sexta-feira, 15 de junho de 2012

Por um cristianismo sem César



Os Evangelhos nos mostram que o centro do ministério de Jesus era cumprir a vontade do Pai. Toda sua vida foi devotada a servi-lo com amor, fazendo tudo conforme o plano de Deus, o Soberano. Uma das questões que muito têm me trazido à reflexão nesses últimos dias é a questão do capital envolvido na comunidade cristã, bem como a forma como ele é tratado em nossa sociedade. O centro da sociedade da qual fazemos parte é o capital. Compra-se, vende-se, tudo gira em torno do dinheiro. E é esse o ponto que quero destacar nos ensinamentos do Mestre sobre a nossa vida.

Quero chamar sua atenção, leitor, para o que vemos em Mateus 22.15-22, onde Jesus nos dá uma lição de vida e deixa bem claro que os que ressuscitaram com Ele procuram as coisas que têm origem no alto (Cl 3.1-2) e sabem diferenciar o que é para Deus e o que é dessa vida.

No trecho de Mateus em questão os enviados dos fariseus e de Herodes, que tentavam incriminar Jesus usando as próprias palavras do Mestre, vêm até Ele e lhe fazem uma pergunta: “É certo pagar impostos a Cesar ou não?” (v. 17). É importante lembrar que essa pergunta foi feita com a intenção de acusarem Jesus, dependendo da resposta, já que o mestre era visto como uma ameaça para o sistema em questão. Vamos esclarecer um pouco mais o contexto da época: a nação de Israel estava sofrendo sob o poder de Roma (Herodes era o governador daquela localidade) e ao mesmo tempo os fariseus – Judeus – esperavam a vinda de um Messias supostamente libertador político, que livraria Israel da tirania do governo romano.

Agora, coloque-se no lugar de Jesus tendo dar uma resposta que não comprometesse um lado nem o outro. Que resposta você daria? Sua resposta seria evasiva? Você sairia sem responder à questão levantada pelos fariseus e herodianos? A pergunta era uma, digamos, pegadinha, já que se respondesse que não, correria o risco de ser preso como traidor de Roma, já se respondesse sim, seria visto pelos judeus como apoiador do regime tirano, logo, não seria Jesus o Messias prometido. Era uma questão difícil.

Continuando a leitura do capítulo você verá que a resposta de Jesus é a mais surpreendente e profunda de todas. O Mestre pede que a pessoa que lhe perguntou mostre a moeda que era usada pra pagar o imposto (1 denário)[1]. Agora Jesus pede que lhe digam de quem é a imagem que está na moeda e a resposta óbvia é “de César”. Aí, então, Jesus aplica o golpe de misericórdia respondendo da forma que só a própria sabedoria saberia responder: “Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Jesus consegue com isso responder à pergunta que tinha o objetivo de incriminá-lo e seus acusadores o deixam admirados com sua sabedoria.

Vimos a maravilhosa sabedoria de Jesus em se desvencilhar daqueles que procuravam lhe acusar de traidor, porém o mais impressionante é a grande sabedoria contida na resposta de Jesus e que podemos aplicar à nossa vida cristã. Vamos refletir sobre o “Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”?

Quantas vezes nos vemos fazendo o contrário do ensinamento de Jesus, ou seja, dando a César o que é de Deus e a Deus o que é de César? Quando fazemos isso demonstramos que ainda não morremos para o mundo (Cl 3.1), mas estamos vivendo de acordo com o sistema de valores deste século. E é exatamente essa confusão que tem feito a igreja dos nossos dias perder sua essência.

A igreja perde sua essência quando nós – seus membros – achamos que por meio das contribuições financeiras conseguiremos alcançar o favor de Deus sobre suas vidas e que por “darmos” a Deus ele é obrigado a nos devolver em dobre ou 7 vezes mais, como se estivéssemos pagando um tributo a um governante e cobrando de volta em saúde, saneamento, educação, etc. A igreja perde sua essência quando em vez de entregar a sua vida a Deus, entrega apenas os seus bens. Estamos passando por uma crise de identidade por não sabermos fazer essa diferença. Precisamos entender que o nosso Deus não precisa de moedas. Ele não deseja só o nosso dinheiro, ele quer toda a nossa vida.

Em resumo, dar a Deus o que lhe é devido implica dedicar-lhe não o seu dinheiro, mas principalmente o seu tempo, a sua vida. Dar a Deus o que lhe é devido implica vivermos uma vida santa e de comunhão com o Eterno, fazendo o que lhe agrada, buscando em primeiro lugar os Reino de Deus e sua Justiça e tendo fé de que tudo do que precisamos para viver nos será concedido conforme sua vontade. Que vivamos um cristianismo sem César.

Soli Deo Gloria!

[1] O denário – que você pode ver na imagem que ilustra esse texto – era a moeda corrente no império romano e que correspondia a 1 dia de trabalho. A palavra dinheiro deriva do daí.

Fonte: Napec

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