sexta-feira, 29 de julho de 2011

ESTARIA O SALVO LIVRE PARA PECAR?


Por Cláudia Castor

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. I Coríntios 6:12

Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.I Coríntios 10:23

Ao lermos o que o apóstolo Paulo deixa registrado em sua carta ao povo de Corinto, pode nos surgir o pensamento: Estaria o homem livre para então decidir cometer ou não pecado? Tudo ou todas as coisas inclui aqui o que Deus abomina? Certamente esta primeira leitura e interpretação do texto aqui registrado seria ingênua, para não dizer distorcida da Palavra de Deus. Ao meditarmos em um texto da Bíblia, não podemos nos basear apenas nele para sua interpretação. C. H. Spurgeon disse que: “ se alguém ao ler parte da Bíblia, fora de seu contexto, e disser “Eureka”, certamente deixou o diamante para contentar-se apenas com um caco de vidro.” A Palavra de Deus tirada de seu contexto perde seu valor espiritual e passa apenas a cacos, muitas vezes usados para defender e propagar heresias ou erros cometido e dar-lhes ares de espiritualidade.

Comecemos nossa reflexão pela palavra “lícita”. A palavra lícita significa permitida, possível, tendo como seu antônimo impossível, aquilo que não me é permitido. Façamos uma divisão aqui entre o homem carnal e o espiritual. Nossa sociedade é regrada através de leis que nos permitem ou não determinados atos, quando ferimos atos que em nossa sociedade são proibidos, desacatamos a lei e sofremos as conseqüências por ela determinada. No mundo em que vivemos, embora estejamos aqui e ainda assim não pertencermos a este mundo, estamos ligados as suas condutas e moralmente convidados a praticar e tomar nossas decisões a partir do que será bom para toda a sociedade como um todo. Se essas condutas designadas pela sociedade que vivemos ferem a Palavra de Deus, cabe-nos como cidadãos do céu, optar pela conduta espiritual, mesmo que sofrendo consequências desagradáveis por tal opção. Melhor é servir a Deus do que aos homens (At 5.29). Então o que Paulo estaria falando aqui. Primeiro, sua missão sempre foi falar ao homem espiritual e certamente esta mensagem foi destinada a pessoas convertidas ao Senhor Jesus e que já entendiam o que é se tornar servo do Deus altíssimo. Quando tomamos uma decisão ao lado do Senhor Jesus já não nos é mais permitido pecar. Simplesmente Deus, através de Jesus, nos faz novas criaturas e tal opção não cabe mais em nossas vidas. Pecar sempre nos afastará de Deus e não consiste numa escolha, mas em obediência a Deus e a sua Palavra. O pecado nunca foi lícito ao homem e sua desobediência nos trouxe a queda. Adão não obteve a permissão de comer da árvore do bem e do mal. Sua desobediência e omissão acarretaram a queda de toda a humanidade e a ação e iniciativa de Deus foi em tornar a ter comunhão com o homem caído. O pecado nunca foi e nunca será lícito aos que querem viver piedosamente o evangelho, serem servos do Senhor Jesus e suas testemunhas fiéis aqui neste mundo.

A que então Paulo estaria se referindo a dizer que era permitido, mas não se deveria fazer? Para entendermos é necessário entendermos o propósito para que fomos chamados: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis de liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros.” ( Gl 5.13) Liberdade não consiste em dizer sim a tudo e todos, mas em ter o bom senso e o discernimento espiritual de decidir entre o melhor para Deus, para seu Reino, o que implicará no melhor para mim e toda a sociedade em que vivo. Aqui entendemos que Deus nos fez seres racionais e que devemos usar da razão nas decisões que tomamos: “Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.”( Ef 5.17). Entender a vontade de Deus através da ação do Espírito Santo em nossas vidas é fundamental para tomar decisões corretas em nossas vidas. Ao usar a razão devemos estar com nossa mente da forma que o próprio apóstolo deixou registrado: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” ( Fil 4.8). Pois só tendo a mente de Cristo poderemos crescer e amadurecer de forma correta: “antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo...” (Ef 4.15.) Como posso como nova criatura em Cristo Jesus e tendo sua mente achar que o pecado me é lícito? Esta não é uma escolha dada aos que decidem pela obediência a Deus e a sua Palavra e se deixam serem transformados por seu Espírito. Deus não nos chamou para contradizer tudo o que foi pregado no Evangelho da Cruz: “Porque Deus não nos chamou para a imundícia, mas para a santificação” ( I Ts 4.7). Um Deus Santo requer santidade, somos justificados em Cristo Jesus e santificados pelo nosso Deus que é Santo e não existe nEle sombra de variação. Nos é lícito ser livre para dizer não, a verdadeira liberdade consiste em escolhas e escolhas corretas, Deus desumanizaria o homem se tirasse dele o direito de dizer não ao pecado e optar por Deus e a obediência a sua Palavra. O valor intrínseco do ser humano consiste no respeito de Deus as nossas escolhas mesmo que firam sua santidade, não tendo com isto co-responsabilidade nestas escolhas, apenas não poderia contradizer a natureza humana de ser sua imagem e semelhança e de seu valor intrínseco de escolha que o humaniza e simplesmente trocar por um valor instrumental, onde Deus decidiria de antemão o dizer não em nosso lugar e o sacrifício de Cristo estaria aniquilado.

Este texto deixado pelo apóstolo Paulo não exorta acerca do pecado, Deus não admite o pecado, abomina e odeia o pecado, mas ama o pecador e nos dão direito de optar pela obediência e atitude da confissão e do arrependimento como caminho de volta aos seus braços e não uma escolha se quero ou não fazer. Paulo aqui se endereçava ao povo de Corinto. Esta igreja que estava situada nesta cidade apresentava ainda vários problemas devido a sociedade em que estava inserida e foi por Paulo incansavelmente admoestada, conduzida a uma nova vida e testemunho cristão. Nesta passagem, devemos voltar ao tempo e entender que muitos costumes da sociedade daquele lugar não representavam pecado diante de Deus, mas não contribuíam para identificá-los como novas criaturas em Cristo. Paulo aqui, na verdade, faz um apelo à igreja de Corinto que tudo aquilo que possa associá-los a uma vida distante de Deus e impedir que outros vejam a glória de Deus em suas vidas seja retirado do meio deles, para que novas vidas possam ser ganhas pelo seu testemunho e pela diferença que deveriam fazer naquele local. As pessoas deveriam olhar e dizer: verdadeiramente este é um novo povo, lavado e remido pelo sangue do Cordeiro, fazem diferença não só no mundo espiritual, mas entre os que têm vivido apartados de Deus. Como nos deixa o grande legado de John Stott: ““Testemunho não é sinônimo de autobiografia. Quando estamos realmente testemunhando, não falamos de nós mesmos, mas de Cristo.” Fica aqui a reflexão. Como temos tomados nossas decisões para que os que estão a nossa volta possam ver Cristo e tudo que Ele faz na vida daqueles que o servem? Muitas vezes optamos pela omissão, pelo calar, saiba que a falta de decisão já é a sua escolha e como diz um dito popular: quem cala consente. Fomos chamados como arautos do Rei, aquele que vai à frente gritando, anunciando a chegada do Rei, assim deve ser nossa vida em tudo e com todos, gritar, proclamar a chegada do Rei dos reis e a sua salvação, seja em nossas palavras, atitudes, gestos, escolhas e decisões, Cristo deverá estar sempre em primeiro lugar, sendo anunciado a todos os povos e nações. Deus nos abençoe e nos dê discernimento de agir e decidir segundo o Espírito Santo de Deus. A Deus toda honra, toda glória pelo século dos séculos, amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário