segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CHEGA DE POR A ‘CULPA’ EM CONSTANTINO


Por Ricardo Rocha

É incrível como alguns grupos por falta de conhecimento da história eclesiástica se escoram em Constantino para suas posições a respeito do cristianismo. Estava lendo um comentário de um judeu que afirmou que foi Constantino o “inventor” do cristianismo. Já ouvi coisa semelhante de outras pessoas que representam outros grupos … sempre Contantino leva a fama, mas será que isso é verdade? Venha comigo há 2000 anos atrás para aprendermos se ele foi de fato o responsável pela formação do cristianismo.

Nossa história não começa em Constantino, mas começa no primeiro século, em uma manhã em um cenáculo em Jerusalém onde 120 pessoas estavam reunidas, homens e mulheres que haviam experimentado algo tremendo e sobrenatural, tinham andado com um homem sem igual, alguém que não ensinava como os fariseus e doutores da Lei, alguém que falava com autoridade, exortava com firmeza e falava com uma ternura que era impossível não ser cativado. Um homem que abria os olhos dos cegos, fez paralíticos andarem, restaurou a dignidade das mulheres e até fez mortos voltarem a vida. As pessoas os seguiam, o apertavam, exprimiam, queriam ser alimentadas, queriam ser curadas, filas e filas de doentes eram trazidos aos seus pés e até os ventos o obedeciam e os demônios se submetiam. Seus ensinamentos foram sem igual, amar o inimigo, dar a outra face, orar pelos que nos perseguem, perder pra ganhar, morrer pra viver… seu nome é Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo!

Após sua morte, ressurreição e ascensão, os discípulos estavam reunidos no cenáculo em Jerusalém, na verdade 120 pessoas estavam ali e a profecia de Joel (Jl 2:28) e a promessa de Jesus (Jo 14:16-18) foram cumpridas, o Espírito Santo, o outro Paracleto, o Consolador, veio sobre eles e ali temos o início da igreja!

Aqui já temos um ponto que contradiz nosso jovem judeu que continua colocando a fama em Constantino. A igreja não foi inventada por aquele Imperador Romano, a igreja teve seu início no Pentecoste com a descida do Espírito Santo. Logo após o derramar do Espírito houve a pregação do Evangelho e 3.000 almas entram no Reino de Deus (At 2:41). Mais uma pregação de Pedro e outros 5.000 adentram (At 4:4), a igreja crescia (At 2:47), mesmo sob perseguição, chegando a expandir em todo império (At 17:6).

Constantino (274-327 d.C.) já imperador nos territórios que hoje conhecemos como França e Inglaterra, em 312d.C. expandiu seu reinado no Oeste quando venceu a batalha de Milvia contra seu inimigo Maxentius. Ele teve uma visão de uma cruz no céu com as seguintes palavras em Latim: “com esse sinal vencerás” (Earle Cairns, O Cristianismo Através do Séculos, p.100). Ele atribuiu sua vitória ao Deus cristão e conduziu o Império Romano pela primeira vez à uma política pro-cristã. Em 313 d.C. juntamente com o imperador Licinius (naquela época haviam 2 imperadores romanos, um no oeste e outro no leste do império) formularam o Edito de Milão que introduziu uma política de tolerância ao Cristianismo. Somente em 380 d.C., o imperador Teodósio I baniu o paganismo e elevou o cristianismo ao status de religião oficial do império (Jeffrey Bingham, Pocket history of the Church, p.45).

Percebe aqui que não foi nem Constantino que formalizou o cristianismo como religião imperial? O edito de Milão foi uma tolerância, tanto que o próprio Constantino após se tornar o imperador supremo nunca se colocou sob a autoridade dos professores cristãos e bispos, ele se considerava “o bispo dos bispos,” o supremo pontífice mas ainda permitia o paganismo no império tanto que ele praticava sua própria religião e diante da igreja ele não tinha sido batizado ainda, o sendo no final de sua vida somente. Teodósio I foi quem tornou proibido todo culto pagão e o cristianismo então se tornou a religião oficial do Império Romano (Justo Gonzalez, The History of Christianity, vol1, pp 137-41).

É claro que Constantino não foi fundador ou idealizador do cristianismo. É verdade que ele participou de alguns pontos importantes de nossa história como por exemplo a convocação do Concílio de Nicéia (325d.C.) e a oficialização imperial do domingo como dia de adoração, algo que também não foi instituído por ele, mas somente formalizado, uma vez que o cristãos por causa do dia da ressurreição de Jesus (Mc 16:9) já se reuniam no primeiro dia da semana para adoração e partir do pão (At 20:7; 1Co 16:2; Jo 20:19; Ap 1:10 cf.Mc16:9) , contrariando a proposta adventista que foi Constantino que instituiu o domingo como dia santo em lugar do sábado.

Se Constantino foi o suposto “fundador” do Cristianismo, o que dizer dos cristãos dos 3 primeiros séculos? São 300 anos de distância entre a descida do Espírito Santo até Constantino. Esse período é conhecido como a Patrística da igreja, a era dos mártires, seguida da era dos apologistas; muita coisa se desenvolveu no seio da igreja nesses 300 anos muito antes de Constantino aparecer no cenário:


ERA DOS PAIS DA IGREJA – O PERÍODO PÓS-APOSTÓLICO (100-150 D.C.)

Os apóstolos morreram e outro grupo de cristãos começaram a liderar a igreja e a escrever com o mesmo objetivo dos apóstolos, para corrigir, edificar, exortar e ensinar. Esse grupo é chamado de pais apostólicos, ou pais da igreja.

Temos na parte ocidental do império homens como Clemente de Roma e Hermas e no leste do império Inácio de Antioquia, Policarpo, Papias. Esse homens continuaram firmes na teologia apostólica da autoridade das Escrituras, da salvação somente através de Cristo, trinitarianismo, divindade de Jesus, eclesiologia, etc…
Nesse período tempos também a era dos mártires, que se estendeu até Constantino, onde os cristãos experimentaram a morte por causa de sua fé. Não se prostraram diante ao panteão de deuses romanos, nem ao culto ao imperador, mas se submetiam e adoravam somente a Jesus, sendo então acusados de ateísmo, incesto, canibalismo e foram condenados a morte sendo jogados vivos aos animais no Coliseu ou queimados vivos como verdadeiras tochas humanas, dentre outros.
Chega a ser uma ofensa pensar que o cristianismo começou com Constantino, sendo que muitos cristãos deram suas vidas por Cristo, enfrentaram as feras pela sua fé, o cristianismo estava vivo e atuante de uma forma que nós aqui no oeste nunca compreenderemos claramente.

ERA DOS APOLOGISTAS (150-300 D.C.)

No oeste gigantes na fé como Hipólito, Irineu e Tertuliano, no leste Justino Mártir, Clemente de Alexadria, Orígenes e Atenágoras. O desenvolvimento teológico ainda continuava através das escolas alexandrina e antioquiana, mas ainda timidamente por causa da perseguição que estava a todo vapor principalmente sob imperador Diocleciano e mesmo com a defesa de Justino Mártir e Atenágoras, que tentavam explicar o cristianismo aos romanos, eles continuavam sendo acusados e condenados a morte, sendo o bode expiatório pelos maus tempos que império vivia. A igreja, além da perseguição, lutava contra heresias que a sondava, Ebionismo, Docetismo, Gnosticismo, Arianismo, Marcianismo, Apolinarianismo, dentre outros então esse período foi denominado a era dos apologistas, pois houve a defesa da fé contra os ataques heréticos.

Podemos rapidamente perceber que os 300 anos do cristianismo que antecedem Constantino, foram cenário do nascimento, crescimento e desenvolvimento da igreja. Constantino não formou ou instituiu cristianismo apenas o tolerou, e preparou o caminho para que se tornasse a religião do império trazendo enormes benefício e prejuízos para a fé cristã, mas isso é assunto para um outro momento.

Respondendo ao jovem judeu que afirmou que Jesus era apenas um judeu e que o cristianismo foi uma invenção de Constantino, temos a história como testemunha de que Jesus sim foi o fundador do cristianismo e a igreja se iniciou com a descida do Espírito Santo no Pentecostes e se desenvolveu tremendamente nos 300 primeiros anos de história até chegar Constantino, então pare de dar a fama a ele, pare de “culpá-lo,” pois ele foi apenas uma peça em toda a nossa história. Uma peça polêmica, importante, mas somente uma peça.

Fonte: Teologando

2 comentários:

  1. Prezado Sr.Ricardo Rocha, prá mim o que pega nesta questão do Imperador Constantino é que a partir dele houve um processo de institucionalização da fé cristã.Não creio em fé genuína partindo desta premissa.A verdadeira fé tem que nascer no coração e produzir os frutos esperados por quem se denomina um crente em Jesus.E isto só se dá em um coração que foi quebrado, constrangido por tão grande amor, que se torna impossível continuar existindo vida , dentro do conceito que se pode ter por vida, em uma vida que viveu esta experiência de ser tocado por este Amor e não se entregou.Um abraço,Cíntia F.

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    1. Graça e paz Cíntia.
      O Ricardo está falando exatamente isso, que a fé genuína não nasceu através de Constantino, mas através do nascimento da igreja no dia de Pentecoste. O que Constantino fez, foi na verdade, institucionalizar a fé cristã e nada mais.
      A verdadeira fé cristã é o novo nascimento e não uma fé institucionalizada como fez Constantino. Aliás, através desse ato dele, a fé cristã se tornou-se mais pagã que o próprio paganismo. Vemos isso na Igreja Católica, que surgiu nessa época.
      Fique na Paz!
      Pr. Silas Figueira

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