quarta-feira, 29 de setembro de 2010

OS EVANGÉLICOS E O GOVERNO DO PT COMANDADO POR LULA


Por Pastor Jonathan

O forte apoio que evangélicos estão dando ao governo petista, faz lembrar o que aconteceu na Alemanha sob o governo de Hitler. A História é uma mestra sábia. Contudo, muitos não conhecem os fatos da História. Outros, bem instruídos, preferem “esquecer” a História.

Adolf Hitler tornou-se presidente da Alemanha a partir de 1933, pelo voto popular. Ele liderava o Partido Nacional Socialista da Alemanha.

A ideologia do Nazismo começou a influenciar o Cristianismo naquele mesmo ano. No mês seguinte à sua eleição (março de 1933), em seu discurso espalhafatoso, demagógico, populista, Hitler fez uma promessa: “Os direitos das igrejas não serão atingidos” . Entretanto, cinco meses depois ele declarou. “A unidade dos alemães deve ser garantida por uma nova concepção do mundo, pois o Cristianismo, sob a forma atual, não está à altura das exigências”.

Era evidente a depreciação do Cristianismo como doutrina de Cristo. Apesar disso, o Conselho Superior da Igreja Evangélica, formada de luteranos e reformados, fez opção por colaborar com o Movimento Hitleriano. Então é iniciado o processo para criar um “cristo à imagem e semelhança das idéias hitlerianas”.

O Sínodo de Browne, na Saxônia, em 1933, comprometeu-se com o “novo cristo”, que iria fornecer um conteúdo teológico para um novo tempo e para uma nova comunidade. As igrejas evangélicas alemãs se adaptaram ao ideal hitleriano e procuravam justificar o regime emergente através do Movimento dos Cristãos Alemães. Tudo para agradar Hitler e outros líderes do regime, como Rosemberg. Até exprimiram a “alegria da igreja alemã em participar da formação de uma nação e do sentimento patriótico”.

Do site HTTP:WWW.portalevangelicoptnotícia.asp.id=2498

Hitler era naquele momento o “salvador” dos alemães. O Pastor Juiu Leutherser estava muito animado. Era o dia 30 de agosto de 1933. Suas declarações: “Deus veio a nós por intermédio de Hitler”. “Temos apenas uma missão: sermos alemães e não cristãos” (A Cruz de Hitler, de Erwin Lutzer, Editora Vida, pg 127).

A declaração do grupo Cristãos Alemães, em 1934, era também totalmente favorável ao novo governo: “Adolf Hitler é nosso líder e salvador em nossa difícil situação. De corpo e alma estamos obrigados e dedicados ao estado alemão e ao seu Presidente. Essa servidão e obrigação contém para nós, cristãos evangélicos, seu significado mais profundo e santo” (Introdução à Teologia Sistemática, Millard Erckson, Vida Nova, pg. 177).

Naqueles anos a Alemanha experimentou um período áureo de progresso. Hitler e seus companheiros aproveitaram a boa maré. A economia alemã teve sucesso após sucesso. Havia muito dinheiro. Todo mundo estava super feliz com o novo governo. E é sabido que a popularidade de um governo cresce na proporção direta do bom desempenho econômico do país. Se o povo consegue casas, veículos, comida, roupa nova, possibilidade de fazer turismo, esse governo se tornará altamente popular. Não importa sua ideologia. Mesmo em um país considerado cristão, como o Brasil, não importa o que a cúpula governamental crê sobre a Bíblia, Jesus Cristo, Doutrina Cristã. Afinal de contas, se temos o céu na terra, por que se preocupar com Jesus e o seu Reino?

Mas Hitler não queria somente ser o “salvador” da Alemanha. Ele queria ser o “messias” para o mundo todo. Por isto, preparou um grande exército, gastou muito dinheiro com armas poderosas de guerra, e começou a invadir e dominar os países vizinhos. Em decorrência disto, em 1939 o mundo todo sofria com o início da Segunda Guerra Mundial.

Na sua loucura, Hitler precisou destruir os judeus para se tornar o messias. E, então, naqueles próximos anos seis milhões de judeus foram trucidados pelo nazismo de Hitler. Pastores foram presos. Alguns morreram. Os evangélicos alemães foram terrivelmente afetados pela aventura do pseudo messias. E em 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha estava arrasada e dominada por quatro países: Estados Unidos, Rússia, Inglaterra e França. O messianismo de Hitler durou pouco. Mesmo assim conseguiu fazer muitos estragos.

Impressionante as coincidências entre a Alemanha daquele período e o Brasil destes últimos oito anos. O partido que está no poder é liderado por pessoas cuja formação é o Marxismo ateu. É verdade que alguns dentre eles finjem ser cristãos. Até usam expressões cristãs como “graças a Deus”. Pura demagogia.

O Marxismo é uma filosofia política que se firma no ateísmo. O berço do Marxismo foi a Rússia, onde o governo marxista apregoava que a religião é o ópio do povo. Para se firmar, o governo inspirado no Marxismo tem que acabar com a liberdade de imprensa, amordaçar o Cristianismo e solapar o Legislativo e o Judiciário. Coisas que os que têm olhos para ver, têm visto neste governo. Senão de fato, mas pelo menos tentativas.

O que dizer das propostas encaminhadas pelos líderes do PT com relação ao aborto, ao homossexualismo, ao casamento de pessoas do mesmo sexo oficializado pelo poder público, e tantas outras aberrações? O PT fechou questão sobre esses projetos. Estar ligado ao PT significa ter de votar com o partido nesses assuntos. Se discordar é expulso da agremiação.

Mesmo assim, tantos líderes evangélicos têm dado apoio incondicional a esse governo. Por que esses líderes evangélicos querem que o atual partido se perpetue no governo? Que interesses estão por trás desse apoio? É a História se repetindo? Esses líderes, tão embriagados com o sucesso econômico no Brasil, não conseguem perceber que podemos ver repetida a tragédia que o Cristianismo teve de enfrentar na Alemanha de Hitler? Será que no meio do povo que é liderado por esses pastores, não há ninguém com coragem para se levantar e mostrar-lhes que estão indo por um caminho muito perigoso?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Materialismo: um salto de fé


Por Jorge Fernandes Isah

Sempre entendi que um darwinista baseia todas as suas convicções e conceitos não na ciência, muito menos na comprovação científica ou empirismo, mas na falsa premissa da não existência de Deus.

O que os move não é o conhecimento científico, nem as descobertas que "poderiam" apontar para a não existência de Deus, mas o contrário, eles direcionam e acomodam a ciência para dentro do seu escopo filosófico, o qual se evidencia metodologicamente corrompido pela forma como se manipulam, burlam, gerenciam as informações a fim de se ratificar o pressuposto filosófico da não existência de Deus.

A ciência torna-se apenas o veículo para a corroboração da crença na descrença; o meio pelo qual eles dão vazão aos seus pressupostos através da falsa idéia de que estão à procura da razão e da verdade; quando a ciência transforma-se no meio de propagação doutrinária, a despeito do seu apelo pseudo-racional querer excluir a fé, quando, na verdade, ela está arraigada na fé. É o discurso panfletário idealizando-se anti-panfletário, como se fosse possível condenar o proselitismo religioso usando-se do proselitismo para difundir o materialismo, uma nova religião tão ou mais radical como nenhuma outra já foi.

No fundo, o cético faz da ciência e de si mesmo os seus "deuses"; esses são os elementos forjadores da cosmovisão materialista, e ao rejeitarem o Criador simplesmente o substituem por Suas criaturas [sim, a ciência não é criação humana, mas parte da criação divina, assim como o homem]. É o que Paulo alerta: "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos... Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém" [Rm 1.22, 25]. Na verdade, esse trecho da Escritura explica muito bem o que acontece atualmente: o homem se entregando à pregação, ao discurso, em favor do autonomismo, e assim excluí-se o teocentrismo para, em seu lugar, erguer altares antropocêntricos.

Em suas argumentações e sofismas, os crédulos ateus utilizam-se do fato da ciência não ser neutra para contaminá-la com sua filosofia naturalista, e assim dizer que agem em neutralidade. Parecendo racionais são levianos, e forçam até a exaustão o rótulo de inconsistentes, místicos e preconceituosos aos outros crédulos [em especial, os cristãos] quando suas concepções estão viciadas exatamente pela inconsistência, pelo misticismo, preconceitos e uma metodologia completamente corrompida. Verdadeiramente os naturalistas não estão a serviço da ciência, mas servem-se dela para atingir seus objetivos; usam-na como "ambiente" para disseminar e estabelecer seus dogmas. Em sua maioria são tão fundamentalistas como os fundamentalistas que atacam e execram, pois não estão dispostos ao diálogo, mas à doutrinação mais agressiva que se possa estabelecer e exercitar, e ela começa pelo pressuposto de desqualificar e rejeitar qualquer premissa que não seja igual a "Deus não existe" [não que haja algum benefício em dialogar com eles, pois se encontram de tal maneira presos em seu círculo vicioso que a menor hipótese de liberdade intelectual parecem-lhes pior do que o ferrolho a prender-lhes pés e mãos].

Afinal, quem é mais crédulo? O crente ou o ateu?

É interessante que o "novo ateísmo"[1] proclama a liberdade do homem de todas as formas de opressão religiosa, e o faça direcionando-o explicitamente ao materialismo filosófico, como única e última opção. Ou seja, prega-se uma "libertação", mas essa libertação somente existirá se o liberto tornar-se ateu. Não é interessante? Quer dizer que para se ser livre o homem somente o será se a liberdade o levar ao âmago do sistema ateísta? E até onde será possível ir em defesa dessa liberdade? Como reagirão diante daqueles que se recusarem a aceitá-la? Os neo-ateístas não estarão revivendo tudo aquilo que dizem combater, mas que é bem possível repetir em nome da sua fé? Ao final, o que teremos serão homens enjaulados, sem sequer uma réstia de luz.

Esse método se assemelha, ou melhor, é idêntico ao discurso marxista. Ao livrar o homem do capitalismo, fatalmente a única opção passa a ser o comunismo. O homem é livre para escolher o comunismo, e tão somente ele; e, chegando lá, estará invariavelmente aprisionado ao sistema, sem nenhuma chance de volta ou outra opção de escolha. A menos que se auto-imploda por ineficiência ou fragilidade, por sua própria inexiquilidade. Em nada é diferente da liberdade que bois e porcos têm no "corredor da morte" em direção ao matadouro. Não há escolha nem salvação. Essa é a liberdade do ateísmo e do marxismo... Mais uma mentira vergonhosa, em que o homem está preso pela suposta liberdade de querer se manter preso.

Por exemplo, Richard Dawkins
[2] propõe a mesma libertação comunista: a de aprisionar o homem no ateísmo, no materialismo. E somente estando-se ali ele será, no seu conceito esdrúxulo, livre. Mas livre de quê? De algum tipo de fé? De algum tipo de sistema autoritário e despótico? De algum tipo de jogo onde as cartas estejam marcadas? E depois nos chamam de burros, de cegos. Ou querem enganar a quem além de si mesmos? Como esses homens podem conviver com tanta incoerência e ilogicidade? Somente a desonestidade intelectual como resposta. Ou seria uma fé equivocada? Ao ponto em que o "neo-ateísmo" esforça-se em excluir a história da própria História?

O modelo que desejam para a sociedade é, basicamente, o modelo marxista implementado na extinta URSS por Lenin e Stalin, na China por Mao, em Cuba por Fidel, no Camboja por Pol Pot, e em tantos outros lugares; é o mesmo projetado pelo ateísmo moderno: para aniquilar a idéia de Deus é preciso exterminar o homem, ao não permitir que ele pense, racionalize, mas tenha seus pensamentos reduzidos a um padrão de indiferença, onde todos estarão confinados a um modelo unificado de comportamento e expressão: a submissão cega. Milhões de pessoas sentiram na pele a ideologia marxista, o controle do Estado sobre a sociedade e o indivíduo; a impossibilidade de se "escapar" com vida desse sistema a não ser rendendo-se incondicionalmente; ser controlado completamente pelas forças de "libertação", ou seja, fazer do homem uma simples máquina a serviço da vontade burocrática. Isso é fruto de um irracionalismo voluntário, da falta de discernimento analítico, o aniquilamento do senso crítico, da razão, tornando homens em manadas de idiotas.

O Estado não serve, precisa ser servido em sua voracidade perversa; o Estado não admite Deus, mas quer se fazer um; o Estado não pretende ter cidadãos, mas escravos; não aceita nada menos do que o seu ideal maníaco de onipotência e onipresença. Da mesma forma, o gene egoísta é a nova desculpa para que o Estado controle, domine e subjugue o homem. E a desculpa é sempre a mesma escandalosa mentira: assim é melhor!... Mas para quem?

A loucura doentia do neo-ateísmo, que simplesmente revive conceitos experimentados e fracassados à exaustão, como se fossem novidade, é ser essencialmente aquilo que diz combater. Será que os novos ateus pretendem reescrever a História, ou ficarão apenas na idade média, em especial no período negro da inquisição? Se o falso cristianismo existe e é injusto, há contudo o verdadeiro cristianismo, o qual é justo. Mas o que dizer do marxismo? Que nada mais é do que o materialismo levado às últimas consequências? O naturalismo em sua expressão mais virulenta e odiosa? Em qual lugar houve justiça? Ele apenas promoveu e ainda promove a injustiça em sua sanha destrutiva, em sua descrença em Deus e nos valores cristãos. Ateísmo e marxismo são irmãos siameses a serviço do mesmo senhor: o diabo!

E como tal, não prescinde a fé, mas vive por ela... equivocadamente, diga-se de passagem, posta num ídolo de barro.


Nota: [1] Novo ateísmo ou antiteísmo é a oposição ativa ao teísmo, ao ponto em que não basta rejeitar a Deus, mas lutar para o extermínio de qualquer crença divina, pois, assim o mundo seria muito melhor. Ou seja, eles crêem que não crendo tudo caminhará para a perfeição, mas, além da crença em si mesmo e em suas idéias, o que têm de concreto?
[2] Clinton Richard Dawkins é o maior expoente do neo-ateísmo na atualidade. Ele conclama os ateus a "sairem do armário" e ir à luta contra as religiões e seus deuses, e militarem por um mundo melhor, onde não há espaço para as religiões.

[3] Este texto tem como ponto de partida o
"Bate-Papo com André Venâncio" e os vários comentários à postagem, e a leitura do ótimo livro "Cartas para Dawkins", da Editora Monergismo.
[4] Para o título, utilizei-me de uma expressão do filósofo e teólogo dinamarquês, considerado o pai do existencialismo, Soren Kierkegaard,
"o salto da fé", o qual para ele a fé é uma aposta, uma aventura arrojada, um mergulho no desconhecido, um salto arriscado, em que a fé se opõe à razão, de tal forma que são mutuamente exclusivas. Acredito que o darwinismo é mais ou menos isso: uma fé-cega a lançar o homem na treva mais densa que a mente humana pode conceber.

Fonte: KÁLAMOS

Resposta a Silas Malafaia sobre seu ataque a Marina Silva.


Por Pr. Márcio de Souza


No site da associação Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia escreve um artigo denominado "NÃO VOTO MAIS EM MARINA E DIGO POR QUÊ". Nele ele acusa Marina de ser pró aborto ou de ter a "atitude de Pilatos" lavando as mãos com relação ao assunto, por conta de sugerir um plebiscito sobre o assunto.

Bem pra começar O senhor Malafaia ta respondendo uma pergunta que ninguém fez a ele. Eu to pouco me lixando dos "porques" do ex-bigode não votar em Marina, segundo, quem é Silas Malafaia pra falar de "radicalidade na vida cristã?" Ele mesmo é no mínimo anti-ético e prepotente quando diz que Marina "se diz cristã e assembleiana" quem é ele pra julgar a Marina? Quem deu a ele o título de juiz.

Quanto ao plebiscito e o fato da acusação de Marina estar em cima do muro, o senhor Malafaia diz isso porque não conhece nada de política, nem tampouco o significado da palavra "democracia", porque quanto aos seus assuntos, ele resolve tudo sozinho na base do porrete, da velha ditadura assembleiana, nos moldes do coronelismo gospel, não sabe fazer de outra forma.

E pra finalizar, basta ver a postura e posição de cada um pra saber quem é quem. Enquanto o Silas tenta chamar atenção se aproveitando da integridade de Marina e dirigindo seu programinha chinfrin, a Marina Silva é reconhecida MUNDIALMENTE por ser um ícone de integridade e uma das candidatas mais fortes e bem preparadas para dirigir o Brasil com quase zero de mídia. Fez uma campanha limpa e não precisou extorquir ninguém para levar seu projeto de governo aos seus eleitores e não faz apelos emocionalistas e idiotas para que se plantem sementes para que ela seja eleita com a multiplicação delas.

Bem, pra resumir, a Marina mesmo perdendo a eleição está pronta pra dirigir o Brasil, e o Malafaia mostra com esse discurso furado e sem propósito que sua habilidade para administrar está diretamente ligada ao seu lido com as pessoas, um verdadeiro ditador fadado a se trancar na sua central gospel e nos seus castelos de areia, como todo bom "coroné" interiorano. Enquanto isso eu vou "Marinando" porque os cães ladram e a caravana não para!

E no mais, tudo na mais santa paz!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

“Espírito x Escritura”


Por Josaías Jr

Talvez alguns questionem a relevância dos escritos de João Calvino para nosso tempo. Como um teólogo do séc. XVI pode nos ajudar? Acredito que, por sua dedicação em expor a Palavra com a maior fidelidade, os textos do mestre de Genebra são bastante proveitosos para os cristãos hoje. Nosso Cristo é o mesmo ontem e hoje, a Escritura não pode falhar tanto no 1536 quanto em 2010, e a humanidade continua debaixo da maldição de Adão. Se o crente procura uma boa exposição da Bíblia, encontra ótimo trabalho em Calvino, mesmo que não concorde em todos os pontos com o reformador. É por isso que até hoje muitos (como eu!) dedicam seu tempo a entender melhor o pensamento do controverso e mal compreendido teólogo francês.

Um bom exemplo é a forma como o Reformador lida com o problema daqueles que menosprezam as Escrituras em detrimento de supostas orientações do Espírito de Deus, muitas das quais contrárias à Palavra. Parece até que o pastor francês enfrentava desafios idênticos aos que os crentes atuais encaram. No capítulo nove, do livro I das Institutas, ele lida com muita lucidez esse problema. Lá, Calvino fala que “surgiram em tempos recentes certos desvairados que, arrogando-se, com extremada presunção, o magistério do Espírito Santo, fazem pouco caso de toda leitura da Bíblia e se riem da simplicidade daqueles que ainda seguem, como eles próprios a chamam, a letra morta e que mata” (1.9.1, textos de Calvino sempre em vermelho). Com a ajuda do reformador, vejamos como devemos evitar esse tipo de reinvidicação.

Provavelmente nos virá à memória alguém que conheçamos, que pensa de maneira semelhante aos contemporâneos do reformador, e outros leitores até tenham se sentido mal por parecerem tão “insensíveis ao toque do Espírito”. Talvez alguns de nós já fomos tratados como alguém que segue a letra morta, ao invés de deixar-se levar pelos “ventos do Espírito de Deus”. Mas o reformador sabe que nenhum dos apóstolos pensava assim.

“Eu, porém gostaria de saber deles que Espírito é esse de cuja inspiração transportam a alturas tão sublimadas que ousem desprezar como pueril e rasteiro o ensino da Escritura? Ora, se respondem que é o Espírito de Cristo, tal certeza é absolutamente ridícula, se na realidade concedem, segundo penso, que os apóstolos de Cristo e os demais fiéis da Igreja primitiva, foram iluminados não por outro Espírito. O fato é que nenhum deles aprendeu o menosprezo pela Palavra de Deus.” (1.9,1)

Para Calvino, o Espírito e a Escritura estão unidos por um “vínculo inviolável”, mas aqueles que tentam criar uma dicotomia entre esses dois elementos cometem sacrilégio e desrespeito para com Deus, sua Palavra e o próprio ministério do Espírito Santo.

“Logo, não é função do Espírito que nos foi prometido configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante a qual sejamos afastados do ensino do evangelho já recebido; ao contrário, sua função é selar-nos na mente aquela mesma doutrina que é recomendada no evangelho.”

Como já vimos, crescimento espiritual e leitura da Palavra não se separam.

“Se ansiamos por receber algum uso e fruto da parte do Espírito de Deus, imperioso nos é aplicar-nos diligentemente a ler tanto quanto ouvir a Escritura.” (1.9.2)

Porém, existem aqueles que negam a necessidade do estudo bíblico e enfatizam uma suposta orientação do Espírito Santo. Ainda hoje esse tipo de heresia existe, e muitas vezes vemos alguém enganando a si, afirmando ter uma revelação especial, quando aquilo que ela sustenta pode até ir contra a Escritura.

A resposta de Calvino pode parecer polêmica para alguns, mas, para ele, o Espírito Santo não irá além daquilo que está escrito. Isto é, ele não negará as Sagradas Escrituras, e nem pode fazê-lo. Evidentemente, alguns dirão que estamos prendendo Deus em uma caixa, mas o reformador responde:

“Alegam, com efeito, que é afrontoso que o Espírito de Deus, a quem todas as coisas devem ser sujeitas, seja subordinado à Escritura. Como se, na verdade, isto fosse ignominioso ao Espírito Santo: ser ele por toda parte igual e conforme a si mesmo; permanecer consistente consigo em todas as coisas; em nada variar! De fato, se fosse necessário julgar em conformidade com qualquer norma humana, angélica, ou estranha, então deveria considerar-se que o Espírito estaria reduzido a subordinação.”

Isto é: não há nada mais honroso que comparar o que o Espírito diz às igrejas com aquilo que ele escreveu às igrejas. Caso utilizássemos outra regra para definirmos o que é, ou não, verdadeiro, cairíamos na heresia de conformar o Consolador a algum padrão inferior a Ele mesmo. Deus não pode mentir, e aquilo que ele disse na Escritura, é aquilo que Deus Espírito diz aos seus. Qualquer ensino que desvirtue isso é anátema.

“Para que o espírito de Satanás não se insinue sob o nome do Espírito, ele quer ser por nós reconhecido em sua imagem que imprimiu nas Escrituras. Ele é o autor das Escrituras: não pode padecer variação e inconsistência para consigo mesmo. Portanto, como ali uma vez se manifestou, assim tem ele de permanecer para sempre.”

Existe ainda uma acusação comum contra aqueles que tentam manter-se fiéis à Palavra, e desejam que somente as Escrituras falem no púlpito, através de uma boa interpretação: eles seguem a letra morta, não o Espírito que vivifica (uma distorção do texto de 2 Coríntios 3.6). Calvino começa a última seção do capítulo 9 rebatendo essa falsa crítica.

“Portanto, morta é a letra, e a lei do Senhor mata a seus leitores, quando não só se divorcia da graça de Cristo, mas ainda, não tangindo o coração, apenas soa aos ouvidos. Se ela, porém, mediante o Espírito, é eficazmente impressa nos corações, se a Cristo manifesta, ela é a palavra da vida, a converter almas, a dar sabedoria aos símplices.” (1.9.3)

Há uma relação orgânica e viva entre Escritura e Espírito, de maneira que só conhece corretamente a Escritura aquele que está no Espírito. Ao mesmo tempo, somente pela Escritura podemos ter plena certeza das ações do Espírito e identificar falsas manifestações.

“Pois o Senhor ligou entre si, como que por mútuo nexo, a certeza de sua Palavra e a certeza de seu Espírito, de sorte que a sólida religião da Palavra se implante em nossa alma quando brilha o Espírito, que nos faz aí contemplar a face de Deus assim como, reciprocamente, abraçamos ao Espírito, sem nenhum temor de engano, quando o reconhecemos em sua imagem, isto é, a Palavra.”

Para Calvino, é ministério de Deus, em especial do Espírito, cuidar para que a mensagem da Escritura permaneça na mente dos cristãos. É comum ver igrejas que não seguem princípios bíblicos em seus cultos, apresentando a desculpa de que foram movidas pelo Senhor a isso. Devemos tomar cuidado com tais congregações.

“[Deus] enviou o mesmo Espírito, pelo poder de quem havia ministrado a Palavra, para que realizasse sua obra mediante a confirmação eficaz dessa mesma Palavra… Cristo abriu o entendimento aos dois discípulos de Emaús não para que, postas de parte as Escrituras, se fizessem sábios por si mesmos, mas para que entendessem essas Escrituras.”

Criar uma divisão entre o que a Bíblia diz e o que o Espírito Santo ensina é colocar Deus contra Deus. Não que tenhamos um Livro como divindade, mas porque devemos ter consciência de que ali estão guardados os pensamentos do próprio Criador. Fugir da Palavra em nome do Espírito é dizer que Deus, que não pode mentir, se contradiz, ou que o Consolador deixou seu ministério a fim de trazer inovações no Cristianismo. Tal postura é incompatível com a de um cristão e deve ser combatida. Que o Espírito de Cristo nos ajude nisso.

Nossa oração é que o Espírito fale sempre, por meio do que Ele mesmo designou e nos preparou.

Em Cristo,

Josaías Jr

P.S.: Adaptei esse post do blog JoãoCalvino.net. Espero que seja útil como os textos do reformador foram úteis a mim.

Fonte: iPródigo

Sinais do Homem Espiritual












Por A. W. Tozer

O conceito de espiritualidade varia entre os diversos grupos cristãos. Em alguns círculos, a pessoa que fala incessantemente de reli¬gião é julgada como sendo muito espiritual. Outros aceitam a exuberância ruidosa como um sinal de espiritualidade, e em algumas igrejas, o homem que ora em primeiro lugar, por mais tempo e mais alto consegue uma reputação de ser o mais espiritual na assembléia.

Um testemunho vigoroso, orações freqüentes e louvor em voz alta podem entrosar-se perfeitamente com a espiritualidade, mas é importante entendermos que em si mesmos eles não constituem nem provam a presença da mesma.

A verdadeira espiritualidade manifesta-se em certos desejos dominantes. Eles são desejos sempre presentes, fixos, suficientemente poderosos para dominar e controlar a vida da pessoa. Para facilitar, vou mencioná-los, embora não me esforce para decidir sua ordem de importância.

1. Primeiro, o desejo de ser santo em lugar de feliz. A busca da felicidade, tão difundida entre os cristãos que professam uma santidade superior é prova suficiente de que tal santidade não se acha presente. O homem verdadeiramente espiritual sabe que Deus dará abundância de alegria no momento em que possamos recebê-la sem prejudicar nossa alma, mas não exige obtê-la imediatamente.


2. O indivíduo pode ser considerado espiritual quando quer que a honra de Deus avance por meio de sua vida, mesmo que isso signifique que ele mesmo tenha de sofrer desonra ou perda temporárias. Um homem assim ora: "Santificado seja o teu nome", e acrescenta baixinho: "Qualquer seja o custo para mim, Senhor". Ele vive para honrar a Deus, através de uma espécie de reflexo espiritual. Cada escolha envolvendo a glória de Deus, para ele já está feita antes de apresentar-se. Não é necessário que debata o assunto em seu íntimo, pois nada há a discutir. A glória de Deus é necessária para ele; ele a aspira como alguém sufocando-se aspira o ar.

3. O homem espiritual quer carregar a sua cruz. Muitos cristãos aceitam a adversidade ou a tribulação com um suspiro e as chamam de sua cruz, esquecendo de que tais coisas podem acontecer tanto a santos como a pecadores. A cruz é aquela adversidade extra que surge como resultado de nossa obediência a Cristo. Esta cruz não é forçada sobre nós; nós voluntariamente a tomamos com pleno conhecimento das conseqüências. Nós decidimos obedecer a Cristo e fazendo essa escolha, decidimos carregar a cruz.
Carregar a cruz significa ligar-se à Pessoa de Cristo, ser fiel à soberania de Cristo e obediente aos seus mandamentos. O indivíduo espiritual é aquele que manifesta essas características.

4. O cristão espiritual é também aquele que tudo observa sob o ponto de vista de Deus. A capacidade de pesar tudo na balança divina e dar-lhes o mesmo valor dado por Deus, é o sinal de uma vida cheia do Espírito.
Deus olha para tudo e através de tudo ao mesmo tempo. Seu olhar não repousa sobre a superfície mas penetra até o verdadeiro significado das coisas. O cristão carnal olha para um objeto ou uma situação, mas pelo fato de não ver através dela fica entusias¬mado ou deprimido pelo que vê. O homem espiritual tem capacidade para ver através das coisas como Deus vê e pensar nelas como Ele pensa. Ele insiste em ver tudo como Deus vê, mesmo que isso o humilhe e exponha a sua ignorância até o extremo de fazê-lo sofrer.

5. Outro desejo do homem espiritual é morrer retamente em lugar de viver no erro. Um sinal seguro do homem de Deus ama¬durecido é de sua despreocupação com a vida. O cristão terreno, consciente do corpo, olha para a morte com terror no coração; mas à medida que continua vivendo no Espírito torna-se cada vez mais indiferente ao número de anos que vai viver aqui embaixo, e ao mesmo tempo cuida cada vez mais do modo como vive enquanto está aqui. Não irá comprar alguns dias extra de vida ao custo da transigência ou fracasso. Quer acima de tudo ser reto, e fica feliz em deixar que Deus decida quanto tempo deve viver. Ele sabe que pode morrer agora que está em Cristo, mas sabe que não pode agir erradamente, e este conhecimento torna-se um giroscópio que dá esta-bilidade aos seus pensamentos e seus atos.

6. O desejo de ver outros progredirem com sua ajuda é outro sinal do homem que possui espiritualidade. Ele quer ver outros cris¬tãos acima de si e fica feliz quando estes são promovidos e ele negligenciado. Não existe inveja em seu coração; quando seus irmãos são honrados fica satisfeito, por ser essa a vontade de Deus e essa vontade é seu céu na terra. O que é agradável a Deus lhe dá também prazer, e se for do agrado de Deus exaltar outrem acima dele, satisfaz-se com isso.

7. O homem espiritual faz no geral juízos eternos e não temporais. Pela fé supera o poder de atração da terra e o fluxo do tempo e aprende a pensar e sentir como alguém que já deixou o mundo e foi juntar-se à imensa companhia dos anjos e à assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus. Um homem assim preferiria ser útil e não famoso, servir em lugar de ser servido.

Tudo isto se realiza pela operação do Espírito Santo que nele habita. Homem algum pode ser espiritual por si mesmo. Apenas o Espírito da liberdade pode tornar o homem espiritual.

A doce ilusão de um reino de Deus no Brasil


Por João A. de Souza Filho

Pois meus amigos, vocês que são leitores assíduos do que venho escrevendo poderão ou não concordar comigo de que a igreja brasileira vive a doce ilusão de que é possível implantar o reino de Deus através da política. A velha crença de que se tivermos um governo cristão, com um Presidente comprometido com os ideais de Cristo, e que se tivermos no Senado e na Câmara bons cristãos – evangélicos é claro – dizem alguns, teremos outro Brasil.

Não quero desiludi-los. Nem me refiro a ter ou não mais liberdade religiosa, porque esta liberdade está garantida pela atual constituição. Quem sabe os amigos do “rei” ganhariam mais emissoras de rádio e de tevê; que mais verbas da cultura ajudassem as editoras a publicar livros com cunho cristão e que livrarias se interessassem por tudo o que gospel.

Mas, a igreja nunca precisou de liberdade para pregar o evangelho, porque este é pregado independentemente de haver liberdade ou não, com a única possibilidade de que os cristãos não sejam julgados e presos. Mas, se tivéssemos um governo totalmente evangélico, por certo que caminharíamos para um governo radical, xiita, que censuraria tudo o que fosse escrito, televisado ou falado no rádio, cerceando a liberdade religiosa de credos diferentes dos cristãos. Não é verdade? Os evangélicos não são maduros suficientemente para governarem uma nação, porque, caso o presidente por eles eleito comparecesse a uma festa social e beneficiasse credos diferentes, logo haveriam de execrá-lo do poder. É assim que funciona. Seríamos iguais aos países religiosos totalitários do Oriente.

O segundo aspecto é que desde as eleições de 1988 ainda não vi um político evangélico que não tenha se corrompido moral e politicamente com a política. Obviamente que o político precisa, primeiramente se comprometer com os ideais de seu partido, inda que tais ideais sejam de partidos que sistematicamente perseguiram e mataram os cristãos na Europa Oriental em décadas passadas. Os políticos que não se comprometem com o programa do seu partido são expulsos, e, convenhamos o programa do partido do atual governo é contrário aos ideais cristãos. Os políticos evangélicos os não-evangélicos têm um discurso atraente e convincente antes de serem eleitos, mas depois a prática da política os conduz pelos corredores da propina e do enriquecimento – às vezes ilícito – esquecendo-se de onde vieram, e das promessas feitas em campanha.

O terceiro aspecto, é que o sistema mundial que governa o curso deste mundo está nas mãos de Satanás, e o mundo só terá um governo de justiça por ocasião do segundo advento de Cristo. Qualquer pessoa, por mais intencionada que esteja terá que seguir o curso do sistema, ou chocar-se-á contra ele e se espatifará. Isso tem acontecido com todos os que não concordam com o sistema. Conheço vários ex-políticos que se desiludiram porque o sistema os estava destruindo, e alguns até foram destruídos. É bem possível que alguns que estão no cenário da política nacional não tenham se corrompido – o que não acredito – porque em escala menor ou maior já obtiveram vantagens pessoais com o cargo que exercem.

Os apóstolos deixaram claro seu posicionamento em relação ao sistema, avisando que o mundo está no maligno; que o deus deste século cega o entendimento das pessoas. Se a tendência é o de deixar a malignidade tomar conta do coração, como Deus alertou o povo de Israel – “e não seja maligno o teu coração” (Dt 15.10), imagine cair no sistema maligno! “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno?” (2 Co 6.15) pergunta Paulo. Nenhuma, diz João, porque “o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19), e Jesus afirmou que nada tem a ver com o “príncipe deste mundo” (Jo 14.30).

Admiro a todos os políticos evangélicos que se arriscam trilhar o perigoso caminho da política sob cuja égide age abertamente Satanás. Oro por eles, como sempre orei por meus amigos que desde 1988 entraram para a política e se corromperam. Construíram uma “linda” carreira e a tão sonhada estabilidade financeira, ao custo de algumas perdas, quem sabe, a maior delas, a perda do galardão que lhes estava preparado. Não me refiro à salvação, adquirida pelos méritos de Cristo, mas ao galardão que está preparado a todos os que são fieis. Reconheço seus avanços e a forma como impediram que certos decretos e leis fossem estabelecidos com prejuízo para o povo de Deus, e nisto são elogiáveis – mas também sei que a igreja vive acima das leis, sua existência terrena é revestida de transcendentalidade.

Como afirmou certo escritor no passado: “... a trilogia das atividades humanas se resume nestas palavras: fama, prazer e bens. Tudo está subordinado a esses três objetivos, em defesa dos quais o mundo apresenta hábeis argumentos, criando a ilusão de que são realmente dignos”.

Pense nisso. Vote consciente, afinal, vivemos numa falsa democracia em que somos obrigados a votar. Escolha bem, se é que você tem opções, caso contrário, compareça às urnas e opte por não votar em ninguém! Para o bem do país!

A Universalidade do Pecado


Por John Stott

Os autores bíblicos são bem claros quando afirmam que o pecado é universal. "Não há homem que não peque", afirma Salomão em sua grandiosa oração de dedicação do templo. "Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que nunca peque", diz o Pregador no livro de Eclesiastes. Vários salmos lamentam a universalidade do pecado humano. O Salmo 14, que fala do "insensato" sem Deus no coração, faz uma descrição muito pessimista da perversidade humana:

Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem. Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.

A consciência dos salmistas lhes dizia que se Deus executasse um julgamento contra os homens, nenhum escaparia da condenação. "Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?" Daí a oração: "Não entres em juízo com teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente".

Os profetas são tão insistentes quanto os salmistas ao afirmar que todos os homens são pecadores. Nenhuma outra declaração é tão clara quanto as palavras encontradas na segunda metade do livro de Isaías: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho" e "Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia".

Isso não é invenção dos escritores do Antigo Testamento. Paulo inicia sua epístola aos Romanos com um argumento bem semelhante, estendendo-o pelos três primeiros capítu¬los. Ele afirma que todos os homens, indistintamente, judeus e gentios, são pecadores aos olhos de Deus. Ele descreve a decadência moral do ímpio e a seguir acrescenta que o judeu não é nem um pouco melhor, uma vez que, possuindo a santa lei de Deus e ensinando-a a outros, ele mesmo se tornou culpado por descumpri-la. 0 apóstolo então cita os salmos e o profeta Isaías para ilustrar seu tema, e conclui: "Não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus". João é ainda mais explícito quando declara: "Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos", e "Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso".

Mas, o que é pecado? Seu alcance universal é evidente. Qual a natureza do pecado? A Bíblia emprega várias palavras para descrevê-lo, agrupadas em duas categorias. Conforme o tipo de pecado, ele é considerado de forma negativa ou positiva. Quando considerado de forma negativa, o pecado é entendido como falha ou defeito, identificado por algumas palavras como lapso, deslize ou erro. Também é retratado como fracasso ou falha ao tentar atingir um alvo. Outras o identificam com uma maldade que vem de dentro, uma disposição interna para o mal.

Positivamente, pecado é transgressão. Pode ser descrito como o ato de transpor um limite, transgredir a lei ou violar a justiça.

Esses dois grupos de palavras implicam a existência de um padrão moral que fracassamos em alcançar ou de uma lei que falhamos em cumprir. Tiago afirma que "aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando". Esse é o aspecto negativo. "Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei", diz João. Esse é o aspecto positivo.

A Bíblia aceita o fato de que os homens têm padrões diferentes. Os judeus têm a lei de Moisés. Os gentios têm a lei da consciência. Mas todos os homens transgrediram a lei que conhecem e se desviaram do seu próprio padrão. Qual é o nosso código de ética? Pode ser a lei de Moisés ou a lei de Jesus. Pode ser agir decentemente, ou conforme o combinado, ou de acordo com as convenções sociais. Pode ser de acordo com os oito passos do budismo ou pelos cinco pilares do islamismo. Mas, seja qual for o padrão escolhido, não conseguiremos atingi-lo. Todos nós seremos reprovados.

Para algumas pessoas de padrão moral elevado, isso pode soar realmente surpreendente. Elas têm seus ideais e pensam que conseguirão alcançá-los, pelo menos em parte. Não ficam refletindo muito sobre isso, nem são demasiadamente autocríticas. Reconhecem que cometem alguns lapsos ocasionais e têm consciência de suas falhas de caráter. Mas isso não faz com que elas fiquem muito preocupadas, nem se considerem piores que as outras. Podemos compreender bem tudo isso até nos lembrarmos de duas coisas. A primeira delas é que nosso senso de fracasso depende da grandeza dos nossos padrões. É muito fácil se considerar um bom saltador de body jumping se o elástico é menor que a sua altura. A segunda é que Deus vê suas intenções, o que está por detrás de suas ações. Jesus mencionou isso claramente no Sermão do Monte. A partir desses dois princípios, faremos agora um saudável exercício. Tomaremos os Dez Mandamentos encontrados em Êxodo 20 como padrão e veremos o quanto somos parecidos com todos os outros homens.

Fonte: John Stott

Pelágio - A Heresia que continua hoje.


Por R. C. Sproul

O nome pelagianismo tem sua origem a partir de um monge britânico que se engajou num debate ardente com Agostinho na igreja primitiva. Presumivelmente nascido na Irlanda, Pelágio tornou-se monge e eunuco. Movido em sua alma, ele chamava a igreja para uma perseguição vigorosa da virtude e até mesmo a perfeição moral. Passou muitos anos em Roma onde Coelestius e Juliano de Eclanum, um bispo que se tornara viúvo ainda jovem, se juntaram a ele no seu conflito com Agostinho. Dos três, Julianoera o mais culto. Também era o mais agressivo na controvérsia, embora tenha sido menos agitador do que Coelestius.

Adolph Harnack diz que Pelágio foi "levado à ira por uma cristandade inerte, que se desculpava alegando fragilidade da carne e a impossibilidade do cumprimento dos mandamentos opressivos de Deus". De acordo com Harnack, Pelágio "pregava que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto".

O princípio controlador do pensamento de Pelágio era a convicção de que Deus nunca ordena o que é impossível para o homem realizar. Para Pelágio, esse não era um princípio teológico abstrato mas um assunto que acarretava conseqüências práticas urgentes para a vida cristã. Ele se levantou inicialmente contra Agostinho por causa de um oração que Agostinho havia escrito: "Concede o que tu ordenaste, e ordena o que tu desejas".

Pelágio não discordava da última frase dessa oração. Na verdade, é virtualmente supérfula. Deus tem o direito de ordenar tudo o que deseja. Esta, claramente, é uma prerrogariva divina. A suposição, naturalmente, é de que o que Deus deseja das suas criaturas nunca era frívolo ou mal. Essa parte da oração de Agostinho não indica que Deus precisa da permissão humana para legislar seus mandamentos, mas refletia, em seu lugar, a postura de humilde submissão de Agostinho quanto ao direito divino de lei.

Pelágio exasperou-se com a primeira parte da oração de Agostinho: "Concede o que tu ordenaste..." O que Agostinho estava pedindo que Deus concedesse? Não poderia ser sua permissão, porque a criatura nunca precisa pedir permissão para fazer o que havia sido ordenado. Na verdade, ele precisaria de permissão para não fazê-lo. Agostinho, obviamente, estava pedindo outra coisa, algum tipo de dom para atender ao comando. Pelágio acertadamente supôs que Agostinho estava orando pelo dom da graça divina, que viria na forma de algum tipo de assistência.

Pelágio levantou a seguinte questão: A assistência da graça é necessária para o ser humano obedecer aos comandos de Deus? Ou esses comandos podem ser obedecidos sem essa assistência? Para Pelágio, a ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas a lei moral de Deus mas também aos comandos inerentes ao evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem ao comando. A obediência não precisa, de forma alguma, ser "concedida".

A questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por argumentos teológicos intrincados, especialmente no começo. "Nunca houve, talvez, uma crise de igual importância na história da igreja na qual os oponentes tenham expressado os princípios em debate tão clara e abstratamente" - diz Harnack. "Somente a disputa Ariana antes do Concílio de Nicéia pode ser comparada a ela..."

Para Pelágio, a natureza não requer graça a fim de cumprir suas obrigações. O livre-arbítrio, adequadamente exercido, produz virtude, que é o bem supremo e devidamente seguido pela recompensa. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião.
Dezoito Premissas.

01) A base do pensamento de Pelágio é a premissa de que os mais altos atributos de Deus são a bondade e a justiça. Para Pelágio, esses atributos são a condição sine qua non do caráter divino. Sem os mesmos, Deus não seria Deus. É inconcebível um Deus que carece da perfeição da bondade e da justiça.

02) A segunda premissa sobre a qual Pelágio elabora é: se Deus é completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda a sua criação é boa, incluindo o homem. "Adão... foi criado por Deus sem pecado e inteiramente competente para todo o bem, com um espírito imortal e um corpo mortal", observa Philip Schaff, resumindo a visão de Pelágio. "Ele (Adão) - foi dotado com razão e livre-arbítrio. Com sua razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais; com o seu livre-arbítrio, ele deveria servir a Deus. A liberdade é o bem supremo, a honra e a glória do homem, o bonum naturae, que não pode ser perdido. É a base única da relação ética do homem com Deus, que não teria um culto relutante. Ela consiste... essencialmente no liberum arbitrium, ou na possibilitas boni et mali; liberdade de escolha e na habilidade obsolutamente semelhante para o bem ou mal a cada momento"

Pelágio arraigou sua visão da natureza humana e do livre-arbítrio na sua doutrina da criação. O livre-arbítrio consiste essencialmente na habilidade de se escolher entre o bem e o mal. Essa habilidade ou possibilidade é a própria essência do livre-arbítrio, de acordo com Pelágio. Essa habilidade é dada ao homem por Deus na criação, e é um aspecto essencial da natureza constituinte do homem.

03) A terceira premissa de Pelágio é que a natureza foi criada não apenas boa mas incontestavelmente boa. Isso é verade "porque as coisas da netureza persistente desde o início da existência (substância) até o seu fim". Schaff diz de Pelágio:

Ele vê a liberdade na sua forma apenas, e em seu primeiro estágio, e lá ele a fixa e a deixa, no equilíbrio perpétuo entre o bem e o mal, pronta para se decidir por qualquer um a qualquer momento. Ela não tem passado ou futuro; absolutamente independente de tudo, seja interior ou exterior; um vácuo que pode se fazer pleno e , então, tornar-se um vácuo novamente; uma tábula rasa, sobre a qual o homem pode escrever tudo o que lhe agra; uma escolha impaciente, a qual, depois de cada decisão, reverte-se à indecisão e oscilação. A vontade humana é como se fosse o eterno Hércules na encruzilhada, que dá o primeiro passo para a direita e o segundo para a esquerda e sempre volta à primeira posição.

Se a vontade do homem é uma tábula rasa perpétua, então quando uma pessoa peca, a natureza da vontade não passa por uma mudança e nem por uma deformação. Não há uma corrupção inerente no homem. Não há predisposição ou inclinação para o pecado que é, em si mesma, um resultado do pecado. Cada ato de pecado flui de um novo começo, um bloco limpo de papel que não é inscrito a priori com alguma predileção.

04) A quarta premissa de Pelágio é que a natureza humana, como tal, é inalteravelmente boa. Isto é, a essência constituinte do homem permanece boa. A natureza não pode ser alterada na sua substância; só pode ser modificada acidentalmente. O termo acidentalmente aqui não significa que algo acontecesse sem intenção como um resultado do infortúnio. Ele refere-se à distinção de Aristóteles entre a substância de um objeto e seus accidens. Accidens refere-se ao que é exterior a alguma coisa, as qualidades perceptíveis, qualidades que estão na periferia e não são essencias ao ser desse algo. O comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém.

05) A quinta premissa de Pelágio, que se segue a partir das quatro primeiras, é que o mal ao pecado nunca pode transformar-se em natureza. Ele define o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proibe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado é sempre um ato e nunca uma natureza. Caso contrário, Pelágio insiste, Deus seria o autor do mal. Os atos pecaminosos nunca podem causar uma natureza pecaminosa, e o mal também não pode ser herdado. Se pudesse, então a bondade e a justiça de Deus estariam destruídas.

06) Na sexta premissa, Pelágio explica que o pecado existe como o resultado das armadilhas de Satanás e da concupiscência sensual. Essas tentações ao pecado podem ser superadas pelo exercício da virtude. Nem a lascívia ao a concupiscência surgem da essência do homem mas é "extrínsica" a ela. Essa concupiscência não é, em si mesma má, porque até mesmo Cristo estava sujeito a ela. Isso dá origem a formulação história com relaão à concupiscência: ela é do pecado e inclina ao pecado mas não é, em si mesma, pecado.

07) A sétima premissa - conclui que sempre permanece a possibilidade e, na verdade, a realidade dos homens sem pecado. O homem pode ser perfeito e alguns têm sido. Essa tese rejeita categoricamente qualquer doutrina do pecado original, isto é, que os homens têm a natureza corrupta como resultado da queda de Adão. Isso conduz às teses nas quais Pelágio descreve a condição de Adão e de sua progenitura.

08) A oitava premissa - é que Adão foi criado com livre-arbítrio e uma santidade natural indubitável. Essa santidade natural compreendia a liberdade da sua vontade e da sua razão. Uma vez que essas faculdades eram dons dados por Deus na criação, podiam ser consideradas dons da graça. Não foram adquiridas por Adão, mas eram inerentes na sua criação.

09) A nona premissa - é que Adão pecou por vontade própria. Ele não foi coagido por Deus ou por qualquer outra criatura a cometer o primeiro ato de pecado. Esse pecado não resultou na corrupção da sua natureza. Nem causou a morte natural porque Adão foi criado mortal. O pecado de Adão resultou, sim, em "morte espiritual", que não era a perdad da habilidade moral ou uma corrupção inerente, mas a condenação da alma por causa do pecado.

10) A décima premissa - é que a progenitura de Adão não herdou a morte natural e nem a morte espiritual. Sua descendência morreu porque também era mortal. Se seus descendentes experimentaram a morte espiritual, isso se deu porque, de forma semelhante, também pecaram. Eles não experimentaram a morte espiritual por causa de Adão.

11) A décima primeira premissa - afirma que nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transfimitos a sua descendência. Pelágio considerava a doutrina do pecado transmitido (tradux peccati) - e a do pecado original (peccatum orignis) como uma doutrina blasfema arraigada no maniqueísmo. Pelágio insistia que seria injustiça de Deus transmitir ou imputar o pecado de um homem a outros. Deus não introduziria novas criaturas a um mundo onerado com o peso de um pecado que não era delas. O pecado original envolveria uma mudança na natureza constituinte do homem de boa pra má. O homem se tornaria naturalmente mau. Se o homem fosse mau por natureza, tanto antes quanto depois do pecado de Adão, então Deus seria novamente considerado o autor do mal. Se a natureza do homem se tornou pecaminosa ou má, então estaria também acima da redenção. Se o pecado original fosse natural, então Cristo teria de possuí-lo e seria incapaz de se redimir, muito manos a qualquer outra pessoa.

Schaff faz a seguinte observação sobre essa dimensão da antropologia de Pelágio:"Pelágio, destituído da idéia do todo orgânico da raça ou da natureza humana, via Adão meramente como um indivíduo isolado; ele não deu a Adão nenhum lugar representativo, logo seus atos não acarretavam conseqüência além de si mesmo. Em sua visão, o pecado do primeiro homem consistiu de um único e isolado ato de desobediência ao comando divino. Juliano o compara à ofensa insignificante de uma criança que se permite ser desencaminhada por alguma tentação sensual mas que depois se arrepende de sua falha... Esse ato de transgressão único e desculpável não gerou conseqüências à alma e nem ao corpo de Adão, muito menos à sua posteridade, onde todos se mantém ou caem por si mesmos"

Para Pelágio, não há conexão entre o pecado de Adão e o nosso. A idéia de que o pecado poderia ser propagado via geração humana é absurda. "Se seus próprios pecados não prejudicam os pais depois da sua conversão", diz Pelágio, "muito menos os pais podem prejudicar seus filhos".

12) A décima segunda premissa conclui que todos os homens são criados por Deus na mesma posição que Adão gozava antes da queda. Há duas diferenças essenciais entre Adão e sua descendência; mas essas diferenças não são essenciais. A primeira é que Adão foi criado como um adulto; sua descendência teve de desenvolver sua habilidade quanto à razão. A segunda diferença é que Adão foi colocado num jardim paradisíaco ande não prevelacia o costume do mal; sua descendência nasce em uma sociedade ou ambiente no qual o costume do mal prevalece. No entanto, as crianças ainda nasce sem pecado.

Por que, então, a universalidade virtual do pecado? Pelágio atribui a imitação e a longa prática do pecado: "Porque nenhuma outra causa faz com que tenhamos dificuldades de fazer o bem do que o longo costume dos vícios que nos infectam desde a infância e gradualmente, através dos anos, nos corrompem e , assim, nos mantém abrogados e devotados a eles, parecendo, de alguma forma, ter a força da natureza".

Nessa passagem, Pelágio parece chegar perto de admitir o pecado original. A palavra-chave, no entanto, é parecendo. O pecado, na verdade, não tem "a força da natureza", a despeito da sua presença difundida.

13) - A décima terceira premissa é que o habito de pecar enfraquece a vontade. Esse enfraquecimento, no entanto, deve ser entendido no sentido acidental. O costume de pecar obscurece o nosso pensamento e nos conduz aos maus hábitos. Mas esses hábitos descrevem uma prática, não algo que realmente "habita a vontade". A vontade não é enfraquecida; ela não passa por uma mudança constituinte. Ela ainda retém a postura da indiferença sempre que uma decisão ética ou moral precisa ser tomada.

14) - A décima quarta premissa - de Pelágio revela o início de um conceito da graça: A graça facilita a bondade. A graça de Deus faz com que seja mais fácil para nós seros justos. Ela nos assiste em nossa busca da perfeição. Mas o ponto crucial de Pelágio é que, embora a graça facilite a justiça, ela não é, de forma alguma, essencial para que alcancemos essa justiça. O homem pode e deveria ser bom em a ajuda da graça.

"A resolução pelagiana do paradoxo da graça foi baseada numa definição de graça fundamentalmente diferente da definição agostiniana, e foi aí que o debate apertou", observa Joroslav Pelikan. "Espalhou-se que Pelágio estava 'contestando a graça de Deus'. Seu tratado sobre a graça dava a impressão de consentrar-se 'apenas no tópico da faculdade e capacidade da natureza, enquanto fez com que a graça de Deus consistisse quase que inteiramente disso'. Nesse livro, parecia que 'com cada argumento possível, ele defendia a natureza do homem contra a graça de Deus, pela qual o ímpio é justificado e pela qual nós somos cristãos"

15) - A décima quinta premissa - declara que a graça fundamental que Deus dá é aquela dada na criação. Essa graça é tão gloriosa que alguns gentios e judeus têm alcançado a perfeição.
16) - A décima sexta premissa denota a graça dada por Deus em sua lei, a graça da instrução e iluminação. Essa graça nada faz interiormente, mas produz uma definição clara da natureza da bandade. Nas categorias clássicas da virtude, duas coisas distintas foram requeridas: o conhecimento do bem e o poder moral para fazer o bem. Ambos são facilitados pela instrução e ilumimação da lei.

A graça é dada não apenas pela lei, mas também, de acordo com a 17) - décima sétima premissa, por meio de Cristo. Essa graça é também definida como illuminatio et doctrina. A principal obra de Cristo foi nos fornecer em exemplo.

Pelágio escreve, numa carta: "Nós, os que fomos instruídos pela graça de Cristo e nascidos de novo pra uma humanidade melhor, que fomos expiados e purificados pelo seu sangue e incitados a justiça perfeita pelo seu exemplo, devemos ser melhores do que aqueles que existiram antes da lei, e melhores também do que aqueles que estiveram sob a lei"; mas o argumento total dessa carta, emque o tópico é simplesmente o conhecimento da lei como meio poara a promoção da virtude, e também a declaração de que Deus abre os nossos olhos e revela o futuro "quando nos ilumina com o dom multiforme e inefável da graça celestial", prova que para ele... a"assistência de Deus" - consiste, no final, apenas em instrução.

A doutrina da graça de Pelágio é meramente o outro lado da sua doutrina do pecado. Por todo o seu pensamento, permanece a afirmação fundamental da inconversibilidade da natureza humana. Tendo sido criado boa, ela sempre permanece boa.

18) - A décima oitava premissa é que a graça de Deus, é compatível com sua justiça. A graça não fornece benefício adicional a natureza humana, mas é dada por Deus de acordo com o mérito. Em última análise, a graça é merecida.

Podemos resumir os dezoito pontos do pensamento pelagiano como se segue:

01. Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.

02. Tudo o que Deus criou é bom.

03. Como alogo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.

04. A natureza humana é inateravelmente boa.

05. O mal é um ato que nós podemos evitar.

06. O pecado vem via armadilhas satânicas e concupiscência sensual.

07. Pode haver homens sem pecado.

08. Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade natural.

09. Adão pecou por livre vontade.

10. A descendência de Adão não herdou dele a morte natural.

11. Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.

12. Todos os homens são criados como Adão era antes da queda.

13. O hábito de pecar enfraquece a vontade.

14. A graça de Deus facilita a bondade mas não é necessária para se alcançá-la.

15. A graça da criação produz homens perfeitos.

16. A graça da Lei de Deus ilumina e instrui.

17. Cristo trabalha principalmente pelo seu exemplo.

18. A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.

O Curso da Controvérsia.

A controvérsia pelagiana surgiu por volta de 411 ou 412 em Cartago. Coelestius, discípulo de Pelágio, tentava ser nomeado presbítero em Cartago. Paulinius o denunciou com a acusação de que ele ensinava que o batismo de unfantes não objetivava a purificação do pecado. Harnack lista os itens da denúncia de Paulinius: Pelágio ensinava "que Adão foi feito mortal e teria morrido se tivesse ou não pecado - que o pecado de Adão só trouxe prejuízo a ele mesmo e não a raça humana - infantes, quando nascem, estão no estado em Adão estava antes do seu erro -que a raça humana não morre por causa da morte de Adão e do seu erro e nem ressuscitará em virtude da ressurreição de Cristo - tanto a lei quanto o Evangelho admitem os homens no reino dos céus - mesmo antes do advento de nosso Senhor, houve homem impecáveis, isto é, homens sem pecado - que o homem pode estar sem pecado e pode facilmente manter os comandos deivinos se assim desejar".

O Sínodo de Cartago excomungou Coelestius. Ele, então, retirou-se para Éfeso onde conseguiu tornar-se presbítero. Enquanto isso, Pelágio desejando evitar qualquer grande controvérsia, havia viajado pra a Palestina. Antes disso, havia visitado Hippo, mas Agostinho estava fora e assim, não se encontraram. De Jerusalém, Pelágio escreveu uma carta lisonjeira a Agostinho. Este respondeu com uma carta cortês mas cautelosa. Agostinho ainda estava se recuperando da pressão da controvérsia donastia e sabia pouco sobre a controvérsia que estava se formando em Cartago com Coelestius. Agostinho recebeu notícias de Jerusalém de que o ensino de Pelágio estava causando um tumulto por lá.

Orósio, um amigo e discípulo de Agostinho, solicitou uma sindicância contra Pelágio em 415, mas Pelágio foi exonerado. Em dezembro desse ano, um sínodo palestino denunciou alguns escritos de Pelágio. Quando o sínodo exigiu que ele renunciasse ao seu ensino de que o homem pode estar sem pecado sem a ajuda da graça, Pelágio capitulou. Ele disse, "eu os anatemizo como insensatos, não como heréticos, visto não ser caso de dogma". Ele repudiou o ensino de Coelestius dizendo: "Mas as coisas que declarei não sendo minhas, eu, de acordo com a opinião da santa igreja, reprovo, pronunciando um anátema a todo aquele que se opuser".

Como resultado, Pelágio foi pronuciado ortodoxo. Reinhold Seeberg chama a resposta de Pelágio de "mentira covarde". Isso deixou Pelágio com a difícil tarefa de recuperar a sua credibilidade diante de sus próprios defensores. Ele escreveu quatro livros, incluindo De natura e De líbero arbitrio para elucidar suas opiniões.

A igreja da África do Norte não estava satisfeita com os resultados do sínodo. Jerônimo o chamou de "sínodo miserável" e Agostinho disse, "não foi a heresia que foi absolvida lá, mas o homem que a negou". Dois sínodos norte-africanos aconteceram em 416, e ambos condenaram o pelagianismo. Uma carta dos precedimentos foi enviada ao papa Inocência, e esta foi seguida por outra carta de cinco bispos norte-africanos, incluindo Agostinho. Pelágio reagiu com uma carta sua. O papa Inocência se agradou em ser consultado e expressou sua concordância total com a condenação de Pelágio e Coelestius: "Declaramos, em virtude da nossa autoridade Apostólica, que Pelágio e Coelestius estão excluídos da comunhão da Igreja até que se lebertem das armadilhas de Satanás".

No ano seguinte (417), o papa Inocência morreu e foi sucedido pelo papa Zózimo. Pelágio enviou uma confissão de fé bem-composta a Roma, argumentando que havia sido falsamente acusaso e deturpado pelos adversários. Enquanto isso, Coelestius havia ido a Roma e submetido ao papa uma síntese de submissão. O biógrafo de Agostinho, Peter Brown, escreve: "Pelágio apressou-se em obedecer às convocações do Bispo de Roma; ele havia sido precedido por um bispo Heros e Lázaro, eram inimigos pessoas de Zózimo... numa sessão forma, Zózimo recusou pressionar Coelestius e, assim, pôde declarar-se satisfeito. Pelágio obteve uma saudação ainda mais calorosa em meados de setembro. Zózimo disse aos africanos..., 'Quão profundamente cada um de nós foi movido! Dificilmente alguém presente poderia reter as lágrimas ao pensamento dessas pessoas de fé genuína terem sido difamadas".

O julgamento de Zózimo não encerrou o assunto. A igreja norte-africana convocou um concílio geral em Cartago em 418 ao qual compareceram mais de duzentos bispos. O concílio lançou vários cânones contra o pelagianismo, incluindo o seguinte:

"Todo aquele que diz que Adão foi criado mortal e teria, mesmo sem pecado, morrido por necessidade natural, seja anátema...

Os cânones prosseguiram condenando as seguintes doutrinas: "que... o pecado original ( não é) herdado de Adão; que a graça não ajuda com relação aos pecados futuros; que a graça consiste apenas em doutrinas e mandamentos; que a graça apenas faz com que seja mais fácil fazer o bem; (e) que os santos expressam a quinta súplica da oração do Senhor não por si mesmos, ou apenas por humildade"

Zózimo, então, retratou-se quanto a sua posição anterior e publicou uma epístola requerendo que todos os bispos subscrevessem os cânones desse conselho. Dezoito bispos, incluindo Juliano de Eclanum, recusaram-se. Historiadores uniformemente consideram Juliano como o mais capaz e astuto defensor da teologia pelagiana. Ele forçou sua causa com cartas ao papa e com uma crítica mordaz às visões de Agostinho. Quando Banifácio secedeu Zózimo, ele persuadiu Agostinho a refutar Juliano, e esse trabalho o ocupou até a sua morte. Dezessete dos dezoito bispos que resistiram à epístola papal, retrataram-se subsequentemente. Apenas Juliano persistiu. Depois de ser desposado do seu cargo, refugiou-se, juntamente com Coelestius, em Constantinopla, onde em 429 recebeu as boas vindas do patriarca Nestor. Pouco se sabe da vida subseqüente de Pelágio e Coelestious. A aliança de Juliano e Nestor não o ajudou porque o póropio Nestor foi mais tarde condenado por causa da heresia que levava seu nome.

O terceiro conselho ecumênico em Éfeso (431 d.C), realizado um ano após a morte de Agostinho, conenou o pelagianismo. Schaff faz a seguinte observação sobre o sistema de pensamento pelagiano:

"Se a natureza humana não é corrupta, e a vonta de natural é competente para todo o bem, não precisamos de um Redentor para criar em nós uma nova bondade e uma nova vida, mas apenas de alguém que nos melhore e enobreça; e a salvação é, essencialmente, obra do homem. O sistema pelagiano realmente não tem lugar para as idéias de redenção, expiação, regeneração e nova criação. Ele as substitui pelos nossos próprios esforços de aperfeiçoar nosso poderes naturais e a mera adição da graça de Deus como suporte e ajuda valiosa. Foi somente por uma feliz inconsistência que Pelágio e seus adeptos tradicionalmente permanecem nas doutrinas da igreja da Trindade e da pessoa de Cristo. Logicamente, seu sistema condizia a uma Cristologia racionalista".