sábado, 31 de dezembro de 2011

"Uma geração perversa busca sinais" (Mc 8.12)


Por João Calvino

Visto que os judeus pedem sinais etc.(1 Co 1.22-24). Isto explica as sentenças anteriores, ou seja: Paulo está mostrando de que maneira a pregação do evangelho é tida como loucura. Contudo, ele não só explica, mas também o expande, dizendo que os judeus fazem mais do que reputar o evangelho como algo de pouco valor, pois eles, além disso, o detestam. "Os judeus", diz Paulo, "querem ter a evidência do poder divino, ante seus olhos, na forma de milagres.

Os gregos amam o que possui o encanto da sutileza e se agradam da engenhosidade humana. Nós, na verdade, pregamos o Cristo crucificado, e, à primeira vista, não há nisto nada de extraordinário senão fraqueza e loucura. Portanto, ele não passa de pedra de tropeço para os judeus ao vê-lo aparentemente esquecido por Deus. Quando os gregos ouvem como foi que se procedeu a redenção, acreditam ouvir uma fábula." Em minha opinião, Paulo quer dizer pelo termo gregos não simplesmente os pagãos ou gentios, mas todos aqueles que eram educados nas ciências liberais, ou que eram de projeção em razão de sua inteligência superior. Todavia, por meio de sinédoque, todos os outros estão igualmente incluídos aqui.

Em seguida, ele descreve uma distinção entre, judeus e gregos. Quando os judeus agrediam Cristo em seu extravagante zelo pela lei, eles trovejavam numa tormenta de fúria contra o evangelho - assim como os hipócritas sempre o fazem quando estão lutando por suas próprias crenças equivocadas (=superstitionibus). Os gregos, por outro lado, intumescidos de orgulho, desprezavam-no como sendo algo insípido.

O fato de Paulo encontrar culpa nos judeus por serem tão solícitos na busca de sinais, não significa que, em si mesmo, seja errôneo desejá-los. Ele mostra, porém, onde estavam errados, à luz dos seguintes pontos: (1) em sua repetida insistência em exigir milagres, estavam, em certo sentido, prensando Deus sob suas leis; (2) através do embotamento de seu entendimento, queriam manter contato palpável com Deus por meio de milagres públicos; (3) sendo hipnotizados pelos próprios milagres, olhavam para eles com estupor; (4) em resumo, nenhum milagre poderia satisfazê-los, senão que a cada dia esperavam, ansiosos, ver um novo. Pois Ezequias não é censurado porque prontamente consentiu ser reanimado por meio de um sinal (2 Rs 19.29; 20.8). Mesmo Gideão não foi reprovado, embora buscasse um duplo sinal (Jz 6.37,39). No entanto, em contrapartida, Acaz é condenado porque rejeitou o sinal que lhe foi oferecido pelo profeta (Is 7.12). Portanto, por que os judeus estavam errados ao buscarem milagres? Porque não os buscavam para um bom propósito; não punham nenhum limite às suas exigências; não estavam fazendo bom uso deles. Pois enquanto a fé deve ser auxiliada pelos milagres, eles simplesmente se esforçavam por encontrar uma maneira de permanecerem em sua descrença. Enquanto que, para Deus, é ilícito sacrificar a lei, em seu monstruoso desejo eles não sabiam o que era abuso. Enquanto os milagres devem guiar-nos ao conhecimento de Cristo e da graça espiritual de Deus, para os judeus isto não passava de obstáculo. Por essa razão, também, Cristo os repreende, dizendo: "Uma geração perversa busca sinais" (Mc 8.12). Porquanto não havia limites para sua curiosidade e suas persistentes exigências; e assim que obtinham milagres, nenhum era o melhor para eles.

Tanto gregos como judeus. Paulo mostra, por meio desta antítese, quão pessimamente é Cristo recebido, e que isto não é oriundo de alguma falha que porventura haja nele, nem tampouco pela natural inclinação do gênero humano, senão que sua causa consiste na perversidade daqueles que não haviam sido iluminados por Deus. Pois nenhuma pedra de tropeço impede os eleitos de Deus de virem a Cristo a fim de encontrar nele a certeza da salvação. Paulo contrasta poder com pedra de tropeço que advém da humildade de Cristo, como também confronta sabedoria com loucura. A essência disto é, pois, a seguinte: "Eu sei que nada, a não ser os sinais, pode ter algum efeito na obstinação dos judeus, e que na realidade só uma fútil espécie de sabedoria pode aplacar a atitude desdenhosa dos gregos. Não devemos, contudo, dar demasiada importância a este fato, visto que não importa o quanto nosso Cristo ofende os judeus com a ignomínia de sua Cruz e seja tratado com o máximo de desprezo pelos gregos; não obstante, ele é para todos os eleitos, de todas as nações, o poder de Deus para a salvação, para remover essas pedras de tropeço, e a sabedoria de Deus para afastar tudo o que se disfarça (=larvam) em sabedoria."

Porque a loucura de Deus. Quando o Senhor trata conosco, de certa forma parece agir estapafurdiamente em razão de sua sabedoria não transparecer; não obstante, o que aparenta ser absurdo excede em sabedoria a toda a argúcia humana. Além do mais, quando Deus oculta seu poder e parece agir como se fosse frágil, o que se imagina ser fragilidade é, não obstante, mais forte do que todo o poder humano. Entretanto, devemos sempre observar, ao lermos estas palavras, que existe aqui uma concessão, segundo fiz notar um pouco antes. Pois alguém pode notar mui claramente quão impróprio é atribuir a Deus, seja loucura ou fraqueza; mas era indispensável que se usassem essas expressões irônicas ao rebater-se a insana arrogância da carne, a qual não hesita em espoliar a Deus de toda a sua glória.

Fonte: Josemar Bessa

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tamanho é documento para Deus?


Por Mauricio Zágari

É notório que, no imaginário popular do evangélico brasileiro, uma igreja abençoada por Deus é uma igreja enorme. Cheia. De preferência, lotada. Com montes de departamentos, atividades, grupos disso e daquilo, ministérios mis e cheias de bons dizimistas. Quem entra nesses maracanãs da fé costuma achar que ali é a sucursal do Céu, pois tudo é grande, os projetos são ousados, o lance é arrebentar o inferno, mergulhar no oceano do Espirito, ter um grupo de louvor (ou mais de um) com CD gravado, um coral de 300 vozes (por que não 500?), grupo de dança, teatro, evangelismo e vamos que vamos! Só que, para mim, Deus não está nem aí para esse tipo de igreja. E explico por quê.

O Senhor não suporta arrogância e orgulho. A Biblia diz que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tg 4.6; 1 Pe 5.5). e que “Os arrogantes não são aceitos na tua presença” (Sl 5.5); “O Senhor preserva os fiéis, mas aos arrogantes dá o que merecem” (Sl 31.23); “Embora esteja nas alturas, o Senhor olha para os humildes, e de longe reconhece os arrogantes” (Sl 138.6).

A Bíblia deixa claro que humildade é uma das características que o Criador mais preza nas suas criaturas. Pois demonstra que elas sabem quem são diante da grandeza do Rei e que têm compreensão de sua natureza: pó. Ocorre que, se você observar com muita atenção, na grande maioria das vezes, líderes e outras pessoas ligadas aos diferentes ministérios dessas megamáquinas da fé são pessoas extremamente arrogantes. Se acham especiais – afinal, Deus as ” abençoou” com tamanho, com quantidade.

Já tive a oportunidade de observar às vezes simples líderes de juventude de megaigrejas se comportarem como os manda-chuvas do pedaço, exigindo tratamento diferenciado, destratando pessoas. Arrogância pura. Causada por o quê? Pelo pensamento equivocado de que “se Deus me pôs à frente de um trabalho tão grandioso, com tantas pessoas sob meu comando, eu devo ser algo especial”. Ao que a Biblia responde: “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda” (Pv 16.18).

Quem conhece os bastidores desses Taj Mahals da fé sabe ainda que muitas vezes há pecados relacionados a dinheiro nas coxias dessas megaestruturas. Em impérios eclesiásticos, os olhos crescem. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida inundam corações outrora puros. Que me perdoem os Mike Murdocks e os Morris Cerullo da vida, mas ter muito dinheiro à mão, acredite, é uma desgraça para o cristão. Pois ele perde o senso de dependência de Deus, torna-se abusador, gasta mais do que precisa, esbanja. O cofre da igreja torna-se acessível a qualquer momento e como “o líder merece, afinal rala tanto por aquela igreja”, sente-se à vontade para sacar, alem de seu justo salário, quanto e quando quiser daquela conta corrente descontrolada. E sem meias-palavras? Isso é pecado.

É pecado pois esse dinheiro não pertence ao líder, mas a Deus. E deve ser investido nas coisas de Deus e não em benefícios para o líder e sua vida pessoal. Entenda isso: o líder de uma igreja é servo. E um servo não é dono da casa de seu senhor. Muito menos do dinheiro dele. Os que lançam mão daquilo que não é seu… bem, precisa dizer o nome que se dá a isso?

Essas megaigrejas se tornam fábricas de ex-bons cristãos: homens e mulheres de Deus que começaram suas caminhadas de fé de joelhos e na simplicidade mas que acabam se corrompendo. Se formos pensar apenas nessas igrejas que se destacam porque fazem música que ganha fama, lançam CDs e DVDs e vão a programas de auditório na TV, veremos pequenos servos de Deus que viraram artistas profissionais gospel movidos a cachê, a glamour, que passaram a amar dar autógrafos. Alisam ou arrepiam os cabelos, usam roupas moderninhas e “ministram” com uma estética que me lembra Elvis Presley Aliás, voltando um pouco atrás… que piada: cristãos que amam dar autógrafos. Tive que rir desse pensamento.

Mas o pior mesmo são os pastores que se perdem pelo meio do caminho. Pregadores que antes eram devotados a Cristo, homens de joelhos calejados e olhos marejados, homens de Deus humildes e simples que tornam-se vaidosos porque suas igrejas viraram arranha-céus da fé. Refratários a críticas. Acham que o seu jeito é o jeito certo pois, afinal, suas igrejas estao cheias e são enormes e se esquecem de que a quem muito foi dado muito será cobrado. Organizam eventos faraônicos. Compram canais de TV. E quando menos se espera deixarm de se preocupar com oração, jejum e vigílias para se devotar a empréstimos em bancos, asinaturas de documentos e negociatas com políticos.

Começa então a prostituição. O desejo por ter sempre mais leva muitos dos líderes desses palácios eclesiásticos a buscar qualquer forma de associação que lhes permita ganhar mais e mais. Associam-se ao poder político. Entram na maçonaria. Assinam contratos com gravadoras seculares. Fecham acordos com emissoras de TV pagãs. Quando nos damos conta, o monstro está tão grande que se torna uma besta descontrolada – e lá no meio, perdido em algum canto obscuro, empoeirado e esquecido, fica um tal de Jesus de Nazaré, olhando em volta e tentando dizer “ei… alguem aí se lembra de mim?”.

É por isso que acredito piamente que Deus não está nem aí para esse tipo de igreja. Que Deus ignora megaestruturas. Ignora megaeventos. Há mesquitas muçulmanas enormes. Templos budistas palacianos. Centros de umbanda que ocupam quarteirões inteiros. Grande coisa. Para o Senhor, pés-direitos altos são irrelevantes. Grandes torres, muitos bancos, milhões de decibeis de uma aparelhagem de som importada… tudo lixo no Reino de Deus. E imagino Jesus se perguntando “pra que isso tudo mesmo”? Ah sim, tem a questão da vaidade…

Nem toda megaigreja vira uma fria mansão vazia de espiritualidade. Nem todo líder de um palácio da fé se corrompe. Mas a experiência mostra que isso só acontece com poucos. Pois o ser humano se impressiona com tamanhos e grandes números. Isso é inegável. E tamanhos e números são um convite à vaidade. E a vaidade é o caminho mais curto para a ruína de uma alma.

Igrejas não precisam ser cheias. Precisam ser Igreja. Cristo não precisa de um megaevento por ano em palcos suntuosos, mas de pequenos cultos semanais em igrejinhas onde haja corações derramados. Os poucos membros têm de ser fieis. Têm de cumprir o que na raiz significa “Igreja”: ser eclésia, os chamados para fora do mundo, do pecado, de uma vida de vaidades, orgulho, arrogância e outros pecados fáceis de converter corações puros em soberbos. Jesus quer pessoas bem discipuladas, Ele disse isso em Mt 28.19, quando falou “vão e façam discípulos”. E você acha que Ele estava se referindo a quê? Jesus não disse “vão e encham igrejas”, ou “vão e criem monstros da fé que se achem acima do bem e do mal”. Jesus quer igrejas com homens e mulheres de Deus que entregariam seus peitos à espada e os pescoços aos leões alegremente para não negar Cristo. Só. Pois esse ato já diria tudo.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Como Vai Ser 2012?


Por Augustus Nicodemus Lopes
Quando olho o atual cenário da igreja evangélica brasileira – estou usando o termo “evangélica” de maneira ampla – confesso que me sinto incapaz de prever o que vem pela frente. Há muitas e diferentes forças em operação em nosso meio hoje, boa parte delas conflitantes e opostas. Olho para frente e não consigo perceber um padrão, uma indicação que seja, do futuro da igreja.

Há, em primeiro lugar, o crescimento das seitas neopentecostais. Embora estatísticas recentes tenham apontado para uma queda na membresia de seitas como a Universal do Reino do Deus, outras estão surgindo no lugar, como na lenda grega da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que se regeneravam quando cortadas. A enorme quantidade de adeptos destes movimentos que pregam prosperidade, cura, libertação e solução imediata para os problemas pessoais acaba moldando a imagem pública dos evangélicos e a percepção que o restante do Brasil tem de nós. Na África do Sul conheci uma seita que mistura pontos da fé cristã com pontos das religiões africanas, um sincretismo que acaba por tornar irreconhecível qualquer traço de cristianismo restante. Temo que a continuar o crescimento das seitas neopentecostais e seus desvios cada vez maiores do cristianismo histórico, poderemos ter uma nova religião sincrética no Brasil, uma seita que mistura traços de cristianismo com elementos de religiões afro-brasileiras, teologia da prosperidade e batalha espiritual em pouquíssimo tempo.

Depois há o movimento “gospel”, que recentemente mostrou sua popularidade ao ter o festival “Promessas” veiculado pela emissora de maior audiência do país. Não me preocupa tanto o fato de que a Rede Globo exibiu o show, mas a mensagem que foi passada ali. A teologia gospel confunde “adoração” com pregação, exalta o louvor como o principal elemento do culto público, anuncia um evangelho que não chama pecadores e crentes ao arrependimento e mudança de vida, que promete vitórias mediante o louvor e a declaração de frases de efeito e que ignora boa parte do que a Bíblia ensina sobre humildade, modéstia, sobriedade e separação do mundo. Para muitos jovens, os shows gospel viraram a única forma de culto que conhecem, com pouca Bíblia e quase nenhum discipulado. O impacto negativo da superficialidade deste movimento se fará sentir nesta próxima geração, especialmente na incapacidade de impedir a entrada de falsos ensinamentos e doutrinas erradas.

Em Brasília, temos os deputados e senadores evangélicos que, gostemos ou não, têm conseguido retardar e mesmo impedir as tentativas de grupos ativistas LGTB de impor leis como o famigerado PL 122. O lado preocupante é que eles “representam” os evangélicos nestes assuntos e acabam, por associação, nos representando de maneira generalizada diante do grande público e da grande mídia. Por um lado, lamento que foram líderes de seitas neopentecostais e pastores de teologia e práticas duvidosas, em sua maioria, que conseguiram alcançar uma posição de destaque a ponto de serem ouvidos em Brasília. Esta é uma posição que deveria ter sido ocupada pelos reformados, como aconteceu em outros países. Mas, falhamos. E a bem da justiça, não posso deixar de reconhecer que Deus usa quem Ele quer para refrear, ainda que por algum tempo, a rápida deterioração da nossa sociedade. O que isto representará no futuro, é incerto.

Notemos ainda o rápido crescimento do calvinismo, não nas igrejas históricas, mas fora delas, no meio pentecostal. Não são poucos os pentecostais que têm descoberto a teologia reformada – particularmente as doutrinas da graça, os cinco slogans (“solas”) e os chamados cinco pontos do calvinismo. Boa parte destes tem tentado preservar algumas idéias e práticas características do pentecostalismo, como a contemporaneidade dos dons de línguas, profecia e milagres e um culto mais informal, além de uma escatologia dispensacionalista. Outros têm entendido – corretamente – que a teologia reformada inevitavelmente cobra pedágio também nestas áreas e já passaram para a reforma completa. Mas o tipo de movimento, igrejas ou denominações resultantes desta surpreendente integração ainda não é previsível. O que existe de mais próximo é o movimento neocalvinista, mas este é por demais vinculado à cultura americana para ser reproduzido com sucesso aqui, sem adaptações. Estou curioso para ver o que vai dar este cruzamento de soteriologia calvinista com pneumatologia pentecostal.

O impacto das mídias sociais também não pode ser ignorado. E há também o número crescente de desigrejados, que aumenta na mesma proporção da apropriação das mídias sociais pelos evangélicos. Com a possibilidade de se ouvir sermões, fazer estudos e cursos de teologia online, além de bate-papo e discipulado pela internet, aumenta o número de pessoas que se dizem evangélicas mas que não se congregam em uma igreja local. São cristãos virtuais que “freqüentam” igrejas virtuais e têm comunhão virtual com pessoas que nunca realmente chegam a conhecer. Admito o benefício da tecnologia em favor do Reino. Eu mesmo sou professor há quinze anos de um curso de teologia online e sei a benção que pode ser. Mas, não há substituto para a igreja local, para a comunhão real com os santos, para a celebração da Ceia e do batismo, para a oração conjunta, para a leitura em uníssono das Escrituras e para a recitação em conjunto da oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos. Isto não dá para fazer pela internet. Uma igreja virtual composta de desigrejados não será forte o suficiente em tempos de perseguição.

Eu poderia ainda mencionar a influência do liberalismo teológico, que tem aberto picadas nas igrejas históricas e pentecostais e a falta de maior rapidez e eficiência das igrejas históricas em retomar o crescimento numérico, aproveitando o momento extremamente oportuno no país. Afinal, o cristianismo tem experimentado um crescimento fenomenal no chamado Sul Global, do qual o Brasil faz parte.

Algumas coisas me ocorrem diante deste quadro, quando tento organizar minha cabeça e entender o que se passa.

1 – Historicamente, as igrejas cristãs em todos os lugares aqui neste mundo atravessaram períodos de grande confusão, aridez e decadência espiritual. Depois, ergueram-se e experimentaram períodos de grande efervescência e eficácia espiritual, chegando a mudar países. Pode ser que estejamos a caminho do fundo do poço, mas não perderemos a esperança. A promessa de Jesus quanto à Sua Igreja (Mateus 16:18) e a história dos avivamentos espirituais nos dão confiança.

2 – Apesar de toda a mistura de erro e verdade que testemunhamos na sincretização cada vez maior das igrejas, é inegável que Deus tem agido salvadoramente e não são poucos os que têm sido chamados das trevas para a luz, regenerados e justificados mediante a fé em Cristo Jesus, apesar das ênfases erradas, das distorções doutrinárias e da negligência das grandes doutrinas da graça. Ainda assim, parece que o Espírito Santo se compraz em usar o mínimo de verdade que encontra, mesmo em igrejas com pouca luz, na salvação dos eleitos. Não digo isto para justificar o erro. É apenas uma constatação da misericórdia de Deus e da nossa corrupção. Se a salvação fosse pela precisão doutrinária em todos os pontos da teologia cristã, nenhum de nós seria salvo.

3 – Deus sempre surpreende o Seu povo. É totalmente impossível antecipar as guinadas na história da Igreja. Muito menos, fazer com que aconteçam. Há fatores em operação que estão muito acima dos poderes humanos. Resta-nos ser fiéis à Palavra de Deus, pregar o Evangelho completo – expositivamente, de preferência – viver uma vida reta e santa, usar de todos os recursos lícitos para propagar o Reino e plantar igrejas bíblicas e orar para que nosso Deus em 2012 seja misericordioso com os seus eleitos, com a Sua igreja, com aqueles que Ele predestinou antes da fundação do mundo e soberanamente chamou pela Sua graça, pela pregação do Evangelho.

Fonte: O Tempora, O Mores

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A estratégia do devorador: Teologia da Prosperidade


“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” (Marcos 10:21)

Em Malaquias 3:10 a bíblia traz um texto dizendo que o devorador vem para roubar o fruto terra. E esse devorador vem por causa de não devolver o que é de Deus. E é claro que quando nós olhamos para este texto achamos que a igreja cumpre seu propósito de pregar a verdade para que o devorador venha ser repreendido. Porém temos vivido nas igrejas algumas influências do pós-modernismo:

  • A busca incessante por ser bem sucedido em bens materiais;
  • Forte apelo para que o dízimo e a oferta e até primícias venham a ser arrecadados;
  • Forte apelo que as pessoas necessitam de um bem financeiro, de “prosperidade” financeira como prova de que Deus está na vida deles.

E com estes apelos alcançando o ego das pessoas que estão em busca de desejos e sonhos de conquistas materiais. E esquecendo que Jesus é a maior necessidade do ser humano, e não um carro novo ou uma casa nova. A maior busca do ser humano se tornou as bênçãos materiais. E a maior prova disso é que as igrejas que pregam que todos que tem Jesus são ricos, prósperos em bênçãos materiais. Estas igrejas querem levantar verdadeiros impérios, porque encontraram um desejo no coração do ser humano, um ídolo que é a busca por riquezas terrenas. Encontrando assim uma forma de manipular o povo para alcançar seus objetivos: impérios religiosos.

Uma coisa eu tenho que falar e deixar bem claro a respeito do devorador: o devorador se converteu! E não se converteu a Jesus, porque aonde ele atua existe maldição; ele se converteu e esta nas igrejas e está usando dos púlpitos para retirar o que ele retirava lá no mundo, usando o ídolo do coração do ser humano e o desejo carnal de satisfazer seu coração com bens e riquezas materiais.
As igrejas montam campanhas, congressos, shows, espectáculos e começam a escravizar as pessoas com algumas atitudes dizendo que nós precisamos ter dinheiro porque senão Deus não está abençoando, Ele não está na sua vida, você precisa participar de todos estes eventos, fazer ofertas de sacrifícios, votos com dinheiro, ofertas exuberantes e tantas outras coisas como pedir casas, carros como prova de que a pessoa acredita naquela promessa de prosperidade. E com isso devorando o frutos da igreja que somos nós, inclusive desequilibrando famílias com heresias, esquecendo do amor que Jesus pregou.

Mas tudo isso aconteceu porque a igreja permitiu mutar-se sua raiz, e trazer mudanças pós-modernas para dentro do evangelho. Conseguindo fazer uso de versículos mal interpretados e fora de contexto para alcançar seus objetivos.

A bíblia diz que nos últimos dias virão pastores que enganarão a muitos, e estes mesmos que enganam fazem declarações que são inquestionáveis porque são líderes, mas estes mesmos e os que o seguem naquele dia ouvirão: – Apartai-vos de mim vós que praticais iniquidades, não vos conheço.

O ser humano tem uma necessidade, e essa necessidade não é suprida pelo dinheiro ou bens materiais. Mas sim pela presença de Deus. Jesus é a maior necessidade de uma pessoa, não é o milagre, não é o dinheiro, não é a prosperidade material, porque somente com Jesus você se completa e tem o vazio da sua vida preenchido.

Fonte: Nada Contra a Verdade

Mas quem é você, ó homem?


Por Vincent Cheung

Dir-me-ás então: “Por que se queixa ele ainda? Pois quem tem resistido à sua vontade?”. Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: “Por que me fizeste assim?” Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Rm 9.19-21, ESV)

Paulo havia demonstrado nos versículos anteriores que se um homem alcança salvação através de Jesus Cristo, isso não depende da vontade ou decisão da pessoa, mas de Deus, que escolhe mostrar misericórdia a ela. Assim, um homem mostra incredulidade ou mesmo se opõe a Deus não porque decide isso por si mesmo, mas porque Deus escolheu endurecê-lo para uma finalidade que ele próprio tem. O apóstolo conclui: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (v. 18).

Um homem crê em Jesus porque Deus o faz crer em Jesus. Outro homem é endurecido contra o evangelho porque Deus o torna endurecido. O caminho de cada pessoa é determinado antes de seu nascimento, mesmo na eternidade, antes da criação do mundo. As decisões de uma pessoa não determinam seu caminho, mas seu caminho preordenado determina essas decisões. O destino de um homem não é determinado, mas sim revelado por suas escolhas, isto é, por aquilo que Deus faz o homem decidir de acordo com o propósito divino.

Esta é uma das doutrinas bíblicas mais simples e explícitas. No entanto, é também a doutrina mais detestada, pois da forma mais clara possível revela Deus como sendo Deus, e até mesmo os cristãos que não gostam muito de Deus. Nesta doutrina ficamos frente a frente com o que significa ser Deus, e somos compelidos a mostrar se, de fato, reconhecemos Deus como o total soberano ou se buscamos manter controle sobre alguns aspectos de nós mesmos e acalentar a ilusão de que de fato é possível agirmos assim. Mesmo entre crentes e teólogos que professam a soberania de Deus da boca para fora, muito poucos recebem essa doutrina da causação divina direta e total de todas as coisas sem tentar criar por si mesmos uma saída para escapar disso. Ou eles podem condenar essa versão genuína de Deus e então resgatar Deus reduzindo-o a algo inferior.

Assim, Paulo antecipa a divergência. Ele espera que alguém lhe diga: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” (NVI). Em outras palavras, se é Deus quem endurece uma pessoa para ela não poder buscar a justiça ou crer na verdade, por que Deus ainda condena ou pune o pecador? A objeção não faz sentido a menos que seja assumido que responsabilidade pressupõe liberdade, no sentido de que uma pessoa deveria ser livre para tomar as suas próprias decisões se tivesse de ser responsabilizada por elas. Mas Deus não concorda com essa suposição; na verdade, todos os versículos anteriores repudiam essa ideia. Uma pessoa é condenada e punida por seus pecados porque transgrediu os mandamentos de Deus. A causa de suas transgressões é irrelevante. Se ela transgrediu, é uma transgressora.

Paulo passa a responder ao desafio e no processo revela insights adicionais na doutrina. Declara que o oleiro tem o direito de fazer do mesmo barro um vaso para honra e outro para desonra. O apóstolo está fazendo contraste entre dois tipos de pessoas — os eleitos, aqueles que Deus predeterminou para se tornarem cristãos, e os réprobos, aqueles que Deus predeterminou para continuarem não cristãos. Assim, o vaso para honra representa o cristão e o vaso para desonra representa o não cristão. Provavelmente, o vaso para honra seria representado no ambiente doméstico como um testemunho da riqueza e requinte do proprietário. Por outro lado, o vaso para desonra seria provavelmente relacionado a uma lata de lixo ou até mesmo ao banheiro. Assim, Deus entende que os réprobos são as latas de lixo e os banheiros deste mundo. Sabemos do que são cheios os banheiros — de algo que fede a incredulidade, ciência e religião não cristãs.

A Bíblia contradiz o ponto de vista quase unânime de teólogos cristãos no fato de que a exposição que ela faz da doutrina não deixa espaço em nenhum sentido para a liberdade e a autodeterminação, ou à noção de que a soberania divina é compatível com essas coisas. Por que importa se o controle do oleiro sobre o barro é compatível com os desejos do barro? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: “Por que me fizeste assim?”. O homem não é representado como dizendo de uma forma ou de outra: “Por que passivamente ordenaste que eu deveria usar meu poder de autodeterminação para eu concorrentemente decidir me tornar o que decretaste para eu ser?”. Não, ele diz: “Por que me fizeste assim?”. Tu. Tu me fizeste. Tu me fizeste assim.

Por contato direto e com suas próprias mãos, o oleiro molda o barro no vaso que ele quer que venha a se tornar. Embora isso se aplique tanto ao vaso para honra como ao vaso para desonra, a objeção se refere àqueles a quem Deus “culpa” — a objeção está essencialmente interessada em como o vaso para desonra é fabricado. A resposta de Paulo significa que Deus é ativo em fazer do homem perverso aquilo que ele é. Deus faz isso usando “da mesma massa” da qual faz os vasos para honra e não de algum material com traços desonráveis já presentes. Em outras palavras, as características do réprobo vêm diretamente e totalmente das mãos de Deus e de nenhum outro lugar. Paulo não vê nada de errado nisso. Deus tem o direito de fazer de um homem a sua obra-prima e de outro o seu banheiro. Quem disse que um oleiro mestre não deve fazer um banheiro se ele assim o deseja? E quem é o banheiro para dizer ao oleiro: “Por que me fizeste assim?”. Mas até um banheiro queixoso pode fazer mais do que apenas lamuriar “Tenho livre-arbítrio!” ou mesmo “Eu não sou coagido!”.

A verdade da fé cristã é simples e óbvia. Nunca há uma boa objeção contra ela; ela deve ser reverentemente aceita. E porque a verdade é simples e óbvia, toda objeção à fé cristã é sempre estúpida e má. Porque toda objeção à fé cristã é estúpida e má, devemos atacar toda objeção, e para que não se alegue que evitamos o problema, devemos também respondê-lo. Mas, mais do que isso, é característica da Bíblia atacar a pessoa que faz a objeção. Isso ocorre porque sempre que uma pessoa questiona a fé cristã, necessariamente significa que há algo de errado com a pessoa.

Paulo não diz: “Ó homem inteligente e maravilhoso, por que faz uma objeção tão ultrajante contra Deus?”. Não, o apóstolo ataca o homem diretamente — “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?” É uma pergunta retórica — quer dizer que o homem não é ninguém e deve fechar a boca. Paulo não é estúpido como os nossos pregadores e teólogos. Eles nos dizem que os não cristãos podem ser sinceros e inteligentes, e mesmo assim fazer objeções contra Deus. De onde veio esse absurdo? Talvez eles aprenderam isso dos não cristãos, que estão sempre desesperados para afirmar a sua sinceridade e inteligência. Ou talvez os pregadores e teólogos querem saudar a sua própria rebeldia contra Deus. Mas Jesus disse que a boca fala do que está cheio o coração. O não cristão faz objeções porque é um pecador, um rebelde — ele não apenas age como um, mas é um. Qualquer cristão que faz uma contribuição significativa em pregações ou debates deve criticar e depreciar a pessoa — o próprio não cristão — e não apenas seus argumentos e suas ações.

Quem é você, ó não cristão, para desafiar a verdade de Deus, quando a Bíblia declara que você já sabe sobre ele? Como um covarde, como uma criancinha assustada, você reprime esse conhecimento para que não precise lidar com a realidade. Quem é você para rejeitar um veredito de culpado quando a Bíblia mostra que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus? Você retruca: “Quem é você para me julgar?”. Bem, quem é você para dizer que não devo declarar o julgamento de Deus sobre você? Quem é você para recusar o evangelho? Você não é ninguém. Você não é nada.

Quem é você, ó legalista, ó religioso hipócrita, para recusar a Jesus Cristo, quando a própria Lei diz a você para abandonar seus próprios esforços e depender de Jesus como seu mediador e defensor? Quem é você para pensar que pode ser seu igual ou superior? Quem é você para dizer que pode alcançar o céu com o que considera boas obras, quando Deus as rejeita como trapos de imundícia? Você não é ninguém. Você não é nada.

Quem é você, ó arminiano, para dizer que Deus não decreta e causa todas as coisas unicamente por sua própria vontade e para o seu próprio propósito, e sem considerar a fé e a decisão do homem, pois Deus causa a fé e a decisão do homem por causa de seu decreto eterno? Quem é você para pensar que o homem tem poder de escolher, até mesmo para decidir o seu destino eterno? Quem é você para dizer que Cristo poderia pagar o preço para redimir um homem e, contudo, perder o homem para a ira de Deus? E quem é você para dizer que um homem, uma vez apreendido por Deus, pode livrar a si mesmo das mãos de Cristo? Você não é ninguém. Você não é nada.

Quem é você, ó calvinista, para dizer que Deus não pode ser o autor do pecado e aquele que diretamente cria e endurece homens perversos? Quem é você para dizer que Deus meramente ignora os réprobos, quando as Escrituras afirmam que Deus forma eles por suas próprias mãos como um oleiro molda barro para fazer latas de lixo e banheiros? Seu hipócrita! Finge defender a justiça e a santidade de Deus, quando a questão apenas surge porque você julga Deus pelo padrão do homem. Com uma mão você rouba de Deus a sua soberania, e com a outra o indeniza com justiça humana. Quem é você, ó homem, para pensar que pode ir longe com isso? Você não é ninguém. Você não é nada.

Quem é você, ó teólogo reformado? Você é muito melhor que o arminiano? Repetidamente, ao firmar um pé na ortodoxia e um pé na blasfêmia, você gera inúmeros paradoxos e contradições e chama isso de grande mistério de Deus! Ó vaidade das vaidades, uma teologia de sistemática futilidade!

Fora com todos vocês! Deus exerce controle completo e imediato sobre todas as coisas, incluindo as decisões e destinos de todos os homens. Assim como molda seus escolhidos em suas obras-primas, ele molda os réprobos em recipientes de lixo e fezes. Ao contrário dos nossos pregadores e teólogos, o oponente de Paulo ao menos entende a doutrina: Deus endurece a quem quer (v. 18), para que eles não creiam e sejam salvos. Ele faz isso por seu poder ativo e direto, assim como um oleiro que molda o barro (v. 21). Esses homens são preparados para destruição (v. 22). Eles não podem resistir à vontade de Deus, mas mesmo assim ele os culpa e pune (v. 19). Ele pode fazer isso porque é Deus, e ninguém pode dizer uma palavra contra ele (v. 20).

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Líderes religiosos estupram noiva pouco antes do casamento


Toda vez que leio uma notícia sobre assédio ou estupro, sinto um terrível sentimento de repulsa. Principalmente quando ocorre dentro da igreja, através das mãos sujas de homens que se dizem “ungidos do senhor”.

Mas, se sentimos essa sensação de nojo, de imundície, ao ver mulheres e crianças assediadas por homens sem o mínimo escrúpulo, porque não sentimos essa mesma sensação ao vermos a noiva de Cristo ser insessantemente estuprada por inúmeros pastores, bispos e apóstolos? Sim, estuprada! Porque o que fazem com a igreja nos dias de hoje é um estupro; tiram a pureza, corrompem o que era intocado, imundam as vestes e, no final, deixam aquela sensação de vergonha, de humilhação. Fazem o que bem intendem com esta noiva e nenhum homem a protege ou a ampara. E o Noivo, que a esperava imaculada, observa esse cenário de profundo desprezo para com sua noiva e percebe que, ao invés de a protegerem, protegem seus estupradores.

Essa é a situação da igreja evangélica hoje. Inúmeros pregadores e líderes pregando um evangelho mentiroso, vendendo salvação e uma falsa unção, distorcendo o que Cristo nos trouxe em vida, morte e ressurreição e seus seguidores, cegos e tolos, os protegendo e os chamando de “homens de deus”. Quem se levantará para amparar a noiva de Cristo e ir contra esses estupradores de púlpito que circulam por aí? Quem se levantará para fazer a diferença?

Essa pergunta ainda não possui resposta mas o Noivo, enfurecido, levantará soldados valentes que tragam a noiva de volta aos trajes brancos de outrora, tenho certeza.

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” – Mateus 7.21-23.

Fonte: Nada Contra a Verdade

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Para os que pensam que a Globo é de Jesus

Assista essa entrevista com Pedro Siqueira no programa da Xuxa. Um católico que diz que recebe revelções de "Nossa Senhora". Gostaria de saber o que os participantes do Show Gospel da Globo tem a falar sobre isso ou não podem falar nada por causa do contrato assinado?

Cristãos críticos que criticam cristãos críticos (Festival Promessas)


Por Mauricio Zágari

O polêmico Festival Promessas, que levou alguns artistas gospel à telinha da Globo, causou um grande debate entre três segmentos de cristãos: os que viram nisso uma grande coisa, aqueles que consideraram o evento irrelevante e os que viram no programa um mal. A despeito da posição de cada um sobre o show, um aspecto do debate entre os prós e os contras chamou atenção: a questão da CRÍTICA.

Uma das principais críticas dos que criticaram quem criticou o espetáculo da Globo é que os críticos…foram críticos. Ou seja: para defender seu ponto de vista são incontáveis os cristãos que adotaram discursos na linha “tem gente que só critica e não faz nada” ou “como pode alguém criticar quem está fazendo algo?” e por aí vai. Diante disso, surgem diversas perguntas: qual deve ser a relação entre o cristão e a critica? De fato quem critica não faz nada? É pecado criticar? Criticar é murmurar? Criticar representa rebeldia? Crítica é algo diabólico? Enfim, há um rosário de assuntos que podem ser debatidos sobre o tema. Mas eu pretendo mostrar até o fim deste texto que se criticar fosse um grande mal, o próprio Deus Pai, Jesus, os apóstolos, a Igreja primitiva, os reformadores e outros cristãos sérios seriam, imagine você, seres malignos. O que simplesmente não é verdade.

Esse ensinamento de que a crítica é algo ruim vem sendo ensinado aos evangélicos que não têm senso crítico por alguns pastores que… não querem ser criticados. Um exemplo famosíssimo (a gravação está no Youtube, para quem quiser ouvir) é o de um conhecido telepastor, dono de uma editora e outras mídias, que prega a Teologia da Prosperidade e lançou uma campanha para arrecadar milhões do povo prometendo “unção financeira” a quem doasse dinheiro a sua organização – dinheiro que, até onde foi divulgado, serviu para ele comprar um jato particular. Na gravação, esse empresário-pregador solta essa pérola: “Quem critica não faz nada. Você conhece alguma obra de crítico? Você conhece alguma coisa que crítico construiu? Geralmente crítico é um recalcado que tem dor de cotovelo do sucesso dos outros”.

Quando um homem influente como esse lança esse tipo de discurso ao cristão que não tem muita capacidade de discernimento, a ideia soa como sendo uma verdade quase bíblica. Por exemplo: depois que publiquei no APENAS semana passada o post Festival Promessas e a guerra de opiniões e fui atacado por todos os lados por muitos críticos ao que escrevi (como mostrei no post seguinte, Festival Promessas: um raio-x da igreja brasileira), li nos comentários do blog mais pérolas que versavam sobre o fato de alguém criticar outro. Só que, desta vez, vindas de irmãos que apoiam o evento da TV Globo. Pérolas como estas:

“Realmente vivemos em um mundo onde os críticos cristãos também querem se engradecer por isso utilizam das críticas para fazerem seu nome.”

“é complicado,,tem pessoas que não tem,a vontade de realizar ,um culto de rua,e quando outros pracura fazer alguma coisa ,só sóbra criticas,,,faiz alguma coisa ,não perde tempo criticando

“Essa galera não faz nada pra anunciar o evangelho e critica quem faz”.

“Que lamentável essa sua posição! Você, ainda, tem coragem de criticar os irmãos que se ofenderam uns aos outros por causa disso?”

“É mais facil criticar e desqualificar os que o fazem”.

“Reclamava-se tanto que sempre a Globo ou outras emissoras não davam espaço para o Evangelho e quando se chega lá ainda criticam??”

CRITICAR ISSU É REDUNDANTE E HIPÓCRITA.”

“INFELIZMENTE TIVE O DESPRAZER DE CONHECER ESTE BLOG, É MAIS UM DE MUITOS, DOS CRITICOS DA IGREJA, –QUE FICARÃO — CRITICANDO, ENQUANTO JESUS SOBE COM A SUA NOIVA.”

“Prefiro ir e dar de graça o que recebi a permanecer sentado criticando quem realmente está fazendo a obra de Deus.”

“OS VERDADEIROS CRISTÃOS ESTÃO NAS RUAS (…) NÃO PERDENDO TEMPO EM ESTATOS E EM CRÍTICAS“.

“O tempo que você perde criticando, é o mesmo que poderia estar edificando”.

Chamam especial atenção as duas últimas frases, pois a penúltima dá a entender que criticar é perda de tempo e a última desassocia a crítica à edificação, como se fossem antagônicas. O que é interessante nesse debate é que a “famigerada” crítica é apontada como algo menor, pecaminoso, diabólico; e os críticos, naturalmente, só podem ser pessoas mal-intencionadas, frustradas, “recalcadas”, que não ajudam em nada. O tom dos comentários deixa claro que, aos olhos de muitos, ser crítico, ou seja, ter senso crítico no universo cristão, é desqualificador, sintoma de inveja, de apatia, de inoperância ou de qualquer coisa do gênero. Quando, em sua raiz etimológica, criticar significa uma atitude nobre: pelo dicionário, “criticar” significa “analisar, fazer uma apreciação”, “examinar com atenção”).

Aliás, se minha Bíblia não estiver errada, “examinar com atenção” (sinônimo, segundo o dicioário, de “criticar”) é exatamente o que os crentes de Bereia faziam e que lhes mereceu o seguinte elogio de Lucas em Atos 17.11: “Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo“. Sim, os bereanos foram chamados de “nobres” por serem muito críticos. Que coisa…

O que o cristão crítico que critica quem critica talvez não saiba é que seu tipo de pensamento é resultado de uma enorme ignorância bíblica e histórica. Pois, em especial no caso do Cristianismo, se não fosse a crítica a banda séria e sólida da Igreja hoje talvez nem existisse. Os críticos vêm ajudando a manter a doutrina sã ao longo dos séculos, a preservar a ortodoxia cristã e a purgar os erros cometidos pelo meio da jornada. E mais: se você desmerece alguém por ser crítico, lamento informar, você está desmerecendo o próprio Deus.

“Ahn?! Tá maluco, Zágari! Se crítica é algo diabólico, como Deus pode ser crítico?”. Vamos então aos fatos – antes que aqueles que não leem posts inteiros e já saem criticando sem ter lido tudo comecem cantilenas desmerecendo argumentos – para, sem entrar pelo mérito da opinião pessoal e do achismo, fazer o que todo cristão deveria fazer: olhar para a Biblia e a História da Igreja. E deixemos não que Mauricio Zágari fale, mas sim passemos a palavra ao testemunho das Escrituras e da História:

NA BÍBLIA

Deus Pai é logo de cara o primeiro a fazer inúmeras criticas relatadas nas Escrituras. Em Gênesis 3, Ele critica Adão, Eva e até Satanás por suas atitudes. Depois critica Caim pela morte de Abel. Em Gn 6.3, o Criador critica a humanidade e a chama de “carnal”. Os séculos passam e Deus segue criticando. A crítica que Ele faz aos habitantes da Terra no episódio do Dilúvio dispensa comentários. Na ocasião do Êxodo, o Todo-Poderoso disse que seu próprio povo eleito, Israel, era formado por gente de “dura cerviz”, ou seja, “teimosa”, “intransigente”. Também mandou seus profetas criticarem atitudes de sacerdotes, reis, religiosos, homens e mulheres comuns. Alguém que conheça um pouquinho de Bíblia verá que Jeová, o Construtor do universo, criticou muito – em especial os desobedientes. E aí eu penso nas palavras do telepastor: “Você conhece alguma obra de crítico? Você conhece alguma coisa que crítico construiu?”. Hmmm…o universo, talvez?

Os profetas, então, eram críticos em tempo integral. Jeová mandava um recado e lá ia uma crítica a Jezabel, Davi ou qualquer outro que estivesse em pecado ou cometendo erros. Natã não usou meias-palavras ao criticar o que Davi fez com Urias e Bateseba. Elias dava boas cajadadas. Imagine então Eliseu, que tinha porção dobrada. Sim, o ofício profético no Antigo Testamento fazia do profeta um crítico em tempo integral. Estão aí Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e outros que não me deixam mentir. E o maior dos homens nascidos de mulher (Mt 11.11), João Batista, era tão crítico que Herodias disse a sua filha que pedisse a Herodes a cabeça do profeta, de tanto que ser criticada lhe incomodava (aliás, uma atitude muito comum a quem é criticado: pedir a cabeça de quem o critica).

Então penso em tudo o que os profetas fizeram a mando de Deus e me voltam à mente as palavras do telepastor: “quem critica não faz nada”. E me pergunto: será mesmo que argumentos como “você não faz nada, só critica” têm fundamento? Pois a crítica em si, do ponto de vista bíblico, já é fazer muita coisa! Ou “enquanto eles estão lá fazendo a obra você só sabe criticar”, pois muitas e muitas vezes uma crítica bem feita e bem posta pode gerar muito mais frutos para o Reino de Deus do que subir num palco e cantar meia-dúzia de músicas. Ou ficar pedindo dinheiro na TV.

Mas continuemos na Bíblia. Surge em Israel um homem chamado Jesus de Nazaré. Ele criticou escribas. Criticou fariseus. Criticou saduceus. Criticou publicanos. Criticou Pedro quando o apóstolo quis demovê-lo da ideia de ir à Cruz. Também criticou os apóstolos por serem “homens de pequena fé” na ocasião da tempestade no mar. Criticou aqueles que só amam aqueles que os amam. Criticou os hipócritas que dão esmola alardeando o fato ou oram aos berros para chamar a atenção. Criticou os gentios que se preocupavam com o que haveriam de vestir, comer ou beber. Criticou os que reparam o argueiro no olho do irmão, porém não reparam na trave que está no seu próprio olho. Criticou os falsos profetas, que se apresentam disfarçados em ovelhas, mas que por dentro são lobos roubadores. Criticou os que praticam a iniquidade. Criticou aqueles que viessem a negá-lo diante dos homens. Criticou quem ama seu pai ou sua mãe ou seu filho mais do que a Ele. Criticou quem não toma a sua cruz e vem após Ele… e poderíamos prosseguir numa lista interminável, mas vou parar no capítulo 10 do evangelho segundo Mateus (sim, todas as críticas mencionadas acima estão em apenas 10 capítulos. Imagine se eu prosseguisse até o capítulo 28 e continuasse por Marcos, Lucas e João). É, meus amigos que criticam os críticos: Jesus foi um crítico infatigável. Mas… segundo o tal telepastor, um dos mais influentes do país, “geralmente crítico é um recalcado que tem dor de cotovelo do sucesso dos outros“. Hmmmm…

Nas cartas às igrejas de Apocalipse o desfile de críticas de Jesus continua. A igreja de Éfeso foi criticada por ter abandonado o primeiro amor. A de Pérgamo recebeu criticas por haver entre eles “os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição”. A de Tiatira foi criticada por tolerar que uma tal Jezabel “seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos”. Os cristãos de Sardes foram criticados por Jesus não ter achado íntegras as suas obras na presença de Deus… preciso continuar?

Se você ainda não está convencido da verdade, vamos às epístolas. Caso não saiba, a grande maioria delas foi escrita como forma de criticar atitudes erradas que vinham sendo adotadas nas igrejas a que foram destinadas, com o objetivo de instruir os cristãos e de consertar os erros. Que, aliás, deve ser a finalidade de toda crítica. O apóstolo João escreveu suas três epístolas para combater um grupo de cristãos hereges chamados gnósticos e ele os critica duramente: “Mas todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo“.

Em Colossenses, Paulo critica os falsos mestres que tentavam combinar elementos do paganismo e da filosofia secular com as doutrinas cristãs, induzindo a um relativismo religioso. Em Filemon, ele critica a falta de perdão. Em Romanos, tece muitas críticas, entre elas à dureza do coração, a desobediência à verdade, à hipocrisia, à adoração de ídolos. Em 1 Timóteo, o apóstolo critica o excesso de eloquência em detrimento da busca do Senhor. E quem acha que nas epístolas Paulo não critica pessoas, em Gálatas o foco está nos judaizantes, criticados por afirmarem que os gentios, para serem salvos, tinham que ser circuncidados e guardar todas as leis de Moisés.

A carta de 1 Coríntios é um caso à parte, tantas são as críticas que Paulo faz, a título de instrução. Ao mau uso dos dons, à imoralidade sexual, às pessoas que celebravam a Ceia do Senhor de modo equivocado e por aí vai. Merece especial atenção 2 Coríntios, em que Paulo critica veementemente os falsos mestres que buscavam enganar os cristãos da igreja, afastando-os dos verdadeiros propósitos do Evangelho. Já Tiago metralha críticas: ao formalismo, ao fanatismo, ao fatalismo, à crueldade, à falsidade, ao partidarismo, à maledicência, à jactância e à opressão. Judas, por sua vez, critica os mestres imorais e as heresias da época.

NA IGREJA PRIMITIVA

Por falar em heresias, havia muitas delas no seio da Igreja nos primeiros séculos da era cristã. Saiamos agora das Escrituras e vamos para a História. Naquela época surgiram grupos como ebionitas, maniqueus, marcionitas, montanistas, donatistas, gnósticos, sabelianistas, apolinaristas, nestorianos, eutiquianos e muitos outros. Todos se apresentavam como seguidores de Cristo, mas pregavam teologias diferentes, em especial quanto à essência de Jesus e a sua relação com o Pai e o Espírito Santo. Contra eles levantaram-se em diferentes épocas muitos e muitos cristãos ortodoxos, sérios, que passaram a defender a são doutrina contra os hereges. E, adivinha só: eles os criticavam duramente, em tratados, cartas e outros textos. Ou seja, se não fosse pelo aguerrido senso crítico dos apologetas da Igreja primitiva muitas heresias teriam tomado conta do seio da igreja. Você enxerga alguma com com nossos dias?

E assim foi pelos séculos. Atanásio criticou duramente Ário por suas posições teológicas no Concílio de Niceia. Agostinho (considerado o maior teólogo da história do Cristianismo) criticou Pelágio por desqualificar a graça na salvação. Lutero (o homem sem o qual não existiria a Igreja evangélica) criticou Roma por todos seus descalabros, o que acabou deflagrando a Reforma Protestante.

Sim, caros críticos que criticam os críticos: a crítica e a Igreja sempre andaram de mãos dadas e em harmonia.

EM NOSSOS DIAS

Há em nossos dias heresias surgindo a cada esquina. Pastores-poetas que inventam que Deus não interfere nas tragédias, pastores emergentes que dizem que Jesus é desnecessário para a salvação, Unções de 900 reais, Teologia da Prosperidade, G-12, Liberalismo Teológico e outras agressões à Palavra de Deus. Fora as atitudes não teológicas, como mercantilização da fé, a criação de celebridades gospel e outros problemas mais.

Diante disso, a pergunta que fica é: devemos abandonar o senso crítico? Devemos parar de criticar o que está errado? Devemos ficar passivos, vendo a banda passar e não fazer nada? Devemos dar ouvidos às besteiras ditas pelos telepastores que não querem ser criticados? Não. Devemos nos posicionar. Temos como exemplos de Jeová aos teólogos modernos (como Alister McGrath, que escreveu O Delírio de Dawkins, criticando o ateísmo de Richard Dawkins). Se a Igreja que ama Cristo, ama a Bíblia e ama a Igreja se calar, a situação ficará ainda pior do que está hoje. Há uma heresia? Critiquemos. Há um abuso dentro da igreja? Critiquemos. Há celebridades enganando o povo de Deus? Critiquemos. É bíblico e historicamente correto.

E COMO CRITICAR DE FORMA A CONSTRUIR?

Mas há uma ressalva: toda crítica tem que ser feita de modo cristão, bíblico. Se formos agir como o mundo não seremos melhores do que ele. Não seremos sal nem luz e é melhor que sejamos lançados fora para sermos pisados pelos homens. Nunca devemos criticar como o mundo critica: com agressões, ofensas, xingamentos, gritarias, ad hominems, argumentos equivocados ou ataques. Devemos seguir os passos do Mestre. Ser mansos e humildes de coração. Devemos criticar como se cada crítica fosse um tijolo posto para erguer uma catedral e nunca como se fosse uma marretada para derrubar paredes. Nosso papel não é esse: temos de ser diferentes. Temos de ser admirados pelo mundo por criticarmos sem ofender e sem dar na cara de ninguém. Temos de andar na contramão do mundo.

Infelizmente, há em alguns setores no meio cristão aqueles que acreditam que crítica é algo diabólico. Já mostrei que não é. Infelizmente, há em alguns setores no meio cristão aqueles que acreditam que crítica é atacar e ofender. Também não é. Criticar é apontar erros com educação. É examinar com atenção e emitir pareceres refletidos. Pois em tudo o que vimos acima, uma coisa fica clara: a crítica deve servir para melhorar as coisas, aproximar as pessoas, construir um mundo mais cristão e, em última (para não dizer primeira) análise, para a glória de Deus.

“Quem critica não faz nada. Você conhece alguma obra de crítico? Você conhece alguma coisa que crítico construiu? Geralmente crítico é um recalcado que tem dor de cotovelo do sucesso dos outros”.

E você, continua acreditando nisso?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

O polvo, a aranha e a estrela do mar

A estrela do mar é um animal extraordinário. Por sua característica única de reprodução no reino animal, ela representa algo profético para nós. Trata-se de um sistema neurológico espetacular que nos ajuda a entender princípios de governo e expansão do Reino de Deus.

Observemos uma outra criatura semelhante à estrela do mar: o polvo. O polvo possui tentáculos, mas ao contrário da estrela do mar, todo seu sistema neurológico está centralizado na cabeça de tal maneira que, se cortarmos um de seus tentáculos, outro tentáculo crescerá em seu lugar, mas a parte cortada morrerá. A aranha possui as mesmas características.

Já a estrela do mar, é diferente. Corte um ou dois de seus bracos, e igualmente outros crescerão em seu lugar. Mas a diferença é que as partes cortadas, cada uma delas, se tornam uma nova estrela do mar!

Ao invés de possuir um sistema neurológico “hierárquico” – como o polvo ou a aranha, em que os membros estão subordinados a uma cabeça e dependem dela para funcionar, a estrela do mar possui um sistema descentralizado, ou seja, não possui uma cabeça. Trata-se de uma rede neurológica em que cada membro possui a capacidade de se multiplicar e se tornar uma nova estrela do mar.

A diferença entre adição e multiplicação é a diferença entre crescimento linear e explosão. Mas no Reino de Deus, a multiplicação não é uma ciência exata, é uma questão de DNA. Na criação, Deus embutiu em cada semente o potencial de multiplicação para que aquela pequena semente se torne igual ao todo do qual se desprendeu (Gen 10:1-11). O homem pode somar, ajuntar, acrescentar, mas somente Deus pode prover as características necessárias a um organismo vivo para que a multiplicação aconteça.

Obreiros na lavoura

O crescimento é algo natural em qualquer organismo vivo. De acordo com Lucas 13: 18-21, a Igreja é aquela minúscula semente de mostarda que se torna uma enorme árvore, e a pequena medida de fermento com poder para levedar toda a massa (o mundo). Seu poder de crescimento é exponencial.

Como obreiros, nosso principal papel não é empregar “métodos de crescimento” ou técnicas humanas para “fazer a Igreja crescer”, mas somente permitir que a Ekklesia cause seu próprio crescimento (Efesios 4:16). Quando as juntas e medulas do Corpo estão propriamente conectadas, o resultado não pode ser outro a não ser a renovação e espontaneidade que, conseguintemente, causam este desenvolvimento natural e a seu próprio tempo.

A Igreja é retratada na Bíblia de muitas formas. Uma delas é a de uma lavoura (1Co 3.6-9). Presbíteros na Ekklesia são como agricultores nesta lavoura. E visto que o agricultor não possui absolutamente nenhum controle sobre a semente e não pode fazê-la brotar, o melhor que ele tem a fazer é criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, adicionando nutrientes à terra, removendo as ervas daninhas que surgirão e deixando que a semente brote de forma natural, para tornar-se igual à planta de onde se originou, na expectativa de que ela gerará seus próprios frutos.

Cada membro do Corpo de Cristo é a boa semente do Reino com um potencial de multiplicação sobrenaturalmente embutido em seu DNA espiritual. O perfil do presbítero que Deus busca no século XXI é o do obreiro-lavrador, que proporciona um ambiente natural de crescimento exponencial, preparando a terra com nutrientes (comunhão e intercessão), removendo as ervas daninhas da lavoura (ensino e aconselhamento), permitindo que este discípulo cresça naturalmente, comissionando-o e enviando-o no devido kairós divino, para que ela siga seu próprio processo de multiplicação no Reino.

A parábola do semeador nos ensina que nem todas as sementes darão seu fruto, e não há nada que possamos fazer com relação a isso. Em contrapartida, aquelas que dão seu fruto, frutificam de forma exponencial – a 20, 30, 60 e 100 por um – multiplicando-se de tal forma a suprir até mesmo por aquelas sementes que não brotaram. Nosso papel, como obreiros do Reino, é simplesmente não estorvar este processo de crescimento natural com nossas tradições, inseguranças pessoais ou excesso de zelo.

Conclusão

Na visão tradicional de Igreja, o processo de multiplicação é frequentemente confundido com divisão. Por isso, normalmente insistimos em adotar sistemas eclesiásticos de governo centralizados em um único pastor, encapsulando a Igreja em uma unidade institucional que favorece o inchaço de feudos religiosos, mas é contra-produtiva à expansão do Reino na cidade. Tais sistemas são, na melhor das hipóteses, polvos e aranhas que proporcionam um crescimento linear à Igreja local, mas inibem seu potencial de crescimento exponencial, como o da estrela do mar.

Como obreiros, somente encarnaremos esta revelação quando renunciarmos ao posto de “Cabeça da Igreja” e devolvermos a Ekklesia ao seu verdadeiro Dono, aceitando a verdade bíblica de que pastores não são “cabeças “ou “sacerdotes” do rebanho. São somente cooperadores na lavoura, irmãos mais velhos e mais experientes que trabalham no intuito de equipar os mais novos para que ELES desenvolvam seu chamado sacerdotal e, consequentemente, façam a obra do ministério (Ef 4:11-12).

Crescimento linear ou exponencial? Polvo ou estrela do mar? Controle ou expansão? Que possamos escolher sabiamente para cumprir com a Grande Comissão nos dias que precedem a volta do Senhor.

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Rabi e o caminho: de volta aos trilhos

Por Leonardo Gonçalves

Há muito tempo, no oriente próximo, um jovem de conduta afável, filho de um carpinteiro de Nazaré, iniciou um ministério itinerante, e com uma mensagem desafiadora, em pouco tempo logrou subverter as classes mais humildes do território de Israel. Em seus discursos, falava sobre justiça social, reforma religiosa, compromisso ético e espiritualidade. Falava também na inauguração de um reino que, embora futuro, já se fazia presente no meio daquela gente.

No entanto, apesar da relevância dos temas supracitados, o tema mais maravilhoso (e escandaloso!) abordado pelo jovem rabi diz respeito à abolição da lei como meio de aproximação de Deus. Ele oferecia a promessa de perdão, amor, bondade e favor divino às pessoas que, definitivamente, não mereciam. Realmente o discurso daquele rabi era muito estranho, de modo que despertou não só a atenção das autoridades da época, como também muito os preocupou. Ele chegou a afirmar que o Templo (sim, justo o templo!) dos judeus seria derrubado e que em Jerusalém não ficaria pedra sobre pedra. Ao ouvir isso, os lideres religiosos decidiram que já não podiam tolerar as ideias revolucionárias daquele jovem; ele se tornara um inimigo da religião, e era um perigo para o culto institucionalizado. Por fim, planejaram matar-lhe.

Creio que o leitor conhece os pormenores da história acima e sabe perfeitamente de quem estamos falando. Porém, chama-me a atenção o fato de que Jesus enfrentou os líderes religiosos e ganhou deles o ódio justamente por apresentar oposição a um sistema institucionalizado que queria ter o monopólio sobre Deus. Ele era considerado subversivo porque dizia que não era em Jerusalém o local onde se deve adorar, mas em espírito e em verdade. Ele sofria retaliação porque dizia que não era necessário guardar centenas de ordenanças para encontrar a Deus. A suma da lei era: Ama a Deus e ama o teu irmão. Ele descomplicou as coisas para nós. Ele tornou tudo mais simples!

Há em nossos dias uma tendência a complicar tudo aquilo que Jesus simplificou, e adotar tudo aquilo que Ele aboliu. Não contentes com a graça barata, com a graça de graça, os homens desejam comprar de Deus o favor, mediante sacrifícios financeiros, comércio de objetos sagrados e até mesmo horas de oração em montanhas “sagradas”. Imitam a saga dos profetas do Antigo Testamento e esquecem-se que os apóstolos trilharam um caminho muito melhor!

Até a própria igreja (templo) tem se transformado em objeto de idolatria e tem deixado de ser um meio para tornar-se um fim em si mesma. Aliás, cristianismo hoje em dia está relacionado principalmente com aquelas duas horas de culto semanal. Chamamos isso de comunhão: Quem vai na igreja, está em comunhão; quem não compareceu no templo, não teve comunhão. Ora, isso é ridículo! Cristianismo não é uma vida obstinada dentro de quatro paredes. Cristianismo é um serviço no mundo. É envolver-se com pessoas num relacionamento sadio, no qual o caráter de Cristo pode perfeitamente transparecer nas nossas atitudes. Isso é adoração. Isso é culto a Deus, e comunhão com Ele e com o próximo.

Cristianismo transcende a cultura. Ele não é limitado pelas regras de vestuário que a sua (ou a minha) igreja dita. Isso são costumes humanos; e cristianismo é uma proposta transcultural.

Cristianismo transcende a religião. Deus não é uma marca patenteada pela sua denominação. Houve ao longo da história da igreja vários grupos que se distanciaram da igreja institucionalizada, mas nem por isso deixaram de ser “Igreja”. Na época eles foram taxados de hereges, mas hoje reconhecemos o valor desses movimentos. Portanto, não coloque a todos os que adoram longe dos “templos” num mesmo saco.

Cristianismo transcende a geografia. Ele não está confinado em um edifício, nem aprisionado num estatuto de igreja. A sua igreja não é a última bolacha do pacote>. É possível achar pessoas sinceras dentro (e fora!) dessas agremiações. Além do mais, quem afirma que não há salvação fora da igreja (instituição) são os católicos. Há salvação fora da “igreja”, desde que seja em Cristo.

A verdade é que nos distanciamos tanto daquela proposta de Cristo, que aqueles que – ao meditar nos evangelhos decidem voltar à estrada original, são acusados de heresia. Vagamos tão distantes da fé primitiva que qualquer que quiser, em semelhança aos apóstolos e profetas do passado, denunciar os abusos cometidos pelos sacerdotes corruptos, sofrerá retaliações. E estes, caso queiram permanecer nesta senda, deverão estar dispostos a enfrentar o rechaço daqueles que, em nome de uma paz ilógica e covarde, pecam por omissão para manter o status quo.

Há mais de dois mil anos aquele jovem rabi, filho de carpinteiro, morreu crucificado. Hoje, aqueles que dizem ser seus seguidores, crucificam os seus ideais. A graça é banida, o Reino olvidado, a justiça social esquecida, e a religião é usada como um meio de enriquecer os espertos e alimentar a avareza dos ignorantes. Não obstante, haverá um dia em que o rabi voltará, e julgará a cada um conforme as suas obras. Portanto, avalie o homem a si mesmo, aplaine seus caminhos, saia de dentro do armário e assuma o seu papel no corpo de Cristo.

Não podemos ser cristãos apenas de títulos; precisamos ser discípulos em obra e em verdade.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Pregação Chocante - Paul Washer



Fonte: Internautas Cristãos

Crentes devem celebrar o natal?


Por Renato Vargens

Como muitas vezes acontece, a Igreja Evangélica Brasileira polemiza sobre assuntos dos mais diversos. Na verdade, têm sido assim no decorrer recente de sua história. Ultimamente, têm-se falado demasiadamente sobre o natal, sua história e implicações. Como era de se esperar, opiniões diferentes surgiram quanto ao assunto. Existem aqueles que não vêem nenhum problema quanto à celebração da data, e outros que radicalizaram abdicando de toda e qualquer celebração relacionada ao tema em questão.

Antes de qualquer coisa, por favor façamos algumas considerações:

o Natal não era considerado entre as primeiras festas da Igreja. Os primeiros indícios da festa provêm do Egito. Os costumes pagãos ocorridos durante as calendas de Janeiro lentamente modificaram-se na festa do Natal”. Foi no século V que a Igreja Católica determinou que o nascimento de Jesus Cristo fosse celebrado no dia da antiga festividade romana em honra ao nascimento do Sol, isto porque não se conhecia ao certo o dia do nascimento de Cristo. Não se pode determinar com precisão até que ponto a data da festividade dependia da brunária pagã (25 de dezembro), que seguia a Saturnália (17-24 de dezembro) celebrando o dia mais curto do ano e o “Novo Sol”. As festividades pagãs, Saturnália e Brumária estavam a demais profundamente arraigadas nos costumes populares para serem abandonadas pela influência cristã. A festividade pagã acompanhada de bebedices e orgias, agradavam tanto que os cristãos viram com benevolência uma desculpa para continuar a celebra-la em grandes alterações no espírito e na forma.

Ontem e Hoje

A conclusão que chegamos é que o natal surgiu com a finalidade de substituir as práticas idólatras e pagãs que influenciava sociedade da época. Hoje como no passado à humanidade continua fazendo desta festa pretexto pra bebedeiras, danças e orgias. Se não bastasse isso, todos sabemos que milhões de pais em todo o mundo (Muitos destes cristãos) levam seus filhos pequenos a acreditarem em Papai Noel, dizendo-lhes que foi o bochechudo velhinho que lhes trouxe um presente. Ora, a figura do papai Noel tem origem nos países nórdicos, referindo-se a um senhor idoso, denominado Klaus, que saía distribuindo presentes a todos quanto podia. Infelizmente, numa sociedade materialista e consumista, o tal Papai Noel é mais desejado do que Jesus de Nazaré, afinal de contas, ele é o bom velhinho que satisfaz os luxos e desejos de todos quanto lhes escrevem missivas recheadas de vaidades e cobiças. Se não bastasse, junta-se a isso a centralidade em muitos lares cristãos de uma Árvore recheada de bolinhas coloridas.

O espírito consumista e mercantilista do natal, bem como a ênfase na árvore e no papai Noel, se contrapõe a mensagem do evangelho que anuncia que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho pra morrer por nós. Aliás, esta é a grande nova! Deus enviou seu filho em forma de Gente! Sem sombra de dúvidas, sou absolutamente contra, duendes, Papai Noel e outras coisas mais que incentivam este “espírito mercantilista natalino”. No entanto, acredito que antes de qualquer posição, decisão ou dogmatização, quanto ao que fazer “do e no natal” devemos responder sinceramente pelo menos três indagações:

1. Será que existe alguma festividade ou festa no mundo que tenha o poder de convergir tanta gente em torno da família, do lar como o natal?

2. Em virtude do grande poder e influência que o natal exerce na sociedade ocidental será que não deveríamos aproveitar a oportunidade e anunciar a todos quanto pudermos que um “menino nos nasceu e um filho se nos deu”?

3. Seria inteligente de nossa parte desconsiderarmos o natal extinguindo-o definitivamente do “nosso” calendário em virtude do“espírito mercantilista natalino” que impera na nossa sociedade?

Outras considerações

Apesar de não observarmos textos bíblicos que incentivem a celebração do natal, é absolutamente perceptível em diversas passagens a importância e relevância do nascimento e encarnação do Filho de Deus. As escrituras, narram com efusão o nascimento do Messias. Se não bastasse isso, sem a sua vinda, não nos seria possível experimentarmos da salvação eterna e da vida vindoura. Portanto, comemorar o natal, (ainda que saibamos que o Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro) significa em outras palavras relembrar a toda a humanidade que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, pra que todo aquele que nele cresse não perecesse mais tivesse vida eterna.

Isto nos leva a seguinte conclusão:

1. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de evangelização. Em todos os registros históricos percebemos de forma impressionante o quanto os irmãos primitivos eram apaixonados, entusiastas e extremamente corajosos na proclamação do evangelho. Estes homens e mulheres de Deus eram movidos por um desejo incontrolável de pregar as Boas Novas. Eram pessoas provenientes de classes, níveis e posições sociais das mais diversas: artesãos, sacerdotes, empresários, escravos, gente sofisticada bem como pessoas simples e iletradas. Entretanto, ainda que diferentes, todos tinham em comum o sentimento de “urgência” em anunciar a Cristo. Vale a pena ressaltar que Jesus comumente usou as festas judaicas como meio de evangelização. Os 04 evangelhos, nos mostram o Senhor pregando e ensinando coisas concernentes ao reino de Deus a um número considerável de pessoas em situações onde a nação celebrava alguma festividade. Na verdade, ele aproveitava os festejos públicos pra anunciar as boas novas da salvação eterna. Ora, tanto nosso Senhor quanto à igreja do primeiro século tinham como missão prioritária à evangelização. Portanto, acredito que o natal seja uma excelente ocasião pra anunciar a cristo aos nossos familiares e amigos. Isto afirmo, porque geralmente é no natal onde a maioria das famílias se reúnem. O natal nos propicia uma grande oportunidade de proclamarmos com intrepidez a cristo. Junta-se a isso, que o período de fim de ano é um momento de reflexão e avaliação pra muitos. E como é de se esperar, em um mundo onde a sociedade é cada vez mais competitiva e egoísta, a grande maioria, sofre com as dores e marcas deste mundo caído e mau. É comum nesta época o cidadão chegar a conclusão de que o ano não foi tão bom assim. A conseqüência disto é a impressão na psique do individuo de sentimentos tais como frustração, depressão, angústia e ansiedade. E é claro que tais sentimentos contribuem consideravelmente a uma abertura maior a mensagem do evangelho.

Abertura pro Sagrado

Um outro fator preponderante que corrobora pra evangelização é significativa abertura ao sagrado e ao sobrenatural que a geração do século XXI experimenta. No inicio do século XX, acreditava-se que quanto mais o mundo absorvesse ciência menor seria o papel da religião. De lá pra cá a tecnologia moderna se tornou parte essencial do cotidiano da maioria dos habitantes do planeta e permitiu que até os mais pobres tivessem um grau de informação inimaginável 100 anos atrás. Apesar de todas essas mudanças, no inicio do século XXI o mundo continua inesperadamente místico. O fenômeno é global e no Brasil atinge patamares impressionantes.

A Revista Veja encomendou uma pesquisa ao Instituto Vox Populi, perguntando as pessoas se elas acreditavam em Deus. A maioria absoluta ou seja, 99% dos brasileiros responderam que acreditavam. Sem dúvida, o momento é impar na história, até porque, com exceção de alguns períodos da história mundial o mundo nunca esteve tão aberto ao sagrado como agora. Diante disto, será que o natal não representa uma excelente oportunidade de evangelização?

2. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de reconciliação e perdão.Você já se deu conta que a ambiência do natal proporciona uma abertura maior à reconciliação e perdão? Repare quantas famílias se recompõem, quantos lares são reconstruídos, quantos pais se convertem aos filhos e quantos filhos se convertem aos pais. Será que a celebração do natal não abre espaço nos corações pra reconciliação e perdão? Ora, O senhor Jesus é aquele que tem o poder de construir pontes de misericórdia bem como de destruir as cercas da indiferença e inimizade.

3. O natal nos oferece uma excelente oportunidade de sermos solidários em uma terra de solitários.Por acaso você já percebeu que no natal as pessoas estão mais abertas a desenvolver laços de fraternidade e compaixão com o seu próximo? Tenho para mim que o natal pode nos auxiliar a lembrarmos que a vida deve ser menos solitária e mais solidária. Isto afirmo porque o natal nos aponta o desprendimento de Deus em dar o seu filho por amor a cada de um nós. O Nosso Deus se doou, se sacrificou e amou pensando exclusivamente no nosso bem estar e salvação eterna. Você já se deu conta que o natal é uma excelente oportunidade pra nos aproximarmos daqueles que ninguém se aproxima além de exercermos solidariedade com aqueles que precisam de amor e compaixão?

Sem qualquer sombra de dúvida devemos repulsar tudo aquilo que seja reflexo deste “espírito mercantilista natalino”. Duendes, papai Noel, devem estar bem longe da nossa prática cristã. Entretanto, acredito que como portadores da verdade eterna, devemos aproveitar toda e qualquer oportunidade pra semear na terra árida dos corações a semente da esperança. Jesus é esta semente! Ele é a vida eterna! O Filho de Deus, que nasceu, morreu e ressuscitou por cada um de nós. A missão de pregar o Evangelho nos foi dada, e com certeza, cada um de nós deve fazer do natal uma estratégia de proclamação e evangelização. Celebremos irmãos e anunciemos que o Salvador nasceu e vive pelos séculos dos séculos amém.

Soli Deo Gloria

Fonte: Renato Vargens via: Púlpito Cristão

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O silencioso José


Por Josaías Jr.

O Natal se aproxima e, aos poucos, a história do nascimento de Jesus ganha força em nossas mentes. Seja em comerciais de TV, em presépios montados pela cidade ou nos coros apresentando-se nas igrejas, a tradicional figura da turbulenta Noite Feliz está sempre presente. E no centro de tudo, vemos três figuras de muita importância – o bebê Jesus, a encarnação da segunda Pessoa da Trindade, o Salvador e Messias prometido de Israel, figura central da história do Natal e da História da humanidade; Maria, a virgem mãe do Salvador, obediente em seu chamado, e amada por muitos de uma maneira quase incompreensível e, muitas vezes, pecaminosa; e, claro, José.

José de Nazaré muitas vezes carrega o irônico fardo de se encontrar no centro da cena, mas ser tratado quase como um figurante da história ou – desculpe a piada horrível – como uma vaquinha de presépio. Poucos dão atenção à figura do nazareno, relegando à mera posição de marido de Maria. Há ainda aqueles que creem que a Virgem manteve-se virgem a vida inteira, o que joga o pobre carpinteiro mais ainda para o escanteio. Por fim, quando Jesus inicia seu ministério, não temos mais menção de José, o que nos leva a acreditar que ele já havia falecido. Para piorar, não temos nenhuma palavra de José na Bíblia, o que o torna alguém mais difícil de chamar atenção.

Pensei em aproveitar a proximidade do Natal para refletir sobre alguns personagens relacionados àqueles eventos que marcam o início da Era Cristã. (Se conseguirei fazer mais de um texto, não sei, porém gostaria que isso desse certo). Resolvi começar com José. Mas, o que aprender de alguém que parece se esconder em meio a tantos personagens mais chamativos e menos silenciosos?

Um rei tomando a forma de servo

Existe certo motivo para nos esquecermos de José. Muitas vezes, ele se coloca numa posição de anonimato como poucos personagens bíblicos. Acontece que, de maneira semelhante ao seu filho “adotivo” Jesus, o carpinteiro nazareno está ali para servir. Ele tem, como descendente de Davi, a honra de carregar em si o sangue de reis. Provavelmente ele sabia de que família viera, mas em nenhum momento isso se torna “algo a que ele deveria se apegar” (Fp 2.6). Ao invés de rei, tomou a forma de servo (Fp 2.7). Obedece cada palavra angelical trazida a ele. Não parece ter vontade própria. Um rei agindo como um servo.

Sua paixão não estava na realeza e no poder. José, ao contrário, de muitos evangélicos hoje não procurava a “restituição” do que ele tinha direito, nem jamais procurou em exigir os tais “lugares altos” que seu sangue traria. Pelo contrário, Deus usou providencialmente sua pobreza e anonimato para escondê-lo daquele que estava reinando em sua época. Como um verdadeiro rei, semelhante a seu filho, ele preferiu servir ao seu povo ao invés de ser servido. Diferente de Herodes, ele não se sentiu intimidado pela presença do verdadeiro Rei de Israel em suas mãos. Pelo contrário, investiu sua vida no trabalho que Deus havia lhe dado – proteger e criar o Salvador.

Abraçando o desconforto

O compromisso com o serviço leva José a fazer aquilo que muitos cristãos não estão dispostos a fazer – abrir mão de seus direitos e sair de sua vida confortável, estável e agradável. Valendo-se de seu direito como futuro marido, o carpinteiro pensa em deixar a sua noiva. Mas como o faz? Em silêncio, para que Maria não sofra. Certamente, uma mãe solteira já seria humilhada o bastante por sua comunidade. E um homem vingativo descarregaria toda sua ira na mulher que supostamente o enganou, tornando pública e infame sua traição. Mas José abre mão do prato frio da desforra, guarda seu orgulho masculino e prefere proteger sua potencial ex-noiva – mesmo acreditando que foi traído por ela. Para ele, guardar silêncio é melhor que provar o falso prazer da vingança.

Felizmente, José descobre a natureza da gravidez de Maria. O que muitos não percebem é que há aqui também uma escolha que muda sua vida. José acaba assumindo para si um filho que biologicamente não é dele. E com isso vêm dificuldades e provações. Muitas vezes, imagino, idealizamos as cenas de Natal como momentos em que não há dificuldades. Mas quantos hoje estão dispostos a abrir mão de sua tranquila vida por amor a Deus? Muitos de nós não conseguimos nem abrir mão do descanso de domingo para irmos às reuniões da igreja! José nos desafia a repensarmos nossas prioridades. Quantos estão dispostos a investir seu tempo no consolo e cuidado dos abandonados, mesmo que isso signifique perder o futebolzinho ou o salão de sábado? Quem pode abrir mão do dinheiro das férias de julho para que uma criança tenha suas necessidades supridas? José abandonou o conforto e abraçou o desconforto. Por amor a Deus.

Medo de criança

Dr. Russell Moore, em um excelente texto que inspirou em parte esse artigo, mostra como José se diferencia dos modelos de nossa sociedade. Diferente do nazareno, o mundo parece ter medo de bebês. Quem não já viu um cena em filmes ou seriados em que o bebê estraga a vida dos jovens casais despreocupados que queriam apenas curtir um ao outro antes de ir para a faculdade? No seriado In Treatment, um dos casais atendidos pelo protagonista faz terapia para decidir se aborta ou não o bebê que atrapalhará a carreira profissional da mãe. Em Juno, é a decisão em torno de uma inconveniente gravidez na adolescência que gera toda história. Quem quer estragar sua juventude, seu casamento e o próprio corpo com um bebê?

O triste é que muitas vezes a igreja acaba adotando essa mentalidade. A decisão de não ter filhos pela conveniência e pela estética envolve, sim, a desobediência a Deus. O casamento inclui o chamado à paternidade e à maternidade. A tristeza das mulheres estéreis no Antigo Testamento não era mera questão cultural. Envolvia, claro, um pouco de costume da época, mas também envolvia o desejo por cumprir o chamado que Deus deu, de multiplicar seu povo e preencher a terra com ele. Hoje o que vemos é o contrário. Muitos crentes querem ter filhos, mas desde que seja conveniente o bastante tê-los. Veja, não estou aqui defendendo a irresponsabilidade na formação da família. Estou questionando a ideia de que ter uma criança é meramente uma questão de bom senso e conveniência. Não é. É um chamado, não deveríamos tratar isso como o fim da liberdade e da alegria individual, mas como o início de uma nova missão, uma missão de amor e entrega. E desde quando Deus nos dá missões que não valem a pena?

José de Nazaré assumiu o papel de pai. Quantos homens se omitem disso! Nossa cultura glorifica a irresponsabilidade masculina. Observe as propagandas de cerveja no verão. A falta de compromisso, a busca do prazer pessoal, a idolatria da conveniência – tudo é retratado como a prova de uma vida feliz. O carpe diem da publicidade não inclui crianças atrapalhando a diversão de seus personagens masculinos. Não há espaço para José ali. E como a sociedade precisa dele! Como a igreja necessita de homens que amam a paternidade! Como as crianças (sejam suas crianças ou não) anseiam por você.

Conclusão

José perdeu seu conforto, ao adotar um filho que não era seu. Perdeu, talvez, sua dignidade ao assumir o constrangimento de unir-se a uma noiva já grávida. E perdeu o vínculo com sua terra, quando, às pressas, teve de fugir para o Egito. Mas, como Jesus, o carpinteiro José sabia que havia muito ganho em entregar o que se tem por obediência a Deus. Suas palavras não são registradas, mas seus atos demonstram um coração que amava a Deus acima de todas as coisas, e acima de si mesmo.

Que não vejamos José como mero figurante do presépio, mas como alguém que aponta para o Protagonista da História – seu filho, Jesus.

Em Cristo, e desejando ser como José,

Josaías Jr.

Fonte: iPródigo