segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Trazendo a Arca? O processo de “judiação” da igreja


Por Milton Jr.

Não bastasse o aventureiro Indiana Jones ter descoberto a Arca da Aliança no filme de Steven Spielberg, em 1981, agora os levitas de plantão resolveram trazê-la de volta para a igreja.

Alguns desavisados poderiam logo ligar minhas palavras ao retorno triunfal da Arca para Israel por intermédio do rei Davi, depois de ter vencido os filisteus na história registrada em 2 Samuel 6, mas não é disso que estou tratando.

Vou explicar: já faz um tempo que decidi parar de acompanhar o mercado de música gospel. No início da minha conversão, nos idos de 1993, era um ávido “fã” de tudo o que era lançado no mercado. Acompanhava cada novo “ministério” que surgia até que percebi que a motivação da maioria deles não era piedosa, mas financeira. Essa minha percepção aumentou quando trabalhei em uma rádio gospel.

De lá para cá, o que conheço de canções novas, são as que ouvia na igreja e, do final de 2002 para cá, depois da ordenação ao ministério pastoral, as que os músicos da igreja me passam para que eu avalie a letra e aprove ou não a inclusão na lista de cânticos que entoamos nos cultos.

Ultimamente, porém, um grupo me chamou a atenção. Não conheci primeiramente o grupo, mas uma de suas músicas em um culto de que participei. Gostei do começo da letra, mas quando chegou o refrão escutei: “No santo dos santos, a fumaça me esconde, só teus olhos me vêem.” Fiquei a pensar na ginástica que foi feita na interpretação bíblica para poder cantar algo assim. Eu sei que o escritor de Hebreus insta a que, com intrepidez, entremos no Santo dos Santos, mas ele diz que é pelo novo e vivo caminho, por meio de Cristo Jesus.

Se é assim, o que seria a tal fumaça que esconde o autor da música? Seria a fumaça do holocausto? Não pode ser, pois o sangue era levado para dentro do Santo dos Santos mas o animal era queimado fora do acampamento (Hb 13.11), porém, se foi isso que o autor pensou, ele está invalidando o sacrifício vicário de Cristo, realizado de uma vez por todas na cruz do Calvário. Seria então a fumaça do incenso (1Cr 23.13)? Seria a “fumaça” da glória do Senhor (se bem que a Bíblia usa a palavra nuvem)? Confesso que até agora não consegui chegar a uma conclusão.

Fui pesquisar para saber quem cantava a tal música e, para minha surpresa, o nome do grupo é “Trazendo a Arca”. Vejo que o processo de judaização da igreja (ou seria melhor judiação da igreja?) continua. Já foram trazidos de volta os levitas, já estão tocando no altar, trouxeram o menoráh e o shofar, estão celebrando a festa do tabernáculo, e, agora essa, estão trazendo de volta a Arca.

Uma das melhores explicações sobre a Arca que já li é a de James Boice no livro O Evangelho da Graça. Ele entende que a Arca é uma das mais belas figuras de Cristo no Antigo Testamento. Sabemos que a Arca media cerca de 90 centímetros, era coberta de ouro e foi feita para conter as tábuas da Lei, a vara de Arão e o maná. Sua tampa era chamada propiciatório e em cima havia dois Querubins, um de frente para o outro.

Boice diz que é como se Deus olhasse de cima para a Arca e, entre os Querubins, visse a Lei que foi quebrada por cada homem. Esta visão só traz condenação ao homem. Porém, uma vez por ano, no dia da expiação, era feito o sacrifício de um animal e o sangue era aspergido sobre o propiciatório. Agora, quando o Senhor olha par a Arca não vê mais a Lei, mas o sangue da vítima inocente que foi derramado. A propiciação foi feita e Deus salvaria todos aqueles que fossem a ele pela fé naquele sacrifício.

Por mais bela que seja essa descrição, esse tempo se passou. O escritor de Hebreus afirma que tudo isso era figura e sombra das coisas celestes (Hb 8.5). Ele mostra nos capítulos 9 e 10 que Cristo cumpriu plenamente o que era figura e agora temos o que é real. O apóstolo João corrobora este pensamento quando afirma que “ele é a propiciação pelos nossos pecados” (1Jo 2.2).

Não temo em afirmar que, quando a igreja, mesmo sem pensar nas implicações, assimila as idéias descritas acima, está pecando contra o Senhor. Afinal de contas, não era isso que estava acontecendo na igreja dos gálatas? Eles não estavam sendo influenciados para voltar aos rudimentos da lei, cumprindo as ordenanças cerimoniais? Os judaizantes não estavam fazendo pressão para que os irmãos se submetessem novamente àquilo que era sombra? Não foi esse o motivo de Paulo ter resistido a Pedro face a face?

O apóstolo Paulo foi então categórico ao afirmar que, se eles mesmos ou ainda um anjo do céu pregasse um evangelho que fosse além daquele que os gálatas haviam recebido, fosse considerado maldito (Gl 1.6-9).

Por mais impressionantes, por mais belos, por mais pirotécnicos que sejam esses movimentos, a igreja de Cristo deve rejeitar tais idéias e quaisquer outras que queiram “roubar” a glória da cruz e a simplicidade do evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.

Roguemos a Deus que nos dê discernimento para julgar todas as coisas, à luz da Escritura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário