segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ATOS – A CONTINUAÇÃO DA OBRA DE CRISTO



Por Pr. Silas Figueira

Texto basa: At 1.1-5

INTRODUÇÃO

O livro de Atos foi escrito por Lucas, o médico amado e companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4.14), a um homem chamado Teófilo. Não podemos dizer ao certo quem era esse Teófilo, senão que parece ter sido um cidadão romano de alta posição, tanto que no Evangelho de Lucas ele é chamado de excelentíssimo (Lc 1.3). Outros pensam que este Teófilo era um cidadão grego; seu nome significa Amigo de Deus. 

Este livro é a continuação do evangelho de Lucas. O evangelho Lucas registra o que o Senhor Jesus começou a fazer e ensinar, já aqui em Atos ele registra que a vida de Jesus e seus ensinamentos continuam, só que agora, através dos seus discípulos. 

Podemos dizer que no Evangelho de Lucas o Senhor exerceu o Seu ministério de forma pessoal e pública, já em Atos o Seu ministério foi continuado através do Espírito Santo na vida dos seus discípulos, ou seja, através da Igreja. Embora Jesus esteja agora na glória, à mão direita do trono do Pai, Ele ainda realiza sua obra no mundo presente. 

O livro de Atos começa de onde o Evangelho de Lucas terminou, com a ressurreição do Nosso Senhor e a ordem para que os seus discípulos permanecessem na cidade de Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49). 

O livro de Atos nos fala do nascimento da Igreja em Jerusalém e de sua expansão até aos confins da terra. No entanto este Evangelho pregado não foi por pessoas eruditas e de grande influência na sociedade, mas por homens e mulheres simples (At 4.13). Eles não tinham nada que os recomendasse, não tinham grandes nomes, graduação, dinheiro, meios de comunicação e de propaganda. Não tinham absolutamente nada. E, contudo, o que sabemos é que esse punhado de pessoas iletradas e ignorantes “alvoroçou o mundo” como nos fala Atos 17.6. Em menos de dois séculos o cristianismo tornou-se a força mais poderosa dentro do grande Império Romano. 

O que podemos aprender nesses primeiros versículos de Atos? Vejamos:

1 – Em primeiro lugar, a pessoa de Jesus era a mensagem central que eles pregavam (At 1.1,2).

A pessoa do Senhor Jesus era o tema da mensagem que a Igreja Primitiva pregava. Assim como era o tema do Evangelho de Lucas. Podemos dizer que o Cristianismo não é um ensino. É uma Pessoa. E, infelizmente, é isso que tragicamente tem sido esquecido na época atual em muitas igrejas. 

O conhecimento da pessoa do Senhor Jesus é fator único que a Igreja tem que ter. Muitos conhecem a sua doutrina, mas não O conhecem, ou, muitos pregam uma falsa doutrina por também desconhecê-Lo. 

A igreja tem a finalidade de pregar, em primeiro lugar, sobre a Pessoa do Senhor Jesus e depois sobre os seus ensinamentos. As duas coisas devem sempre andar juntas. 

Observe o que Lucas nos fala no verso 1: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”. A palavra COMEÇOU é enfática. Lucas está dizendo a Teófilo que tudo que ele escreveu no Evangelho não é nada mais que o começo, mas que estava tendo continuidade através da Igreja. 

Em seu Evangelho Lucas nos diz quem era Jesus. 

Lucas nos apresenta Jesus como o Deus encarnado - No capítulo 1.26-38 nos fala que o anjo Gabriel vai até a cidade da Galiléia, chamada Nazaré falar com Maria. Ele lhe disse que desceria sobre ela o Espírito Santo e ela ficaria grávida, pelo que também o Filho nela gerado seria chamado de Filho de Deus. 

Lucas nos mostra através do seu evangelho que Jesus não nasceu como as demais pessoas. Veio da eternidade para o tempo; veio do céu para a terra. Isso é Cristianismo.

Lucas também nos apresenta como Jesus viveu e o que ensinou – Em seu evangelho, Lucas escreveu o que Jesus começou a fazer e a ensinar. Lucas fala dos seus ensinamentos e dos seus milagres. Tudo isso está nos Evangelhos. Ele ensinou sobre si mesmo. Disse Ele: “Antes que Abraão existisse eu sou” (Jo 8.58). Ele se denominou “Filho do homem” que era um título messiânico. Falava com autoridade e não como os escribas (Mt 7.29). Ele operava sinais e maravilhas entre o povo. 

Lucas também fala de como Jesus foi morto e depois de três dias ressuscitou – Jesus foi preso, julgado, condenado e morto na cruz, mas ao terceiro dia ressuscitou. 

Lucas escrevendo a Teófilo lhe diz que aquilo tudo que Jesus começou a realizar estava tendo continuidade através da Igreja e que ele era prova cabal disso. Lucas mostra através do livro de Atos que o Cristianismo não é uma ideia filosófica ou política. Lucas mostra que o Cristianismo por ele apresentado é real, pois está firmado na pessoa de Jesus Cristo. 

O fato de o Evangelho de Lucas ter tratado do que Jesus “começou a fazer e a ensinar” mostra-nos duas coisas. Primeira: A Igreja teve seu começo no Evangelho. O Evangelho de Lucas encerra-se com um grupo convicto de crentes. Eles já não eram um grupo facilmente disperso de discípulos, mas um corpo comissionado, unido, devoto, esperando ser revestido com poder do alto (Lc 24.46-56). Em outras palavras, eles já eram a Igreja.

Segunda: a obra de Deus não terminou com a ascensão de Cristo. Como já foi observado, o livro de Atos mostra o que Jesus continuou a fazer e ensinar pelo Espírito Santo através da Igreja. 

2 – Em segundo lugar, as provas da ressurreição de Jesus (At 1.3)

Não adoramos o Cristo morto que esteve vivo, mas o Cristo vivo que esteve morto (Ap 1.18), e que por quarenta dias se apresentou várias vezes a muitas pessoas. Há pelo menos dez aparições de Jesus narradas nos evangelhos e em 1 Coríntios:

1 – A Maria (Mc 16.9-11; Jo 20.14-28)
2 – Às mulheres (Mt 28.9,10)
3 – Aos dois discípulos no caminho de Emaús (Mc 16.12,13; Lc 24.13-22)
4 – A Pedro (Lc 24.34)
5 – Aos dez discípulos (Lc 16.14; Lc 24.36,43; Jo 20.19-23)
6 – Aos discípulos e Tomé com eles (Jo 20.26-29)
7 – A sete discípulos no mar da Galileia (Jo 21.1-24)
8 – Aos doze discípulos na montanha da Galileia (Mt 28.16-20; Mc 16.15-18)
9 – A Tiago (1Co 15.7)
10 – A Paulo (At 15.8)

Lucas dá ênfase à ressurreição. Não haveria nenhuma Igreja Cristã se não houvesse ressurreição. Outros grandes líderes se levantaram, no entanto morreram e estão sepultados até hoje. Mas Jesus nasceu, morreu, mas ressuscitou e está vivo pelos séculos dos séculos (Ap 1.18). Esta era a mensagem da Igreja e esta deve ser a nossa mensagem hoje também. 

Quantos hoje em nossas igrejas vivem um evangelho do Cristo morto. Pois, a partir do momento que uma pessoa vive sem dar nenhum testemunho em sua vida de que o Senhor vive nele, nota-se que o Cristo que essa pessoa serve continua morto, pois quem diz que serve ao Senhor que vive pelos séculos dos séculos testemunha em sua vida dessa nova vida. Pois nos diz o apóstolo Paulo em Gl 5.19,20: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. 

Agora, quem serve a um Cristo morto não vive na plenitude do Espírito como nos fala Gl 5.22-25. 

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. 

Porém quem serve a um Cristo morto vive na prática do pecado descrita em Gl 5.19-21:

Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.

Você serve a um Cristo morto ou a um Cristo vivo?

3 – Em terceiro lugar, que eles não ficariam órfãos (At 1.4,5)

Jesus mais uma vez reafirmou a promessa do Pai de que eles não ficariam órfãos, mas que eles iram receber o Espírito Santo. 

Lucas faz uma transição da ressurreição de Cristo para a promessa do Espírito. A descida do Espírito estava condicionada a subida de Cristo (Jo 7.39). 

Observamos duas coisas interessantes aqui:

Primeiro, o Pai prometeu o Espírito Santo e a igreja deveria esperá-lo - At 1.4 (Jl 2.28-32; Jo 14.16; Gl 3.14; Ef 1.13). Jesus reafirmou esta promessa várias vezes: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (Jo 15.26). “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7).

Essa espera deveria ser com obediência irrestrita. Eles não poderiam se ausentar de Jerusalém. O lugar do fracasso haveria de ser o território da vitória. O mesmo lugar onde Cristo foi humilhado, ali deveria ser também ser exaltado. O palco do padecimento deveria ser também o cenário do derramamento do Espírito. Eles deveriam esperar até que do alto fossem revestidos de poder (Lc 24.49). dez dias depois essa promessa se cumpriu.

Segundo, o Batismo com o Espírito Santo (At 1.5). O Senhor está dando ênfase aqui ao que iria acontecer em Atos 2, ou seja, a vinda do Espírito Santo sendo derramado sobre as 120 pessoas que estavam ali reunidas no cenáculo. Essas 120 pessoas representavam a Igreja de Cristo, apesar de tão poucos ali reunidos. O Batismo no Espírito Santo como defendem os pentecostais não é a ênfase aqui nesse texto e nem em Atos 2. 

O Batismo no Espírito Santo ocorre no momento da conversão, já o revestimento de poder que leva a pessoa a profetizar, falar novas línguas, ter o dom de cura, assim como nos fala Paulo em 1Co 12-14 é outra coisa. 

Em 1Co 12.13 Paulo nos fala assim: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”. No momento da conversão, independentemente de classe social, raça, o crente passa ser morada do Espírito. E através do Espírito em nós somos capazes de testemunhar com autoridade a respeito de Cristo. 

Não querendo me prolongar nesse assunto, mas vejo que são necessárias algumas explicações a mais. A ênfase do revestimento com o Espírito Santo, na visão pentecostal começou a pouco mais de cem anos para cá. Na época dos pais da Igreja e até mesmo no período da Reforma Protestante tal assunto não era o ponto central da teologia reformada. O ponto central da Reforma Protestante era As Cinco Solas:

1 - Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus)

A igreja romana ensinava e exigia uma devoção ao clero e aos homens santos que poderiam interferir diante de Deus para perdão de pecados e obtenção de bênçãos para os homens.

Quando se estava na presença do papa e dos cardeais a reverência deveria ser tamanha, beirando as raias de adoração, onde se demonstraria uma total submissão a estes.

Fundamentado nas Escrituras Ef 2. 1-10; Jo 4.24; Sl 90.2; Tg 1.17 e tantos outros textos, os Reformadores concluem que somente a Deus devemos dar glória.

Não podemos dispensar glórias a homens, pois não passam de míseros pecadores e são como trapos imundos e carecem da misericórdia e da gloria de Deus.

2 - Sola Fide (Somente a Fé)

O homem só pode ser salvo mediante a fé (a exclusividade da ação pela fé), sua alma só poderá ser liberta das chamas do inferno e das garras de Satanás mediante a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

Não são penitências, sacrifícios ou compra de indulgências, que livrarão o homem da condenação eterna, mas a salvação é através da fé (Ef 2.8).

Após meditar no texto que diz: "O justo viverá da fé", Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé como dádiva.

3 - Sola Gratia (Somente a Graça)

A única causa eficiente da salvação é a graça de Deus. Ninguém pode ser salvo por mérito próprio, por obras, sacrifícios penitências ou compra de indulgências. A única causa eficaz da salvação é a graça de Deus sobre o pecador, (Ef 2.8). Pela graça somos salvos mediante a fé, e isso não vem do homem é dom de Deus.

Nenhuma obra por mais justa e santa que possa parecer poderá dar ao homem livre acesso a salvação e ao reino dos céus, ocorrerá isso somente pela graça de Deus.

"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se gloria". Ef 2.8 e 9

4 - Sola Christus (Somente Cristo)

Esse "somente" mostra a suficiência e exclusividade de Cristo no processo de salvação. Desde a eternidade Deus promove a aliança da redenção, onde o beneficiário seria o homem e o executor dessa aliança seria seu Filho unigênito "Jesus Cristo, o Messias prometido", portanto somente Cristo é o instrumento de nossa salvação.

O homem nada poderá fazer para sua salvação, pois Jesus Cristo realizou a obra da redenção ao ser sacrificado na cruz do calvário, vertendo o seu sangue como sacrifício por nossos pecados.

"E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dentre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" At 4.12.

5 - Sola Scriptura (Somente as Escrituras)

Somente as Escrituras são regra de fé e prática para o crente. As tradições as bulas e os escritos papais mão têm, não podem ser ou mesmo servirem de instrumento de fé e prática para o rebanho de Cristo, somente as Escrituras Sagradas. Elas foram escritas por homens inspirados por Deus, são instrumentos de revelação da vontade de Deus para nossa vida. Ao lê-la somos iluminados pelo Espírito Santo para entendê-la.

Martinho Lutero escreve: "Então, achei-me recém-nascido e no paraíso, toda as Escrituras tinham para mim outro aspecto, perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a justiça de Deus"

Podemos ler em 2Tm 3. 16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra".

No entanto, homens cheios do Espírito Santo deram a vida testemunhando de Cristo. Para sermos uma testemunha fiel de Jesus não há necessidade desse revestimento de poder, mas para testemunharmos dEle com todo poder é necessário ser convertido, ou seja, Batizado com o Espírito Santo que vem sobre nós no momento da conversão.

CONCLUSÃO

Lucas escreveu o seu primeiro tratado e deu continuidade ao que o Senhor continua fazendo, agora através da Igreja. Somos suas testemunhas e devemos como tais continuar a obra por Ele iniciada através dos seus primeiros discípulos.

Pense Nisso!

Mensagem pregada dia 20/02/2014

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