quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Por que eu creio na Bíblia?

Por Rev. Hernandes Dias Lopes
Eu creio na Bíblia porque ela é totalmente fiel e confiável quanto à sua origem, conteúdo e propósito. Ela vem de Deus, revela Deus e chama o homem de volta para Deus. O homem não é o centro da Bíblia; Deus é. A Bíblia é o livro dos livros. Concebida no céu, nascida na terra; inspirada pelo Espírito de Deus, escrita por homens santos de Deus; proclamada pela igreja, crida pelos eleitos e perseguida pelo mundo. A Bíblia é o livro mais lido no mundo, mais amado no mundo e o mais perseguido no mundo. Destaco três verdades axiais sobre a Bíblia:

Em primeiro lugar, quanto à sua origem, afirmamos categoricamente que a Bíblia procede de Deus. A Bíblia não foi concebida no coração do homem, mas no coração de Deus. Não procede da terra, mas do céu. Não é produto da lucubração humana, mas da revelação divina. Muito embora homens santos foram chamados para escrever a Bíblia, e nesse processo Deus não anulou a personalidade deles nem desprezou o conhecimento deles, o conteúdo da Escritura é inerrante. O próprio Deus revelou seu conteúdo e assistiu os escritores para que registrassem com fidelidade seu conteúdo. A Bíblia não é palavra de homens, mas a Palavra de Deus. É digna de inteira confiança, pois é inerrante quanto a seu conteúdo, infalível quanto às suas profecias e suficiente quanto a seu conteúdo.

Em segundo lugar, quanto ao seu conteúdo, afirmamos confiadamente que a Bíblia fala sobre Deus e sua oferta de salvação. Só conhecemos a Deus porque ele se revelou. Revelou-se de forma geral na obra da criação e de forma especial em sua Palavra. É verdade que os céus proclamam a glória de Deus e toda a terra está cheia de sua bondade. É verdade que podemos encontrar as digitais do criador em todo o vasto universo. Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos. Porém, conhecemos acerca de seu plano redentor através das Escrituras. A salvação é um plano eterno de Deus. Mesmo nos refolhos da eternidade, o Pai, o Filho e o Espírito, o Deus Triúno, planejou nossa salvação. Nesse plano, o Pai escolhe para si um povo e envia o Filho ao mundo para redimi-lo. Jesus faz-se carne. Veste pele humana, vive entre os homens, cumpre cabalmente a lei, satisfaz a justiça divina e como nosso representante e substituto leva sobre si nossos pecados sobre a cruz e morre vicariamente, pagando nossa dívida e adquirindo para nós eterna redenção. Completando a obra da salvação, o Espírito Santo aplica, de forma eficaz, a obra de Cristo no coração dos eleitos, de tal forma que aqueles que Deus predestina, também os chama e aqueles a quem chama, também os justifica e aos que justifica, também os glorifica. É impossível, portanto, que aqueles que foram eleitos por Deus Pai, remidos pelo Deus Filho e regenerados e selados pelo Espírito Santo pereçam eternamente. O mesmo Deus que começou a boa obra em nós, completá-la-á até o dia de Cristo Jesus.

Em terceiro lugar, quanto ao seu propósito, afirmamos indubitavelmente que a Bíblia visa a glória de Deus e a redenção do pecador. A Bíblia não é um livro antropocêntrico; é teocêntrico. Seu eixo central não é o homem, mas Deus. Seu propósito não é exaltar o homem, mas promover a glória de Deus. Não é mostrar quão grande o homem é, mas quão gracioso é Deus. A história da redenção é a mais bela história do mundo. Fala de como Deus nos amou, estando nós mortos em nossos delitos e pecados. Fala de como Deus nos resgatou estando nós prisioneiros no cativeiro do pecado. Fala de como Deus nos libertou estando nós no império das trevas, na casa do valente, dominados pelo príncipe da potestade do ar. Nossa redenção tem como propósito maior a manifestação da glória de Deus e o nosso prazer nele. Concluo, portanto, com a conhecida afirmação de John Pipper: “Deus é tanto mais glorificado em nós, quanto mais nós nos deleitamos nele”.

Fala, que eu te escuto



O comportamento de muitos cristãos de hoje não endossa a fé que dizem sustentar. Aspectos que regem a prática cristã são encontrados, evidentemente, na Bíblia, e orientam atitudes simples e primárias como falar.

Um cristão pode se notabilizar pelos conhecimentos que tem, mas pode colocar tudo a perder se não moderar o seu vocabulário. Esse risco é previsto no Antigo e no Novo Testamento, mas como insinuei acima, muitos dos indicadores primários da fé cristã têm sido deixados para trás e substituídos por rotinas e expedientes das pessoas que não têm qualquer compromisso com a fé em Jesus Cristo.

Num texto clássico sobre o tema, Jesus advertiu: “Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno” (Mateus 5.22). Essa orientação não caducou. Então vejamos o seu sentido. Jesus escolheu o termo grego Γακά (raká). Não sabemos o que ele significa, mas uma pesquisa nos ensina que raká, para os falantes daquela época, era um termo abusivo. Entre os seus significados mais prováveis estão: tolo, cabeça-oca ou mesmo burro.

Na sequência do versículo lemos “louco”. Aqui Jesus empregou o termo Μώρέ (Môré), outra palavra que pode ser traduzida por tolo, ou insípido, insensato; considere que os cristãos são advertidos por Jesus a que sejam o contrário de insípido: sejam sal, e não insípidos.

Noutro documento do Novo Testamento, Efésios 4.29, Paulo diz: “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem”. Torpe é a tradução de σαπρός (saprós). Figurativamente ela transmite a ideia de mau, ruim, imprestável. No contexto de Mateus 7.17, onde Jesus fala dos frutos da árvore, ela significa podre.

E finalmente em Colossenses 3.8, a expressão “… abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar.” Essa “linguagem indecente” é a tradução de αισκρολογιαν (aiskrologian), uma junção de duas palavras para formar o que naqueles tempos era entendido por palavra indecente, obcenidade ou mesmo fala abusiva. Esta é a única passagem no Novo Testamento onde aparece aiskrologian.

Que devemos entender aqui? Que embora estejamos imersos numa sociedade que não zela pelo modo mais decente de expressar-se, que não faz qualquer esforço para ser gentil, educada e mesmo decente no uso da fala, essa tendência natural das pessoas que não professam a mesma fé que nós não pode engolir o nosso modo correto de falar, de agir e de nos mostrarmos na mesma sociedade. Chamar irmãos de “trouxas”, “imbecis” e “otários”, como vemos até mesmo em programas de televisão, não passa perto de qualquer padrão saudável no cristianismo bíblico. A inteligência do cristão deverá elaborar argumentos suficientemente fortes ao ponto de dispensar o uso de expressões chulas e vocabulário que possa ser equiparado a dos mais desprezíveis pecadores.

Para muitos isso parece difícil; mas seguramente é possível. Talvez seja esse o motivo porque Tiago dedicou boa parte de sua epístola (Tg 3.1-12), e mesmo o livro de Provérbios, a tratar da questão. O menor membro do corpo derruba a mais consagrada celebridade, mas o exercício persistente poderá ajudar a cada um de nós na eliminação de outros vícios que atrapalham o aprofundamento da mais simples espiritualidade.

Fonte: Napec

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Como nasce um pastor?



“É um grande privilégio ser escolhido por Deus para fazer a sua Obra, mas é um grande dever do escolhido preparar-se para realizá-la”. Sandro dos Anjos.

O chamado de um pastor é um dos assuntos mais evidentes nas Sagradas Escrituras. Seu perfil e caráter são revelados tanto no Novo como no Antigo Testamento de forma impressionante e segura.

Mas parece que as credenciais bíblicas do chamado e vocação pastoral são ignoradas por alguns grupos cristãos, no que tange aos princípios para a ordenação e consagração de ministros. O que vemos muitas vezes são “pastores” realizando funções protocolares no ministério, do que ministros desempenhando o dom espiritual do apascentamento e cuidado da Igreja de Cristo. E, mais tenebroso ainda é reconhecer que existem muitos pastores que não são pastoreados, verdade essa tão clara que você pode até achar estranho o fato do ministro precisar dessa assistência, mas todo pastor necessita de uma cobertura, como assim fizeram Barnabé com Paulo (At.9.26-28; 11.22-26; 13.1-3), Paulo com Timóteo (2ª Tm.1.1-8, 13-15; 2.1,2) e muitos outros exemplos.

Mas todos os pastores precisam realmente de um chamado exclusivo por Deus? Um pastor que não possui o chamado não terá êxito mesmo estando na função? As frustrações pastorais testemunhadas em nossos dias são resultados do erro quanto ao chamado ministerial? Afinal, como nasce um pastor?

Primeiro desejo esclarecer os significados das palavras “vocação” e “chamado”, visto que se tratando do contexto religioso, ambas se encontram interligadas. O termo vocação, do lat. vocare é a inclinação e aptidão para determinada função. Denota uma disposição natural para uma coisa; e Chamado é a confirmação da vocação para a determinada Missão. Denota o mecanismo de ação da vocação.

Devemos iniciar o entendimento bíblico do chamado em questão, a partir da figura e descrição ilustrativa do pastor de ovelhas do Antigo Testamento, pois nessa esfera, a vida do pastor em muitos aspectos é sintonizada em um paralelo com os relacionamentos espirituais do líder cristão, sendo usada pelos escritores bíblicos, repetidas vezes, como uma luz eficaz para a transmissão de experiências quanto ao ministério e chamado do pastor.

O pastor de ovelhas no Antigo Testamento era facilmente identificado por quatro elementos indispensáveis em sua função: O cajado, a vara, a capa e, o alforje.

O cajado era usado principalmente para guiar o rebanho e socorrer as ovelhas quando preciso (Êx. 21.19; 1º Sm. 17.40; Zc. 8.4). A vara era um símbolo de proteção e, em outros textos é chamada de bordão (2º Re. 4.29). A capa era muito importante para o pastor se acolher e se proteger e, o alforje levava alguns pertences de uso pessoal do pastor (1º Sm. 17.40).

Quando chegamos ao cenário histórico do Novo Testamento vemos os líderes sendo chamados para “pastorear” o rebanho de Deus. Aqui temos o uso do termo pastor como uma nomenclatura que identificaram as próprias palavras de Cristo, quando usando a figura de metáfora, disse de Si mesmo: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas [...] Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido”. (Jo. 10.11-14).

Jesus usou a comparação por que sabia muito bem acerca do cuidado do pastor com as ovelhas nos campos. Ser pastor a partir daquele momento, na visão bíblica e neotestamentária, significava cuidar de vidas da mesma forma que Cristo demonstrou no cuidado e ensino no seu ministério na terra.

Partindo desses princípios referentes às atividades da figura do pastor tanto no AT como as comparações e simbolismo no NT, a Bíblia nos revela as três funções que compreendiam as atividades reais de um pastor:  

1) A proteção exclusiva do rebanho contra as feras e os perigos naturais; 2) O zelo pela seleção dos melhores pastos e campos verdes e; 3) O trato no crescimento da ovelha, com o cuidado do peso e o desenvolvimento de sua lã.

A partir dessas bases a Bíblia deixa clara acerca do verdadeiro chamado de um pastor. Trata-se do servo que desde seus primeiros passos na jornada cristã, junto aos seus (sua igreja e seu pastor) possui real preocupação, primeiro na proteção da igreja de Cristo, que compreende o bloqueio das contaminações do mundo, dos falsos ensinos, dos caminhos tortuosos; segundo, o zelo pelo melhor alimento através da pregação da Palavra de Deus, que edifica, exorta, consola e desperta. Um servo que revela o chamado para pastorear sempre transmitirá mensagens dentro desses quatro aspectos; e terceiro, pela liderança espiritual que faz com que vidas desenvolvam seus ministérios e alcancem seus sonhos. O pastor é um líder e seu chamado está condicionado ás suas qualidades de liderança.

O que mencionamos até aqui pode ser resumido numa verdade ampla: Não existe chamado pastoral distante dessas realizações, bem menos algum pastor usado pelo Espírito Santo com apenas uma dessas indicações, ou seja, se algum ministro está em falta em algum desses princípios, com certeza seu chamado ministerial está em desenvolvimento, mas, se lhe falta todos esses valores, com certeza jamais foi chamado por Deus para pastorear.

Dentro desse raciocínio ainda desejo expor duas situações: pastores que crêem no chamado, mas passam por experiências frustrantes, e pastores que sabem realmente que não possuem o chamado, mas entraram “acidentalmente” no ambiente ministerial.

No primeiro caso é de grande importância saber que o início ministerial com experiências dolorosas não significa algum tipo de erro no chamado, mas pode revelar um agir e preparo exclusivo de Deus para algo bem maior. Deus o levará a compreender isso.

No segundo caso, temos alguém sem o chamado na função pastoral, mesmo assim pastoreando. A falta de êxito maior desse líder não está em seu realizar, de certo, ele sempre fará algo em suas condições, mas sua situação revela claramente que suas ações pastorais serão limitadas por lhe faltarem os elementos essenciais que preenchem sua ordem vocacional e seu chamado divino.

No demais, desejamos muitos pastores Chamados, e menos chamados pastores.

Fonte: Napec

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O que é um pentecostal? Bp. Walter McAlister

É possível um cristão ficar deprimido?

















 
Por Maurício Zágari

Este fim de semana li uma afirmação curiosa. Dizia que  "simplesmente depressão não pode existir num coração preenchido pelo Espírito Santo". A verdade é que essa é uma frase totalmente antibíblica, sobre um assunto sério que afeta tantas pessoas. Mas infelizmente esse é um pensamento que reflete a teologia atual de enorme parte da Igreja brasileira e que condena multidões de pessoas a um sentimento de culpa e a um cruel distanciamento de Deus. No mesmo contexto, o autor do texto usou termos consagrados pelas igrejas neopentecostais para adjetivar gente que está passando por momentos de aflição, como "derrotado" e "fracassado", e emendou que o texto de "um homem que aceita essa condição e passa a viver depressivamente é a mais triste das coisas que eu li na vida". Como essa visão reflete aquilo que é pregado em muitos púlpitos, quem lê coisas como essas acaba sendo levado a uma reflexão sobre como os cristãos enxergam a depressão: afinal, é possível um servo de Deus viver períodos de depressão? Isso faz dele um "derrotado" e "fracassado". Como funciona isso? E como devemos tratar como cristãos quem está passando por essas fases de depressão?

Vemos nas Escrituras muitos e muitos homens de Deus, cheios do Espírito Santo, passarem por longos períodos de depressão. Elias pediu a morte quando fugiu da humanidade e só queria dormir e esquecer da realidade. Paulo passou uma semana sem apetite nem ânimo após se confrontar com a duríssima verdade de que o propósito de sua vida até aquele momento tinha sido vão. Pedro chorou amargamente e em dilacerante depressão após cruzar seu olhar com o de Jesus após o galo cantar. José do Egito com certeza não ficava soltando fogos na escravidão ou na prisão. Ana, de tão triste e deprimida, chorava  desbragadamente, a ponto de Eli a confundir com uma bêbada. Maria e Marta estavam tão deprimidas com a morte do irmão e a ausência do Senhor que o estado emocional delas chegou a comover Jesus e o levou às lágrimas de compaixão. Desnecessário dizer como a alma do homem reto, temente a Deus e que se desviava do mal Jó foi abatida até o limite. Davi, então, nem se fala, basta ler o salmo 51 para ver como o homem segundo o coração  de Deus entrou numa espiral de depressão após a crise de seu pecado e a morte do filho - aliás, os salmos contêm dezenas de cânticos escritos em agonia depressiva. Em resumo, a Bíblia nos mostra muitos homens e mulheres de devoção sincera a Deus que viveram períodos de acachapante depressão sem que isso os desqualificasse aos olhos do Senhor ou fizesse deles "derrotados" ou fracassados".

O mesmo ocorreu com grande homens de Deus ao longo da História da Igreja. Charles Spurgeon viveu décadas em depressão profunda devido à sua saúde e a da esposa. Agostinho fala claramente sobre suas depressões e crises existenciais em "Confissões". João da Cruz chega a escrever sobre o terrível estado de espírito que chamou de "a noite escura da alma". O relato de vida sofridíssima de David Brainerd é uma inspiração para todos nós até os nossos dias. O que dizer então de John Bunyan em seus anos na prisão? Martinho Lutero em seu exílio voluntário para fugir da fúria papista produziu escritos magníficos, inclusive a tradução da Bíblia para o vernáculo. William Cowper, o deprimido poeta cristão sofredor, que exemplo! Todos gigantes da fé, que viveram enormes ondas de depressão. E... "simplesmente depressão não pode existir num coração preenchido pelo Espírito Santo"? Desculpem, mas isso simplesmente não é verdade.

Deus faz as coisas de modo surpreendente. No dia em que li essas palavras estava na casa de um grande amigo, onde fiquei de manhã até a noite em um sarau, cantando, tocando violão e conversando. Entre os poucos presentes estava um dos meus cantores preferidos de música cristã no Brasil, intérprete de muitas das canções evangélicas mais bíblicas e belas que conheço. Conversamos muito e ele me contou como compôs algumas de suas músicas. Lindo é que as mais profundas, as minhas favoritas, as que mais tocam o meu coração e me aproximam de Deus foram escritas em momentos em que ele se encontrava em uma depressão tão terrível que se eu relatasse as histórias te fariam chorar como eu chorei diante dele. Não posso contar quem esse cantor é ou que músicas são porque ele me pediu que não dissesse a ninguém, justamente pelas ideias erradas que o cristão tem sobre a depressão, como se ela fizesse de você um crente de segunda classe, sem fé ou distante de Deus. Foi uma bela ironia.

Biblicamente, a depressão é uma escola de Deus. Não, meu irmão, minha irmã, você não é um derrotado sem fé porque as circunstâncias da vida te levaram a esse ponto. Nunca deixe que te enganem com esse pensamento oriundo da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva. Bons homens e mulheres de Deus se deprimem e, em meio a esse processo, Deus trabalha profundamente em suas almas e emoções. Estar deprimido não é motivo para se considerar menos espiritual, como se o cristão tivesse de viver sempre feliz da vida, sorrindo a toda hora. Isso é um conceito antibíblico fruto de uma teologia apócrifa. Deprimir-se simplesmente mostra que você é humano e dependente da graça de Deus. Se você está deprimido e sem forças, saiba que não é porque "depressão não pode existir num coração cheio do Espírito Santo", mas sim porque você está na escola de Deus e no mais profundo do seu abatimento o Senhor está te ensinando lições importantíssimas. Todo barro para ser remodelado precisa ser amassado pelo oleiro.

Curioso é que o mesmo texto onde li essa frase sobre depressão diz ainda e paradoxalmente que "a realidade às vezes devora a vida. Às vezes a gente 'despenca' até o pó e lá o Senhor nos lembra coisas que o nosso coração fraco quer nos fazer esquecer". E essa, por outro lado, é uma grande verdade. Quando você é humilhado, entristecido, moído, tratado com injustiça e desamor, na maioria das vezes não é o diabo o responsável, mas o Senhor, que em seu infinito amor disciplina todos os que ama. Deus muitas vezes nos leva propositalmente à tristeza, como Paulo prova em 2 Coríntios 7 - ao falar sobre a tristeza segundo Deus:

"Vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte. Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito". (2 Coríntios 7.8-10)

Nem sempre a depressão vai desvanecer-se simplesmente pelo fato de botarmos o joelho no chão: só vai acabar quando a soberania de Deus determinar, quando tivermos chegado ao ponto em que Ele quer. Jó passou mais de 40 capítulos falando com Deus sobre sua míséria e não foi por isso que o Senhor virou seu cativeiro. Davi orou, clamou e se humilhou mas ainda assim o Pai levou seu filho e, no episódio do recenseamento, ele teve de amargar o juízo do Alto. Paulo clamou três vezes, afligido pelo espinho na carne, e só ouviu como resposta "a minha graça te basta". Temos de orar sem cessar. Mas nem sempre a oração fará as coisas acontecerem como queremos: a soberania de Deus fará. Oremos sim. Mas sem achar que isso é uma fórmula mágica para um suposto "coração vazio do Espírito Santo".

Querido irmão, querida irmã, se você está enfrentando depressão, não se culpe. E jamais permita que te façam sentir culpado. Você não é. Estar deprimido não quer dizer que você se esqueceu das palavras de vida eterna que o Senhor te disse. Também não quer dizer, nem de longe, que você aceitou ou se conformou com essa condição. Muitos vão te julgar sem saber o que se passa na tua alma ou que circunstâncias da vida te levaram a esse ponto e, como os amigos de Jó, vão dizer que você está fazendo tudo errado e até te acusar de ser abominação ao Senhor. Deixe que falem. Só você sabe por onde passou, onde errou, onde acertou, sabe que a vida não é cartesiana e que 1+1 nem sempre é igual a 2, embora seja o mais fácil para os outros especularem. Só você sabe onde dói o calo - e mais: como aquele calo foi parar ali. Elifaz, Bildade, Zofar e a esposa vão te dizer palavras de acusação. E tua resposta deve ser sempre a de Jó: "Temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?". Não quer dizer que você está se fazendo de vítima. Só você sabe das circunstâncias. Não introjete as acusações. Deixe que falem. A sua conversa e a sua caminhada devem ser com Deus somente e com aqueles que te demonstrarem amor apesar de tudo, amor incondicional, aqueles que sabem quem você é apesar de não te reconhecerem em meio aos momentos de reestruturação que você vive pela depressão. Porque ningúem fica como sempre foi durante os períodos de depressão. E é o amor, e não acusações, que vai ajudar nisso.

A civilização ocidental abomina a depressão. Muitos cristãos abominam a depressão. O que é previsível, pois vivemos numa sociedade hedonista, onde tristeza, melancolia e não estar com "alegria todo dia" é visto somente como um mal e não como um processo necessário de melhoria e avanço espirituais. Pois a Bíblia é claríssima quando mostra o poder terapêutico da depressão. Não a depressão patológica, mas aquele estado de alma em que somos cuidados, moldados, lapidados, aperfeiçoados e tratados por Deus. E entenda: a depressão patológica levou Judas a se enforcar, enquanto a depressão que é fruto da já citada "tristeza segundo Deus" leva Pedro a pregar e três mil almas se converterem. Ninguém gosta de ficar pra baixo, mas a questão é saber como usar isso em favor de seu crescimento espiritual. Deus sempre usou meus momentos de depressão, por exemplo, para mostrar sistematicamente quem se importa de fato comigo ou não, quem é amigo e quem não é, quem me ama e quem não ama. E sou grato ao Senhor por isso.

Muitos cristãos são tão implacáveis com a depressão dos irmãos que, se alguém está deprimido, suas palavras sobre vida com Deus param de alcançar os corações, porque os santos acham que os deprimidos desistiram aos poucos de coisas que são importantes e se entregaram ao sofrimento, como se tivesse sido uma opção - e fazem esse julgamento sem conhecer em toda sua extensão o furacão que os arremessou sem que quisessem e contra todas as suas vontades ao lugar de dor em que se encontram.  Além da depressão em si ainda têm de suportar acusações e julgamentos infundados. E isso dói mais do que a depressão. Mas é o que os cristãos tão cumpridores de bulas religiosas têm feito em vez de estender carinho e graça.

Às vezes é preciso que você passe um tempo na barriga do peixe, no monturo, no cenáculo, pastoreando ovelhas em Midiã, na sepultura, no deserto ou numa caverna sendo alimentado pelos corvos. Isso não é fugir, faz parte do processo de reestruturação e não é demérito algum. Muitos têm concepções próprias de felicidade que atribuem como sendo de Deus. Creem ser o padrão bíblico. Acreditam de fato em teologias as mais diversas ou mesmo que por cumprirem certas cartilhas legalistas estão cumprindo a vontade de Deus. Estou orando e jejuando, então estou fazendo a coisa certo. Deixe que creiam, descobri na prática que não adianta dizer a verdade. Chega uma hora em que você entrega cada um a sua própria sorte. A concepção de cada um é a concepção de cada um e só Deus pode nos ensinar.

Desista de querer mudar os outros, hoje eu sei que isso não funciona. Só quem muda é o Espírito Santo. E - surpreenda-se - muitas vezes Ele usará a depressão para isso. Pessoas que seguem manuais preconceituosos de vida cristã serão surpreendidos ao se verem vivendo depressões profundas, por não entenderem que a vida é dinâmica e não basta seguir os livrinhos de escola dominical, as apostilas dos cursos pré-nupciais ou os livros com "sete passos para a vitória" para tudo dar certo. E, quando a depressão vier para os outros, não cometa os erros que cometeram com você: não acuse, não pise, não diga que eles não têm o Espirito Santo no coração, não os julgue - pois você não sabe o que eles viveram e vivem. Simplesmente dê amor, é o que um cristão vivendo uma fase depressiva precisa até que ela acabe.

Ao final da depressão de Elias, o Espírito Santo, que nunca abandonou o coração daquele homem, envia um anjo, que o sacode e decreta o fim do período e o início de uma nova etapa: "Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo". E esse é o mesmo Elias que foi amado e cuidado pela viúva de Sarepta e dos lábios dela ouviu: "Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade".

Se você sabe quem você é, conhece seu Deus e está seguro do seu relacionamento com o Senhor mas está vivendo um processo terapêutico de depressão... não se deixe afetar pelos que te põem mais para baixo, que julgam pela superficialidade e o pragmatismo e, por não saberem de todos os detalhes e as circunstâncias da tua dor, enxergam apenas os lugares-comuns - e, por isso, pisam em cima e te afundam ainda mais. Aproxime-se dos que te dão amor, pois esses vão se preocupar em ir fundo na sua alma para compreender melhor sua situação antes de te soterrarem de clichês que não ajudam em absolutamente nada - e ferem. Continue na jornada com Deus. Chore o quanto for preciso. Esqueça as cartilhas pré-fabricadas de felicidade ou as frases feitas sobre o "padrão cristão". Lembre-se da beleza do fato de que você é único e que a graça vai lidar com você de forma única. Deus te conhece pelo nome. Deus sabe onde dói a tua dor. Por isso, Ele é o único que te entende e pode te ajudar plenamente. E, ao final, levante-se e ande - com todo o aprendizado obtido na escola de Deus - pois teu caminho será sobremodo longo.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício.

Fonte: Apenas

domingo, 28 de outubro de 2012

Ouvindo sermões como satanás!


Por Josemar Bessa
 
Martinho Lutero foi um dos grandes pregadores de todos os tempos. Ele explicou a necessidade crucial da pregação:

“Porque heresias ameaçaram a mensagem apostólica e viva, ela tinha que ser registrado em um livro para protegê-la de falsificação. A pregação traz de volta a cada dia este processo de conservação novamente, permitindo que as Escrituras do passado se tornem a notícia do presente. . .”

Agora, como ouvimos a pregação da Palavra?

O famoso pregador galês, Christmas Evans, uma vez descreveu vividamente como ele imaginava que Satanás ouviria um sermão estando presente no culto:

“A maneira em que um homem ouve o Evangelho é uma amostra do estado do seu coração, de seus afetos, de seus desejos, de sua natureza.

Se tivéssemos que supor que Satanás entrasse na congregação, que tipo de ouvinte ele seria? Ele é o inimigo inveterado de toda a verdade, de toda justiça, de toda piedade, da santificação da alma, devoção, afeto espiritual... Se um dia então, em forma humana, ele tomasse o seu lugar entre os ouvintes do evangelho eterno, podemos imaginar que, a fim de irritar tanto quanto possível, ele iria tomar o seu lugar em um local visível, quer no âmbito do púlpito e diante dos olhos de todos. E então mostraria seu descontentamento se o pecado estivesse sendo confrontado e a santidade de Deus sendo exaltada. Estaria ansioso para se proteger contra a menor indicação de ser tocado pela pregação, se ela não expressasse os desejos e condições do coração caído e do pensamento do mundo.

Não sendo assim, acharia duro, desagradável. Não haveria um traço de convicção, submissão, paz e alegria que devem aparecer num coração que está em acordo com a verdade e não que a pregação se acomode ao ego humano.
 
Ele mostraria sua carranca, contrairia as sobrancelhas e sacudiria a cabeça mostrando a sua desaprovação ao Evangelho ouvido. Essa é a disposição diabólica ouvindo um sermão voltada apenas em proclamar a Verdade de Deus não amada num mundo caído. Tal, digo eu, seria o comportamento do arqui-inimigo como um ouvinte da Palavra de Deus. Mas não temos muitos que carregam o nome de cristãos que se comportam diante da proclamação da verdade exatamente assim? Achando-a dura, sem amor...?”

Que imagem você pinta de você mesmo quando sentado sendo visto do púlpito? Você está completamente  centrado como um ouvinte militando no desejo de que sua alma seja beneficiada pela verdade eterna, ou contrariado, achando a verdade dura demais, desejando apenas um pouco de auto-ajuda, psicologia, dicas para o sucesso em vária áreas de seu interesse...? Você está interessado no propósito eterno de Deus para sua alma, bem como tem uma postura a fim de também beneficiar outros que estão ouvindo, o pregador... ou mostra seu descontentamento com a verdade?

O pregador vê você suspirando, franzindo as sobrancelhas, balançando a cabeça... quando certas verdades são pregadas?

É uma coisa difícil e dolorosa pregar com o diabo sentado na fila da frente, mas a tarefa do pregador da verdade não é – antes de tudo – agradar os ouvidos da congregação com suas fantasias, mas alcançar o coração com as verdades de Deus.

Paulo sabe que há muitas distrações e muitos obstáculos e tentações nesta proclamação. E então ele diz aos pregadores: "Prega a palavra."  E ele diz como:

"Conjuro-te";

"Na presença de Deus";

"E de Cristo Jesus" (Pai e Filho têm uma grande preocupação nesta matéria);

"Que há de julgar os vivos e os mortos" (alicerces são levantados para a vida e a morte, e para além da vida e da morte para o julgamento final – essa é a razão da pregação.)

Este é um peso extraordinário. Isso deve significar que o ministério da pregação tem muito a ver com o que acontece na revelação de Cristo em glória. Onde o pregador será chamado a prestar contas. Como muitas pessoas estavam reagindo a pregação da verdade naquela congregação? Alguns “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” - 2 Timóteo 4:3,4

Isso é o que a aparição de Cristo e de seu reino irá revelar.
 
Fonte: Josemar Bessa

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O evangelho é suficiente para você?



Um dos pontos que diferencia evangélicos das seitas pseudocristãs é a suficiência da Palavra de Deus. Todo cristão evangélico sustenta que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus, totalmente suficiente, ao ponto de já não necessitarmos novas revelações alheias ao evangelho, nem de aparições angelicais ou ainda tradições esclerosadas de origem duvidosa. Na verdade, afirmar a Suficiência das Escrituras equivale a que não precisamos de nenhuma outra coisa além do evangelho. Nada além das Escrituras.

Se isso for verdade, segue-se que todo o resto é enfeite de culto. É bonito, interessante, as vezes didático, mas secundário. Remova o púlpito, e ainda terá uma igreja cristã. Remova as cadeiras e não perderemos nada. Desligue o ar condicionado do templo e ainda teremos uma igreja evangélica. Acabe com o grupo de musica, desligue o projetor, e ainda teremos uma igreja evangélica, uma pregação evangélica, e um culto evangélico. Será?

Imagine que um dia você chega na sua igreja e encontra um templo vazio: o púlpito não está lá, as cadeiras acolchoadas também não, não há instrumentos musicais, nem banda, nem letras no telão, nem teatro, danças, coreografias, nada nesse estilo. Você entra e tudo o que vê é um homem com uma Bíblia na mão. Como você reagiria? Como você se sentiria? Será que você ainda pensaria que está entrando em uma igreja? Será que a sua igreja sobreviveria sem todos estes elementos secundários? Será que sua fé resistiria a todas essas mudanças? Se nós tivéssemos cultos somente de pregação, as pessoas assistiriam mesmo assim?

Em outras palavras, o Evangelho é realmente suficiente para nós?

A verdade é que se estes elementos deixassem de existir, muitas igrejas desapareceriam também. Isso porque são igrejas centradas em vaidades, e não no evangelho de Cristo. Para elas, a suficiência das Escrituras é apenas um dogma a ser confessado, e não uma verdade para ser vivida!

Pastor, proponho que você faça o seguinte: Remova as cadeiras, tire o púlpito do lugar, desligue os ventiladores, tire os instrumentos e todas as outras coisas não essenciais de sua igreja e aguarde seu rebanho com a Bíblia na mão. Use a oportunidade para falar da suficiência da Palavra. Mostre a eles a diferença entre o essencial e aquilo que é secundário. Deixe que eles sentem no chão, com a Bíblia sobre as pernas e saboreiem a Palavra sem distrações. Aproveite para dizer a eles que milhões de crentes ao redor do mundo se reúnem assim: sem cadeiras, sem edifícios ostentosos, ar condicionado, projetores e banda de musica; são os cristãos perseguidos. Conte a eles como, para milhões de crentes ao redor do mundo, a Bíblia é suficiente.

Marque reuniões mensais assim, onde vocês se despojarão de tudo o que não é essencial para saborear a Palavra e viver como a igreja primitiva e como os crentes perseguidos. Tenham refeições em comum durante este período e intercedam pelos seus irmãos em todo mundo. E se depois de alguns dias você ficar sozinho com a Bíblia na mão, comece a plantar de novo, pois o que você tinha não era uma igreja evangélica, um rebanho de ovelhas, mas apenas uma seita centrada em uma infinidade de elementos não essenciais, mas totalmente distante da verdadeira fé e do evangelho de Deus.

Fonte: Napec

Aos Santos em Cristo Jesus


Jaime Marcelino

Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Fp 1: 1, 2)

Dirijo-me a todos os evangélicos leitores deste site, desejoso de que a saudação contida no texto acima encontre guarida nos seus corações. No entanto, é necessário que reflitamos no referido texto, crendo que nosso Senhor Jesus Cristo nos dará compreensão e a experiência da graça e da paz!

Ora, Paulo, o real autor da carta aos filipenses, no momento que a escreveu estava preso e acorrentado a soldados especiais, que eram os da guarda pretoriana! Mas, apesar disso, vemo-lo cheio de contentamento, a ponto de desejar aos seus irmãos, que estavam livres ou fora da cadeia, o que ele e Timóteo experimentavam abundantemente – “graça e paz“! Ora, qual é o segredo de tal experiência?

1. Paulo e Timóteo eram conscientes do privilégio que é ser escravo de Cristo Jesus. Vejo isso pelo fato de eles terem se apresentado como “servos de Cristo Jesus“. Ora, isso é da máxima importância, uma vez que eles dois se rendiam, não a homem algum, mas à vontade dAquele que, dos céus, domina sobre tudo (cf. Fp 2). Por essa razão, Paulo não considerava a sua prisão como proveniente de César, o imperador, pois disse: “as minhas cadeias em Cristo” (Fp 1:). Também, Paulo pode dizer que seu viver era Cristo (Fp 1: 21); sua fortaleza era Cristo (Fp 4: 13); sua alegria estava em Cristo (Fp 4: 10); e, seu morrer era lucro, por ser Cristo seu tudo! Oh! Que grande privilégio é servir a Cristo Jesus! E nisso está a abundante graça!

2. Como “servos de Cristo Jesus“, quer presos quer soltos, Paulo e Timóteo alegremente serviam aos que seu Senhor conquistou para Si, a saber, “todos os santos em Cristo Jesus“. Muito se poderia escrever sobre isso, mas uma das maiores provas da amorosa disposição de Paulo para servir a seus irmãos pode ser vista quando ele se encontrou num santo dilema. Ei-lo: Depois de ter afirmado: “Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro“, e mais: “estar com Cristo [...] é incomparavelmente melhor“, Paulo declarou cheio de amor: “Mas, por vossa causa. É mais necessário permanecer na carne. E, convencido disto, estou certo que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé” (Fp1: 21-26). Em outras palavras, mesmo esmagado pelos dois desejos, preferiu servir aos irmãos, deixando de querer o que seria incomparavelmente melhor, para ele. Afinal, seu amor por Cristo o levava a servir “os santos em Cristo Jesus“, para que, disse ele: “aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo, convosco” (v. 26). E quanto a Timóteo, o que pode ser dito? Basta que tomemos as doces palavras de Paulo acerca de Timóteo, e isso será o bastante para demonstrar quanto ele servia a Cristo servindo os santos em Cristo Jesus: “Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses; pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus. E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai. Este, com efeito, é quem espero enviar, tão logo tenha eu visto a minha situação” (Fp 2: 20-23).

Oh! Quanta “graça” havia nesses dois servos de Cristo Jesus! E quanto eles, na medida em que serviam os santos em Cristo Jesus, gozavam “paz“!

3. Paulo e Timóteo criam ser também “santos em Cristo Jesus. Antes de serem servos de Cristo Jesus, eles foram “chamados para [ser] santos” no sentido de “separados para dedicação ou devoção a Deus”; mas, sobretudo, foram feitos santos no maravilhoso aspecto da sua nova natureza. Daí, o uso que Paulo fez da expressão “em Cristo Jesus“, para definir e qualificar o vocábulo “santos“. Neles, pois, habitava o Espírito Santo, o regenerador e santificador do povo de Deus. O Espírito que fora enviado em nome do Pai e do Filho, a fim de glorificar o Filho. Por isso, Paulo e Timóteo criam que, sendo Jesus “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hb 7: 26), e que tendo “oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados [...] aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10: 12, 14). Por esta razão, Paulo e Timóteo, sendo “santos em Cristo Jesus“, procuravam “ser achados em Cristo Jesus” para mais e mais “alcançar” o alvo para o qual foram conquistados por Cristo Jesus, a saber, a perfeição em Cristo Jesus. Em outras palavras, eles se esforçavam para experimentar o que disse o apóstolo Pedro: “antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe3: 18).

Espero que tenham percebido como “exagerei” no uso da expressão “Cristo Jesus“. Por que o fiz? Porque devemos estar certos de que nossa maior necessidade é ter a Cristo Jesus como nosso tudo! E se quisermos ver esta atitude em Paulo, basta que observemos que ele usou o Nome do Senhor Jesus, nos dois versículos do nosso texto, três vezes!

Assim, caro leitor, se você já crer no glorioso evangelho de Deus, com respeito ao Seu Filho, Jesus Cristo, lembre duas coisas: Primeiro, a graça do Senhor Jesus lhe foi abundante, pelo que você nasceu de novo, tendo sido feito um dos “santos em Cristo Jesus“. Segundo, lembre que é vital que a graça do Senhor Jesus continue operando para que os “santos em Cristo Jesus” vivam a vida cristã de modo a glorificar a Deus em Cristo Jesus. E é somente pela operação da graça de Deus em Cristo Jesus, que é Seu favor beneficiando os santos em Cristo Jesus, que eles servirão a Cristo Jesus, servirão aos demais no Senhor Jesus. E assim, “a Paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus“!

Fonte: Blog Fiel

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cristão pode tomar bebida alcoólica?


Por Maurício Zágari

Lamento decepcioná-lo, mas só vou comentar essa pergunta no último parágrafo. Você poderia diante disso perguntar: “Zágari, então por que você pôs esse título no post?”. Porque a experiência e as estatísticas têm me mostrado que muitos irmãos em Cristo que trafegam pela internet estão muito mais preocupados com assuntos periféricos da fé (como a ingestão de álcool) do que com o que é mais importante, o que está no epicentro do Evangelho. E, talvez, se eu pusesse um título como “Abra mão de si mesmo, tome sua cruz e siga Jesus” ou “Você realmente ama o próximo?” muitos não se interessariam por ler o texto. Essa constatação é no mínimo curiosa e nos leva a reflexões importantes. E é exatamente esse problema que quero tratar neste post: como enorme parcela da Igreja tem se preocupado com temas menores (embora não desprezíveis) e dá mais importância a eles do que aos que são vitais.

Alguns exemplos: postei há algum tempo um texto sobre se o cristão deve fazer tatuagem ou não (leia aqui), algo de importância ínfima para o Evangelho, pois ter ou não tinta na pele não determina se uma alma sequer vai para o Céu: a graça de Deus, pelo mérito de Cristo, determina. A Cruz determina. Mas foi um boom de acessos no blog: 10 mil leituras em 3 dias, quando em média teria metade disso – e mais de 2.000 compartilhamentos no Facebook. Quando posto algo sobre questões profundas da fé, a quantidade de leituras curiosamente despenca. Falei sobre a liberdade cristã, no post Você é um escravo, fruto de uma extensa pesquisa bíblica: apenas 3.300 pessoas se interessaram em ler ao longo de dois dias (1.400 no primeiro dia). Compartilhamentos no Facebook? 68. E tem o post mais acessado na história do APENAS: sobre o pouco importante Festival Promessas: 6 mil acessos em um dia.

Placar: Tema vital 1.400 x 6.000 Tema superficial. Uma goleada da irrelevância sobre a importância.

Tatuagens, celebridades, shows, polêmicas e outras superficialidades: será que é isso mesmo que ocupa a nossa cabeça? São esses o foco maior do nosso interesse e de nossa preocupação? Bebida alcoólica? Sério? Alguém perde a salvação por comer um bombom recheado de licor? Um cálice de vinho do porto é mais poderoso no destino eterno de uma alma do que a obra redentora de Jesus no Calvário? Realmente esse tema é tão importante assim que mereça mais atenção do que a Cruz, o fruto do Espírito, o arrependimento dos pecados? O que ocupa nossa cabeça? O que nos preocupa? Que assuntos nos interessam? Que tipo de pensamentos buscamos assimilar? De que filosofias nos alimentamos? Afinal, quando entramos na Internet… é para absorver o quê em nossos corações cristãos? Será que gostamos de caminhar em águas rasas?

Um certo website gospel me convidou para escrever reportagens. O editor foi claro: as pautas tinham que ser sobre algum escândalo, sobre controvérsias da moda ou sobre algum pastor polêmico da TV ou da Internet – pois isso é o que dava acessos (e, logo, dinheiro). Não topei, naturalmente, pois esse tipo de tema não me interessa. Mas esse episódio me deixou pensativo. “É isso que dá acessos”. Por que não artigos sobre perdão, estudos sobre amar o próximo ou reflexões acerca da graça imerecida de Deus?

Escândalos! Ah, como gostamos deles! Parece que ler um post sobre obras da carne ou mesmo História da Igreja é menos interessante do que ler sobre o pastor polêmico, a cantora gospel da moda, aquele tititi que tanto amamos. Falar sobre fruto do Espírito? Não dá Ibope. Se você é blogueiro, escreva sobre o pecado dos outros, pois isso dará muitos acessos, garanto. Ou interessa muito se a cantora rastejou no palco imitando um leão. Se artistas gospel foram ao Faustão é tema de conversas para uma semana. A cantora X ou Y  vai no Raul Gil e parece que isso fará o Brasil ser ganho para Cristo. Falar sobre o plano da salvação, graça, fé, arrependimento, perdão, salvação… parece que isso não é muito empolgante, deixemos esses temas para seminaristas. O legal é a polêmica. E salivamos quando surge mais uma história cabeluda…

Ou então namoro. Ah, o amor… Bem, sou obrigado a reconhecer que esse é um caso diferente. Pois é uma categoria à parte, devido a, de fato, ser um tema importantíssimo. Não é irrelevante. E é vital, tendo em vista que o amor é o amálgama de uma família que tem Cristo como alicerce e o namoro é o primeiro passo da construção de um lar. Só que tem um detalhe “mercadológico” nessa história: falar de amor arrebata multidões. Falar sobre namoro então é garantia de milhares de acessos. Criar um site sobre princesas cristãs esperando seus príncipes prometidos por Deus é sucesso garantido. Um pastor escreve quase que só sobre isso com enorme superficialidade e tem mais de 120.000 seguidores no twitter, enquanto pastores que tratam de temas importantíssimos da fé, como Augustus Nicodemus Lopes, têm pouco mais de 7.000. Uma prova de que, se você explora o nicho dos corações carentes, vai ter sucesso nos números. E uma prova de que números, no que tange à fé, não significam relevância.

No site Gospel+, onde escrevo uma coluna semanal, vi algum tempo atrás o número de compartilhamentos no Facebook dos artigos publicados por um irmão colunista. Havia 3 textos dele visíveis entre os mais recentes: os dois primeiros, sobre temas bíblicos, tiveram, respectivamente, 8 e 19 compartilhamentos. O terceiro falava sobre namoro. Número de compartilhamentos? 705. De novo goleada no placar: Tema teológico 8 x 705 Namoro. Um massacre.

Então, se você tem um site ou um blog “cristão”, vive dele e depende de ter muitos acessos para conquistar anunciantes, eis a fórmula do sucesso: fale sobre polêmicas gospel, celebridades, sacerdotes e artistas evangélicos controversos, pecados de famosos e temas secundários mas que chamam a atenção. E, claro, namoro. Pronto: seu site será um sucesso.

A experiência de blogar é interessante. Pois nos dá oportunidade de dialogar com muitos, conhecer gente diferente, que escreve comentários por vezes mais ricos do que os próprios posts, e faz com que ganhemos algumas percepções que de outro modo não teríamos. Como recusei os patrocínios e as propostas de hospedagem que me ofereceram (já que meu objetivo não é ganhar dinheiro com o blog, ele é missional) fico à vontade para escrever sobre o que quiser, pois não tenho obrigação de manter um número X ou Y de acessos por mês – logo, nao preciso me prender a temas da moda ou a polêmicas. Então já escrevi sobre os mais variados assuntos nos 197 posts publicados até agora. Assim, pelo APENAS pude reparar muito claramente o tipo de discussão que interessa e atrai o cristão, pois o wordpress me dá na área de administração a possibilidade de ver quantos acessos houve por dia ou quantas leituras teve um post. Então estou falando de um fato com comprovação estatística: o que mais interessa o leitor de mídias cristãs têm sido, infelizmente, as questões periféricas. Não a fruta, mas a casca. E isso é grave.

Temos dado menos importância a temas que influenciam diretamente nossa alma, nossa caminhada de fé e nossa relação com Deus, como pecado, justiça, juízo, arrependimento, perdão, amor e outros conceitos bíblicos que são fundamentos do cristianismo. Esquecemos que a graça é a coluna vertebral da salvação e deixamos o comprimento de cabelos, bebida fermentada ou tinta na pele determinar mais do que o poder do sangue de Cristo quem vai para o inferno ou não. Só que, me perdoem: almas estão indo para a perdição eterna enquanto muitos perdem tempo com o que não é pão. Sei que esse é um post duro. Sei que muitos que acham a ingestão de álcool, tatuagem, piercing e uso de saia assuntos importantíssimos da fé cristã vão discordar de mim. Sei que os que usam a carência afetiva natural do ser humano para ganhar visibilidade vão dizer que namoro é o tema de João 3.16. Mas é um risco que estou disposto a correr, por amor a alguns que podem refletir e mudar o enfoque de suas prioridades.

Permita-me, por fim, comentar a pergunta do título, para que ela não seja propaganda enganosa: nunca a Igreja chegou a um consenso universal sobre se tomar bebida alcoólica é pecado, uns defendem a abstenção total e outros a moderação – e assim será pelos séculos dos séculos. Na Espanha, na Itália, na Alemanha  e em outros países frios, pastores e membros bebem vinho e cerveja sem nenhum problema, enquanto no Brasil o álcool é visto por muitos como passagem expressa para o inferno. O que a Bíblia é clara é quanto ao fato de que não devemos nos embriagar. Respeito a visão de todos no que tange a esse assunto. Se você é abstêmio ou moderado não cabe a mim julgar. Considero esse um tema secundário da nossa fé e deixo a questão a cargo da consciência de cada um, de acordo com a crença da igreja que você segue. É algo a ser tratado com o pastor de sua congregação local. Desde que você ame a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, estarei feliz – siga você a linha que seguir.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Fonte: Apenas

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Porque não queimamos coisas quando Jesus é ridicularizado

Por Mike Lee

“Falava ele ainda, e eis que chegou Judas, um dos doze, e, com ele grande turba com espadas e porretes, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo. Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o. E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, sacou da espada e, golpeando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. Então, Jesus lhe disse: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão. Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” (Mateus 26.47 – 54)

Assista TV e você verá o Nome de Deus Pai e Deus Filho sendo ridicularizado, usado em vão, para amaldiçoar, e de muitos outros jeitos que negam a santidade, beleza, majestade, poder, glória, e a maravilha que Ele é. Assista filmes e ouça música e você vai encontrar a mesma coisa. De fato, vá ao supermercado e você irá ouvir os mesmos abusos em relação à beleza do Nome do nosso Salvador. E ainda assim, exceto boicotar alguns produtos, escrever cartas/emails, telefonar para estações de TV ou enviar petições, você realmente não verá qualquer outra demonstração visível da indignação do cristãos.

Além disso, pelo mundo afora, vemos pessoas iradas fazendo todo tipo de mal por causa da difamação do nome do profeta deles. Qual é a diferença? Por que os cristãos não queimam coisas quando Jesus é ridicularizado? Apenas algumas reflexões…

1. Está chegando o dia em que Jesus voltará e todos aqueles que eram escarnecedores do Seu nome irão se dobrar perante o Seu nome e confessar que Ele é o Senhor. Há uma perspectiva na qual eu não preciso defender o nome de Jesus. Ele é bem capaz de se autodefender, obrigado. E naquele dia, quando toda língua confessar que Jesus é o Senhor para glória de Deus Pai, os escarnecedores serão envergonhados pela eternidade. Eu posso ficar com raiva por um dia. A ira de Deus será derramada por toda a eternidade.

2. Quando o Nome de Jesus é ridicularizado, todo cristão deve se lembrar de que ele também já ridicularizou Jesus uma vez. Nós eramos todos, por natureza, filhos da ira totalmente merecedores da ira de Deus. E, mesmo assim, Deus nos mostrou misericórdia e graça por meio de Seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Apesar de totalmente responsáveis por nossas ações, estávamos agindo na ignorância de acordo com a nossa natureza. Mas, quando Deus disse, “haja luz” em nossos corações, nós vimos, pela primeira vez, a glória de Deus na face de Jesus Cristo. Então, nós vimos nosso pecado pelo que ele era e a beleza de Cristo pelo que Ele é, e nos arrependemos e confiamos no trabalho consumado de Jesus para nos salvar. Então, ao invés de queimarmos coisas quando outros ridicularizam Jesus, nós mostramos paciência, sabendo que o Salvador foi paciente conosco.

3. O que nos leva à obra que devemos realizar agora. Ao invés de queimarmos coisas, nós advertimos e imploramos àqueles que ridicularizam o Salvador que se arrependam de seus pecados e se voltem para Cristo. Se nós verdadeiramente amamos Cristo, vamos amar falar sobre Ele para pecadores, os quais Ele veio salvar. Porque nossa dívida gigantesca foi perdoada, nós iremos desejar que outros saibam da beleza de Sua graça derramada sobre pecadores. Nós vamos avisar a esses zombadores sobre o fogo do inferno que nunca terá fim. A obra que realizamos não é para defender a honra de Seu Nome e sim para proclamar Seu Nome, buscando a reconciliação entre Deus e os homens por meio da pregação do evangelho.

4. Tudo isso nos faz lembrar que Jesus é o Senhor vivo e ressurreto. Jesus continua trabalhando até hoje, neste exato momento. O Espírito Santo está trabalhando através de nós quando glorificamos Jesus, que ressurgiu dos mortos. Nós temos uma história para contar. Jesus está voltando e irá endireitar todas as coisas. Não temos que defender a honra de um homem morto… ele está vivo!

Eu oro para que aqueles que sentem que precisam defender o nome e a honra de um homem morto vejam a glória do Senhor vivo e verdadeiro que traçou o caminho para escapar da ira de Deus por meio de Sua morte e ressurreição. Vamos orar para que os olhos cegos deles se abram para o Único que é o Caminho, a Verdade, e a Vida que o único caminho para o verdadeiro Pai de tudo.

Traduzido por Fernanda Vilela

Fonte: Ipródigo

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quem tem medo da Missão Integral?

 
Por Marcelo Lemos

Recentemente topei com o seguinte questionamento no Facebook (tomo a liberdade de reformular a questão, colocando-a na interrogativa): “Por qual motivo os líderes que combatem a Teologia da Prosperidade não combatem com a mesma força a Teologia da Missão Integral?”

Por trás desse questionamento há a ideia de que a Teologia da Missão Integral nada mais é que uma “variante da Teologia da Libertação”, uma visão marxista da vida e da sociedade dentro da Igreja evangélica. Ou seja, assim como os católicos reúnem seus marxistas ao redor da Teologia da Libertação, os evangélicos reúnem os seus na mesa da Missão Integral. Bem, se isso é verdade, a Missão Integral deve ser tida como coisa anátema. Sei que isso deixará chateados meus irmãos mais ‘progressistas’. Lamento.

Considero tal questionamento valioso, e por isso, tento em algumas linhas traçar algumas observações que refletem meu posicionamento pessoal sobre a questão.

Para começar, uma pergunta: que a Missão Integral tem haver com marxismo? Muitos que hasteiam a bandeira da TMI defendem a ideologia da luta de classes, o ideal revolucionário, e assim por diante. Não é difícil encontrar pastores evangélicos, de renome, abertamente adeptos da TMI, defendendo (ou sendo condescendente com) o aborto, o casamento homossexual, o intervencionismo estatal, o paternalismo, a luta de classes, e tantas outras coisas semelhantes – certamente em defesa do tal estado laico, do bem comum, da ‘justiça social’ ou qualquer outra coisa de nome bonitinho. Isso é Missão Integral?

Uma rápida pesquisa na Internet irá mostrar diversos sites onde se diz que a Teologia da Missão Integral nasceu na América Latina, e é uma ‘resposta’ da Igreja local contra a teologia dos imperialistas e colonizadores. É nossa [evangélica] teologia feita a partir da ótica dos oprimidos. Bem, pode até ser, querida Wikipédia.

Contudo, a coisa não é tão simples assim. Historicamente, a base da Missão Integral é um documento chamado Pacto de Lausanne, que de marxismo e luta de classes não tem nada. O que esse documento diz, e não tem nada de errado com isso, é que a pregação do Evangelho não visa preparar o homem apenas para o céu, mas também para a vida terrena. Ou seja, o Evangelho é capaz de restaurar a alma e o corpo do homem, a pessoa por inteiro. Daí o nome missão integral.

Afinal, como a Missão Integral chegou a ter sua imagem associada ao marxismo? Infelizmente, a interpretação do Pacto de Lausanne foi politizada por inúmeros líderes evangélicos latino-americanos, incluindo brasileiros. Essas pessoas deram uma leitura marxista para o documento de Lausanne, e o estrago aconteceu. E muitos demonizam o Pacto de Lausanne por isso. Tal demonização se justifica? Estou convencido que Lausanne não tem nada haver com essa visão simplista, romântica e ingênua do mundo, defendida pelos teólogos marxistas. Na verdade, a profundidade teológica de Lausanne é tão factual, que os delírios juvenis dessa gente mal conseguem atingir a superfície.   

Ora, o Pacto de Lausanne é um documento cristão, ortodoxo e reformado. O liberalismo moral (aborto, homossexualismo, etc), e o marxismo passam bem longe de suas linhas, como facilmente se pode demonstrar com algumas citações.

DEUS E SUA SOBERANIA:
“Afirmamos nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Artigo 1).

AUTORIDADE DAS ESCRITURAS:
“Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e única regra infalível de fé e prática” (Artigo 2).

EXCLUSIVISMO DO EVANGELHO:
“Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade” (Artigo 3).

CONTRA O SINCRETISMO RELIGIOSO:
“Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias”.

O RETORNO DE CRISTO:
“Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo”.

Que isso tem haver com marxismo? Que isso tem haver com Teologia da Libertação? Que isso tem haver com liberalismo moral? Que isso tem haver com a negação de doutrinas fundamentais da Fé Cristã, como se vê no discurso de famosos líderes ligados a Teologia da Missão Integral? Vale a pena recordar que um famoso expoente da TMI no Brasil, causou polêmica ao afirmar que o Retorno de Cristo é mera utopia, que Deus não é soberano sobre a História, e tantas outras heresias. Nada disso encontra respaldo no Pacto de Lausanne, portanto, se Missão Integral é qualquer dessas coisas, devemos afirmar que Lausanne e Missão Integral são coisas completamente distintas.

Seja como for, havendo ou não relação legítima entre Lausanne e TMI, o fato é que existe uma Teologia da Missão Integral. Essa deve ser a missão da Igreja, se é que realmente almejamos tornar o Reino de Deus visível entre os homens: “assim na Terra como [é] no céu”. E creio que a verdadeira Missão Integral da Igreja está muito bem exposta e representada no Pacto de Lausanne, um documento cristão, ortodoxo e evangélico por natureza. Quanto a Teologia da Missão Integral ‘politizada’, e por isso mesmo, falsa e não integral, digo que sequestrou o Pacto de Lausanne, causando prejuízo imenso à Igreja.

Acredito necessária essa distinção a fim de manter as coisas em seus devidos lugares. Certamente o leitor conhece aquela anedota que fala de alguém que viu a água da banheira suja, e jogou fora também a criança que tomava banho. Pois bem, se é verdade que alguns sequestraram Lausanne em nome de uma falsa Missão Integral, cabe a nós resgatarmos sua legitima teologia em prol de da verdadeira integralidade da Pregação Cristã.

Infelizmente, ocorre que para algumas pessoas, o simples fato de um documento como Lausanne fazer menção ao papel social da Igreja, já é o bastante para transformá-lo em uma conspiração marxista! Contudo, denunciar explorações, desigualdades, discriminações e injustiças sociais não é criação do marxismo. Lutar por uma sociedade melhor não é criação marxista. Na verdade, me perdoem alguns, o marxismo é justamente o oposto de tudo isso (risos). E se existe algo capaz de transformar o mundo, esse algo atende pelo nome de Evangelho. O Pacto de Lausanne, assim como a Doutrina Social da Igreja (documento da Igreja Católica), tentam apenas apontar alguns valores bíblicos para a vida em sociedade, e se alguns politizam suas assertivas, lamento.

Por fim, creio que apenas na Teologia Reformada podemos encontrar uma teologia realmente Integral. Não há dicotomias no pensamento reformado. Não acreditamos na existência de algo especial na vida monástica, ou no legalismo religioso. Não sacrificamos o corpo em prol do espírito, ou vice-versa. Para nós, o homem é um todo, e a vida cristã também. Confessamos que a Bíblia é toda suficiente e necessária, possuindo resposta para todas as perguntas do homem. Isso é missão integral.