terça-feira, 18 de setembro de 2012

Jeremias: um exemplo de fidelidade



“A mim veio, pois, a palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações. Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança. Mas o SENHOR me disse: Não digas: Não passo de uma criança; porque a tosos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás. Não temas diante deles, porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR. Depois, estendeu o SENHOR a mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras. Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares e também para edificares e para plantares. Tu, pois, cinge os lombos, dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te infunda espanto na tua presença”. Jr 1. 4-10, 17.     

Quando nos voltamos para as escrituras somos surpreendidos com o tipo de pessoas que Deus usa para realizar os seus projetos. Muitas vezes, para nosso desapontamento, os homens e mulheres bíblicos não foram os heróis que imaginamos. Não encontramos modelos impecáveis de virtude. Por exemplo: Abraão mentiu; Jacó enganou; Moisés assassinou e murmurou; Davi cometeu adultério, e Pedro blasfemou. E quando nós olhamos para eles muitas vezes nós nos vemos, e isso porque nós fomos moldados no mesmo barro que eles. A Bíblia recusa-se a alimentar a nossa ânsia por cultuar heróis para que possamos somente cultuar Aquele que nos chamou assim como chamou esses personagens bíblicos.

Quando procuramos nas escrituras alguém que se encaixe em uma vida de fidelidade, meus olhos recaem sobre a vida do profeta Jeremias. Poderíamos citar muitos outros exemplos, no entanto eu vejo na vida desse homem um exemplo de fidelidade no sofrimento e não no prazer.

Hoje em dia fala-se muito sobre “uma vida de excelência”, se existe alguém que se encaixe bem dentro desse contexto bíblico é o profeta Jeremias. O seu livro nos deixa claro que a excelência é resultado de uma vida de fé, de estar mais interessado em Deus do que em si mesmo, e que tem pouco a ver com autoestima, conforto ou realizações.

As qualidades marcantes em sua vida são sua bondade, sua virtude e sua excelência. Ele viveu a vida em sua totalidade. No entanto, sua piedade não o livrou das dificuldades, pois enfrentou esmagadoras tempestades de hostilidade e fúria de dúvidas amargas. A bondade de Jeremias não se traduzia em “ser bonzinho”. A palavra mais adequada talvez fosse bravura. Por que falamos isso? Porque durante seu ministério público de quarenta anos e meio às mais confusas e caóticas décadas de toda a história de Judá, Jeremias foi invencível. Por diversas vezes seu íntimo foi tomado por intensa agonia, porém Jeremias nunca se desviou do curso traçado por Deus. Ele foi cruelmente escarnecido e severamente perseguido, mas jamais mudou a sua posição. Havia sobre ele uma tremenda pressão para que mudasse, fizesse concessões, desistisse e se escondesse. Jeremias, porém, jamais aceitou fazer qualquer destas coisas. Ele portou-se como “muros de bronze”.

JEREMIAS: UM PROFETA AS PORTAS DO CATIVEIRO

O ministério profético de Jeremias foi dirigido ao Reino Sul (Judá), durante os últimos quarenta anos de sua história (626-586 a.C.). Ele viveu para ser testemunha das invasões babilônicas em Judá, que resultaram na destruição de Jerusalém e do templo. Tudo isso ocorreu porque a nação não deu ouvidos a voz do Senhor por intermédio do seu profeta (cf. Jr 6.8,10, 14,15, 22,23, 7.24). Jeremias testemunhou a queda de Jerusalém, capital de Judá, esmagada sob as forças do exército babilônico. Presenciou todos os horrores da guerra que proclamou, pois parte das suas profecias se cumpriram enquanto estava vivo.

JEREMIAS: UM PROFETA QUE VIVIA O QUE PREGAVA

A função de um profeta é convocar as pessoas a viverem bem, de forma certa – a serem humanas. Porém, isso é mais do que apenas transmitir essa mensagem, é necessário também vivê-la. O profeta deve ser aquilo que prega. Da mesma forma, nós crentes em Jesus temos a obrigação de viver o que pregamos principalmente os pastores, pois são os primeiros a exortarem a igreja a ter uma vida com Deus e, infelizmente, pelo que temos visto por aí, alguns são os últimos a tentarem por em prática o que pregam.  Abençoam as famílias, mas são divorciados. Pregam a fidelidade, mas são infiéis. Falam sobre liberalidade, mas são apegados ao dinheiro. Dizem que tudo que fazem é para glória de Deus, mas estão visando mesmo é a sua glória. Dizem que estão à sombra da cruz, mas estão mesmo é a luz dos holofotes. Pregar é muito fácil, difícil é ser como Jeremias, coerente com o que se está pregando.

AS CONSEQÜÊNCIAS DA FIDELIDADE DE JEREMIAS

1º – VIDA SOLITÁRIA (Jr 16.1-4)

“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Não tomarás mulher, não terás filhos nem filhas neste lugar. Porque assim diz o SENHOR acerca dos filhos e das filhas que nascerem neste lugar, acerca das mães que os tiverem e dos pais que os gerarem nesta terra: Morrerão vitimados de enfermidades e não serão pranteados, nem sepultados; servirão de esterco para a terra. A espada e a fome os consumirão, e o seu cadáver servirá de pasto às aves do céu e aos animais da terra”.
O celibato e a austeridade de Jeremias eram sinais da chegada de tempos difíceis e, de desastre para Judá. O profeta envidou todos os seus esforços para cumprir sua missão, esquecendo os confortos e prazeres pessoais. Não lhe restaria tempo para cumprir seus deveres normais como marido e como pai. Era um tempo ruim para constituir família em Jerusalém. De fato, não haveria mais células familiares após o exército babilônico terminar a matança. O Senhor diz para Jeremias: “Eis que farei cessar neste lugar, perante vós e em vossos dias, a voz de regozijo e a voz de alegria, o canto do noivo e a da noiva” (Jr 16.9). A nação de Judá estava próxima do fim, e no fim também deveria estar seu regozijo. Assim, antes que tudo acontecesse, o profeta tinha de retirar-se de toda a ocasião de felicidade. O profeta Jeremias veria, com os próprios olhos, a calamidade que terminaria com a alegria da nação.

Se o sofrimento do profeta já era grande, imagine se ele perdesse a família? Seria muito maior seu sofrimento. Às vezes Deus nos impede de termos determinadas coisas para nos poupar de sofrimentos maiores posteriormente.

2º – SOFRIMENTO FÍSICO (Jr 20.1-3)

“Pasur, filho do sacerdote Imer, que era presidente da Casa do SENHOR, ouviu a Jeremias profetizando estas coisas. Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o meteu no tronco que estava na porta superior de Benjamim, na casa do SENHOR. No dia seguinte, Pasur tirou Jeremias do tronco. Então, lhe disse Jeremias: O SENHOR já não te chama Pasur e sim, Terror-Por-Todos-Os-Lados”.

Jeremias acusou os líderes de Judá de renderem-se a um sistema religioso que lhes garantia o sucesso em qualquer um de seus empreendimentos, mas que, ao mesmo tempo, eles estavam abandonando o Deus que os havia chamado para uma vida de amor e fé. Jeremias também os acusou de utilizar elementos religiosos dos povos que os cercavam, criando um ritual religioso visando aos benefícios da luxúria, manobrando fórmulas religiosas a fim de obter prosperidade financeira. Não está nada diferente os dias atuais da do tempo do profeta Jeremias, quantas igrejas hoje que mais parece um centro espírita do que uma igreja evangélica é tanto galho de arruda, tanto sal grosso, tanta espada de São Jorge que misericórdia! Outras, mais parecem um comitê político, os púlpitos viram palanques e o nome do Senhor tem sido usado não para levar as pessoas a se converterem dos seus maus caminhos, mas para fazer com que estes que os escutam votem neles. O povo não passa de massa de manobra nas mãos desses falsos crentes. E muitos ainda dizem que estão ali por ordem do Senhor Jesus, inclusive pastores. O tempo passa, mas o homem continua o mesmo. E quem ousa se levantar contra essa gente é perseguido ferozmente, quando não, são rotulados como crente sem visão, que não tem as revelações de Deus, e por aí a fora. Meu irmão, seja um Jeremias, não se venda a essa gente, não lhes dê atenção. Não troque o pouco de Deus pelo “muito” do diabo. Jeremias sofreu na pele por ser fiel a Deus, mas ele não foi o único. Muitos antes dele sofreram e depois dele também. Mas o fim é a glória que está reservada para os fiéis.

3º – CRISE EXISTENCIAL (Jr 20.7-9)

“Então eu disse a Deus: O SENHOR me convenceu a ser profeta, e eu aceitei pensando que seria protegido. O SENHOR foi mais forte do que eu e me obrigou a anunciar suas palavras. E veja o resultado! Hoje toda a população de Jerusalém ri às minhas custas! Porque sempre me obrigou a gritar alto, anunciando castigo e destruição? Por causa disso, todos zombam de mim e já não posso sair à rua sem passar vergonha! E apesar de tudo isso, não posso deixar de falar sobre o SENHOR. Se penso em parar, as suas palavras queimam como fogo no meu coração e nos meus ossos, o sofrimento é tanto que não posso agüentar” (Bíblia Viva). O próprio texto fala por si.

Fidelidade a Deus, muitas vezes gera perseguição e morte, veja o que o apóstolo Paulo falou a esse respeito: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). E foi exatamente isso que John Wycliffe sofreu.

John Wycliffe viveu aproximadamente entre 1320 e 1384. Discordando frontalmente da postura da igreja oficial da sua época, Wycliffe defendia a idéia de que as pessoas deveriam ler a Bíblia em sua própria língua. “As Escrituras Sagradas são propriedade do povo e ninguém pode tirá-las do povo. Cristo e seus discípulos converteram o mundo fazendo a Bíblia conhecida de um modo que lhes era familiar… Oro com todo o meu coração para que, fazendo o que este livro recomenda, possamos todos chegar à vida eterna”, disse certa vez.

Como foi que John Wycliffe pôs a Bíblia nas mãos dos ingleses? Primeiro, ele organizou um grupo e começou a traduzi-la da Vulgata, a tradução latina. Em 1382, John Wycliffe havia traduzido o Novo Testamento para o inglês. Cada linha de sua tradução foi escrita a mão; a imprensa só seria inventada 68 anos depois. Quando a obra se completou, Wycliffe procurou homens que pudessem ensinar as verdades da Bíblia ao povo inglês. Esses homens, foram treinados por ele e ficaram conhecidos pelo nome de lolardos, viajavam por todo o país, de dois em dois, pregando e ensinando a Bíblia.

A igreja oficial tentou destruir a tradução, mandou prender Wycliffe e o declarou culpado de corrupção da igreja. Wycliffe perdeu o emprego como professor na Universidade de Oxford, e foi excluído da igreja. Doente, retirou-se para o interior do país, onde veio a falecer. Foi tão odiado que em 1415, ou seja, 31 anos depois da sua morte, seus ossos foram queimados em praça pública por ordem do Papa, e as cinzas lançadas no rio Swift, como símbolo da destruição de sua memória.

A memória e o exemplo de Wycliffe, porém, continuam vivos ainda hoje. Existe até uma sociedade missionária – os tradutores da Bíblia de Wycliffe – cujo ministério consiste em traduzir a Palavra de Deus para outros idiomas; o grupo já conseguiu fazê-lo para cerca de 650 línguas. A grande preocupação hoje da maior parte dos editores da Bíblia é colocá-la na linguagem do povo, herança de um teólogo que por causa da Bíblia se fez maldito.

Jeremias, assim como Wycliffe pagaram um alto preço por serem fiéis a Deus. E você? A sua fidelidade a Deus tem gerado perseguição em sua vida? O apóstolo Pedro nos fala em sua primeira carta que se pelo nome de Cristo somos injuriados, bem-aventurados somos, porque sobre nós repousa o Espírito da glória e de Deus (1Pe 4.14). E completa dizendo: “Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome”. (1Pe 4.15,16). A perseguição pode vir sobre a nossa vida, mas que seja pela nossa fidelidade a Deus e não por estarmos sendo infiéis a Ele.

O final de Jeremias não é conclusivo. Nós gostaríamos de saber o seu fim, mas não sabemos. O capitulo 44 retrata como o profeta Jeremias passou grande parte da sua vida, pregando a Palavra de Deus para um povo que o desprezava. Uma parte do povo que conseguiu fugir para o Egito passou a adorar os deuses de lá e a queimar-lhes incenso. O Senhor foi trocado pela Rainha do Céu. Mas lá no Egito, um lugar que ele não gostaria de estar, tendo ao lado pessoas que o trataram de forma cruel, ele prosseguiu fiel e corajosamente, sob o fardo de uma impiedosa rejeição.

Existe uma fonte extra bíblica chamada “lives of the prophets” de Charles Curtle Terrey que diz Jeremias morreu no Egito, apedrejado até a morte pelos judeus. Ele foi enterrado no lugar onde se erguia o palácio do Faraó; pois era honrado pelos egípcios, em virtude dos benefícios que haviam recebido por intermédio dele. Mediante suas orações, as serpentes, chamadas de epoth pelos egípcios, haviam ido embora. Bem disse Jesus: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa” (Mt 13.57).

Profeta vive para Deus e procura fazer a Sua vontade, ainda que para isso tenha que sofrer retaliações. Profeta luta pela causa de Deus sem medo dos homens. “Profeta é aquela pessoa que cria um problema, revelando o problema a fim de solucionar o
problema”.

A atuação apaixonada dos profetas tem um significado central, que é a representação em pequena escala dos sentimentos e intenções do próprio Deus. É Deus escolhendo uma pessoa para falar em nome dele, para que o povo pudesse ver e ouvir o drama de Deus no drama de um ser humano. E quando isso acontece, o profeta se torna o nervo exposto de Deus, pois sua sensibilidade ao mal e à injustiça aumenta a níveis quase insuportáveis. O nervo exposto do profeta é uma janela para entendermos o caráter de Deus e que, como tal, provoca dores intensas. Profeta é muito mais do que previsão de eventos futuros, é Deus chamando de volta para si os que o rejeitaram.

Bibliografia:
GRAY, Alice. Histórias Para o Coração. Jimmy Durante. 1ª Ed. Editora United Press, Editora Hagnos. São Paulo, SP: 2001 reimpressão – setembro – 2004.
GUEDES, Marson. O Caminho de Jeremias. 1ª ed. Associação Religiosa Editora Mundo Cristão. São Paulo, SP: 2004.
ORTBERG, John. Somos Todos (A)Normais? 1ª ed. Editora Vida. São Paulo, SP: 2005.
PETERSON, Eugene. Corra Com os Cavalos. 1ª ed. Editora Textos, RJ e Editora Ultimato, MG: 2004.

Fonte: Napec

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