quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os dons espirituais, dádivas de Deus à igreja




Por Rev. Hernandes Dias Lopes 

Os dons espirituais são uma dádiva de Deus à sua igreja. Dádivas do Pai (1Co 12.6), dádivas do Filho (1Co 12.5) e dádivas do Espírito Santo (1Co 12.7). Os dons espirituais são uma capacitação especial para o desempenho de um serviço ou ministério. Não há nenhum membro do corpo de Cristo sem dons e nenhum membro do corpo possui todos os dons. Os dons espirituais não são distribuídos pela igreja, mas pelo Espírito Santo, conforme sua vontade e seus propósitos soberanos (1Co 12.11). O apóstolo Paulo usou quatro verbos-chaves que ilustram a soberania de Deus na distribuição dos dons espirituais. O Espírito Santo distribui (1Co 12.11), Deus dispõe (1Co 12.18), Deus coordena (1Co 12.24) e Deus estabelece (1Co 12.28). Do começo ao fim Deus está no controle. É Deus quem estabelece o corpo e quem coloca cada membro do corpo e distribui cada dom a cada pessoa conforme o seu propósito e soberana vontade. Do começo ao fim Deus está no controle. É isso que Paulo ensina à igreja. O propósito dos dons, portanto, não é para a exaltação de quem o exerce, mas para o serviço aos demais membros do corpo e tudo para a glória de Deus.

Quando Paulo fala da mutualidade do corpo, exorta a igreja sobre quatro questões importantes:

Em primeiro lugar, o perigo do complexo da inferioridade. Paulo escreve: “Se disser o pé: porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser” (1Co 12.15,16). Quando alguém reclama de não ter este ou aquele dom espiritual, está questionando a sabedoria de Deus. Isso é questionar a unidade do corpo. Nenhum membro da igreja deve se comparar nem se contrastar com outro membro da igreja. Você é único. Você é singular no corpo. Deus colocou você no corpo como lhe aprouve.

Em segundo lugar, o perigo do complexo de superioridade. O apóstolo Paulo afirma: “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários” (1Co 12.21,22). A igreja de Deus não tem espaço para disputa de prestígio. A igreja não é uma feira de vaidades. Nenhum membro da igreja pode envaidecer-se pelos dons que recebeu, pois tudo que temos, recebemos de Deus e ninguém pode vangloriar-se por aquilo que recebeu (1Co 4.7).

Em terceiro lugar, a necessidade da mútua cooperação. Paulo ainda prossegue em seu argumento: “Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1Co 12.25). A igreja é como uma família. Na igreja cada um está buscando meios e formas de cooperar, de ajudar, de abençoar, de enlevar, de edificar a todos. O propósito do dom é para que não haja divisão no corpo. Você não está competindo nem disputando com ninguém na igreja, mas cooperando.

Em quarto lugar, a necessidade de empatia na alegria e na tristeza. Paulo escreve: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1 Co 12.26). A psicologia revela que é mais fácil chorar com os que choram do que se alegrar com os que se alegram. São poucas as pessoas que têm a capacidade de celebrar a vitória do outro. Precisamos aprender a ter empatia, a sofrer com os que sofrem e a nos alegrarmos com os que se alegram. Não estamos num campeonato dentro da igreja disputando quem é o mais talentoso, o mais dotado, o mais espiritual. Somos uma família, somos um corpo. Devemos celebrar as vitórias uns dos outros e chorar as tristezas uns dos outros.

terça-feira, 30 de julho de 2013

OS SETE PECADOS CAPITAIS – SOBERBA



Por Isaltino Gomes Coelho Filho

Os sete pecados capitais são tão antigos como a humanidade. Foram formalizados com este título no século VI, pelo Papa Gregório Magno, que se baseou nas cartas paulinas. Ele os definiu como sendo sete: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja. Mas foi a Suma Teológica de Tomás de Aquino que os estabeleceu definitivamente na teologia católica. Ninguém precisa me acusar de católico ou de ecumenista por abordar este assunto. Não estou defendendo a teologia católica e não me interesso por Gregório. É triste ter que fazer defesa prévia, mas há gente que caça heresia em tudo, e assim já me defendo. Comento os pecados. Porque não são pecados católicos. São universais, encontradiços em nosso ambiente, também. Receberam o rótulo de “capitais” por causa do latim caput, “cabeça”. A ideia é que eles encabeçam os demais, que derivam deles. Para Aquino, o principal deles era a soberba, ou o orgulho. Afinal, a gênese do primeiro pecado foi a soberba: “sereis como Deus”.

A Igreja, para contrabalançar os pecados capitais, elaborou uma lista de sete virtudes capitais, que a eles se oporiam: humildade, disciplina, caridade (amor), castidade, paciência, generosidade e temperança. Estas virtudes derivam do poema  Psychomachia, escrito por Prudêncio. Ele descreveu uma batalha entre as boas virtudes e os vícios malignos. A popularidade deste trabalho no período medieval divulgou este conceito pela Europa. A ideia é que a prática dessas virtudes protegeria o fiel contra as tentações dos sete pecados capitais. Cada virtude corresponderia a um pecado: humildade x soberba; paciência x ira; castidade x luxúria; generosidade x avareza; caridade (amor) x inveja; disciplina x preguiça; temperança x gula. Mas os pecados se tornaram mais conhecidos.  A Ordem DeMolay, uma organização maçônica para jovens de 12 a 21 anos, também elaborou uma lista de sete virtudes, que são essenciais no cumprimento de seu primeiro grau. Mas seu teor se assemelha mais ao escotismo que a questão teológica. Por isso, deixemo-los de lado.
A soberba é tão antiga quanto o homem. O teólogo Manson (e com ele outros mais) definiu a essência do pecado como sendo o egoísmo. Numa frase de Billy Graham: “Cunhamos em nossas moedas In God we trust (Confiamos em Deus), mas nos nossos corações escrevemos Me, first (Eu primeiro)”. Foi o desejo do coração humano: “Sereis como Deus” (Gn 3.5).  Foi o pecado da arrogante Nínive: “A soberba do teu coração de enganou…” (Na, v. 3). Foi a soberba de Babilônia que a derrubou (Is 14.11). E, se entendermos (o que não está em discussão aqui) que Isaías 14 alude à queda de Satanás, foi sua soberba que o derrubou.
A soberba de Saul foi ferida quando as mulheres deram mais valor a Davi que a ele (1Sm 18.6-9). É significativo que o redator de 1Samuel, imediatamente após a crise de soberba de saul, insira a nota que no dia seguinte um espírito mau se apoderou dele (1Sm 18.10). A soberba está bem perto do Maligno.
A soberba é muito encontrada em nosso meio. O orgulho de ter uma função denominacional de relevo, que torna o obreiro importante. Ou de pastorear uma igreja com muitos membros e orçamento elevado, não sendo um pastor de igreja pobre, sem expressão. De descender de família dona de igreja ou importante na denominação. Minha esposa se lembra até hoje de quando trabalhou na Casa Publicadora Batista e uma líder feminina lhe ter perguntado, com certo desdém: “Mocinha, você é filha de quem?”. Era o orgulho de ter um sobrenome de família nobre na denominação. Meacir respondeu: “De meu pai e de minha mãe!”. Quanto líder se julga a quarta pessoa da Trindade, gente tão importante, sem a qual a denominação morreria! Que é isso, senão soberba?
A virtude que se lhe antepõe é a humildade. Se a soberba mencionada em Isaías 14 alude à de Satanás é questão que pode ser discutida. Mas a humildade com que Jesus se conduzia não pode: “Eu, porém, estou entre vós como quem serve” (Lc 22.27). A empáfia de presumir-se grande personagem é a atitude de feiticeiro falsamente convertido, como Simão, que “afirmava ser de grande importância” (At 8.9). Mas o servir é próprio de Jesus. “Se eu, Senhor e Mestre, lavei os vossos pés, também deveis lavar os pés uns dos outros. Pois eu vos dei exemplo, para que façais também o mesmo” (Jo 13.14-15). Ele é o exemplo, e não Saul. Nem o personagem de Isaías 14.
Evitemos a soberba. De ser um pastorzão de primeira linha. De ser um crente que é o sustentáculo da igreja. De ser um teólogo genial. E a soberba coletiva, da igreja que presume ser a melhor igreja do mundo, a mais certa, a única que é digna de ser igreja! Como há igreja arrogante!  A igreja de Laodicéia pensou assim a seu respeito, mas Jesus estava do lado de fora dela (Ap 3.20).
Não estou teologizando, mas sendo devocional. Evitemos a vaidade. Principalmente a espiritual, que é um dos maiores non sensepossíveis. O caráter de Jesus deve ser o nosso: “… sou manso e humilde de coração” (Mt 11.28) e “Bem-aventurados os humildes…” (Mt 5.5).

domingo, 28 de julho de 2013

Os cinco pilares da nova reforma católica




Na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, escrita pelo Papa Paulo VI, em 1975, e direcionada ao episcopado, ao clero e aos fieis de toda a Igreja, há uma chamada à reação: “Façam chegar ao homem a mensagem cristã por todos os meios que estejam ao seu alcance”. Escrita um ano após a Renovação Católica Carismática (RCC) ter passado por mudanças estruturais e de nomenclatura (os carismáticos eram conhecidos como “católicos pentecostais”), a Evangelii Nuntiandi surge em reação a uma crise institucional que começava a se fazer sentir na Igreja. No documento, os meios de comunicação e a religiosidade popular são citados como elementos a serem trabalhados, em uma estratégia de difusão do catolicismo em áreas de domínio protestante, ortodoxo, islâmico e, ao mesmo tempo, de consolidação das áreas de influência do Vaticano, a exemplo da América Latina, regiões dispersas na África e na Ásia, nas Filipinas.

A Evangelii Nuntiandi surge em decorrência do Concílio Vaticano II (1962-1965), em uma reafirmação da necessidade de uma liturgia mais participativa e da ampliação do diálogo ecumênico. Com a exortação apostólica, o Papa Paulo VI também chama a atenção para a responsabilidade do trabalho evangelístico-missionário. Três anos depois, a eleição de Karol Wojtyla deu início a uma nova fase na história da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Pela primeira vez, em 460 anos, um papa não italiano assumia o domínio mundial da ICAR. Uma vez no Poder, Wojtyla passou a colocar em prática aspetos do Vaticano II e da Evangelii Nuntiandi. Por trás de sua eleição também havia uma manobra política e estratégica: é estabelecido um contrapeso ao domínio exercido pela União Soviética na Europa Oriental e da influência desta em alguns setores da Igreja, que, na América Latina, deu origem a Teologia da Libertação (TL). O ateísmo soviético e o temor de que a Igreja Ortodoxa encontrasse espaço no regime para expandir seu domínio, pesou na escolha do polonês Karol Wojtyla.

Posteriormente, com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), João Paulo II abriu caminho para a implantação de novas dioceses em territórios de maioria ortodoxa, levando a uma reprimenda por parte do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa (IOR). Em um comunicado publicado em julho de 2002, a IOR comentou a decisão do Papa João Paulo II, de criar a diocese de Odessa e Simferopol, para cobertura da região sul da Ucrânia. “A Igreja Ortodoxa Russa, respeitando a necessidade dos católicos ucranianos de acompanhamento pelos seus pastores, não se manifestou contra a criação de dioceses por Roma em regiões por eles historicamente habitadas. Porém, as cátedras episcopais recentemente criadas surgem em regiões onde o número de católicos é bastante insignificante [...] Isso são provas da intenção firme do Vaticano de seguir a política de expansão missionária, inaceitável para os ortodoxos”.

O desdobramento da eleição de Wojtyla serve-nos de exemplo de como o Vaticano se articula no sentido de ampliar sua presença (e influência) em locais estratégicos. Há uma orientação política que passa pela escolha de um novo pontífice, até a beatificação e canonização de “santos”. Cada passo da Igreja é cuidadosamente estudado e tem como base dados estatísticos, influências ou adversidades locais que podem colocar em risco seus interesses. Se a eleição de Wojtyla serviu como uma espécie de contenção da URSS e da influência ortodoxa na Europa Oriental, a escolha do atual Papa Francisco também foi baseada em interesses locais, estratégicos. Com a diminuição de católicos na Europa e Estados Unidos, e, mesmo com o crescimento da Igreja evangélica na América do Sul (como no Brasil), a Santa Sé optou por fortalecer sua zona de influência na América Latina, a partir de um papa conservador em alguns aspectos, mas liberal em outros, como na defesa de um ministério simples, sem luxúria, na ampliação do diálogo ecumênico e na abertura da Igreja para os pobres e sofredores.

A vinda do Papa Francisco ao Brasil (a primeira viagem internacional do novo pontífice) também ocorre com base em uma estratégia romana de fortalecimento de sua área de influência na América Latina, para usá-la como ponta de lança para a remodelação mundial da Igreja. O crescimento do movimento evangélico brasileiro é um dos motivos, mas não o único. A porção latina do continente americano ainda é a parte mais dinâmica do mundo para o Catolicismo Romano, respondendo por 40% do número total de católicos existentes no mundo, contra os 10% de protestantes (2/3 dos quais de orientação pentecostal). A origem latina de Francisco e sua primeira viagem ao Brasil passam uma clara mensagem de que a Igreja pretende se consolidar na Região, com o intuito de lançar um projeto de fortalecimento global, universal. De forma semelhante, João Paulo II iniciou sua caminhada internacional a partir da República Dominica e México, em um período em que a TL surgia como uma ameaça à influência da Igreja, tendo Leonardo Boff com um dos expoentes – João Paulo II considerava a TL uma aliada do comunismo, segundo destacou a agência de notícias Reuters, em 2005.

Foi a partir do Papa João Paulo II, pois, que a Igreja colocou em prática cinco principais estratégias com o objetivo de se fortalecer e conter o crescimento de outros grupos religiosos considerados (internamente) ameaças a sua hegemonia, as quais são: fortalecer a presença da ICAR entre os jovens, levando, assim, ao despertamento de novas lideranças eclesiásticas; fortalecer e ampliar o ecumenismo com o intuito de absorção do protestantismo; fortalecer e ampliar a presença da ICAR em meios de comunicação de massa; beatificar e canonizar novos santos como representantes identificadores de seus países; e desenvolver uma linguagem semelhante à usada por igrejas evangélicas, tornando sua mensagem (e liturgia) mais atraente e participativa. Com o Papa Francisco as estratégias da ICAR alcançam novos patamares de conquistas.

Jornada Mundial da Juventude

Organizada em 1984, pelo Papa João Paulo II, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi criada com vistas a envolver a juventude nas atividades da Igreja, uma vez que está possuía um aspecto arcaico, ultrapassado, resumido a um grupo de fieis da terceira idade. Atualmente, com o déficit de padres no Brasil e no mundo, a JMJ também funciona como um chamariz para a atração de novos seminaristas. O interesse pela América Latina também é uma constante na JMJ, uma vez que a segunda edição foi realizada em Buenos Aires, Argentina, três anos depois de seu lançamento, em Roma.

Ecumenismo

Começando pelo Papa João XXIII que, em 1961, convocou o Concílio Vaticano II, o Ecumenismo passou a ser uma ambição e estratégia da Santa Sé, que teve maior repercussão com João Paulo II, Bento XVI e, hoje, com Francisco. A canonização de João XXIII e João Paulo II revela o interesse da Igreja de absorção do protestantismo e de outros grupos católicos cismáticos a partir do ecumenismo. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CNIC), fundado em 84, em Porto Alegre, e que é composto pela Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, Episcopal Anglicana e Metodista, representa parte do esforço da ICAR na absorção, ou, pelo menos, no tornar os protestantes simpáticos à Igreja Católica.

Meios de comunicação

A exortação apostólica Evangelii Nuntiandi foi um marco no sentido de que expôs o interesse da Cúria Romana no engajamento da liderança nos meios de comunicação. Embora ainda não usados pelas igrejas neopentecostais brasileiras, os meios de comunicação passariam a ser uma de suas principais bases de atração de novos fieis, tendo a Igreja Universal do Reino de Deus e Internacional da Graça de Deus como as primeiras a recorrer aos recursos audiovisuais. É somente a partir da década de 80 que a ICAR também passaria a investir nos recursos, começando pela Canção Nova. Em 1994 é fundada a Rede Católica de Rádio (RCR), uma associação de emissoras vinculadas a organismos da Igreja. Atualmente a ICAR conta com 97 rádios e 3 geradoras e 13 tevês.

Canonização

Não somente a escolha de novos pontífices, mas também a beatificação e a canonização de santos segue uma orientação política. O vaticanista Ettore Masina exemplifica: “Quando o papa vai visitar um país onde nunca esteve, ou que ainda não tem um santo, a congregação agiliza o processo de um nome local”. Um dos casos mais escandalosos foi a “canonização extremamente rápida do fundador do Opus Dei, José Maria Escrivá de Balaquer, que morreu em 1975, foi beatificado em 1991 e canonizado onze anos depois, por João Paulo II”, lembra Ettore. O aumento do número de beatificações e canonizações feitas a partir de 1978 também é motivo de críticas – em apenas 26 anos de pontificado, João Paulo II beatificou 1345 religiosos e reconheceu 483 santos, contra os 296 santos e 808 beatos levados à condição nos últimos 390 anos, a contar de 1588 quando foi criada a Congregação da Causa dos Santos (CCS), antes chamada de Ritos, e que é responsável pelo processo de identificação e reconhecimento.

Linguagem

Apoiada na Renovação Católica Carismática, a ICAR passou a utilizar uma linguagem mais próxima a utilizada por igrejas evangélicas, dando ênfase a orações, a evangelismos, ao Evangelho. A vinda do Papa Francisco ao Brasil é apresentada como uma viagem “missionária”, um meio pelo o qual a Igreja se propõe a alcançar antigos e novos seguidores, fortalecer fracos e oprimidos. A liturgia também deve seguir a mesma orientação, ou seja, participativa, despojada, envolvente, alegre. A juventude é um dos principais alvos da nova campanha católica, além de tornar a absorção do protestantismo mais eficiente e rápida, via assimilação. A adaptação religiosa é um processo irreversível, mesmo que mantida a característica original da Igreja Católica.

Fonte: NAPEC

Temos apenas uma mensagem para o mundo!




Por Josemar Bessa

Existem dois tipos de cristianismo. Há um cristianismo que olha para Cristo com um grande reformador, um grande filantropo, um grande inspirador... Cristo é visto como fonte de inspiração para canalizar a força humana para suas utopias. Cristo é simplesmente um inspiração e incentivo à educação e boas obras. É o cristianismo da melhoria social. É o cristianismo da bondade pessoal que pode ser despertada em cada ser humano...

Há outro tipo de cristianismo, é o cristianismo da Redenção! Esse é o cristianismo que olha para os homens, TODOS os homens em toda parte, como pecadores perdidos, ele olha para os homens como pecadores incapazes de se salvar e de salvar sua sociedade... Cristo sendo enviado, não como um exemplo para o homem natural seguir, um grande reformador social, um grande filantropo ou inspirador... Mas que veio para morrer e estar debaixo da ira que a santidade e a justiça de Deus exige de um mundo que, como Lutero descreveu, sendo incurvatus in si, se tornou inimigo de Deus e filho da ira. E pela expiação do seu sangue, pelos sofrimentos de Sua cruz, todos que forem trazidos a ele, serão justificados diante de Deus, regenerados...

Agora, que tipo de cristianismo é a revelação do Livro? Não é difícil encontrar uma resposta final. Paulo diz: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” - 1 Coríntios 15:3

A grande doutrina fundamental da fé cristão é esta: Cristo morreu por nossos pecados! Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras. Eis o que Ele veio fazer. Um grande reformador, um grande filantropo, um grande inspirador...?

Cristianismo é essencialmente redenção! Isso separa o cristianismo de todas as religiões do mundo. Confucionismo, por exemplo, tem uma ética elevada. Tenta reformar o homem e o mundo através do melhoramento crescente do homem que lá no fundo, é bom... Assim são muitas outras. Há outras religiões monoteístas. Há religiões com doutrinas “bonitas” que apelam para aquilo que o homem tem de melhor...

Mas a doutrina que separa a fé de Cristo de qualquer outra, é que o evangelho é um evangelho de Redenção. Tem a ver com a libertação do homem da ESCRAVIDÃO e do DOMÍNIO TOTAL das cadeias e dos grilhões do pecado. Escravidão da qual o homem é completamente impotente para escapar, necessitando por isso de Redenção.

Esse cristianismo, apesar de verdadeiro, jamais será popular no coração orgulhoso do homem incurvatus in si. É por isso que Cristo morreu, este é o propósito, para nos livrar da pena da IRA e do JULGAMENTO de Deus sobre os pecados de homens totalmente escravizados pelo pecado.

A insígnia do cristianismo não é uma sarça ardente, não é um candelabro de sete braços... não é uma coroa resplandecente... O sinal da fé cristã é a CRUZ! E nesse cristianismo, e somente nesse, Cristo é exaltado acima de todo nome.

No cristianismo bíblico o homem incapaz nada pode fazer por si mesmo em sua depravação, não pode olhar para Cristo como um exemplo e ir se reformando, não pode ir evoluindo pela inspiração do homem chamado Jesus que andou neste mundo, não receberá então, por sua completa incapacidade, nenhum aplauso - Cristo faz a Redenção.

Em Filipenses 2.7-11, Paulo diz: “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.

Por quê? Porque Ele “morreu por nossos pecados segundo as Escrituras” (1 Co 15.3). Esta é a mensagem do evangelho!! O maior conhecimento que um homem no púlpito pode mostrar, o mais excelente conhecimento é este: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”. 1 Coríntios 2:2

O cristão não se gloria em sua própria sabedoria, estratégia, capacidade humana de mudar o mundo... Ele se gloria numa única coisa: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Gálatas 6:14

Os homens que saíram a proclamar a verdade pelo vasto e poderoso Império Romano, não pregaram sobre um grande filantropo, um grande exemplo, um grande inspirador de mudanças para melhorar o Império... Eles nunca pensaram em colocar Cristo na classe de um Seneca, um Sócrates, um Abraham Lincoln... Ele é colocado SÓ. Ele é o Grande Redentor: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” - 1 Coríntios 15:3

Sua obra expiatória e redentora é o centro sobre o qual toda a mensagem fluía. Ela estava agarrada a cruz. Um grande e bom resumo disso, está na introdução que João Batista faz do Filho de Deus neste mundo: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. João 1:29 - É inútil buscar relevância (numa sociedade que baniu o pecado de seu vocabulário) e aceitação no mundo dizendo por exemplo, “Eis o Cordeiro de Deus que faz a reforma social do mundo”.

É expresso claramente o propósito e ministério de Cristo como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo para tirar os nossos pecados: “E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado”. 1 João 3:5

Essa é a mensagem do Novo Testamento. Quando Cristo começou seu ministério público, imediatamente Ele começou a dizer que ele devia sofrer, que ele devia morrer, para que fosse ressuscitado dentre os mortos. Na primeira purificação do templo, Ele disse: “Jesus lhes respondeu: "Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias". João 2:19

Eles não entenderam o que ele esta dizendo, mas nós sabemos o que Ele quis dizer. Sua morte e ressurreição. No capítulo seguinte ele fala com Nicodemos, e ele disse a esse mestre em Israel, a esse fariseu: “Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado” - João 3:14

Quando os judeus pedira um sinal – “Mostre-nos um sinal” – Jesus respondeu: “"Esta é uma geração perversa. Ela pede um sinal miraculoso, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas.” - Lucas 11:29 – Eles não puderam entender, mas nós entendemos. Ele esteve no coração da terra e ressuscitou dentre os mortos.

Quando os gregos vieram para vê-Lo: "Queremos ver Jesus", o Senhor foi movido em seu espírito, e disse: " Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim". - João 12:32

“Se o grão de trigo cair na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” – João 12.24 – Podíamos continuar e continuar. Durante todo o Livro, esse é o mesmo tema repetido de várias formas, como na Nona Sinfonia de Beethovem. E nós podemos ouvi-lo novamente, novamente e novamente.

O evangelho, o verdadeiro cristianismo não tem dois, três, quatro, ou dezenas de temas. Ele tem um, e ele é completo e perfeito. Ele basta. Ele é nossa única mensagem ao mundo: “Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” - 1 Coríntios 15:3. Mas do que a mensagem que devemos proclamar, esta é a única coisa na qual nos gloriamos: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Gálatas 6:14

Fonte: Josemar Bessa

sábado, 27 de julho de 2013

Francisco é diferente – só que não!

Francisco toca na imagem de “nossa Senhora Aparecida” antes de rezar missa no santuário dedicado à padroeira do Brasil.

Por Bispo José Moreno

Há cerca de trinta dias, conversei com uma jovem evangélica muito comprometida com o departamento de missões de sua igreja e com obras sociais, a qual me foi apresentada por um amigo comum, pastor, que a conhece de uma temporada missionária em outro país.

Ela me pareceu muito dinâmica, alegre, bem disposta e, sobretudo, temente a Deus, o que é a característica principal de um missionário cristão. Além disso, tem formação superior e pós-graduação. E, se isso não bastasse, é morena, bonita e solteira. Como eu tenho um filho jovem, logo pensei em tê-la como nora…

Mas o que me surpreendeu naquele encontro não foram os muitos dotes dessa jovem. Fiquei particularmente admirado com a empolgação dela com a vinda de Francisco ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Pelo que disse, é bem provável que ela seja um dos muitos milhares de jovens presentes nos encontros que o papa está tendo com eles aqui na Cidade Maravilhosa.

De fato, Francisco é atraente. É sorridente, humilde, afetuoso, acessível. Tem uma postura bem diferente da dos seus antecessores: abriu mão do trono dourado no Vaticano e o substituiu por uma cadeira de madeira bem simples; não usa a estola vermelha bordada a ouro; seu anel é de prata e não de ouro; sua cruz é a mesma que usava antes, de metal comum; recusou os luxuosos aposentos papais e vive modestamente, sem ostentação. Não exige tapete vermelho e anda a pé; quando precisa usar um automóvel, prefere modelos populares, sem luxo.

Não há dúvida que ele é diferente. Ele quer uma igreja pobre, próxima do povo; escandaliza-se ao ver padres e bispos locomovendo-se em carros suntuosos, último tipo. Está bem claro para todos que ele será um dos mais populares papas da história. E tenho certeza de que fará mudanças radicais na cúpula da Igreja romana. Obviamente, essa popularidade e essas mudanças repercutirão em diversos setores religiosos e laicos no mundo todo. E atrairão, como se sabe, muitos evangélicos.

Mas, um momento!

Os evangélicos vão se tornar devotos de Maria também? Pois Francisco é devotíssimo da bem-aventurada mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem os romanos chamam de “nossa Senhora”. A seu pedido, o roteiro da sua vinda ao Brasil foi modificado, para que ele fosse rezar em Aparecida perante a imagem da “nossa Senhora”.

Os evangélicos serão aceitos na eucaristia romana (ceia do Senhor)? E, se forem, aceitarão tranquilamente a doutrina da transubstanciação? Concordarão com o sacrifício da missa? Buscarão as indulgências? Participarão da “veneração” das imagens dos santos? Recorrerão à intercessão dos santos? Fugirão do purgatório?

Francisco é diferente – só que não, pois como papa ele é o chefe da Igreja que pratica todas essas – e outras – distorções do texto sagrado, o qual chamamos de Bíblia, nossa única regra de fé e prática.

A Reforma Protestante veio depurar a igreja. Os evangélicos, em tese, são herdeiros da reforma e não do romanismo. O moto protestante é:“Ecclesia reformata et semper reformanda est”. Enquanto isso, a Igreja romana segue firme nas suas tradições, imutável. Mas o papa é pop.

Por isso fiquei pensando naquela jovem evangélica empolgada com a vinda de Francisco ao Brasil. Acho que a falha está do nosso lado. Estamos errando por não ensinar corretamente os nossos jovens. Até quando?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Papa não me representa


papa-post
Por Equipe iPródigo

Fala galera! A nova fase do Pródcast continua. Nesse episódio, aproveitamos a visita do Papa ao Brasil para nos reunimos com o Rev. Emilio Garofalo Neto e discutirmos o relacionamento dos cristãos protestantes e evangélicos com o Papa e a Igreja Católica. A Reforma já acabou e nossa separação é apenas fruto de um passado distante e irrelevante? Por que os reformadores diziam que o Papa é o anticristo? Como, afinal, o “santo padre” usurpa o trono do Salvador? Saiba sobre esse polêmico e importante assunto nessa edição do Pródcast.

Duração: 37:52 | Aperte play ou clique com o botão direito em Download | Feed



O Pródcast mudou. Agora temos um novo formato, mais ágil, mais rápido, e direto ao assunto. Nossa ideia é que isso sirva para facilitar a produção de mais episódios e facilite para você que não tem tanto tempo para ouvir programas muito longos. Assim, todo mundo sai ganhando. Esperamos assim continuar produzindo material que seja útil para vocês.

Em Cristo,

Equipe iPródigo.
Textos bíblicos usados

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. (Atos 3.6)

Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. (1 João 2.18)

Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. (Deuteronômio 18.18)

Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. (Romanos 8.34)

E quando Pedro viu isto, disse ao povo: Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem? (Atos 3.12-13)
Citados no Pródcast
O Papado e os três ofícios de Cristo – parte 1 | parte 2 , por Emilio Garofalo Neto
Jesus fala a Roma, por David Mathis
Não existem papas humildes, por Steve Meister
Entre Roma e Nova Jerusalém, por Josaías Jr.
Documentos da Igreja Católica
Constituição Dogmática da Igreja de Cristo (Pastor Aeternus) 1870. Documento do Concílio Vaticano I.
Ecclesia de Eucharistia. Bula do Papa João Paulo II. 2003.
Mystici Corporis Christi, Encíclica de Pio XII. 1943.
Redemptoris Mater. Encíclica de João Paulo II. 1987.
Verbum Domini. Exortação Apostólica Pós-Sinodal de Bento XVI. 2010.
Ut Unum Sint. Encíclica de João Paulo II. 1995.

Fonte: iPródigo

quinta-feira, 25 de julho de 2013

MENDIGO QUE EMOCIONOU AO CANTAR EM IGREJA GRAVA CD E VÍDEO CLIPE

mendigo


Em janeiro deste ano um vídeo com um morador de rua cantando dentro de uma igreja fez muito sucesso chegando a quase 1 milhão de acessos em menos de uma semana.

Antenorgenes Silva Fernandes, o mendigo que aparece cantando a música de William Nascimento, conta que foi morar nas ruas da cidade mineira de Santos Dumont após a morte do seu pai, se tornando um usuário de drogas.

“Eu dormia na rodoviária e teve um dia que até tentaram tocar fogo em mim lá”, disse ele em uma reportagem. Sua vida começou a mudar no dia que ele aceitou participar de um culto.

Foi ali que ele conversou com o pastor e falou que sabia cantar músicas evangélicas. O pastor gravou o vídeo e postou na internet.

Os fiéis da igreja se tornaram amigos de Antenorgenes que hoje mora com uma família que aceitou acolhê-lo. Hoje o ex-mendigo conseguiu gravar um CD e até mesmo um vídeo clipe com a música “Um Milagre em Jericó”.

[Fonte: Gospel Prime]

Assista os dois vídeos, antes e depois:



Foi impossível não se emocionar ao assistir o vídeo do Antenorgenes quando ainda mendigo. Fica a nossa oração para que o irmão possa viver na dependência de nosso Senhor Jesus, sabendo que, mais importante do que ele ter encontrado a dignidade e gravado um CD, é ele ter recebido a Graça da Salvação eterna.

Antognoni Misael,

terça-feira, 23 de julho de 2013

Ser infantil ou ser como criança – uma distinção importante


Por Carl Trueman
Há uma importante distinção que é absolutamente vital para uma boa teologia e uma vida cristã saudável. É também uma distinção que parece ter sido perdida por um crescente número de pessoas tanto no lado esquerdo quanto no direito do espectro teológico. É a distinção entre ser como criança e ser infantil. Cristãos são chamados a terem uma fé do primeiro tipo; não do segundo.
Eu suspeito que as próximas gerações talvez olhem para trás, para os dias de hoje, e vejam uma era de incomparável infantilidade na história da humanidade. As vastas somas de dinheiro pagas para que homens adultos brinquem de jogar para nosso entretenimento é simplesmente inacreditável. A influência cultural lançada por jovens estrelas pop é até bizarra. Digo, qualquer que seja a opinião de alguém sobre um sistema estatal de saúde, não é óbvio que as opiniões do Justin Bieber sobre o assunto deveriam ser seguramente ignoradas? E a necessidade compulsiva de pessoas aparentemente inteligentes de twittar as mais tolas banalidades de suas vidas para o domínio público é surpreendente. A esses atos de infantilidade relativamente triviais podemos adicionar também algo mais sinistro: o desenvolvimento de uma cultura política e legal que se recusa a reconhecer qualquer meio termo. Quanto à moralidade, as crianças mimadas realmente tomaram o universo do discurso moral, quando é mais provável que um homem que deixa sua esposa por outro homem seja louvado como herói cultural por sua bravura do que taxado de imoral e cretino por sua capitulação covarde aos seus hormônios.
Infelizmente, isso também tem afetado a igreja. Muitas megaigrejas têm crescido por meio do casamento inesperado, mas indubitavelmente bem sucedido, de uma teologia esparsamente ortodoxa com um linguajar infantil. Indo além, muitos cristãos de igrejas não tão ‘mega’ também têm hábitos e pessoas infantis. Não são simplesmente aqueles pastores que se vestem como adolescentes desleixados quando pregam que exibem tais características. Todos nós podemos ser tentados nessa direção quando não nos dão o que queremos e procedemos imediatamente para derrubar das prateleiras todos os brinquedos que temos. E o que se pode dizer sobre o consistente fracasso da blogosfera cristã, do menor ao maior, em entender que algumas coisas são próprias à esfera pública e que outras devem ser mantidas privadas? Saber quando falar em público e quando se manter discreta e modestamente em silêncio (especialmente sobre os próprios sucessos) costumava ser uma parte muito básica do que significava amadurecer.
Talvez, no centro dessa infantilidade, esteja a inabilidade de reconhecer qualquer tipo de autoridade externa. O bebê chorando pelo bichinho de pelúcia confiscado está expressando seu ultraje ao mundo ter mudado contra sua vontade, tanto quanto a adolescente cuja vida foi (e eu cito diretamente) ‘tipo, totalmente arruinada’ porque seu celular lhe foi tirado por uma noite por um pai aborrecido. Muito do que consideramos comportamento infantil, como birras, irresponsabilidade e insolência, contém uma dose significativa de repúdio por autoridades externas.
Alguns anos atrás, me lembro de confrontar alguém sobre a questão da autoridade bíblica. Esse indivíduo, na época um cristão professo, simplesmente não conseguia aceitar a afirmações que a Bíblia fazia sobre sua vida. Gradualmente percebi um padrão: essa pessoa também odiava o fato de ter que prestar contas ao seu chefe, que os presbíteros de sua igreja desejavam que ele lhes prestasse contas, e que também deveria ser submisso a seu pai. Ficou claro para mim que essa pessoa não estava lutando contra a autoridade bíblica em particular; ele lutava contra autoridades externas em geral. Ironicamente, o Ocidente tem considerado esse tipo de individualismo e independência como sinais de maturidade. E conforme vemos os últimos estágios desse projeto se desenvolverem perante nossos olhos, e o mundo Ocidental se tornar um lugar onde tribunais são necessários para decidir quais banheiros as crianças de cinco anos devem usar, acredito que a trajetória dessa infantilidade já esteja bastante clara. E, por falar nisso, nesse caso a que me refiro, foram as crianças de cinco anos, não os adultos, que ganharam. Isso deveria te dizer algo.
Ser como criança, entretanto, é a própria antítese da infantilidade. Se infantilidade envolve a recusa em reconhecer autoridades externas e, assim, uma recusa em reconhecer os próprios limites e falta de exclusividade nesse mundo, ser como criança é muito diferente disso. Ser como uma criança é aceitar que você não é a medida de todas as coisas. Crianças são aqueles seres que são os melhores em olhar para os outros, especialmente os adultos, para aprenderem as coisas sobre as quais ainda são ignorantes. Ser como uma criança envolve confiar no pai ou no irmão mais velho em busca de proteção, sabedoria, e saber que os adultos têm competências e habilidades que servem para ajudar.
No mundo cristão, é possível adicionar que isso envolve uma aceitação do poder e da autoridade de Deus, da suficiência de Sua revelação e a adequação completa da salvação provida em Cristo. Também envolve estar envolvido na igreja local, buscando nos presbíteros e diáconos suporte e cuidado. Envolve perceber que não se vive longe, ou acima, do corpo de Cristo: deve-se ser parte dele, e estar sob a autoridade da cabeça.
Voltando ao exemplo do homem que citei anteriormente. Eu lembro de um comentário feito por Karl Barth sobre as Escrituras. Veja bem, eu não concordo com a visão de Barth das Escrituras, mas esse comentário foi muito marcante para mim desde que o li. Era mais ou menos assim: eu sei que a Escritura é a palavra de Deus da mesma forma que sei que minha mãe é minha mãe. Veja, eu confesso que nunca pedi um teste de DNA para minha mãe. Eu tenho uma cópia da minha certidão de nascimento, na qual o nome dela aparece, mas eu nunca usei isso como a base do meu relacionamento com ela, nem tentei descobrir se essa certidão foi forjada como parte de uma ampla conspiração para me confundir. Eu simplesmente sempre soube que a minha mãe é minha mãe e não vejo essa convicção como sendo, nem de longe, irracional, vergonhosa, sem fundamento ou ridícula. Confesso que me lembro de um momento particularmente desagradável de meus anos de juventude em que gritei “você não é minha mãe!” para ela, mas esse brado foi mais um insulto calculadamente cruel, não uma afirmação de fatos biológicos ou crenças pessoais. Também diria que, ironicamente, essa afirmação marcou o ápice da minha estupidez e infantilidade adolescente.
Herman Bavinck dizia que o cristão aceita a revelação especial de Deus em Cristo com a fé de uma criança. Isso é uma afirmação implausível em um mundo onde ser como criança é tão desprezível e ser infantil tão exaltado. Mas ela captura com precisão o pensamento expresso justamente por Cristo, que apontou para as crianças como paradigmas da maneira com que suas palavras deveriam ser recebidas.
Crescimento em maturidade cristã deveria se manifestar de diversas formas. Uma delas é que deveríamos nos tornar cada vez menos enamorados pelos mitos que contamos a nós mesmos sobre quão únicos nós somos como indivíduos, sobre termos potencial ilimitado, sobre como realmente temos a última palavra sobre tudo. Resumindo, deveríamos nos tornar menos infantis. Pelo contrário, deveríamos nos tornar mais conscientes do quanto somos exatamente como todo mundo – limitados, dependentes, finitos, caídos. Também deveríamos aprender cada vez mais a encontrar nossa realização em descansar na simples fé bíblica e catequética que descreve quem somos, o que precisamos e como podemos achar isso ao nos submetermos em fé reverente e humilde a Cristo. Em outras palavras, devemos nos tornar menos infantis e mais como crianças.
Fonte: Ipródigo

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sentindo toda tensão por tua infidelidade!


Por Josemar Bessa

Neemias 9 é uma oração. É uma oração muito parecida com a grande oração de Abraão ou a grande oração de Esdras em Esdras 9, ou a grande oração de Daniel em Daniel 9. Destina-se a nossa instrução. É feita para nos ajudar em nossa vida pessoal de verdadeira comunhão com Deus.

“...E pão dos céus lhes deste na sua fome, e água da penha lhes produziste na sua sede; e lhes disseste que entrassem para possuírem a terra pela qual alçaste a tua mão, que lhes havias de dar. Porém eles e nossos pais se houveram soberbamente, e endureceram a sua cerviz, e não deram ouvidos aos teus mandamentos. E recusaram ouvir-te, e não se lembraram das tuas maravilhas, que lhes fizeste, e endureceram a sua cerviz e, na sua rebelião, levantaram um capitão, a fim de voltarem para a sua servidão; porém tu, ó Deus perdoador, clemente e misericordioso, tardio em irar-te, e grande em beneficência, tu não os desamparaste. Ainda mesmo quando eles... Porém tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; porque tu tens agido fielmente, e nós temos agido impiamente...” - Neemias 9:15-33

Esta é uma oração. E eu quero dizer em primeiro lugar que o que temos aqui pertence à área da experiência. É experiencial o que temos aqui. Isso é mais do que apenas uma confissão de fé. Isso é mais do que apenas algo cerebral. Isso é mais do que confessar o que eles sabem. Esta é uma confissão de sua experiência. Eles sentem o peso da condenação como povo de Deus.

O Espírito de Deus veio sobre eles ao ouvirem a Palavra lida, conforme o Espírito Santo escreveu essa palavra em seus corações. Eles estão profundamente conscientes de que seus pais e eles próprios pecaram. Eles não estão vivendo uma relação com Deus que eles deveriam estar vivendo. Na oração não há racionalizações ou justificações.

É profundamente comovente. É quase como um casamento desfeito. É como se o povo de Deus fosse como uma esposa infiel, dizendo ao esposo, sentindo agora toda a apreensão e tensão e nervosismo por sua infidelidade, que este casamento está quebrando. E é quase como se o povo de Deus coletivamente estivessem chegando a Ele e dizendo: 'Eu quero que esse casamento dê certo. Eu fui infiel. Eu fui infiel. Você tem todo o direito de me expulsar. Você tem todo o direito de se divorciar de mim. Mas eu quero começar de novo. Eu vou fazer de tudo para que ele funcione. Eu te amo '. É uma confissão que está vindo de um coração partido. A Palavra tem quebrado seus corações ( E como isso é raro hoje, tanto individualmente quando coletivamente). Seu espírito está quebrado, quebrado do seu orgulho, quebrado de sua auto-confiança.

Eu me pergunto se você alguma vez chegou diante de Deus assim? Talvez eu devesse perguntar, você chegou diante de Deus assim recentemente? A Palavra de Deus tem quebrado teu espírito? Tocado em você? Condenado você? Mostrado onde você errou e se desviou e foi infiel como um crente, como cristão, como um membro da igreja?

Devemos perguntar isso a nós mesmos porque estar em Cristo é estar numa verdadeira relação com Deus que afeta cada segundo da vida. Queremos ouvir o que Ele tem para nos dizer. O que Ele tem falado com você tem tocado o reino da experiência cristã? Porque é lá que começa esta oração.

Observe, por outro lado, que esta oração concentra-se em Deus. O foco é sobre o pecado, uma vida que não está sendo vivida a altura do chamado, mas o foco está em Deus, refletindo sobre os atributos de Deus, refletindo sobre a graça de Deus, refletindo sobre o caráter de Deus, a misericórdia de Deus... Mais e mais e mais este capítulo de Neemias se volta para Deus.

É uma ótima maneira de reformar nossa oração. É a maneira bíblica de reformar nossa vida cristã. Não é tudo sobre o "eu". Não é tudo sobre a minha família. Não é tudo sobre a minha segurança pessoal. Não é tudo sobre a minha saúde. Trata-se do Senhor. Trata-se de Deus, esta aliança do Senhor, este Deus de Abraão, o Deus de nossos pais.

Observe que o que os levou a este ponto é na verdade um reconhecimento da intensidade de seu fracasso. Não há dica aqui de qualquer tentativa de desculpar-se.

Você percebe, nos versos 16-17, que eles se comparam ao Egito. Eles não são melhores do que o Egito. O Egito era seu inimigo. O Egito foi historicamente seu opressor, mas agora estão vendo que eles não são melhores do que o seu inimigo. Eles não são melhores do que o Egito. Isso é o caminho do crescimento. Eles cresceram. A adversidade fez isso. O julgamento fez isso. Isto os ensinou a confiar em Deus. Ensinou-lhes que não podiam ter confiança além da confiança que está no cerne das misericórdias da aliança de Deus. Esse é o único lugar certo e seguro para descansar.

Samuel Rutherford uma vez escreveu essas linhas, "A Graça cresce melhor no inverno." Talvez você esteja consciente de um inverno em sua alma agora. Talvez você esteja consciente que você não é o que você deveria ser, que você não está seguindo o Senhor tanto quanto você deveria. Você não está lendo a sua palavra ou sendo transformado por Sua palavra como deveria. Você está ciente disso. Você está consciente disso. O Espírito trouxe-lhe a sua atenção. Bem, use isso. Use isso para lançar-se sobre as misericórdias de Deus. Corra para o Senhor em sua fraqueza, sua fragilidade, em seu quebrantamento! "Senhor, dá-me uma percepção clara de meu pecado, que eu possa ter um maior senso de Sua beleza!"

Fonte: Josemar Bessa

sábado, 20 de julho de 2013

10 Cristos culturais



Por David Schrock

Jesus fez a Pedro, em Mateus 16.13, a pergunta mais importante da Bíblia: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?”. A nossa reposta a essa pergunta é de importância eterna. Infelizmente, muitos “cristãos” hoje teriam problemas para definir quem Jesus é, pois muitos usam esse nome para promover diversas ideias.


De fato, como Stephen Nichols mostrou em seu fascinante estudo cultural, Jesus Made in America, Jesus se tornou um produto nos Estados Unidos, onde ele é utilizado para candidatos conquistarem eleitores e para Hollywod verder mais filmes.

Dessa forma, tão importante quanto apresentar uma visão positiva de Jesus quando pregamos a doutrina de quem é Cristo, é mostrar os falsos Cristos que têm conquistado a preferência em nossa sub-cultura cristã.

O que se segue são dez “Cristos culturais”, intencionalmente caricaturados para mostrar as falsas imagens de Cristo que tem sido reproduzidas. Certamente há outras. Adoraria ouvir o que vocês pensam sobre essa lista.

Aqui vamos nós…

1) O Jesus Terapêutico… é delicado e sutil, ele te ajuda a melhorar sua auto-estima através do pensamento positivo.

Seus seguidores minimizam o pecado e tratam a religião como um reforço para enfrentar a semana.

Lema: Você pode alcançar a sua melhor vida (grande sorriso).

2) O Jesus Treinador… vai te dar as dicas e as ferramentas para ser bem sucedido em qualquer coisa que você fizer.

Seus seguidores o procuram de acordo com o interesse pessoal – Jesus Gerente, Jesus Goleador, Jesus Casamenteiro.

Lema: Tudo posso naquele que me fortalece. (Filipenses 4.13)

3) O Jesus Ned Flanders… ama as crianças, a moralidade e te ajudar a fazer a coisa certa.

Seus seguidores vão à igreja, fazem o bem, votam baseados em valores e ajudam seus vizinhos.

Lema: Olá, vizinho!

4) O Jesus Guerreiro… é super macho e pode ser confundido com William Wallace ou Jack Bauer.

Seus seguidores (na maioria homens) se enfurecem contra as imagens feminilizadas de Jesus e confundem “masculinidade” com piedade.

Lema: Meu Jesus chuta o traseiro do seu Jesus.

5) O Jesus do Evangelho Social… melhora a sociedade através da justiça social e suprindo necessidades.

Silenciando o evangelho, esses seguidores constroem casas, alimentam os pobres e combatem a AIDS por Jesus.

Lema: Pregue o Evangelho e, se necessário, use palavras.

6) O Jesus Político… promove o ativismo idealístico e vem em duas variedades:

Cavalgando sobre um elefante1, luta contra o aumento dos impostos, clínicas de aborto e pelas orações nas escolas.

Cavalgando um jumentinho2, promove o cuidado com o meio ambiente e a igualdade de direitos.

Lema: Feliz a nação cujo Deus é o Senhor. (Salmo 33:12)

7) O Jesus Buginganga… se torna o talismã cristão. A presença dos produtos Jesus combate o pecado.

Seus seguidores se enfeitam com a parafernália cristã e focam em viver por Jesus.

Lema: OQJF? (O Que Jesus Faria?)

8) O Jesus Rock Band: baseia sua igreja nas atividades divertidas e música legal.

Seus seguidores vivem atrás de shows cristãos, acampamentos, retiros e outros eventos desse tipo.

Lema: Deus é fera!

9) O Jesus WordPress: é hiper ortodoxo e luta contra o erro teológico.

Seus seguidores amam ler livros, debater teologia e publicar picuínhas na internet.

Lema: Ame o Senhor seu Deus com todo seu ENTENDIMENTO.

10) O Jesus Paz e Amor: rejeita religiosos intolerantes e apenas ama a todos como eles são.

Seus seguidores questionam autoridades, verdades objetivas, julgamentos e a religião institucional, mas amam mentes abertas.

Lema: Deus é amor; tudo é espiritual.

Em cada uma dessas caricaturas há resquícios da verdade, mas normalmente a verdade desproporcional ou carente de outros aspectos bíblicos. O mais importante é que cada um desses falsos cristos falha ao manter Jesus na narrativa bíblica. Eles sequestram Jesus em nome de alguma outra causa e o colocam em uma história que não é a história de Deus. Assim, para podermos entender corretamente quem Jesus é, o Cristo, o Filho do Deus Vivo, devemos buscar um retorno às Escrituras e buscar sua identidade de Gênesis ao Apocalipse. Essa é a tarefa do pastor, do professor da escola bíblica e de todos os cristãos que acreditam na Palavra.

Que Deus nos ilumine para vermos Cristo na Escritura, e que ele nos mostre como nossa cultura tem moldado nosso entendimento de Jesus, para que possamos buscar uma visão correta de quem ele é, pois,quando o vemos, nos tornamos mais como Ele (1 João 3.2).

Que possamos buscar uma visão correta de quem Jesus é, pois quando o vemos, nos tornamos mais como ele

Nota
1 O elefante é o símbolo do Partido Republicano, dos EUA, que geralmente defende valores mais tradicionais.

2 O burrinho, por outro lado, é o símbolo do Partido Democrata, rival do Republicano, em geral mais liberal.

Fonte: Ipródigo

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O QUE É JUSTIFICAÇÃO?



Por Pr. Silas Figueira

A justificação é uma doutrina evangélica revelada por Deus, e não descoberta pelo homem. Tanto judeus como gregos são salvos da mesma maneira: não pelas obras da lei, mas pela graça de Deus.Em nossos dias, a verdade bíblica da justificação é desconhecida ou mal compreendida por muitos evangélicos. No entanto, ela foi a questão central levantada pela Reforma Protestante do século 16. Assim como o “sola Scriptura” foi denominado o “princípio formal” da Reforma, porque a Bíblia é a fonte de onde procedem todas as autênticas doutrinas cristãs, a justificação mediante a fé é o, seu “princípio material”, porque envolve a própria substância ou essência do que se deve crer para a salvação.

Justificação é o oposto exato de condenação. “Condenar” é declarar uma pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa. Na Bíblia, refere-se ao ato imerecido do favor de Deus através do qual Ele coloca diante de si o pecador, não apenas perdoando-o ou isentado-o da culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo.2       

A justificação é um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador. Ela é singular, na obra da redenção, em que é um ato judicial de Deus, e não um ato ou processo de renovação, como é o caso da regeneração, da conversão e da santificação. Conquanto diga respeito ao pecador, não muda a sua vida interior. Não afeta a sua condição, mas, sim, o seu estado ou posição, e nesse aspecto difere de todas as outras principais partes da ordem da salvação. Ela envolve o perdão dos pecados e a restauração do pecador ao favor divino. O arminiano sustenta que ela inclui somente aquele, e não esta; mas a Bíblia ensina claramente que o fruto da justificação é muito mais que o perdão. Os que são justificados têm “paz com Deus”, segurança da salvação, Rm 5.1-10, e uma “herança entre os que são santificados”, At 26.18. Devemos observar os seguintes pontos de diferença entre a justificação e a santificação.

1. A justificação remove a culpa do pecado e restaura o pecador a todos os direitos filiais envolvidos em seu estado de filho de Deus, incluindo uma herança eterna. A santificação remove a corrupção do pecado e renova o pecador constante e crescentemente, em conformidade com a imagem de Deus.

2. A justificação dá-se fora do pecador, no tribunal de Deus, e não muda a sua vida interior, embora a sentença lhe seja dada a conhecer na vida interna do homem e gradativamente afete todo o seu ser.

3. A justificação acontece uma vez por todas. Não se repete, e não é um processo; é imediatamente completa e para sempre. Não existe isso, de mais ou menos justificação; ou o homem é plenamente justificado, ou absolutamente não é justificado. Em distinção disto, a santificação é um processo contínuo, que jamais se completa nesta existência.

4. Enquanto que a causa meritória de ambas está nos méritos de Cristo, há uma diferença na causa eficiente. Falando em termos de economia, Deus o Pai declara justo o pecador, e Deus o Espírito o santifica.

Hernandes Dias Lopes citando Warren W. Wiersbe diz que uma vez que fomos “justificados pela fé”, nunca mais seremos declarados culpados diante de Deus. A justificação também é diferente de “indulto”, pois um criminoso indultado ainda tem uma ficha na qual constam seus crimes. Quando um pecador é justificado pela fé, seus pecados passados não são mais lembrados nem usados contra ele, e Deus não registra mais suas transgressões (Sl 32.1,2; Rm 4.1-8).4   

Podemos concluir dizendo que a justificação é a resposta de Deus à mais importante de todas as questões humanas: Como uma pessoa pode se tornar aceitável diante de Deus? A resposta está clara no Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo, como a passagem clássica de Romanos 3.21-25. Biblicamente, a justificação é um conceito jurídico ou forense, e tem o significado de “declarar justo”. É o ato de Deus mediante o qual ele, em sua graça, declara justo o pecador, isentando-o de qualquer condenação. Infelizmente, a palavra portuguesa “justificação”, originária do latim, dá a ideia de “tornar justo”, no sentido de produzir justiça no justificado. Mas o termo grego original dikaiosyne não se refere a uma mudança intrínseca no indivíduo, e sim a uma declaração feita por Deus. Visto que não temos justiça própria e somos culpados diante de Deus, ele nos declara justos com base na expiação de nossos pecados por Cristo e na sua justiça imputada a nós.

Pode-se dizer que a justificação está estreitamente relacionada com três princípios da Reforma: “sola gratia”, “sola fides” e “solo Christo”. Daí, James Montgomery Boyce a define como “um ato de Deus pelo qual ele declara os pecadores justos somente pela graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo”. Assim, a fonte da justificação é a graça de Deus, o fundamento da justificação é a obra de Cristo e o meio da justificação é a fé. A fé é o canal através do qual a justificação é concedida ao pecador que crê; é o meio pelo qual ele toma posse das bênçãos obtidas por Cristo (como a paz com Deus, Rm 5.1). Ela não é uma boa obra, mas um dom de Deus, como Paulo ensina em Efésios 2.8-9. É o único meio de receber o que Deus fez por nós (“sola fides”), ficando excluídos todos os outros atos ou obras.5

Nota:
1 – Lopes, Hernandes Dias. Gálatas, a carta da liberdade cristã. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2011: p. 115.
2 – Stott, John R. W. A Mensagem de Gálatas. ABU Editora, São Paulo, SP, 1989: p. 58.
3 – Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Ed. Cultura Cristã, Cambuci, São Paulo, SP, 4ª edição, 2012: p. 473-474.
4 – Lopes, Hernandes Dias. Gálatas, a carta da liberdade cristã. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2011: p. 116.

5 – Matos, Alderi Souza de. Justificação pela fé: o coração do evangelho. http://www.mackenzie.br/7136.html, acessado em 18/07/2013.