terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Inteligência não é fruto


Por R.C. Sproul Jr.

O povo Reformado parece gostar de errar nesse ponto. Quando Paulo descreve o corpo de Cristo, cujas partes ele inclui mãos, orelhas, e assim por diante, nós somos rápidos em marcar nosso território – nós somos o cérebro da igreja. Nós somos os únicos que estão tão certamente preocupados com a nossa teologia. As grandes mentes da igreja foram dos Reformados, e alguém pode certamente dizer que a maior delas, teologicamente ou além, que já pisou nessas terras da América do Norte, foi Jonathan Edwards.

Não há dúvidas que o homem tinha um intelecto imponente. Deveríamos ter a sabedoria de sentar aos seus pés e aprender com ele. Edwards falando sobre volição é incontestavelmente um gênio. Sobre a Trindade, Edwards faz a sua cabeça girar. Edwards era uma mente titânica cujo brilho foi ofuscado apenas pelo seu ardente e apaixonado coração. Devemos abraçar a visão teológica de Edwards? É claro, certamente. Seria melhor ainda, contudo, se nós apenas pudéssemos apreciar a sua devoção de alma.

É claro que nós não aumentamos o fervor das nossas emoções ofuscando a capacidade dos nossos cérebros. Nem, contudo, iremos nutrir o fruto do Espírito se a semente da Palavra é plantada apenas no solo rochoso dos nossos cérebros em vez do solo fértil dos nossos corações. Nós certamente devemos conhecê-lo para amá-lo. Nós certamente devemos estudá-lo para conhecê-lo. Mas ninguém estudou-O mais do que o diabo, e isso não fez dele nenhum pouco bom.

Há algumas semanas, a Reformation Bible College abriu as suas portas pela primeira vez. A primeira turma eu ensinei um nome bastante pretensioso: Prolegômenos teológicos básicos. Esse título intelectualizado se traduz aproximadamente como “Introdução à Teologia Sistemática”. É o estudo que fazemos antes de começar nosso estudo.

Historicamente, tal classe começaria, logicamente, com a doutrina da revelação, explorando como Deus se revela em Sua Palavra e na natureza. Consideraria questões do cânon e várias teorias da inspiração. Nós iremos, eventualmente, chegar a essas questões importantes. Em outro semestre, nós iremos voltar as nossas atenções para o que chamamos de “TEOlogia propriamente dita”, o atual estudo da natureza de Deus e seus tributos. Apesar do assunto da futura classe, nós começaremos a primeira turma com uma obra clássico, A Santidade de Deus.

Meu medo, ao olhar para essa primeira turma, era que iriamos cair na armadilha que já capturou muitas pessoas reformadas. Eu temia que, mesmo com as verdades das gloriosas Escrituras, nós acabaríamos apenas agradando os ouvidos. Eu seria culpado de fazer cócegas nas orelhas, nas minhas aulas, se eu encorajasse os alunos a concluir, “Que pessoa inteligente eu sou” em vez de “Que evangelho glorioso que salvou um miserável como eu”. Eu queria, quando estudássemos juntos este livro, que nos olhássemos no espelho de Seu caráter e glória para que nunca percamos de vista o quão vis nós somos. Eu queria que nós entendêssemos algo do escopo da transcendência dEle caso sejamos tentados a concluir que nossos estudos nos levariam ao céu da mesma forma que a Torre de Babel. Eu temia pelos meus alunos precisamente porque eu me lembrei de como eu era quando era estudante. Que Diabo inteligente, esse que lutamos contra, que consegue transformar nosso estudo da boa teologia em um caso de orgulho.

Nós não seremos melhores até abraçarmos essa verdade óbvia: inteligência não é um dos frutos do Espírito. É claro que devemos amar a Deus com as nossas mentes. Mas devemos amar a Deus com as nossas mentes, não meramente entendê-lo. Quando o nosso conhecimento não pode atravessar a distância entre a nossa cabeça e o nosso coração, estamos sofrendo um vazio espiritual. Não nos tornaremos melhores até abraçarmos essa verdade óbvia: chegamos ao reino não como estudantes ou acadêmicos, mas como crianças.

Nós não iremos, de fato, nos tornarmos melhores até aprendermos a pararmos de perseguir a respeitabilidade acadêmica e começarmos a buscar o Reino de Deus e a sua justiça. Devemos deixar para trás todas as preocupações terrenas. Devemos parar de buscar essas coisas que os gentios buscam.

O amor, afinal, é um fruto do Espírito. Amor gera amor. Amor traz alegria. Amor concede paz. Paciência, benignidade, bondade, e domínio próprio: tudo isso brota como os belos cacho de uvas que os doze espiões israelitas viram na Terra Prometida. Nenhum desses, contudo, brota do solo árido da nossa curiosidade intelectual, muito menos da terra seca do nosso orgulho intelectual.

Edwards era um grande homem de Deus. Ele era assim, contudo, porque ele buscava ser um homem de Deus, ao invés de ser um grande homem. Seus descendentes serem senadores e governadores, professores e presidentes de universidades, não significava nada para ele. Que eles seguissem o filho do carpinteiro lá da Galileia –era o que ele esperava, orava e trabalhava por. Este é o fruto da piedade.

Fonte: iPródigo

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