quinta-feira, 27 de junho de 2013

O CRISTÃO E SEU DEVER CÍVICO


Nos últimos dias temos publicado no Teologando alguns artigos relacionados ao papel do cristão diante da nossa sociedade. Em um desses artigos (cf. Os cinco motivos cristãos), um cristão reagiu negativamente ao nosso artigo apresentando aquilo que acreditamos ser a opinião de outras pessoas.Em resposta ao nosso comentarista, o Pr.Ricardo Rocha 

ofereceu um texto que merece ser publicado na íntegra aqui. Para que o artigo tenha sentido, o comentário que deu origem à resposta, será publicado primeiro.

Bom Proveito!


Quando uma sociedade corrupta em sua essência busca melhorias através de seu braço carnal, o cristão que se mistura a esta massa peca contra si mesmo e corrompe a Igreja como um todo. Nós não fomos chamados a mudar as condições políticas, econômicas e morais da sociedade. Fomos chamados para pregar o Evangelho. Ainda somos peregrinos no mundo, e o mundo ainda jaz no maligno. Toda vez que a Igreja se mistura com o mundo e seus ideais egoístas e destituídos do amor de Cristo, ela corrompe a si mesma e ao Reino de Deus. Sede santos, a santidade não admite misturas de nenhum tipo. Tudo que o homem plantar, isto ele ceifará, quanto mais o cristão! “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ELE trará justiça aos gentios. Não clamará, não se exaltará, nem fará ouvir a sua voz na PRAÇA.” - Isaías 42:1-2
O CRISTÃO E SEU DEVER CÍVICO

Por Ricardo Rocha

Graça e paz!

Primeiramente você usou o texto fora de contexto para seu pretexto, para sustentar sua posição que não é bíblica. Is 42:1-2 “…Ele trará justiça aos gentios” não significa aqui justiça social, o que será verdade no reino milenar, mas nesse texto não é isso, senão por que somente aos gentios ele traria a justiça e não a Israel que estava precisando ver a ação de Deus em uma época pré-exílica com o império Assírio à porta do reino do norte? A justiça aos gentios tem que ser vista como algo que já estava sendo isufruído por Israel, pois agora seria feita justiça aos gentios, o que Israel tinha que os gentios não tinham no AT?

Os gentios não eram participantes das promessas feitas a Israel; não eram parte do povo escolhido; não tinham o direito de chegar a Deus como nação santa e propriedade particular entre todas as nações, isso era exclusivo a Israel; não tinham um relacionamento com YHWH. Agora em Cristo, a justiça seria feita aos gentios, eles teriam o direito (RA) de estar debaixo das promessas de Deus; eles seriam contados como povo de Deus, como nação santa e separada, algo que era inimaginável ao judeu, mas Deus em Cristo traria a justiça e implementaria os valores do reino (termo hebraico é mishpāt que implica os padrões e princípios da santidade divina [The Wycliffe Bible Commentary]) no coração dos gentios, uma lei não em tábuas de pedra, mas escrita no coração, uma nova aliança (Jr 31; Rm 2).

Nessa nova aliança o Messias teria um ministério para todas as nações, cumprindo assim a promessa e a aliança de Deus com Abraão que nele seriam benditas todas as famílias da terra (Ge 12:5). Vemos então que essa justiça significa que os gentios, seriam participantes das bençãos espirituais prometidas a Israel no AT, mais especificamente salvação. Jesus fará justiça, trará salvação aos gentios:

“Ora tendo a Escritura previsto que Deus havia de JUSTIFICAR pela fé os gentios…” Gl 3:8

Justificação aqui, na teologia Paulina, tem o caráter legal, ser justificado é ser declarado justo, inocente diante do tribunal de Cristo. Em Isaías “ele trará justiça” é no sentido de declarar o gentio inocente mediante a fé no sacrifício vicário de nosso Senhor!

Mais adiante vemos a idéia de salvação se desenvolvendo no texto, v.6 “…te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios,” o que é visto mais adiante também:

“… para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra.” Is 49:6

“Isto é, que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreição dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios.” At 26:23

Outro ponto é que Is 42:1-2 é uma referência a Cristo e não a nós, então quando lemos que “nem se fará ouvir sua voz na praça” não tem nada haver com a participação de cristãos em manifestações públicas nas praças, senão a pregação e cultos nas praças também deveriam ser condenados, o que é um absurdo. O que de fato significa é que Jesus pediu às pessoas que não dissessem quem ele era (Mt 8:4; Mc 1:44; Lc 5:14). Ele veio proclamar e estabelecer a justiça, mas não por um levante político-militar que os judeus esperavam que o Messias fizesse, o que vemos explicitamente em Mt 12:16-21 quando Jesus cita Is 42 neste contexto. Ele foi como um cordeiro mudo ao matadouro!

Tratada da questão bíblica e teológica, vamos ao seu argumento. Já que usou o texto fora do contexto sua argumentação não passa de sua posição pessoal, o que tem sim seu valor, mas infelizmente você está equivocado quanto a nossa posição cívica e cristã.

O cristão não peca quando se envolve em manifestações pacíficas em busca de justiça social ou melhorias na sociedade. No meu ver a gente até cumpre um papel profético de levantar a voz contra a corrupção de governantes que oprimem o povo. Você disse que “Quando uma sociedade corrupta em sua essência busca melhorias através de seu braço carnal, o cristão que se mistura a esta massa peca contra si mesmo e corrompe a Igreja como um todo.” Se fosse assim teríamos vários problemas:

1. O cristão pecaria quando votasse para presidente, governador, etc…, pois estaria usando o “braço carnal” ( o ato de votar) de uma sociedade corrupta para buscar melhorias, votamos no candidato que acreditamos ser o melhor pro país;

2. O cristão pecaria quando tentasse ajudar um necessitado através dos sistemas público de saúde, educação, aposentadoria, seguro-desemprego, pois estaria usando o “braço carnal” de uma sociedade corrupta para buscar melhorias na vida das pessoas;

3. O cristão pecaria quando juntasse forças com os centros comunitários nos bairros para conseguir melhorias na comunidade como pavimentação de ruas, saneamento básico, creches e postos de saúde disponíveis na região, tudo isso seria pecado pois estaria usando o “braço carnal” de uma sociedade corrupta para buscar melhorias na vida das pessoas.

4. O cristão pecaria quando denuciasse um ato ilegal ou um assalto para a policia, pois estaria usando o “braço carnal” de uma sociedade corrupta para buscar a justiça;

5. O cristão pecaria quando levasse seus filhos para tomar vacina no dia da gotinha, pois estaria usando o “braço carnal” de uma sociedade corrupta para buscar melhorias na vida das crianças.

Percebe como não tem lógica? Como igreja somos a agência do Reino de Deus nessa sociedade e precisamos proclamar o Evangelho e resgatar vidas do inferno, mas também temos um vocação profética de se levantar contra as trevas que aprisionam esse sistema em que vivemos e usamos todos os recursos legais para avançar com o reino de Deus e implementar os valores celestiais em nossa nação.

Fonte: Teologando

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