segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Poder do Evangelho: Uma breve análise de Tessalonicenses 1

.

Por: Thiago dos Santos


Introdução:

Tessalônica era uma cidade grega de considerável importância política e geográfica. Situada ao noroeste do mar Egeu, numa planície rica e bem irrigada, de lá era possível enxergar o monte Olimpo, a habitação dos deuses gregos, segundo a mitologia. Fundada no ano 315 a.C., recebeu esse nome por Cassandro, um oficial de Alexandre o Grande, que queria dedicar a cidade a uma jovem mulher com o mesmo nome, e que era meia irmã de Alexandre. A cidade ganhou certa auto-suficiência em seu governo ao optar apoiar os romanos quando estes emergiam para o império.

A cidade ainda existe nos dias de hoje e é conhecida como Salonika, a segunda maior cidade da Grécia moderna, ficando atrás apenas de Atenas.

O Apóstolo Paulo seguiu para região da Macedônia por ocasião de sua segunda viagem missionária, quando por uma visão da parte do Espírito Santo, partiu para aqueles lados ao invés de seguir viagem à Ásia, como planejava (Atos 16.6-10). Chegou em Tessalônica após haver viajado cerca de 175 km vindo de Filipos, onde havia sido ultrajado e preso com Silas. (Atos 17.2 e 1 Tess. 2.2).

Ao chegar em Tessalônica, prontamente passou a pregar o Evangelho nas Sinagogas durante mais ou menos três semanas. A pregação da Palavra converteu alguns dentre os judeus que ali habitavam e grande multidão de gentios (Atos 17.4).

As epístolas aos tessalonicenses, tanto a primeira como a segunda, são consideradas como das mais antigas do Novo Testamento. Foram escritas pelo apóstolo Paulo por volta do ano 51-53, quando provavelmente ele estava na cidade de Corinto. Tendo passado pouco tempo em Tessalônica, e preocupado com a situação da jovem igreja que ali iniciara, Paulo enviou Timóteo para lá a fim de que “confirmasse o trabalho que havia sido iniciado e para que exortasse aos irmãos a que permanecessem na fé e firmes na Palavra” (1 Tess. 3.2). A carta, portanto, foi escrita logo após Paulo haver recebido um relatório de Timóteo sobre o que havia encontrado (1 Tess. 3.6).

Ambas as cartas são assinadas por Paulo, Timóteo e Silvano (possivelmente a forma latina de Silas). Paulo tinha vários propósitos nessas cartas, dentre os quais destaco o de encorajar os irmãos de Tessalônica, confirmando os frutos que o Espírito havia produzido (Caps. 1-3), exortar acerca de preceitos fundamentais da prática cristã, recomendando que buscassem crescimento e aperfeiçoamento daquelas verdades que já receberam; afirmar conceitos fundamentais da pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo, e exortá-los a serem criteriosos na forma como recebem a pregação e ensino, atentando-se sempre àquilo que ele mesmo já havia ensinado enquanto lá esteve e para a Palavra inspirada. A preocupação central do apóstolo Paulo, todavia, era a de corrigir o entendimento dos tessalonicenses sobre a questão da volta do Senhor Jesus Cristo.

Das inúmeras lições que podemos extrair das cartas aos tessalonicenses, gostaria de destacar alguns pontos de grande importância que encontramos no capítulo 1:

a) A igreja é de Deus e Ele é a fonte de nossa vida e virtudes;

b) O Evangelho é o meio de Deus para nossa salvação;

c) O Testemunho das virtudes cristãs é evidência de nossa salvação.


1. Deus é a fonte de nossas virtudes:

Paulo então inicia sua carta com uma breve apresentação e dirigindo-se à igreja, chamando-a de “igreja em Deus e no Senhor Jesus” (v.1).

Interessante Paulo lembrar aos tessalonicenses, uma igreja bem jovem, a quem pertencia a igreja. A igreja é fundação e propriedade do próprio Deus.

A igreja é de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo fala em Atos 20.28 que Deus comprou a igreja com o sangue do nosso Senhor Jesus Cristo.

O fundamento da Igreja é Jesus Cristo (Ef. 2.19-22) e ela é o ajuntamento de todos que ouviram o evangelho, foram regenerados, creram no Senhor Jesus com fé e arrependimento e foram justificados, adotados e estão sendo santificados, preparados para o encontro triunfal com Deus, nas alturas, quando Jesus Cristo retornar. A igreja é constituída de pecadores redimidos, comprados pelo sangue do cordeiro, salvos, que nasceram de novo, das novas criaturas, dos que são nação santa, povo e família de Deus, escolhidos desde os tempos eternos, que vivem em comunhão e se ajudam mutuamente, desenvolvendo em si o caráter de Jesus Cristo, exortando-se mutuamente, exibindo a luz do céu em testemunho da ação da graça de Deus em sua vida. Calvino diz que a “Igreja é igreja quando Deus preside e Cristo reina. A igreja não é igreja se não for fundada em Deus e reunida em nome de Jesus.”

Tudo o que temos e somos, como povo de Deus, vem dEle mesmo. O texto de Romanos 8 fala em incorporação, assimilação do caráter de Jesus, pelo auxílio do Espírito Santo.

No verso 2, Paulo prossegue destacando as virtudes daquela jovem igreja, realçando as três características mais importantes do povo de Deus:

a) Fé

b) Esperança

c) Amor

Esses três dons são essenciais para a vida cristã. São dádivas divinas que caracterizam o povo de Deus como povo de Deus. Paulo fala de fé, esperança e amor em várias de suas cartas: Rm. 5.2-5; Gl. 5.5,6; Col 1.1-8; 5.8 e 1 Co. 13.13.

Aqui, Paulo qualifica esses dons, realçando assim seus efeitos, seus resultados.

a) Sobre a fé ele a chama de operosa. A palavra é “ergon” que significa, literalmente, obra. Tiago, em sua epístola, lembra-nos que a fé sem obras é morta. Outra maneira de colocar isso é que as obras evidenciam a nossa fé. Aliás, Tiago diz que com nossas obras mostramos nossa fé (Tg. 2.18). Não podemos alegar ter fé se esta não for operosa.

b) Sobre o amor, ele o chama de altruísta, de abnegado. Aprendemos sobre a abnegação do amor em 1 Co 13.5, quando lemos que o amor não procura o seu próprio interesse. Em João 3.16, vemos algo que parece paradoxal: Deus amou o mundo e por isso deu seu filho amado. Precisamos ser lembrados que Deus deu seu filho para que fosse morto. Nós evidenciamos nosso amor por Deus quando amamos nosso próximo. Os tessalonicenses entendiam bem a idéia de amor altruísta, pois, quando o evangelho chegou na cidade, causou muito tumulto e até perseguição. Jasom, um dos líderes que recebeu Paulo em sua casa foi levado preso, e teve de pagar fiança para sair daquela situação (At. 17.1-9). O amor ali precisava ser de fato ativo, pois haviam muitos que padeciam aflições graves, como perda de bens; outros eram fugitivos, enfim.

c) Paulo fala também da firmeza da esperança deles. A Esperança é outro dom de Deus que está na galeria dos mais excelentes dons (1 Co. 13.13). A esperança do porvir é o que sustenta o cristão neste mundo de trevas e anima seu espírito a continuar caminhando. A igreja aos tessalonicenses tinha uma esperança firme, segura. E a esperança era voltada a Jesus Cristo. Esta talvez fosse a certeza mais segura que os tessalonicenses tinham. Seu senso de expectação da volta de Cristo e confiança em suas promessas era uma característica marcante deste povo. Paulo, todavia, demonstra que faziam bem em confiar nas promessas e retorno do Senhor mas que, enquanto fazem isso, devem viver neste mundo com a luz do Senhor Jesus Cristo, cumprindo seus deveres sociais, familiares, e sendo responsáveis em tudo quanto fazem, enquanto aguardam a vinda do Senhor.

Fé operosa, amor abnegado e esperança Firme. E Paulo enfatiza que essas virtudes são de Deus. Ele demonstra isso ao dizer no verso dois que dá graças a Deus por esses dons. Ele lembra aos tessalonicenses que esses dons vieram do Senhor, que não era algo que desenvolveram por si só.

2. O Evangelho é o meio de Deus para nossa salvação:

Paulo prossegue nos versos 4 e 5, lembrando aos tessalonicenses que esses dons divinos, são fruto da transformação que aconteceu em sua vida. No verso 9 vemos que ele enfatiza que eles são o que são por que foram convertidos pelo poder do evangelho.

A Palavra conversão aparece no Novo Testamento 25 vezes na forma verbal e apenas uma vez na forma de substantivo. A palavra grega mais comumente traduzida por conversão é “epistrepho”. Esta palavra dá a idéia de “voltar atrás”; “retornar”. Trata-se de uma mudança de direção. Na Escritura Sagrada, a palavra conversão é usada para indicar o que acontece com a vida de quem ouve a mensagem do evangelho e passa a seguir Jesus Cristo. A palavra implica a idéia de contraste, ou seja, de deixar uma direção para seguir a direção oposta: trevas para luz. Morte para vida. Escravidão de Satanás e do mundo para escravidão a Deus. Idolatria, para o único Deus. Pecado para a santidade. Perdição para salvação.

Para que a conversão ocorra, é necessário que a direção – neste caso, da vida, dos valores, das afeições, dos propósitos, dos sonhos e aspirações, dos alvos, da conduta, do pensamento, dos hábitos, das práticas, das escolhas, da vontade, enfim, da vida toda, é necessário que a direção em 180º. É necessário abandonar tudo e seguir noutra direção. Na direção oposta.

· O agente da conversão é o Espírito Santo (Jo 3.1-15)

· O meio de conversão, na Escritura, é a pregação. (Rm. 10.17)

· A mensagem da pregação é o Evangelho (Rm 15.19)

· O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16).

Só o evangelho, as boas novas de salvação, pode mudar o coração entenebrecido do pecador.

Paulo fala do poder do evangelho em Romanos. A palavra poder ali, transmite a idéia de um poder tal, que é semelhante àquele usado por Deus para criar o universo.

3. Testemunho das virtudes cristãs é evidência de nossa salvação.

No verso 5 vemos a eleição – a vocação, chamado, graça – de Deus se evidencia na vida dos cristãos de Tessalônica por meio das virtudes cristãs que ele destacou no verso 2 [a fé operosa; o amor abnegado; a firme esperança] e pelo testemunho público.

Eles receberam a palavra e nela perseveraram, mesmo num ambiente tumultuado, cheio de tribulações e perseguições. Apesar disso tudo, a alegria desses crentes era algo notório não só entre eles, mas em toda a região. Sua fama os precedia. Paulo diz que em todo lugar se ouvia sobre a fé para com Deus que possuía aquele povo.

Aqui temos uma igreja que, mesmo em situações de aflições e perseguição, estava alegre no Senhor e tinha um testemunho tão exuberante que se tornou conhecido em toda aquela parte do império.

Conclusão:

Quando estudamos a vida e procedimento da igreja primitiva e a comparamos com a igreja cristã hoje, sentimo-nos envergonhados. Vivemos em tempos de tantos privilégios e liberdade para cultuar ao Senhor e ainda assim conseguimos ser tão cismáticos e tão cheio de erros grotescos.

Os cristãos em Antioquia receberam esse nome, “cristão”, porque exibiam o caráter e ensino de Cristo em sua vida. Temos de fazer o mesmo. Afirmar os valores cristãos em nossa peregrinação neste mundo. Devemos colocar nossa fé em Cristo e amar ao próximo; devemos viver com responsabilidade e com um senso de expectação. Precisamos recuperar a mensagem do evangelho, poder de Deus para a salvação dos perdidos. Só assim a igreja será estabelecida e receberá do Senhor os dons necessários para ser sal na terra. Só assim a igreja exibirá um testemunho tão poderoso, que lançará luz neste mundo tenebroso em que vivemos.

Sobre o autor: Tiago J. Santos Filho é bacharel em direito e mestrando (M.Div) em Teologia Sistemática pelo instituto de pós-graduação Andrew Jumper da universidade Mackenzie. É membro da Igreja Batista da Graça onde auxilia como pregador e professor. É editor-chefe e coordenador das conferências Fiel para pastores e líderes da Editora Fiel e é o atual presidente do conselho da Comunhão Reformada Batista no Brasil. Casado com Elaine e pai de três filhos: Tiago, Gabriel e Rebeca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário