segunda-feira, 12 de março de 2012

Quando Deus parece não ouvir


Por João Calvino

Nem sempre Deus parece ouvir-nos as orações; mas, ainda assim, requer-se constância e perseverança no exercício da oração.

Pois se afinal nem mesmo depois de longa espera nosso senso perceba que beneficio se obteve pela oração, nem que sinta daí qualquer fruto, entretanto, nossa fé nos assegurará daquilo que não poderá ser percebido pela sensibilidade, a saber, que obtivemos o que era conveniente, quando, tantas vezes e com tanta certeza o Senhor promete que nossas preocupações haverão de ser por ele atendidas, desde que sejam depositadas em seu seio. E assim ele fará com que na pobreza possuamos abundância, na aflição tenhamos consolação.

Ora, ainda que todas as coisas falhem, contudo, Deus nunca nos haverá de desamparar, o qual não pode frustrar a expectação e a paciência dos seus. Somente ele nos servirá mais que todos, pois ele contém em si mesmo tudo quanto existe, e que finalmente nos haverá de revelar tudo isso no Dia do Juízo, quando abertamente manifestará seu reino.

Acrescento ainda que, mesmo quando Deus nos atenda aos rogos, contudo, nem sempre ele responde conforme a expressa fórmula do pedido; ao contrário, mantendo-nos como que suspensos, no entanto de modo não previsto mostra que nossas orações não foram vãs. Isto significam estas palavras de João: “E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos” [1Jo 5.15]. Isto parece mera superfluidade de palavras, mas de fato é uma declaração muitíssimo útil, porque Deus, ainda quando não atenda ao desejo, no entanto é favorável e propício a nossas orações, de sorte que nunca nos frustra a esperança arrimada em sua Palavra. Com esta paciência, porém, os fiéis têm necessidade de ser sustentados até este ponto, porque não haveriam de estar firmes por longo tempo a não ser que nela se reclinassem.

Pois o Senhor não prova os seus com experiências leves, nem os exercita frouxamente; pelo contrário, freqüentemente os impele até a extremos; e assim impelidos, os deixa chafurdar-se nesse lodaçal por longo tempo, antes que lhes proporcione algum gosto de seu dulçor. E, como diz Ana: “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e conduz de volta” [1Sm 2.6].

O que lhes ficaria ao ver-se afligidos desta maneira, senão perder o ânimo, desfalecer e cair no desespero, a não ser que, quando se encontram assim afligidos, desconsolados e semimortos, os console e os ponha de pé a consolação de que Deus tem seus olhos postos neles, e que, por fim, triunfarão de todos os males que presentemente padecem e sofrem?309 Não obstante, seja como for que se postem na certeza desta esperança, enquanto isso não deixam de orar, porquanto, a não ser que a constância de perseverar assista à oração, nada conseguimos com a oração.

Fonte: Josemar Bessa

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