domingo, 19 de setembro de 2010

O Conceito de Sabedoria



Por Martyn Lloyd-Jones

Sabedoria é a faculdade de fazer uso da inteligência e do conhecimento e de relacionar estas capacidades com as coisas práticas e comuns da vida. Aí está como eu vejo a essência desta palavra. Sabedoria, é claro, é muito semelhante a julgamento, e também estamos familiarizados com a diferença entre posse de conhecimento e julgamento. Não são a mesma coisa. Há pessoas que sabem muitíssimas coisas. Têm memória maravilhosa e podem lembrar todo tipo e espécie de fatos, mas são incapazes de exercer julgamento. Conseqüentemente, não podem equipar o seu conhecimento, não conseguem aplicá-lo, são incapazes de usá-lo para enfrentar problemas particulares. São como discos de vitrola: podem repetir informações, porém não as podem aplicar, e daí dizerem delas: "Ah, sim, ele é muito instruído, mas incapaz de julgar; realmente lhe falta sabedoria".

Quais as características do homem descrito na Bíblia como néscio, como uma pessoa tola, insensata, não sábia? (...) Primeira característica de uma pessoa néscia é que é geralmente governada pelos sentimentos. É o tipo de pessoa que vota num membro do parlamento só porque se impressiona com a sua bela aparência ou algo semelhante (...) Outro sinal do néscio, do insensato, é que ele é sempre governado pelo desejo: "Tenho que ter o que quero e o que quero é justo" (...) A pessoa néscia, insensata, sempre age e é governada por impulsos e instintos e, naturalmente, geralmente se orgulha disto. "Não sou dos que lêem bastante, pensam e meditam, você sabe. Eu pego uma idéia e a ponho em ação" (...) Tenho ouvido homens deste tipo dizerem que, quando precisam fazer uma nomeação realmente importante em seu negócio ou em seu escritório, sempre confiam no julgamento instintivo da esposa. Bem, pode haver algo nisto! Mas o que estou dizendo é que se vocês elevarem isto à condição de princípio, certamente estarão fazendo alguma coisa realmente perigosa, sob todos os pontos de vista e, sem dúvida, contrária ao ensino das Escrituras.

Com muita freqüência, o néscio é governado pelo zelo (...) O zelo e a sinceridade são maravilhosos, porém nunca foram destinados a estar no comando, e se lhe derem o comando é certo que sobrevirá o desastre. Mas existem muitos que se deixam governar pelo seu zelo. Eles vêem algo e querem fazê-lo, e assim se precipitam, sem tomar em consideração mais nada. Presumem que, em face do fato de serem zelosos, só podem estar certos. Não, vocês podem estar sinceramente errados. Eis a que tudo isto chega: a pessoa insensata não pensa adequadamente. Não pensa direito num assunto; em particular, não pensa adiante. Só está preocupada com o momento particular (...) Visto que ele não olha adiante e visto que não considera as conseqüências está sempre impaciente. Então, que é a sabedoria? Sábio é o homem que sempre pensa. Não age baseado apenas no instinto, ou no impulso, ou no desejo. Não, ele insiste em aplicar-se ao pensamento, à razão e à meditação (...) Ele é um homem que examina completamente cada proposição com que se defronta, ou cada situação a que é levado. É um homem que primeiramente e acima de tudo dá atenção a toda evidência (...) Às vezes penso que o sinal distintivo do sábio é que ele sempre é um bom ouvinte (...) Ao ter examinado as evidências, ele as relaciona com os princípios fundamentais.

Fonte:
As Trevas e a Luz, Martyn Lloyd-Jones, ed. PES, 1995, págs.378-385

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