sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O FRUTO DO COMPROMETIMENTO


Por Pr. Silas Figueira

“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou em quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. (Gl 2.19,20) 

PAULO UM EXEMPLO DE COMPROMETIMENTO   

“Ele era um homem de pequena estatura”, afirmam os Atos de Paulo, escrito apócrifo do segundo século, “parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta, olhos próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.”

O nome judaico de Paulo é Shaul (Saul ou Saulo). O apóstolo fora assim chamado provavelmente por pertencer à tribo de Benjamim, a qual historicamente teve o rei Saul como seu integrante mais famoso. O cidadão romano Paulo (seu nome latino) nascera em Tarso, antiga capital da Cilícia, situada junto ao rio Cidno. A cidade fora helenizada e se tornara um centro de cultura grega, chegando a contar com cerca de quinhentos mil habitantes.

Paulo cresceu em meio à tradição judaica religiosa, muito bem instruído na Torá hebraica (At 26.4-8), e aprendeu o grego, o hebraico e aramaico (língua comum entre os judeus na época). Adquiriu o ofício de fazedor de tendas (At 18.3). Ainda muito jovem, Paulo foi estudar com o famoso rabino Gamaliel, neto de Hilel (At 22.3). Como fariseu, Paulo tornou-se um estrito seguidor da lei e da tradição judaicas (Fl 3.5).

Depois de tornar-se um dos principais perseguidores da igreja cristã primitiva como diz Atos 8.3:“Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” , Paulo converteu-se a Cristo, de forma extraordinária, na famosa estrada de Damasco (At 9.1-19). Junto com a conversão, Paulo recebeu o chamado apostólico para pregar o evangelho de Cristo ao mundo gentílico (At 9.15).

A conversão de Paulo ocorreu provavelmente entre os anos 32-35, sendo seguida por uma viagem à Arábia e depois foi para Damasco. Durante três anos Paulo esteve recebendo do Senhor as revelações a respeito do Evangelho:

“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco”.

Assim como o profeta Jeremias, o apostolo Paulo também foi separado para uma grande obra antes do seu nascimento. Nós encontramos aqui a soberania de Deus em relação às pessoas que Ele chama e para qual propósito Ele chama. Temos na Bíblia outros exemplos claros de que é o Senhor que nos escolhe, e alguns com um propósito específico; por exemplo: Sansão, chamado para ser juiz (Jz 16.17), Jeremias, chamado para ser profeta (Jr 1.5), João Batista, chamado para ser o último profeta e anunciar a vinda do Messias Jesus  (Lc 1.13-17) e todos os salvos (Ef 1.3-7).

PAULO UMA VIDA DEDICADA A DEUS

Quando o apóstolo Paulo disse que estava crucificado com Cristo, ele estava dizendo do seu comprometimento que ele tinha com Deus, da sua vida entregue para um único propósito que era a glória de Deus. Comprometimento é diferente de envolvimento. Observe o exemplo abaixo:

Todos já ouvimos falar da ilustração do “X BACON”, que relaciona muito bem o envolvimento e o comprometimento. Para que o “X Bacon” seja realidade, dois produtores precisam agir: a galinha e o porco. A galinha entrega o seu serviço em dia (o ovo) e se despede; o porco entrega a vida para que haja o bacon e só assim é possível ter um produto completo (o X Bacon). Esta história ilustra os colaboradores envolvidos no processo e os comprometidos com o processo.

O apóstolo Paulo foi um homem comprometido e não somente envolvido na causa do evangelho, notamos isso através do seu trabalho em prol do Evangelho. O volume de produção de epístolas é tremenda, só ele escreveu 13 epístolas ao todo, e sua abrangência vai do campo teológico, ético, social, político até o econômico. A sua biografia revela o quanto ele se envolvia intensamente no que fazia. Sua conversão e os momentos que a ela se seguem comprovam tal afirmativa. Depois dos acontecimentos na estrada de Damasco (At 9.1-30), Paulo alterou radicalmente e surpreendentemente seu rumo de vida. A experiência foi tão profunda que o levou a isolar-se no deserto por algum tempo, a fim de ajustar seus ideais e princípios ao projeto de vida que esse no rumo exigia (Gl 1. 17,18).

Em Paulo, o chamado de Cristo reflete-se tanto no ato de entregar a vida no altar (Rm 12.1) como na autonegação descrita em Gálatas 2.20: “Estou crucificado com cristo”. Em suma, a salvação de acordo com Paulo não está apenas em conquistar a isenção das penas do inferno, mas, antes disso, em recolocar-se no estado de total dependência incondicional e total de Deus:

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. (2Cr 5.17).

Em outras palavras, o cerne do evangelho não é meramente a salvação da alma do indivíduo, nem a concessão de uma apólice de seguro contra o fogo do inferno e dos efeitos escatológicos. Esse conceito de salvação, que se baseia mais na cruz que na ressurreição de Jesus Cristo, está fundamentada numa cosmovisão antropocêntrica, já que busca apenas os interesses humanos.

Considerando, portanto, que a queda do homem teve fortes traços éticos e não apenas teológicos, a essência do evangelho consiste em colocar aquele que está em Cristo na posição originalmente perdida na queda, ou seja, de dependência de Deus. Por isso a ressurreição de Cristo é o tema prioritário da agenda de Paulo (1Co 15.2-58). Para Paulo o viver é Cristo e Cristo foi um exemplo de entrega e de total dependência do Pai.

RENOVAÇÃO DA MENTE PARA VIVER NA DEPENDÊNCIA DE DEUS

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rm 12.2).

A palavra “transformar” no grego é “metamorfose”, o processo da lagarta para a borboleta. Mas aqui o texto vai muito mais além. A palavra traduzida por “transformai-vos”, é a mesma empregada em Mt 17.2, onde a cena da transfiguração do Senhor Jesus é descrita. A passagem de 2Co 3.18 também contém esse vocábulo, onde lemos que “... com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Essa transformação, pois, visa a natureza espiritual e não a aparência externa. Essa transformação é segundo os moldes da imagem de Cristo, o que se processa de glória em glória, ou seja, de um estado glorioso para outro.

Essa metamorfose que Paulo se refere em Romanos 12.2 só é obtida pela renovação da mente, daí a incapacidade humana de chegar a ela por si mesmo. No entanto, Paulo mostra que o homem espiritual tem a mente de Cristo, por isso é capazes de compreender as coisas do Evangelho (1Co 2.15,16) e uma vez compreendidas, a ação do evangelho na vida da pessoa permite que os olhos do coração se iluminem. Renovar a mente requer alteração dos padrões de conduta e opções de escolhas já presentes na estrutura mental e emocional da pessoa. Como isso é possível? O próprio apóstolo explica ao jovem Timóteo o papel das escrituras na renovação da mente:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).
    
A renovação da mente vem pelo meditar nas Escrituras. Meditação, e não apenas leitura, para que a pessoa esteja preparada para conhecer “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2b). Com a mente de Cristo, as coisas espirituais não lhe parecerão loucura.

COMPROMETIMENTO NÃO NOS ISENTA DAS PERSEGUIÇÕES

Paulo começou, na sinagoga de Damasco, a dar testemunho de sua fé recém-encontrada. O tema de sua mensagem concernente a Jesus era: “Este é o Filho de Deus” (At 9:20). Mas Paulo tinha de aprender amargas lições antes que pudesse apresentar-se como líder cristão confiável e eficiente. Descobriu que as pessoas não se esquecem com facilidade; os erros do homem podem persegui-lo por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha abandonado. Muitos dos discípulos suspeitavam de Paulo, e seus ex-companheiros de perseguições o odiavam. Ele pregou por breve tempo em Damasco, foi-se para a Arábia e depois voltou para Damasco.

A segunda tentativa de Paulo de pregar em Damasco igualmente não teve bom resultado. Um ano ou dois haviam decorrido desde a sua conversão, mas os judeus se lembravam de como ele havia desertado de sua primeira missão em Damasco. O ódio contra ele inflamou-se de novo e “deliberaram entre si tirar-lhe a vida” (At 9:23). A dramática história da fuga de Paulo por sobre a muralha, num cesto, tem prendido a imaginação de muitos.

Os dias de preparação de Paulo não estavam terminados. O relato que ele faz aos gálatas continua, dizendo: “Decorridos três anos, então subi a Jerusalém. . .“ (Gl 1:18). Ali ele encontrou a mesma hostil recepção que teve em Damasco. Uma vez mais foi obrigado a fugir.

Paulo desapareceu por alguns anos. Esses anos que ele passou escondido deram-lhe convicções amadurecidas e estatura espiritual de que ele necessitaria em seu ministério.

Estava se cumprindo na vida de Paulo aquilo que o senhor havia falado para Ananias quando este foi orar pelo apostolo: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”. (At 9.16).

Através do ministério de Paulo nós aprendemos que a nossa alegria não está baseada nas coisas ao nosso redor, mas no Deus maravilhoso que servimos e que está dentro de nós na pessoa do Espirito Santo. Por isso que o apóstolo nos ensina está verdade dizendo: “porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fl 4.11).

2 comentários:

  1. Boa noite e, a Paz do Senhor, Pr Silas...
    Estou compartilhando este artigo por estarmos vivendo(ouvindo)dias de "pregações" tão vazias, tão sem conteúdo....Como precisamos voltar à Bíblia!!!
    Deus continue o abençoando.

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    1. Graça e paz Rubcler.
      Obrigado por compartilha-lo, espero que ele abençoe outras pessoas!
      Fique na Paz!
      Pr. Silas Figueira

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