmente pregam que o problema não está no dinheiro, mas no amor ao dinheiro. Para esta reflexão os cínicos não nos interessam.

Os céticos pregavam que a virtude seria encontrada no desfrutar da vida, uma vez que não existiria verdade absoluta, tudo seria relativo, dependendo da ótica de cada um. O homem então tinha mais que curtir a vida, pois a "única verdade" seria a de que não existem verdades. Os céticos eram reféns da própria concepção filosófica, pois se fosse "verdade" o que os céticos estavam falando, então nem mesmo o pensamento cético estaria correto pois até mesmo a "vedade cética" seria relativa e portanto uma mentira... Era como andar em círculos. Os cristãos em geral não são céticos e costumam ser "donos da verdade", cada grupo cristão pode variar na sua interpretação do que seja cristianismo, mas uma vez posicionado, costuma acreditar na verdade que apregoa. Para esta reflexão os céticos não nos interessam.

Os estóicos pregavam que a virtude seria encontrada na resignação. Para ser feliz o homem deveria se resignar e enfrentar com coragem e honra as circunstâncias que a vida lhe ofereceria. Quando as coisas iam bem os estóicos eram felizes, já quando as coisas iam mal e o cidadão se via num beco sem saída, geralmente a saída estóica recomendada como mais digna e honrada era o suicídio. Os cristãos em geral não costumam ser resignados, muito pelo contrário, quando as coisas apertam, geralmente se tornam mais piedosos e "reclamam" de Deus um posicionamento favorável. Para esta reflexão os estóicos não nos interessam.

Os epicuristas já nos interessam bastante...

Os cristãos de hoje, mesmo sem saber, em geral são epicuristas.

Os epicuristas pregavam que a virtude e a felicidade seria encontrada no prazer.
Se alguma coisa dava prazer, então ela era legítima e deveria ser procurada e desfrutada.

Se por outro lado alguma coisa não dava prazer, poderia ser descartada sem problema algum.

A medida de todas as coisas passava pela bitola do "Isto me dá prazer?", e dependendo da resposta o homem agia e era supostamente feliz.

Muitos supostos cristãos que eu conheço são na realidade epicuristas.

Se o casamento dá prazer ao indivíduo então ele continua casado, se não dá mais prazer e a paixão supostamente acabou, então separam e vão em frente.

Se o culto dá prazer, então é um bom culto e uma "benção" (como se diz), mas se o culto for mais introspectivo e "chato", então está na hora de reclamar ao pastor ou mesmo trocar de igreja para desfrutar de um culto mais "prazeroso".

O cara vai à igreja para se divertir, esquecendo-se de que deve ir lá para oferecer adoração.
Em lugar de reverência e adoração, ele vai ao culto para irreverentemente e da maneira mais “legal” e divertida possível, vai ao culto “desfrutar Deus”.

Como o receber (a benção) é o que está na sua mente, fica evidente que se sente frustrado quando o culto não é divertido.

O pastor deve ser adepto de uma pregação "neurolingüística evangelical" e francamente seguidor do discurso de auto-ajuda para que a pessoa então depois de ouvi-lo, se sinta motivada a pensar que é importante, que poderá seguindo algumas técnicas encontrar a felicidade durante a semana.

Deve o pastor preparar um sermão que seja bem humorado e que tenha intercalado do mesmo algumas piadas inteligentes para que a igreja caia na gargalhada por diversas vezes durante o sermão, e saia do culto com a "alma descansada".

Pregar arrependimento seria uma falha gravíssima, afinal, o cristão epicurista não pensa que vai ao culto para "apanhar", nem mesmo para ser chamado de "pecador miserável", ele vai lá para ouvir sermões do tipo que faz o jogo do contente da Pollyana e só fale de preferência do amor de Deus para com criaturas boazinhas como ele se acha.

Ler a Bíblia só quando são poemas, salmos e histórias interessantes, mas quando o texto fica mais pesado ou difícil de entender... Então não dá mais prazer e deixa-se a leitura de lado e parte-se para um autor mais interessante e mais ligado com os problemas do homem moderno.

Oração? Dá prazer? Se for aquela que os outros possam olhar, e você ali em público de braços erguidos derramando lágrimas e o pessoal ao teu redor pensando... Vejam como ele é espiritual... Estas então valeriam a pena. Mas aquela oração diária e metódica, lá no oculto da noite... Sozinho no quarto... Esta nem pensar....

Estudo bíblico sistemático? Muito chato... Melhor ler caixinhas de promessas e guias de auto-ajuda cristãos de autores famosos.

Teologia sistemática....? De forma alguma! É muito chato e ficar lendo e relendo e harmonizando a Bíblia para entender a verdade... É muito chato e a preguiça não deixa tais cristãos ir muito além do que recitar alguns chavões decorados.

Enfim, as idéias do epicurismo encontraram vasto campo na cristandade moderna.

Tudo o que não dá prazer é deixado de lado, sejam casamentos problemáticos, esposas feias e envelhecidas, criação de filhos, estudo bíblico, oração costumeira, evangelização de amigos e conhecidos, etc e etc...

E então?
E você?

O que regula a tua vida cristã é o prazer ou o que está escrito nas Escrituras?

Tua fé está baseada nos ensinos dos Profetas e dos Apóstolos, ou estaria ela mais para uma minestra evangelical de epicurismo humanista cristianizado?

Para muitos, quando perguntados se são cristãos ou não, seria muito mais sincero responder: Não sou cristão, eu sou um epicurista gospel...

"MUITOS me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: NUNCA VOS CONHECI; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7.22-23

Fonte: Oliveira

Eleição – Deus Escolhe os Seus


Por J. I. Packer

Pois ele [Deus] diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem me aprouver ter miseúcórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. " Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. (Rm 9.15,16)

0 verbo eleger significa "selecionar ou escolher". A doutrina bíblica da eleição consiste em que, antes da Criação, Deus selecionou da raça humana, antevista como decaída, aqueles a quem Ele redimiria, traria à fé, justificaria e glorificaria em Jesus Cristo e por meio dele (Rm 8.28-39; Ef 1.3-14; 2 Ts 2.13,14; 2 Tm 1.9,10). Esta escolha divina é uma expressão da graça livre e soberana, porque ela é não cons¬trangida e incondicional, não merecida por qualquer coisa naqueles que são seus objetos. Deus não deve aos pecadores nenhuma misericórdia de qualquer espécie, mas somente condenação; por isso, é surpreendente, e razão de sempiterno louvor, que Ele tenha decidido salvar alguns de nós; e louvor duplicado porque sua escolha incluiu o envio de seu próprio Filho para sofrer, como portador do pecado, pelos seus eleitos (Rm 8.32).

A doutrina da eleição, como toda verdade acerca de Deus, envolve mistério e, algumas vezes, incita à controvérsia. Mas na Escritura é uma doutrina pastoral, incluída ali para ajudai-os cristãos a verem quão grande é a graça que os salva, conduzindo-os à humildade, confiança, alegria, louvor, fidelidade e santidade como resposta. E o segredo de família dos filhos de Deus. Não sabemos quem mais Ele escolheu entre aqueles que ainda não crêem, nem tampouco a razão por que nos escolheu em particular. O que de fato sabemos é que, primeiro, se não tivéssemos sido escolhidos para a vida, não seríamos crentes agora (pois somente o eleito é trazido à fé), e, em segundo lugar, como crentes eleitos podemos confiar que Deus completará em nós a boa obra que Ele começou (1 Co 1.8,9; Fp 1.6; 1 Ts 5.23,24; 2 Tm 1.12; 4.18). Assim, o conhecimento da eleição por parte de uma pessoa traz conforto e alegria.

Pedro nos diz que devemos "confirmar a [nossa] vocação e eleição" (2 Pe 1.10) — isto é, certificá-la. A eleição é conhecida por seus frutos. Paulo sabia da eleição dos tessalonicenses por sua fé, esperança e amor, a transformação interna e externa que o evangelho tinha operado em sua vida (1 Ts 1.3-6). Quanto mais as qualidades para as quais Pedro exortou seus leitores aparecerem em nossa vida (virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor: 2 Pe 1.5-7), mais seguros estaremos da própria eleição que nos foi concedida.

Os eleitos são, de um ponto de vista, a dádiva de Deus ao Filho (Jo 6.39; 10.29; 17.2,24). Jesus testifica que veio a este mundo especificamente para salvá-los (Jo 6.37-40; 10.14-16,26-29; 15.16; 17.6-26; Ef 5.25-27), e qualquer relato de sua missão deve enfatizar isto.

Reprovação é o nome dado à eterna decisão de Deus a respeito dos pecadores que Ele não escolheu para a vida. Sua decisão é, em essência, não para mudá-los, como os eleitos são destinados a ser mudados, mas deixá-los ao pecado, como em seus corações eles já desejam fazer, e finalmente para julgá-los como merecem pelo que têm feito. Quando em casos particulares Deus os entrega a seus pecados (isto é, remove as restrições à prática de coisas desobedientes que desejam fazer), isto já é o começo do julgamento. Ele se chama "endu¬recimento" (Rm 9.18; 11.25; cf. SI 81.12; Rm 1.24,26,28), que leva inevitavelmente culpa maior.

A reprovação é uma realidade bíblica (Rm 9.14-24; 1 Pe 2.8), mas não a que se relaciona diretamente com a conduta cristã. Até onde os cristãos saibam, os reprovados não têm face, não nos cabendo tentar identificá-los. Devemos, antes, viver à luz da certeza de que qualquer um pode ser salvo, se ele ou ela arrepender-se e colocar sua fé em Cristo.

Devemos ver todas as pessoas que encontramos como possivelmente incluídas entre os eleitos.

O Senhor é o seu pastor?


O rei Davi escreveu, há cerca de 3000 anos, por inspiração divina, a famosa poesia que conhecemos como Salmo 23. Utilizando-se de alegorias do dia-a-dia pastoril, afinal, o rei Davi, havia sido pastor de ovelhas, é nos apresentado uma profunda espiritualidade.

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do SENHOR por longos dias.

Já nos primeiros versos nós encontramos uma descrição da confiança que Davi depositava na pessoa de Deus, Davi era a ovelha; Deus, o Senhor, era o seu pastor. Assim como uma ovelha depende de seu pastor para viver, Davi submissamente confiava na providência de Deus. Ele sabia que não sentiria falta de nada em sua vida. Essa confiança na provisão divina se estendia em todas as faces de sua vida. Seja nas necessidades físicas, como comida ou moradia, seja nas questões psicológicas, alegria ou paz. Para o rei Davi, até o seu repouso e descanso vinham do Senhor, para ele o refrigério, o alívio para a correria dos dias, era dado pelo próprio Deus. Até as veredas da justiça, o caminhar honesto da vida desse homem – que vivia segundo o coração de Deus – eram guiadas pelo Senhor.

“Será que você está disposto a ter uma vida de confiança no Senhor? Está disposto a viver segundo a providência de Deus? Lembre-se Davi era o servo, Deus, o Senhor. Como uma ovelha que depende de seu pastor, Davi está disposto a simplesmente confiar nos desígnios e nas direções de Deus, que sabe os melhores e mais seguros lugares para encaminhar nossa vida. Confie nas ordens que Deus nos dá através de sua palavra, a Bíblia Sagrada, sabendo que ele nos protegerá.”

Avançando um pouco, no verso 4, o Rei Davi destaca que a segurança nas diversas situações da vida viam da presença de Deus. Afirmando que o bordão e o cajado de Deus serviam de proteção para sua vida, Davi não temia nenhum mal, pois ele sabia que vivendo em obediência, Deus o protegeria. É claro que Deus não anda com uma vara e um cajado em suas mãos, nesse verso Davi novamente usa uma figura de sua experiência como pastor de ovelhas, afirmando que a disciplina de Deus, representada pela vara ou o bordão, serve para o seu bem. Em Hb 12;6 a Palavra diz “...porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.”, ou seja, Deus como um pai amoroso ou mesmo como um pastor cuidadoso, usa a vara, o açoite, para nos guiar pelos caminhos melhores. Outra afirmação interessante é que mesmo quando as situações da vida fossem ruis ao ponto da morte rodear o caminho da sua vida, ele não temeria, afinal, a mão de Deus o guardaria, o cajado de Deus manteria longe as adversidades que pudessem ameaçá-lo realmente.

“Será que você está disposto a seguir obedientemente as direções divinas? Ou você age como um animal empacado, teimoso que precisa ser bastante açoitado para ser obediente?”

Já no verso 5 do Salmo 23, o Rei Davi pede que o Senhor prepare uma mesa para ele. Aqui a idéia apresentada no texto nos faz pensar em um banquete, uma festa prepara por Deus a Davi. Quando preparamos um almoço ou um jantar para alguém é porque queremos honrá-lo, ninguém paga a conta do almoço de alguém de quem não gosta. Nessa parte do texto, Davi quer se agradado por Deus, ele quer ser honrado por Deus, a festa que vale a pena para ele é aquela promovida pelo Senhor.

“Será que você está buscando agradar a Deus ou a outras pessoas, para você que honra é a melhor, os títulos e as premiações ganhas ou o valor que vem de Deus?”

No último verso desta linda poesia de louvor e adoração que o rei Davi escreveu inspirado pelo Espírito de Deus, ele nos apresenta a certeza das dádivas do Senhor em sua vida. Para Davi era certo que a bondade e a misericórdia estariam presentes em todos os dias de sua vida e que a casa de Deus seria o lugar aonde ele se sentiria seguro. O Rei Davi tinha certeza que mesmo em meio ao caos, ou correndo risco a vida, afinal Davi tinha adversários que inclusive tentaram matá-lo, ele sabia que Deus estava com ele e o protegia. Deus era bondoso e misericordioso para com ele, Davi sentia-se cuidado por Deus como uma ovelha nos braços amorosos de um pastor cuidadoso, por causa disto ele agia sempre com bondade e misericórdia ao ponto de tratá-las como companhia certa nas jornadas da sua vida. Jesus nos chama agir deste modo, amar ao próximo com o mesmo amor que recebemos de Deus, no Evangelho segundo Mateus, capitulo 6, Jesus fala de perdoar como temos sido perdoados, e que negar o perdão abre a possibilidade para, da mesma forma não recebermos perdão divino.

“O perdão ou a bondade e misericórdia tem sido constantes em sua vida? Eu não estou perguntando se a vida tem sido boa e misericordiosa com você, eu estou perguntando se você tem agido com bondade e misericórdia em sua vida? No seu caminhar bondade e misericórdia o tem acompanhado? Entretanto muito fazem o bem para serem vistos e reconhecimento pelo que fazem, querendo apenas ser honrados e aplaudidos, recebendo prêmios e cumprimentos das autoridades.”

Por fim muito querem que Deus os abençoe e faça que seus negócios ou sociedades sejam prósperas, mas poucos estão interessados em estar na presença de Deus, muitos querem as bênçãos de Deus, mas poucos querem o Deus das bênçãos.

“De que lado você está: dos que querem estar na casa de Deus, serem filhos e obedecerem ao Senhor, como Davi diz no final salmo ou dos que querem Deus na sua casa, como um talismã ou uma lâmpada mágica pronta para dar tudo o que você quiser? Afinal, na sua vida quem é o Senhor e quem é o servo? Quem é o pastor? Quem é a Ovelha? Você ou Deus?”

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Por que o homem não é capaz de voltar para Deus?


.Por: Clovis Gonçalves

"Suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus. Um espírito de prostituição está no coração deles; não reconhecem o Senhor”. Os 5:4

As duras palavras ditas por Deus através do profeta era dirigida aos religiosos, ao povo em geral e à família real, sem deixar ninguém de fora: “Ouçam isto, sacerdotes! Atenção, israelitas! Escute, ó família real! Esta sentença é contra vocês” (Os 5:1). As terríveis consequências da Queda não desviam de nenhum filho de Adão. “Todos pecaram e separados estão da glória de Deus” (Rm 3:23). Mas o texto nos mostra que o problema com o pecado não é apenas sua extensão, atingindo a todos os homens, mas também a profundidade em que penetra em cada ser humano, afetando todas as suas faculdades.

As obras impedem de voltar para Deus, Is 59:2

O proceder do homem natural é corrompido de tal forma que ele só faz pecar e pecar. Nem mesmo uma reforma exterior ele pode apresentar de forma consistente, pois “suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus” (Os 5:4a). A prática do pecado se torna um hábito tão natural que o homem quase nunca percebe que sua natureza está dominada pelo pecado. Não raro as pessoas consideram seus pecados como sendo falhas desculpáveis, e as vezes os defendem como uma virtude. Na verdade, estão tão acostumados aos seus pecados quanto se acostumaram à cor da pele. “Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal” Jr 13:23.

Contrariando os profetas citados, os homens acreditam que é tudo uma questão de escolha, que basta ao homem preferir o bem que é capaz de fazê-lo. Chamam a essa capacidade de livre-arbítrio. Porém, a Escritura não oferece nenhum respaldo a essa filosofia humanista, quando diz que “todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:12). Isto é corroborado pela observação e a experiência de cada um, que não consegue encontrar um só homem na história que tenha superado sua inclinação para o mal e vivido sem pecar. E quando olhamos para nós, temos que confessar que o “porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:19).

O coração é dominado pelo pecado, Mc 7:21-23

Num nível mais profundo, o pecado domina o coração das pessoas, “um espírito de prostituição está no coração deles” (Os 5:4b), diz o mensageiro do Senhor. No Gênesis o diagnóstico divino sobre o coração humano era de que “toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6:5) e que tal condição não exclui nem as crianças, pois “a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8:21). As palavras de Salomão sobre o ímpio de que “há no seu coração perversidade, todo o tempo maquina mal” (Pv 6:14) não se aplica apenas a Hitler e a quem esquarteja namoradas, mas também a pais de famílias honestos, pois “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9).

Não é o homem que determina como seu coração deve ser, mas o coração é que determina como o homem é, “porque, como imaginou no seu coração, assim é ele” (Pv 23:7). Um homem sempre procederá de acordo com a natureza de seu coração. Se este for endurecido e mau, então tal pessoa resistirá ao Espírito e procederá de forma contrária à lei de Deus. Por isso que as pessoas dos dias de Oséias não podiam voltar para Deus, pois seus coração estavam dominados por um espírito de prostituição e dominavam o comportamento deles. E é por isso que o homem moderno não pode converter-se a Deus, pois a natureza de seu coração é má e o incapacita para o bem.

O pecado cega o entendimento, 1Co 2:14

O pecado afeta também a mente do homem, cegando-o para as coisas de Deus. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14). Ao invés de se voltar para Deus “o povo que não tem entendimento corre para a sua perdição” (Os 4:14), ainda mais que “por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rm 1:28). Outro profeta descreve a cegueira do povo como sendo pior que a dos animais, pois “o boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is 1:3).

Como “tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt 1:5), não são capazes de compreender a mensagem do evangelho. Precisam, antes, ter “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18), do contrário sua mente irá das trevas presente para as trevas exteriores, sem conhecer a luz do Senhor.

Conclusão

O livre-arbítrio como capacidade do homem se voltar para Deus é uma mentira de Satanás, que assim perverte o evangelho, levando homens a torná-lo persuasivo a defuntos. Pois os pecadores não experimentam outra realidade senão o pecar, tornando a rebelião a Deus um hábito que não podem mudar. Além disso, seu coração que determina suas ações é fonte de toda sorte de males, sendo enganoso e perverso, portanto desinclinado às coisas de Deus. E sua mente é corrompida de tal forma pelo pecado que o evangelho lhe parece loucura indigna de crédito, só aceitando naturalmente se a mensagem for modificada de tal maneira que não se pareça em nada com o evangelho da glória de Deus. Diante disso, eles até “voltam, mas não para o Altíssimo” (Os 7:16). Igrejas lotam, mas corações continuam vazios de Deus, ocupados somente com a prostituição espiritual “porque um espírito de prostituição os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus” (Os 4:12).

Soli Deo Gloria

Fonte: 5 Calvinistas Via: Tome a Sua Cruz e Siga-me (Mt 16.24)

Deus é Imparcial?

Por A. A. Hodge

- Muitas vezes os arminianos dizem que a razão nos ensina a esperar que o Criador e Governador onipotente de todos os homens seja imparcial no modo por que trata os indivíduos - que conceda a todos as mesmas vantagens essenciais e as mesmas condições de salvação. Dizem também que esta justa pressuposição da razão se acha confirmada nas Escrituras, as quais declaram que "Deus não faz acepção (ou exceção, como em 2 Crôn.l9:7 Figueiredo, presumivelmente em edição antiga) de pessoas" - Atos 10:34; 1 Ped. 1:17. Na primeira destas passsagens o apóstolo fala simplesmente da aplicação do evangelho aos gentios bem como aos judeus; e na segunda afirma-se que Deus, no Seu julgamento das obras humanas, é absolutamente imparcial. Na eleição, porém, a questão versa sobre a graça, e não sobre o juízo feito a respeito de obras, e as Escrituras em parte alguma dizem que Deus é imparcial na comunicação da Sua graça.

Além disso, devemos sempre interpretar as pressuposições da razão e os textos das Escrituras à luz dos fatos palpáveis da história humana e das dispensações diárias da providência de Deus. Se é injusto em princípio que Deus seja parcial na Sua distribuição de bens espirituais, não pode ser menos injusto que seja parcial na Sua distribuição de bens temporais. Como matéria de fato, Ele faz as maiores distinções possíveis entre os homens, desde o seu nascimento e independentemente dos seus merecimentos, na distribuição, não só de bens temporais, mas também dos meios essenciais à salvação. Uma criança nasce para a saúde, para honras e riquezas, para a posse de um coração e de uma consciência suscetíveis, e para todos os melhores meios de graça, como sua herança segura e certa. Muitas outras nascem para moléstias, para a vergonha, a pobreza, a posse de um coração duro e de uma consciência obtusa, e para as trevas absolutas do paganismo e da ignorância a respeito de Cristo. Se Deus não pode ser parcial para com indivíduos, por que é que o pode ser para com nações, e como se pode explicar o Seu proceder para com as nações pagas e para com as crianças das classes criminosas de países nominalmente cristãos?

O arcebispo Whately dirige a seguinte admoestação excelente a seus amigos arminianos: "Sugiro cautela no uso que se fizer de uma série de objeções tiradas dos atributos morais de Deus, feitas freqüentemente contra os calvinistas. Devemos acautelar-nos muito para não empregarmos armas que podem virar-se contra nós. É uma verdade terrível, porém inegável, que grandes multidões, mesmo nos países evangelizados, nascem e são criadas em circunstâncias que não somente tornam improvável, mas até impossível, que obtenham qualquer conhecimento de verdades religiosas, ou adquiram o hábito de comportamento moral, e são até criadas, desde crianças, em erros supersticiosos e na pior depravação. Por que é que isso é permitido, nem os calvinistas nem os arminianos podem explicar; realmente, por que é que o Todo-poderoso não faz morrer no berço toda criança cuja malvadez e miséria, se viver, Ele prevê, é coisa que nenhum sistema de religião, quer natural quer revelado, nos habilita a explicar de modo satisfatório" - Essays on some of the Difficulties of St. Paul, Ensaio 3o, sobre a eleição