segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A doce ilusão de um reino de Deus no Brasil


Por João A. de Souza Filho

Pois meus amigos, vocês que são leitores assíduos do que venho escrevendo poderão ou não concordar comigo de que a igreja brasileira vive a doce ilusão de que é possível implantar o reino de Deus através da política. A velha crença de que se tivermos um governo cristão, com um Presidente comprometido com os ideais de Cristo, e que se tivermos no Senado e na Câmara bons cristãos – evangélicos é claro – dizem alguns, teremos outro Brasil.

Não quero desiludi-los. Nem me refiro a ter ou não mais liberdade religiosa, porque esta liberdade está garantida pela atual constituição. Quem sabe os amigos do “rei” ganhariam mais emissoras de rádio e de tevê; que mais verbas da cultura ajudassem as editoras a publicar livros com cunho cristão e que livrarias se interessassem por tudo o que gospel.

Mas, a igreja nunca precisou de liberdade para pregar o evangelho, porque este é pregado independentemente de haver liberdade ou não, com a única possibilidade de que os cristãos não sejam julgados e presos. Mas, se tivéssemos um governo totalmente evangélico, por certo que caminharíamos para um governo radical, xiita, que censuraria tudo o que fosse escrito, televisado ou falado no rádio, cerceando a liberdade religiosa de credos diferentes dos cristãos. Não é verdade? Os evangélicos não são maduros suficientemente para governarem uma nação, porque, caso o presidente por eles eleito comparecesse a uma festa social e beneficiasse credos diferentes, logo haveriam de execrá-lo do poder. É assim que funciona. Seríamos iguais aos países religiosos totalitários do Oriente.

O segundo aspecto é que desde as eleições de 1988 ainda não vi um político evangélico que não tenha se corrompido moral e politicamente com a política. Obviamente que o político precisa, primeiramente se comprometer com os ideais de seu partido, inda que tais ideais sejam de partidos que sistematicamente perseguiram e mataram os cristãos na Europa Oriental em décadas passadas. Os políticos que não se comprometem com o programa do seu partido são expulsos, e, convenhamos o programa do partido do atual governo é contrário aos ideais cristãos. Os políticos evangélicos os não-evangélicos têm um discurso atraente e convincente antes de serem eleitos, mas depois a prática da política os conduz pelos corredores da propina e do enriquecimento – às vezes ilícito – esquecendo-se de onde vieram, e das promessas feitas em campanha.

O terceiro aspecto, é que o sistema mundial que governa o curso deste mundo está nas mãos de Satanás, e o mundo só terá um governo de justiça por ocasião do segundo advento de Cristo. Qualquer pessoa, por mais intencionada que esteja terá que seguir o curso do sistema, ou chocar-se-á contra ele e se espatifará. Isso tem acontecido com todos os que não concordam com o sistema. Conheço vários ex-políticos que se desiludiram porque o sistema os estava destruindo, e alguns até foram destruídos. É bem possível que alguns que estão no cenário da política nacional não tenham se corrompido – o que não acredito – porque em escala menor ou maior já obtiveram vantagens pessoais com o cargo que exercem.

Os apóstolos deixaram claro seu posicionamento em relação ao sistema, avisando que o mundo está no maligno; que o deus deste século cega o entendimento das pessoas. Se a tendência é o de deixar a malignidade tomar conta do coração, como Deus alertou o povo de Israel – “e não seja maligno o teu coração” (Dt 15.10), imagine cair no sistema maligno! “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno?” (2 Co 6.15) pergunta Paulo. Nenhuma, diz João, porque “o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19), e Jesus afirmou que nada tem a ver com o “príncipe deste mundo” (Jo 14.30).

Admiro a todos os políticos evangélicos que se arriscam trilhar o perigoso caminho da política sob cuja égide age abertamente Satanás. Oro por eles, como sempre orei por meus amigos que desde 1988 entraram para a política e se corromperam. Construíram uma “linda” carreira e a tão sonhada estabilidade financeira, ao custo de algumas perdas, quem sabe, a maior delas, a perda do galardão que lhes estava preparado. Não me refiro à salvação, adquirida pelos méritos de Cristo, mas ao galardão que está preparado a todos os que são fieis. Reconheço seus avanços e a forma como impediram que certos decretos e leis fossem estabelecidos com prejuízo para o povo de Deus, e nisto são elogiáveis – mas também sei que a igreja vive acima das leis, sua existência terrena é revestida de transcendentalidade.

Como afirmou certo escritor no passado: “... a trilogia das atividades humanas se resume nestas palavras: fama, prazer e bens. Tudo está subordinado a esses três objetivos, em defesa dos quais o mundo apresenta hábeis argumentos, criando a ilusão de que são realmente dignos”.

Pense nisso. Vote consciente, afinal, vivemos numa falsa democracia em que somos obrigados a votar. Escolha bem, se é que você tem opções, caso contrário, compareça às urnas e opte por não votar em ninguém! Para o bem do país!

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