terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

VOCÊ TEM MEDO DE DEUS?


Por Fabio Campos

Texto base: “No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. – 1 João 4. 18-19 (NVI)

“Você tem medo de Deus”?, analisando friamente ao contemplar nossas falhas, creio eu, que, não seja uma pergunta fácil de responder. Se Deus é amor, por que, por vezes, dEle sentimos medo?

A Escritura diz que “no amor não existe medo, antes o PERFEITO amor lança fora o medo” (1 Jo 4.18a). O nosso amor é falho; ainda que sejamos conhecidos por todos como homens e mulheres que “amam de fato”, mesmo assim, do amor seremos devedores (Rm 13.8). Mas há um PERFEITO amor, e este não nos pertence, mas está, e é de Deus. Se este PERFEITO amor pertence a Deus, por que razão deveríamos como filhos ter medo dEle?

O amor de Deus é totalmente seguro, pois no seu “caráter não há variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Podemos sim correr para este amor mesmo quando tudo diz que não somos merecedores dEle (e de fato nunca seremos). Aliás, não tem lugar mais seguro neste mundo do que estar protegido no amor de Deus, pois este amor “encobre o pecado” (Sl 32.1), e não somente um deles, mas uma multidão (1 Pe 4.8).

O capítulo 13 da primeira carta aos coríntios não se trata (como muitos pensam) somente acerca do amor entre marido e mulher, mas sim do amor de Deus e a forma como os irmãos devem se amar. Para isso, o apóstolo Paulo eleva o nível deste amor e o referencia em Deus. Veja, então, você, se este amor de Deus (1 Co 13. 4-8) não nos assegura dos perigos do mundo, da carne e do diabo:

O amor é paciente (Deus é paciente conosco)
O amor é benigno. (Deus age com bondade para conosco)
O amor não é ciumento (possessivo).
O amor não se ufana (orgulho, presunçoso, vaidoso).
O amor não se ensoberbece.
O amor não se conduz inconvenientemente. (Deus não nos expõe ao ridículo devido às falhas que cometemos).
O amor não procura os seus próprios interesses.
O amor não se exaspera (Deus não causa e nem sente irritação conosco).
O amor não se ressente do mal (ainda que sofra).
O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.
O amor tudo sofre.
O amor tudo crê.
O amor tudo espera.
O amor tudo suporta.

O ápice dessa segurança se encontra no v.8 que diz “o amor JAMAIS acaba”. Novamente pergunto: “Você tem medo de Deus”?

A Bíblia diz que “o medo produz tormento” (1 Jo 4.18b). Lembro-me agora da “tempestuosa” conversão do pai da reforma protestante, Martinho Lutero, no século XVI. Lutero tinha uma visão de Deus totalmente distorcida daquele qual o Senhor Jesus Cristo anunciou (Hb 1.1); um Deus que pune e exige em “caráter tirano” sacrifícios dos seus servos. Martinho Lutero, então, ao ler Rm 1.17 que “o justo viverá da fé”!, viu os portões do paraíso se abrirem para ele.

O temor produz tormento na alma daquele que é consciente do seu pecado antes que o amor de Deus lhe traga a paz através da salvação e perdão dos pecados. O contexto qual o apostolo João trata de “tormento” traz o sentido de “lançar fora”; “mandar embora” [devido alguma falha]; refere-se também aquele que “vive assustado com medo da punição”.

A escritura também diz que “aquele que teme não está aperfeiçoado no amor” (1 Jo 4.18c). Quem teme só espera uma cousa, a saber, punição. Posto isso até agora, faço duas perguntas: 1) Você tem certeza que Deus o ama? 2) Você ama a Deus? A conclusão e o crivo na veracidade destas duas respostas estão no “sim” ou no “não” desta pergunta: “Você tem medo de Deus”? Se sim, “você tem medo de Deus”!, você não tem certeza que Deus o ama o que consequentemente por uma série de razões o seu amor para com Deus esteja “desconfigurado”.

“Medo” no grego clássico conota “provocar fuga”. Caim teve medo de Deus; Deus não se afastou de Caim, mas “Caim se retirou da presença de Deus” (Gn 4.16). Outro também que teve medo de Deus e dEle armou fuga foi Adão (Gn 3.10). Você tem fugido de Deus? Você tem medo de Deus? A Bíblia tem uma excelente noticia para nós: “Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19).

João Calvino disse que “Deus jamais encontrará em nós algo digno de seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso”. A melhor história do Velho Testamento que ilustra este “obstinado amor de Deus [1]” pelo o seu povo se encontra no livro do profeta Oséias. Em nenhum outro livro você contempla a exposição do coração de Deus de forma tão “desnudada”. É algo extraordinário e ao mesmo tempo “inquietante”.

Oséias é chamado o “profeta do coração partido e do lar desfeito”; é chamado também de Jeremias do reino do norte, porque, como Jeremias, chorou e sofreu pelo o seu povo. Deus lhe dá a ordem de se casar com uma mulher chamada Gômer que logo se mostrou infiel. Os filhos deste matrimônio conturbado foram fonte de tristeza. O primeiro, Oséias considerava que fosse seu; o segundo, uma menina, ele chamou de Lo-Ruama (“não amada”); esta ele não reconhece como sendo a sua filha. O terceiro filho, ele também não reconhecia com seu e pôs o nome de “Lo-Ami” (“não meu povo”). Oséias, então, comprou sua própria esposa, Gômer, mas se recusou a restabelecê-la plenamente até o tempo que a punição tivesse passado.

Deus nesta história é representado na figura do profeta; enquanto Gômer, a esposa infiel, representa Israel (pior que Judá). Deus acusa o seu povo de infidelidade. Ele começa com o povo; depois acusa os sacerdotes; na sequencia Ele dá a sentença e a carta de repúdio para Israel. Todavia, Sua ira não dura para sempre e ainda que na desobediência, Deus não deixa de amar o seu povo:

"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou”. – Oséias 11. 1-3 (NVI)

O mais lindo desta história se encontra na forma pela qual o Senhor os chama:

“Com laços de amor e de carinho, eu os trouxe para perto de mim; eu os segurei nos braços como quem pega uma criança no colo. Eu me inclinei e lhes dei de comer”. – Oséias 11. 4 (NTLH)

Parece que há uma luta em Deus, sendo Ele misericordioso e justo, diz a Israel o que eles mereciam, ou seja, condenação e rejeição, entretanto, age de forma diferente da sentença que Ele emitiu:

“O meu povo está decidido a desviar-se de mim. Embora sejam conclamados a servir ao Altíssimo, de modo algum o exaltam. "COMO POSSO DESISTIR DE VOCÊ, EFRAIM? Como posso entregar você nas mãos de outros, Israel? Como posso tratá-lo como tratei Admá? Como posso fazer com você o que fiz com Zeboim? O meu coração está ENTERNECIDO, despertou-se toda a minha compaixão. Não executarei a minha ira impetuosa, não tornarei a destruir Efraim. Pois sou Deus, e não homem, o Santo no meio de vocês. Não virei com ira”. – Oséias 11. 7-9 (NVI)

Confesso que isso é complicado pra mim, mas como Ele mesmo disse: “Pois sou Deus, e não homem”!, basta a mim apenas saber que “o evangelho é um escândalo para os religiosos” (1 Co 1.23) que fazem o “juízo trinfar sobre a misericórdia” e não o contrário (Tg 2.13).

Quando achamos que Deus não nos ama mais, é hora de pararmos e analisarmos o nosso amor por Ele, pois Ele nos amou primeiro e o seu amor não tem fim. Como vimos, no amor não existe medo, antes, o PERFEITO amor lança fora todo o medo; o medo é quem traz tormento, todavia quem teme não está aperfeiçoado no amor. A segurança e a boa notícia é que Ele nos amou primeiro e que o próprio Senhor “provou o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

O amor de Deus não depende do que fazemos ou deixamos de fazer, mas do que Ele fez através do Filho, pois Ele nos amou de tal maneira que entregou o seu Filho para que nada pudesse nos separar do seu amor. O que poderia nos separar do amor de Deus (Rm 8. 35-39)? Nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor.

Que toda Glória seja dada ao Nosso Senhor Jesus Cristo que nos comprou para sempre com o seu precioso sangue. Este amor nos constrange a segui-lo e ama-lo para todo sempre, pois Ele nos amou primeiro. Amém!

Soli Deo Gloria!
Fabio Campos

Sermão pregado na ICT dia 11/02/2015
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Notas:
[1] “Obstinado amor de Deus”; titilo do livro escrito por Brennan Manning publicado pela Editora Mundo Cristão.

Referências bibliográficas:
PHILLIPS, John. Explorando as Escrituras. Rio de Janeiro, RJ; CPAD; 1º edição, 2004.
CARSON, D.A. Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova, 2012. São Paulo, SP

Fonte: Fabio Campos

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Qual a diferença entre desejos da carne e desejos da mente?


Por Josemar Bessa

O apóstolo Paulo faz uma distinção entre os desejos da carne e dos pensamentos: “Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” - Efésios 2:3

Ambos se opõe totalmente a Deus, ambos são fruto de nossa natureza caída. Mas são diferentes e de maneira sutil podem penetrar fortemente onde o outro não se manifesta tão evidentemente.

Os desejos da carne parecem ser as mais grosseiros, as paixões mais sensuais, conectadas, por assim dizer, com a parte que gostaríamos de colocar como a mais inferior de nossa natureza. Os desejos da mente são aqueles que estão conectados com o que vemos muitas vezes até como qualidade superiores.

Alguns estão completamente mergulhados em toda sorte de frutos sensuais de luxúria, na satisfação deles avidamente... Enquanto outros, que podem desprezar tudo isso, ou pelo menos não são tentados ou pratiquem tão avidamente estes, realizam com igual ardor os sussurros de um caráter e disposição mais refinados.

Ambição de subir na vida, sede de poder sobre seus semelhantes, um desejo por fama, uma filosofia que parece moral mais que está em oposição a Verdade de Deus, descontentamento com a atual situação da vida, invejando outros em posições superiores a eles, riqueza, talento, realizações, posições mundanas, tentativa de felicidade fora de uma vida que em tudo glorifica a Cristo, ambição de sair da obscuridade, fazer um nome para si mesmo... “desejos da mente”.

Observe como Paulo coloca tudo isso no mesmo nível, os desejos da carne e da mente, e põe sobre eles o mesmo selo, ambos com a marca negra da desobediência e sua consequência nefasta, a ira de Deus.

Quando olhamos os desejos da carne se manifestando de maneira grosseira, tendemos a vê-lo como algo claro contra tudo o que Deus é, mas o que pensamos do comerciante incansável (ou em qualquer outra atividade), enérgico nos negócios, tendo como alvo da vida tão somente crescer... que põe em prática tudo que é necessário para isso, que racionaliza suas motivações, ou seus desvios na busca do crescimento?... Ele é igualmente culpado aos nossos olhos como aqueles que expressam os grosseiros frutos da carne?

O que pensamos do artista dedicado dia e noite no cultivo de suas habilidades como pintor, músico, escultor, escritor... ou em todas as outras atividades da vida... enterrados em seus livros... no ramo particular que escolheu seguir, cuja vida e energia é totalmente gasta em satisfazer todos esses desejos de sua mente?

Tanto quanto a sociedade, bem-estar público, o conforto próprio e de suas famílias, e o progresso do mundo estão em causa aqui... quando chegamos a pesar a questão diante de Deus, com a eternidade em vista, e as julgamos com a Palavra da Verdade, vemos imediatamente que não há diferença real entre eles, que o homem satisfazendo os desejos mais gritantes da carne e o erudito, o artista, o homem de negócios, o homem literário... em uma palavra, o homem do mundo, qualquer que seja o seu “mundo”... abraçado aos desejos da mente... ambos são da terra, são inimigos de Deus... Deus não está no centro do propósito de suas vidas, e se você pudesse olhar para o fundo de seus corações, muitas vezes ficaria evidente que o homem de “bem” voltado para os desejos da mente, com seu refinamento, educação... manifestam ser inimigos de Deus em suas mentes mais profundamente do que o libertino.

O pecado em ambos é a mesma coisa, e consiste no fato de que em tudo que eles procuram satisfazer é uma mente carnal que é inimizade contra Deus e Sua Palavra, que não são sujeitos a ela, e como disse o Apóstolo, nem mesmo o podem ser.

Deus (como se revelou em sua Palavra) não está em suas mentes, em seus pensamentos... apesar de viverem, respirarem, se moverem e existirem nEle, vivem inteiramente para si mesmos, e portanto, são rebeldes na definição mais profunda que Deus dá em Sua Palavra, alienados da vida de Deus, vivendo como se Deus não existisse ou como se existisse, existisse para eles e não eles para Deus.

“Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” - Efésios 2:3

Fonte: Josemar Bessa

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sofrimento e graça


Por Flávio Santos

A Primeira Epístola de Pedro faz parte, no Novo Testamento, das cartas gerais. As cartas gerais são assim conhecidas, pois não foram escritas para uma igreja específica, mas para todas as igrejas e aceita por elas como Escritura.

A carta foi endereçada aos discípulos peregrinos que estavam dispersos em vários lugares do Império Romano por causa da perseguição e do sofrimento. 1Pe 1.1

O propósito da carta era justamente fortalecer a fé dos que estavam em sofrimento decorrente da perseguição, por meio da graça. O encorajamento, nestes momentos, deveria vir da certeza que:

“O Deus te toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer. A Ele seja o domínio para todo o sempre. Amém”. 1Pe 5.10

Sofrimento e graça são fundamentais na vida dos discípulos de Jesus, pois formam as bases estruturais da sua espiritualidade. Sofrimento e graça são pedagógicos e ensinam lições preciosas para uma vida estruturada no Evangelho.

O sofrimento é uma graça que antecede a glória. O sofrimento pode assaltar o cristão em sua peregrinação, mas será manietado, preso e condenado à morte, quando o cristão for chamado à eterna glória do Deus de toda graça. O sofrimento é um instante comparado à eternidade. A dor do sofrimento presente é pouca perto do alívio da glória eterna.

Os sofrimentos do tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Rm 8.18

O sofrimento é uma graça que aperfeiçoa o cristão. Deus manda o sofrimento para nos dar o que está faltando, nos levando à perfeição. Se tivermos falhas, Deus envia o sofrimento para aperfeiçoar o nosso caráter. Se nos faltar a fé, Deus envia o sofrimento para gerá-la em nós. Se faltar oração, Deus envia o sofrimento para O buscarmos. Se faltar humildade, Deus manda o sofrimento para quebrar o orgulho.

Isto se torna ainda mais evidente quando entendemos o significado da Palavra aperfeiçoar no grego bíblico. Ela significa restaurar e remendar o que está quebrado. Neste sentido, o que nos falta para ser discípulos, Deus vai restaurar e aperfeiçoar.

O sofrimento é uma graça que firma e fortalece o cristão. Depois de enfrentarmos sofrimentos nos tornamos mais firmes e sólidos, aguentamos com firmeza os trancos da vida. A ideia é tornar duro como o granito. O sofrimento ao contrário do que muitos pensam, não é colocar para baixo, ao contrário, é colocar em pé, sobre bases de fundamento sólido.

O sofrimento é uma graça, pois vem de Deus, é dominado por Ele e exalta a Sua soberania para todo o sempre.

Assim, para os peregrinos do tempo presente, que estão experimentando a graça do sofrimento, há a certeza que – Ele mesmo – estará em todo o processo.

Apenas no Evangelho, que sofrimento e graça têm o nosso amém!

Fonte: NAPEC

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DO ATEÍSMO A PLENA REVELAÇÃO DE CRISTO


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Mc 8.22-33

O Evangelho de Marcos nos trás uma história muito interessante a respeito de um cego que precisou ser tocado por Jesus duas vezes antes de passar a enxergar de forma plena. Somente Marcos registrou esse episódio. Só que esse acontecimento está inserido dentro de um contexto onde Jesus pergunta para os seus discípulos o que as pessoas estavam falando a Seu respeito e o que os seus discípulos tinha a falar sobre Ele. É quando Pedro toma a palavra e fala em nome do todos que Jesus é o Cristo. A partir daí Jesus passa a fala-lhes a respeito de sua ida a Jerusalém, sua morte na cruz e ressurreição; então Pedro chama Jesus à parte e começa repreendê-lo dizendo que tal coisa não iria acontecer a Ele, mas Jesus repreende Satanás que está soprando tais pensamentos na mente de Pedro, pois tais Pedro que anteriormente havia confessado que Jesus era o Cristo tendo esta revelação por parte do Pai, agora, está falando inspirado pelo diabo. 
  
Dentro desse texto e contexto eu gostaria de refletir com você sobre algumas lições que aprendemos através dessas passagens. A primeira lição é quando o homem é totalmente cego – ateísmo. A segunda lição é quando a pessoa tem uma visão de Jesus dentro de um contexto religioso onde Jesus é confundido com qualquer outro deus ou entidade – os homens vistos como árvore e o que os homens falam a respeito de Jesus. A terceira é quando a pessoa passa ver de forma clara e límpida quem é Jesus – a cura por completo e a confissão de Pedro revelada pelo. E em quarto lugar termos os nossos olhos abertos através da revelação dada pelo próprio Deus quem é Jesus (Mt 16.16), mas corremos o risco de termos uma teologia satânica quando Satanás tenta nos induz a mudar os planos do Senhor Jesus em relação ao Seu ministério – a repreensão de Pedro a Jesus (Mc 8.31-33).

Vamos analisar esses textos:

1 – A primeira lição que aprendo é em relação ao ateísmo – o homem totalmente cego (Mc 8.22).

O texto nos fala que este homem era completamente cego, depois ele passou a ver sem discernir as imagens a sua frente e por fim passou a enxergar claramente, ficando totalmente restabelecido; “e tudo distinguia de modo perfeito” (v 25).

O ateu é uma pessoa totalmente cega em relação à pessoa de Deus ou de qualquer outra divindade. Ateísmo, num sentido amplo, é a ausência de crença na existência de divindades. O ateísmo é oposto ao teísmo, que em sua forma mais geral é a crença de que existe ao menos uma divindade [1].

Como nos fala o Salmo 14.1: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem”. Davi deixa claro nesse texto que o ateu é uma pessoa que não tem nenhuma responsabilidade com a moralidade ou dignidade. Para eles a lei moral é nula. A vida não tem nenhum significado.

Norman Geisler e Frank Turek em seu livro “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, nos dizem que em épocas mais recentes, o darwinista Peter Singer, professor de Princeton, usou o darwinismo para afirmar que "a vida de um recém- nascido tem menos valor do que a vida de um porco, de um cachorro ou de um chimpanzé". Sim, você leu corretamente.

Quais são as consequências das ultrajantes ideias darwinistas de Singer? Ele acredita que os pais deveriam poder matar seus filhos recém-nascidos até que tivessem 28 dias de vida! Essas crenças são perfeitamente coerentes com o darwinismo. Se todos viemos do limo, então não temos bases para dizer que os seres humanos são moralmente melhores, em qualquer medida, do que as outras espécies. A única questão é por que limitar o infanticídio a 28 dias ou, extrapolando, por que não a 28 meses ou a 28 anos? Se não existe um Criador da lei moral, então não existe nada de errado com o assassínio em qualquer idade! É claro que os darwinistas como Singer devem rejeitar essa conclusão, mas eles não têm bases objetivas para discordar a não ser que possam apelar para um padrão que esteja além deles mesmos — o Criador da lei moral.

James Rachels, autor do livro Created From Animais: The Moral Implications of Darwinism (Evolução dos animais: as implicações morais do darwinismo), defende a visão darwinista de que a espécie humana não tem valor inerente maior do que qualquer outra espécie. Falando de pessoas com retardamento mental, Rachels escreve:

“O que dizer sobre eles? A conclusão natural, de acordo com a doutrina que estamos considerando [darwinismo], seria que sua situação é de simples animais. Talvez devêssemos ir adiante e concluir que eles podem ser usados da mesma forma como animais não humanos são usados — talvez como animais de laboratório, ou até como comida?”

Por mais abominável que isso possa parecer — usar pessoas com problemas mentais como ratos de laboratório ou como comida —, os darwinistas não podem dar nenhuma razão moral que justifique o fato de não devermos usar qualquer ser humano dessa maneira. Experimentos como os dos nazistas não podem ser condenados pelos darwinistas, porque não existe um padrão moral objetivo no mundo darwinista.

Dois outros darwinistas escreveram recentemente um livro no qual afirmam que o estupro é uma consequência natural da evolução. De acordo com os autores Randy Thornhill e Craig Palmer, o estupro é "um fenômeno natural e biológico que é produto da herança evolucionária humana", semelhante a coisas como "as manchas do leopardo e o pescoço comprido da girafa" [2].

Essas ideias ateias têm influenciado as nossas escolas e universidades. Pessoas completamente ateias tem tido a responsabilidade de ensinar os nossos jovens, com isso, o que temos visto hoje é uma sociedade desprovida de valores cristãos. É uma sociedade que luta pelo direito ao aborto, mas que não luta pelo direito à vida da criança. É uma sociedade que luta pelos animais, mas que não luta pelo próprio ser humano.

Como disse Davi são pessoas insensatas. O insensato é aquele que é insano, anormal, uma pessoa de difícil trato e entendimento, é o chamado desequilibrado. Pratica seus atos sem temor sem acreditar que está prejudicando e maltratando os outros, já que não tem a correta consciência das maldades que consegue arquitetar e colocar em prática.

Este é o cego que a Bíblia descreve em 2Co 4.4: “o deus desse século segou o entendimento dos incrédulos”. O diabo faz com que as pessoas desacreditem de tudo, inclusive dele próprio.

Podemos concluir com isso que “Se Deus não existe, então o que Hitler fez foi simplesmente uma questão de opinião!”, pois os ateus afirmam que existe somente o material e o material não possui moralidade.

Mas é bom deixar bem claro que o Senhor Jesus abriu os olhos desse cego, assim como tem aberto os olhos de muitos outros ateus. Pois a fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Cristo (Rm 10.17).

Há alguns anos trás eu estava fazendo o discipulado em uma casa onde havia cerca de quatro pessoas. Sendo que uma delas era ateia, mas eu não sabia. No final dos três meses de discipulado esta pessoa que era ateia disse para todos os presentes que reconhecia Jesus como seu Senhor e Salvador. Romanos 10.17 se cumpriu na vida dessa pessoa. O Senhor ainda abre os olhos dos cegos. É possível um ateu se converter, pois quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo.

2 – A segunda lição que aprendo é em relação aos que veem Jesus em todas as religiões – não o discernem como na verdade Ele é  - veem os homens como árvores (Mc 8.23,24, 27,28).

A Bíblia nos fala que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14). Por isso que quando Jesus perguntou para os seus discípulos o que as pessoas falavam a respeito dEle, eles responderam que as pessoas o viam como um profeta, outros que Ele era Jeremias, Elias, João Batista. As pessoas tinham várias ideias de quem era Jesus, mas ninguém sabia ao certo quem Ele era (Mt 16.13,14; Mc 8.27,28; Lc 9.18,19).

Isso não é diferente nos dias de hoje. Quantas pessoas estão confundindo Jesus com várias entidades e deuses. Dizem, cheios de convicção, que Deus está em todas as religiões e que o Senhor Jesus não veio para pregar uma religião por isso está em todas elas, mas a Bíblia nos revela quem é Jesus e como devemos adorá-lo. No entanto outras religiões que não observam a Bíblia, ou até observam, mas não a seguem estão errando na sua maneira de ver Jesus. Por exemplo:

No Catolicismo Romano Jesus possui uma Mãe que foi elevada a condição de Rainha do Universo. Ele não é o único intercessor entre Deus e os homens, mas divide com Sua Mãe (‘Nossa Senhora’) e com todos os santos a intercessão pela humanidade: São Pedro, São Paulo, Santo Expedito, Santo Antônio, Santa Luzia e tantos outros.

Para os Adventistas Jesus é o Arcanjo Miguel, como disse Ellen White, então se eles mudarem isso, eles terão que rejeitá-la como "o Espírito de Profecia" e não seriam a igreja remanescente! Então, agora eles precisam manter que Jesus é tanto Deus como um Anjo. Que Jesus não concluiu a obra de redenção na cruz; e que possui natureza pecaminosa, isso sem entrar em outros por menores.

Para As Testemunhas de Jeová Jesus é um ser criado como todas as outras criaturas criadas. Segundo eles, Jesus não é Deus. Jesus é o arcanjo Miguel assim como pensam os Adventistas. O Espírito Santo é uma força ativa de Deus.

Já os espiritualistas rejeitam o dogma da Trindade e o mistério da participação da pessoa de Jesus na Suprema Pessoa. Segundo o Espiritismo, Deus é Uno. Dele procedem todas as coisas. Jesus é Seu filho, como todos nós o somos. Segundo eles, estamos em pé de igualdade com Jesus, somos irmãos do Divino Mestre.

A religião judaica vê Jesus como um de uma série de falsos messias que apareceram ao longo da história. Jesus é visto como tendo sido o mais influente e, consequentemente, o mais prejudicial, de todos os falsos messias.

A religião Islâmica entende o profeta Jesus, filho de Maria como um dos mais elevados profetas que Deus altíssimo enviou à humanidade e sua gestação e sua infância e sua vida eram cheias de atos milagrosos. Ele era um ser humano infalível, impecável e o mais perfeito. Ele foi perseguido pelos judeus e incrédulos daquela época e também nós acreditamos que o Profeta Jesus filho de Maria não foi crucificado e muito menos ressuscitou. Ele, imediatamente, foi levado a Deus Poderoso através de uma ação milagrosa. O pensamento islâmico que fluiu  das fontes islâmicas (o Sagrado Alcorão e as tradições proféticas) obrigam o todo muçulmano acreditar na missão do profeta Jesus, filho de Maria.

Isso é só uma pequena amostra, poderíamos citar como Jesus é visto no hinduísmo, no budismo, no seicho-no-ie e outras. 
 
Assim como aquele cego que começou a enxergar, mas que via as pessoas como árvores assim são essas religiões que veem Jesus de varias formas, menos como Ele é realmente. Este homem por estar com a sua visão ainda comprometida não discernia claramente quem eram as pessoas e muito menos quem era Jesus. Entenda uma coisa, se não temos uma visão plena de quem é Jesus, jamais, entenda bem, jamais a pessoa vai conseguir ter uma visão clara de quem é o homem e quais são as consequências espirituais que ele se encontra. Quem não discerne de forma plena quem é Jesus irá confundi-lo com várias outras entidades ou então irá vê-lo onde Ele não está.

Até dentro de muitas igrejas ditas evangélicas pregam outro Jesus totalmente diferente do que a Bíblia descreve. Estamos vendo crescer dentro de muitas igrejas um evangelho totalmente descomprometido com a verdade bíblica. Líderes que pregam tudo, menos a verdade que liberta. A verdade que abre os olhos dos cegos. Como disse o próprio Jesus: “São cegos guiando cegos” (Mt 15.14). 

3 - A terceira lição que aprendo aqui é quando a pessoa passa ver de forma clara e límpida quem é Jesus – a cura por completo do cego e a confissão de Pedro (Mc 8.25,29; Mt 16.16).

O cego passou a ver claramente distinguido tudo de modo perfeito, nos diz o texto. Este homem já não precisava mais de ajuda para se locomover de um lado para outro. Ele conseguia ver e distinguir as coisas ao seu redor. É exatamente isso que o Senhor faz com as pessoas cegas espiritualmente, elas passam a ver de forma plena quem é Jesus. A confissão de Pedro é um relato de como os discípulos já não tinham mais dúvidas de quem era Jesus. Observe que em Mt 16.17 o Senhor diz para Pedro que aquela revelação procedia do Pai, não foi um conhecimento intelectual. Observe a declaração de Jesus:

“Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt.16.17).

Quem abre os olhos dos cegos espirituais é o Espírito Santo aplicando em nossos olhos colírio espiritual (Ap 3.18). É Ele quem arranca dos olhos a venda que o deus deste século coloca nas pessoas cegando o entendimento em relação a Jesus (2Co 4.4). Esse conhecimento pleno de quem é Jesus, mas uma vez repito, não vem de um assentimento intelectual, mas através da revelação de Deus no coração dos incrédulos. Veja esta declaração de Jesus em relação ao Espírito Santo:

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo... quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.7,8,13).

Temos como exemplo o apóstolo Paulo, que antes da sua conversão era um perseguidor da Igreja, no entanto, no caminho de Damasco teve um encontro com o Senhor. Observe que quando ele levanta do chão ele está completamente cego. Isso na verdade era uma forma de mostrar o seu estado espiritual em relação a Jesus. Ele era um fariseu cego assim como muitos outros fariseus o eram.  

Quando Ananias ora por ele caem de seus olhos como que escamas e ele passa a ver, não só fisicamente, mas também espiritualmente (At 9.18).

Quando lemos a respeito desse cego que foi tocado duas vezes para poder ver de forma plena, isso nos mostra que muitas pessoas precisam desse segundo toque de Jesus dentro de nossas igrejas. Há muitas pessoas que pensam que veem Jesus e que o conhecem, mas estão completamente enganadas. Estão vendo um vulto e pensam que estão enxergando nitidamente. Isso é muito sério, pois quem não o vê de forma plena também não pode servi-lo de forma plena, pois não o conhece. Como disse Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.4,6). Conhecimento de Deus gera arrependimento, vida santa e irrepreensível. Pessoas que dizem conhecer Jesus e andam na contramão da Palavra de Deus, certamente não o conheceram.

4 - A quarta lição que aprendo aqui é termos os nossos olhos abertos através da revelação dada pelo próprio Deus quem é Jesus (Mt 16.16), mas corremos o risco de termos uma teologia satânica quando Satanás nos induz a mudar os planos do Senhor Jesus em relação ao Seu ministério – a repreensão de Pedro a Jesus (Mc 8.31-33).

Isso é o que mais temos visto em muitos púlpitos por aí. Gente mudando a teologia bíblica por outra teologia. Uma teologia que agrada aos ouvidos, mas não faz diferença no coração. É muito comum hoje em dia vermos pregadores mudando a mensagem Cristocêntrica pela mensagem antropocêntrica. Como disse Paulo ao Colossenses 2.8;18,19:

“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo... Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.

O mesmo apóstolo escrevendo a Timóteo alerta a respeito da apostasia dos últimos dias:

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4.1).

E como apostasia pode vir acontecer? Bem, entendo que isso ocorre de três maneiras básicas:

1º - Por líderes de mau caráter, ou seja, gente que não tem um pingo de temor a Deus. Gente que se utiliza a credulidade do povo para se beneficiar.

2º - Por Lideres que aprenderam errado, ou seja, foram discipulados de forma errada. No entanto, se tais líderes aprenderem a verdade abandonará essa teologia satânica.

3º - Aqueles que se apostatam da fé como o texto de 1Tm 4.1 nos deixa claro. E eu creio que tais pessoas nunca conheceram a Cristo. Nunca tiveram uma experiência de conversão.

Queridos, nós não podemos por todos em uma vala comum e dizer que todas essas pessoas são de mau caráter. Creio que haja pessoas até muito bem intencionadas, mas que tem pregado um evangelho distorcido da verdade. São pessoas zelosas, mas fora da doutrina. Tem um grande zelo por Deus, mas desconhecem a sã doutrina. Com tais pessoas devemos agir como Cristo agiu com Pedro, repreenda Satanás, mas salve a Pedro. Mostre-lhes a verdade com amor não lhes impondo nada.

Conclusão.

Eu tenho acompanhado algumas pessoas discutindo teologia na internet. Algumas dessas discussões são até saudáveis, mas algumas não levam a nada. Eu por exemplo creio e sigo a teologia reformada, mas tenho bons amigos arminianos que são mais piedosos que eu. No ponto principal nós não divergimos. Mas tem gente que falta pouco colocar os “hereges” na fogueira. E isso de ambos os dois lados.

Por exemplo, todo terceiro domingo prega na igreja que pastoreio um seminarista arminiano, e esse rapaz tem uma mensagem muito abençoada.
Temos que pregar a Cristo assim como os apóstolos pregaram. Com unção e graça. Como costuma dizer o Revendo Hernandes Dias Lopes: “Aos olhos e ao coração”.

Que o Senhor nos abençoe!

Fonte:

1 -  Ateísmo - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ate%C3%ADsmo, acessado em 28/01/15.
2 - Geisler, Norman e Turek, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu, Ed. Vida, São Paulo, SP. 2006, pag. 196, 197.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sem a graça de Deus não tem graça


Por Denis Monteiro

A Tese 62 de Lutero diz: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus”.Logo, é correto afirmar que a graça de Deus abrange todas as coisas, pois se nenhuma coisa existente se não houvera a graça de Deus não teria a mínima graça.

A graça e a salvação

A graça de Deus é o cerne do Evangelho o qual existe desde o Antigo Testamento (Gl 3.8). Sendo assim, a salvação sempre fora apregoada pela graça de Deus.

A graça de Deus, segundo alguns, ela completa aquilo que faltava no pecador. Essa visão é totalmente errônea, pois o Homem, sendo um pecador, não há nada nele que possa ser utilizado se não fora dado pela própria graça de Deus. Como Deus nos diz: Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite (Is 55.1). Veja que a graça é oferecida aos que não tem dinheiro, e não aos que não tem dinheiro suficiente.

A graça de Deus salvadora é concedida a todos quantos por quem Seu Filho morreu para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras (Tt 2.14). E esses mesmos a quem a graça se revela são os mesmos que Deus estava irado, os quais, segundo o apóstolo, não eram justos, não entendia, não buscava a Deus, não faziam o bem e nem havia um sequer que fizesse (Rm 3.10-12). Ou seja, a graça de Deus ninguém merece e Deus nos concede, e a misericórdia de Deus não nos dá aquilo que merecemos, onde que, Cristo satisfez a ira de Deus e nosso lugar. Portanto, só reconheceremos a graça de Deus na salvação quando entendermos realmente quem é a humanidade: A imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice (Gn 8.21); Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe (Sl 51.5); Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós (Is 53.6)
- Sendo assim, podemos ver que a graça de Deus deve ser retratada no contexto de que nós já fomos inimigos de Deus, merecedores do inferno eterno.
- A graça de Deus age sem ver o pecador com mais ou menos merecimento, mas trata a pessoa sem qualquer referencia de merecimento e segundo a bondade de Deus infinita.
- A graça de Deus não é meritória. Não fizemos nada para merecê-la. Éramos devedores de Deus, devíamos um valor altíssimo, mas Deus perdoou a nossa divida.
- Como já vimos, não fizemos nada para que a merecesse. Mas recebemos a graça de Deus para que façamos boas obras. As nossas boas obras são fruto desta graça Divina. Sendo assim, a nossa justificação. Fomos justificados pela graça de Deus e não pelas obras (Rm 3.24)
- A graça não passou a existir com a vinda de Cristo, porque a graça é eterna, como o próprio Paulo diz: não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho (2Tm 1.9,10).
- O fato da graça de Deus não meritória mostra claramente de que Deus é soberano não sendo obrigado a derramar essa graça sobre todos. Pois, se Deus fosse obrigado a derramar essa graça sobre toda a humanidade, logo, essa graça já não seria graça.
- E por fim, a graça de Deus atua em toda a nossa salvação. Pois fomos eleitos pela graça de Deus (Rm 11.5), a nossa regeneração foi pela graça (Ef 2.5; Tt 3.5-7), a nossa redenção (2Co 8.9; Ef 1.7), nossa justificação (Rm 3.24), de fato, toda a nossa salvação é pela graça de Deus (Ef 2.8).

A graça comum

Alguns teólogos reformados negam a graça comum de Deus, por entenderem que se Deus age graciosamente (graça providencial) Deus deva amar todas as pessoas indistintamente. Outros negam o termo graça comum pelo o fato da Bíblia não mostrar que Deus dê graciosamente a sua graça a tais ímpios não eleitos. Mas isso é brigar por definição de termo, sendo que, o fim é o mesmo. Nós não podemos negar que Deus dê benefícios para todos os povos, sendo que, há pessoas entre esses povos que não serão salvas, mas são beneficiadas pela graça de Deus. Como vimos acima, graça é uma dadiva de Deus a um pecador que não merece nada de Deus. Sendo assim, todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e mesmo assim, Deus concede dons e talentos a cada pecador, como esses textos nos mostram:
- E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado (Gn 4.20);
- E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão (Gn 4.21);
- E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema (Gn 4.22);

Em meio o endurecimento progressivo do pecado – poligamia e a vingança grosseira e injusta – Deus concede dons e talentos quanto a extensão do mandato cultura desde agricultura animal (Gn 4.20) às artes (Gn 4.21) e às ciências (Gn 4.22). Como Deus concede tais graças à uma descendência ímpia? Não sei, mas isso se chama graça comum. Da mesma forma como mostra o nosso Senhor Jesus que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45).

Sendo assim, não podemos confundir graça comum com a graça salvadora mostrada acima, como nos mostra Michael Horton:

A graça comum beneficia a humanidade caída em termos da presente época, mas não traz a era futura, ou seja, não faz acontecer o reino de Deus. Não salva os malfeitores do juízo vindouro, nem redime a arte, a cultura, o estado ou as famílias. Diferente da graça salvadora. A graça comum se restringe ao mundo atual até o dia do juízo e não impedirá a mão de Deus de agir com justiça naquele temível dia[1]

Quanto a nós cristãos não devemos menosprezar a graça comum, pois além de recebermos a graça salvadora nós temos a graça comum em nossas vidas antes mesmas se aceitarmos a fé. Mas a questão é que todos os nossos atos, frutos desta graça comum, não deve ser para o nosso prazer ultimo. Mas que os nossos atos devem ser feitos visando à glória de Deus, mostrando em nossos feitos uma vida redimida pelo Santo Espirito de Deus.

Certa feita um sapateiro perguntou a Lutero “de que forma poderia servir a Deus da melhor maneira”, Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”. A graça comum que recebemos antes de nossa conversão, agora, depois de converso, deve ser mostrada em dignidade e em conformidade com o Evangelho.

Se vestindo da graça

Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente. Tito 2.11,12

Vimos sobre a graça de Deus na salvação, como ela atua na salvação do pecador e vimos sobre a graça de Deus como providência geral de Deus na humanidade. Agora, tentarei mostrar a graça de Deus na vida dos eleitos. O texto acima nos mostra que a graça de Deus nos ensina a dizer “não” para a impiedade e as paixões mundanas e a viver no século presente uma vida piedosa. No entanto, quero focar em cinco características que são relacionados à graça: a gratidão, o contentamento, a humildade, a paciência e o perdão[2]

A) Gratidão

Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração. Salmo 100.4,5

A primeira característica que, entendo eu, que deve fluir por causa da graça de Deus é a gratidão a Ele. Tudo o que somos e tudo o que fazemos são frutos da graça de Deus em nós, por isso devamos ser gratos a Deus. Ser grato a Deus é reconhecer o Seu cuidado em nós, tanto a sua bondade quanto a sua fidelidade. Não ser grato a Deus reflete a nossa imoralidade, como o próprio Paulo disse: Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu (Rm 1.21). Glorificar a Deus e reconhecer a majestade e dignidade de sua pessoa. Dar graças a Deus e reconhecer a generosidade de suas mãos em suprir-nos e cuidar de nos. Se a nossa vida não é de gratidão a Deus, nós, possivelmente, estamos servindo a outro deus que não é o Deus Todo Poderoso.

B) Contentamento

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 1 Timóteo 6.6

O contentamento é uma forma de mostrar que o coração está centrado em Deus. Pois, quando o pecador redimido entende realmente que foi alcançado pela graça de Deus sem a qual não poderia nem viver neste mundo feito por Deus, tal pecador se contenta com aquilo que Deus lhe deu. Agora, quando estamos descontentes com algo isso expressa a nossa ingratidão com Deus, passando a viver pelas obras achando que merecemos mais do que recebemos. Um espirito pobre prestigia as riquezas do mundo estando descontente. Mas uma alma viva pela graça de Deus flui o contentamento, reconhecendo que não recebe o que realmente merece, mas diariamente recebe aquilo que não merecia.

C) Humildade

Porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado. Lucas 18.14

Humildade não significa que temos que negar o que há de bom em nós, mas sim, entender que o que há de bom em nós só existe porque isso é devido à graça de Deus. A humildade não é somente recomendada por Deus (Is 57.15; 66.1,2), como também, a humildade foi exibida plenamente em Seu Único Filho: “E, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente ate a morte, e morte de cruz” (Fp 2.7,8). Sendo assim, quando olhamos para a graça de Deus temos que ter em mente o que disse o apóstolo: Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? (1Co 4.7). Toda habilidade que temos e toda vantagem que temos vem do próprio Deus e foram nos dada para que servissem a Deus, e não nos gloriarmos naquilo que não merecíamos.

D) Paciência

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de… longanimidade. Colossenses 3.12

A paciência na bíblia é muitas vezes retratada como longanimidade (tardio em irar-se). Todas as vezes que não somos pacientes nós estamos mostrando que não merecíamos a longanimidade de Deus. Pois, Deus sendo eternamente justo, tinha todas as razões para que nos lançássemos no inferno. Portanto, para um crente que reconheceu a graça de Deus em sua vida ele buscará a todo momento essa paciência com seu próximo, pois a paciência é acompanhada da unidade, carinho e amor (Ef 4.1-3).

E) Perdão

… perdoando-vos uns aos outros. Colossenses 3.13

O perdão está acompanhado da paciência, porque se nós formos pacientes nós seremos perdoador. Porque, este pecador redimido entende que Deus foi longânimo e perdoador. Pois, éramos fortes candidatos ao inferno, mas Deus nos perdoou de toda iniquidade e continua nos perdoando. Logo, a oração do Pai Nosso retrata bem o perdão de Deus em nossas vidas quando diz: E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores (Mt 6.12). Se nós entendemos de fato a graça de Deus em nossas vidas, nós perdoaremos o nosso próximo que erra da mesma forma que nós.

Conclusão

A graça de Deus está em nossas vidas desde o momento em que Deus permitiu que mais um pecador nascesse nesta criação feita por Deus. A nossa concepção foi por causa da graça de Deus, todo o trabalho que o médico teve e conduzir o parto foi pela graça de Deus que nos atingiu. A nossa vida familiar, no trabalho e/ ou na igreja é por causa da graça de Deus. Se não fosse a graça de Deus não teria a mínima graça. A compreensão desta graça que Deus concede, nos ajuda a entender o tamanho deste Deus e como Ele é bom, pois Deus age em todas as coisas para a Sua própria glória até por meio de algumas coisas que não entendemos, Deus age graciosamente.

[1] HORTON, Michael. Bom demais para ser verdade: encontrando esperança num mundo de ilusão. Tradução: Elizabeth Gomes. São José dos Campos [SP]: Editora Fiel, 2013, p. 109.

[2] Essa divisão foi proposta pelo escritor Jerry Bridges em seu livro Graça que transforma. Tradução: Elizabeth Stowell Charles Gomes [SP]: Cultura Cristã, 2007, p.194

Fonte: NAPEC 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Uma carta pessoal do Rei Davi para você!


Por Josemar Bessa

Eu queria já ter escrito esta carta para você, mas estava esperando a oportunidade certa. Para começar, há muito tempo atrás escrevi estas linhas que talvez você lembre...

“Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos. Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste. Tira de sobre mim a tua praga; estou desfalecido pelo golpe da tua mão. Quando castigas o homem, com repreensões por causa da iniqüidade, fazes com que a sua beleza se consuma como a traça; assim todo homem é vaidade. Ouve, Senhor, a minha oração, e inclina os teus ouvidos ao meu clamor; não te cales perante as minhas lágrimas, porque sou um estrangeiro contigo e peregrino, como todos os meus pais. Poupa-me, até que tome alento, antes que me vá, e não seja mais”

Você pode reconhecer essas palavras do Salmo 39.7-13?

Não sei como você se lembra, mas eu me lembro delas como um profundo clamor angustiado da minha alma. Eu escrevi estas palavras quando a vara da disciplina de Deus estava sobre mim. Eu fui consumido pela dureza de Sua mão amorosa. Tudo, tudo que era caro e estimado para mim tinha sido consumido como uma mariposa que se aproximou demais das chamas de uma vela. Eu senti que não poderia suportar a repreensão de Deus por muito mais tempo.

Meu nome é Davi. Rei Davi. Sou filho de Jessé, e fui escolhido por Deus para ser ungido Rei sobre Israel. Talvez você me conheça como o “homem segundo o coração de Deus.”

Mas eu, para ser sincero, mesmo muitas vezes tenho dificuldade de me ver assim muitas vezes: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” - Salmos 51:3

Não me entenda mal – eu amo a Deus com todo o meu coração! Não há nada que eu deseje mais do que a Deus. Como já disse em outro lugar, a minha alma tem sede dele, a minha carne anseia por ele como um viajante sedento pelo deserto deseja por água.

Apesar disso, muitas vezes andai desgarrado como uma ovelha que perdeu seu caminho. Eu pequei gravemente contra meu Senhor. Muitos dos meus pecados você não conhece. E como poderia conhecer? Alguns pecados meus se esconderam até mesmo de mim, mas o grande sondador dos corações conhece todos eles.

Eu não conheço os teus pecados, mas alguns dos meus você conhece. Sei que você já ouvir falar de uma história triste... na verdade, vamos ser sinceros, uma história sórdida, sobre meu pecado com Bete-Seba. As vezes odeio falar sobre isso, me dói quando penso nisso, mas, enquanto eu viver, não poderei deixar de lembrar disso – na verdade, nem quero... sem que talvez muito tempo depois que eu morrer, outros ainda falarão sobre isso.

Eu explorei ela. Eu a humilhei. Eu a persuadi com minha posição. Então – não sendo suficiente – eu enganei o seu marido, e quando ele provou ser um homem melhor do que eu, eu dei um jeito de me descartar dele. Eu deixei ele morrer de maneira proposital, quando ele estava lutando com lealdade uma batalha que era minha.

Eu agi como um monstro moral... nas semanas e meses que se seguiram a esses fatos, tudo exteriormente parecia estar normal... a ideia de que se um plano dá certo é uma evidência de que Deus está aprovando nossa conduta é uma ideia diabólica... nunca confunda a paciência de Deus com sua aprovação... nunca!

Para não perder o fio da meada... deixe eu continuar. Eu me casei com Bete-Seba... uma cerimônia real... você já foi a um casamento de um rei? É grandioso! Ela estava esperando um bebê e o meu Reino estava indo de vento em popa. Prosperidade! Essa é a palavra para descrever meu reino naqueles dias. Eu me sentei em reuniões com meus ministros, eu discursei para o povo... eu me sentei sobre meu trono fazendo julgamentos, tentando se justo neles... me mantendo tão ocupado como um pode estar... fazendo o melhor para deixar todo o meu fracasso distante da minha mente.

Mas quando a noite chegava... eu tenho que ser sincero contigo... a mão de Deus pesava sobre mim... racionalizar é uma dura tarefa e leva a exaustão. Interiormente, eu senti como se todos os meus ossos estivessem definhando. A minha alma e a minha força se secou como um rio no deserto quando a chuva nunca vem (Eu conto isso mais ou menos no Salmo 32) – Se você se interessar depois dê uma lida.

Eu não faltava os ajuntamentos do povo de Deus... Eu ia ao templo... as pessoas não percebiam, mas eu não podia orar. Eu abria a Torá, mas na verdade eu não conseguia me concentrar para meditar nela de verdade.

Mas o pior de tudo, apesar de todas essas coisas que eu estou te contando, eu não podia me arrepender. Eu não podia porque lá no fundo eu não podia reconhecer de fato e sem desculpas tudo o que eu tinha feito.

É como se eu estivesse num estado vegetativo na minha própria miséria buscada.

Eu na verdade estava cego... mas que isso não soe como desculpa. Eu estava cego pela minha própria hipocrisia.

Eu tinha perdido o contado real e estava insensível para com a generosidade de Deus para comigo... que era imensa.

Eu era e eu agi de maneira irresponsável em face das consequências do pecado... tentava me enganar que não haveria consequências.

Foram dias e dias... uma das épocas mais negras da minha história. Mas apesar disso, eu não podia ver a escuridão que estava dentro de mim... racionalização é uma coisa poderosa. O inimigo estava ali, dentro da cidadela da minha alma, da minha mente.

Então, um dia, o profeta Natã veio até a mim. Talvez você o conheça de nome, apesar de não conhecê-lo pessoalmente. Ele me contou a história de dois homens em uma determinada cidade... eu, como rei, julgava muitos casos assim... Natã disse que um dos homens era muito rico, e outro um homem de poucas posses... só tinha o suficiente para sobreviver. Mas o homem rico tinha roubado o pobre da única coisa que ele tinha – uma pequena cordeira que cresceu junto com eles e seus filhos.

Ah! Quando ouvi isso... fiquei furioso! Só uma coisa tomava conta da minha mente – encontrar aquele homem e fazê-lo pagar, condená-lo a morte!

Você sabe, sou um guerreiro experiente em muitas batalhas... eu poderia alegremente ter matado aquele homem como minha própria espada – como ele pôde fazer isso e não ter compaixão?

Neste instante o olhar de Natã perfurou a minha alma. Ele me capturou com aquele olhar... você nem pode imaginar. Na verdade, eu sabia que tinha sido apanhado antes dele falar uma palavra sequer.

Até hoje me arrepio quando suas palavras atingiram a minha mente como um dardo poderoso: “Você é o cara, Davi!” – A primeira reação nestes momento é agir como é comum hoje e dizer: “Quem é você para me julgar?” – Mas na verdade, essa frase só mostra o tamanho da hipocrisia no coração do homem unida a um orgulho imenso... já que é totalmente irrelevante o que o outro é... em nada isso diminui quão grande é o nosso pecado diante de Deus.

Enfim, eu te digo hoje, eu estava despido de todas as minhas defesas. O grande monstro dentro de mim fora revelado. Meu coração que estava gelado como as neves na montanha, estava derretendo. E eu finalmente, depois de toda aquele tempo, me encontrei verdadeiramente com a Palavra do Senhor através de Natã. Natã não recuou, ele enfiou a espada de dois gumes até que ela penetrasse o meu interior. Você pode ler sobre as palavras dele em 2 Samuel:

“Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; E te dei a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teu seio, e também te dei a casa de Israel e de Judá, e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol” - 2 Samuel 12:7-12

Ele disse isso tudo na minha cara. Agora, o que eu poderia dizer? Apesar de todo o meu mundo estar desabando na minha cabeça... essas palavras vieram como um doce ( apesar de amargo ) alívio sobre minha mente... apesar da cena traumática... ser desmascarado era a única maneira de encontrar de novo a fonte de limpeza que eu precisava... foram tantos meses de escuridão... eu mal podia esperar, apesar da dor, para mergulhar nesta fonte e perder todas as minhas manchas olhando de frente a minha grande culpa sem racionalizações... sem culpar ninguém a não ser eu mesmo.

Sinceramente, como rei eu poderia mandar Natã se calar... até mandar prendê-lo... ou perguntar se ele era santo para me acusar...mas sinceramente, com o coração partido e sangrando, eu confessei: “Pequei contra o Senhor... não há desculpas e justificativas... foi perverso e pura maldade...” – As comportas da misericórdia se abriram sobre mim.

Eu lembro de Natã dizendo: “O Senhor também traspassou o teu pecado; não morrerás!”

Jamais vou conseguir superar o que senti naquele dia: “Meu Deus, que amor é este, que é dado tão livremente a homens indignos e miseráveis? Que por graça deixa um culpado sair livre!

Não foi só a libertação da culpa não... Deus criou em mim um puro coração. Ele restaurou em mim a alegria da salvação. Ele colocou uma nova canção em meu coração e lábios, um cântico de louvor ao nosso Deus.

Ele realmente não tratou comigo de acordo com a culpa dos meus pecados, nem me reembolsou de acordo com as minhas iniquidades. Ele não fez comigo o que eu disse que faria com aquele que roubou a cordeirinha do homem pobre. Tão alto como está o céu acima da terra, grande é a misericórdia do Senhor para os que o temem realmente. Eu diria que assim como o oriente está distante do ocidente, Ele afasta de nós nossas transgressões. O que eu posso dizer mais? Bendize ó minha alma ao Senhor! E tudo que há em mim bendiga o seu santo nome! O que pode ser mais doce do que ser perdoado? Como é doce saber que quando eu estou agora diante do Senhor, Ele não me vê mais através daquele pecado, Ele me recebe como um santo, como um homem segundo o seu coração. Como eu escrevi certa vez: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!” - Salmos 32:1-2

Mas há algo muito sério que eu preciso dizer a você antes de terminar esta carta. Ao fazê-lo, espero sinceramente poupá-lo de uma enorme dor em tua vida.

Desde o meu pecado com Bete-Seba, já se passaram muitos anos. Eu sei que fui totalmente perdoado e sei de todo coração que Deus não reteve os meus pecados para usá-los contra mim no dia do Juízo.

Mas ainda arde e dói. Anos se passaram, mas foram anos cheios de dor como consequência do meu pecado. Os efeitos foram devastadores sobre minha família e filhos. Eu ainda estou sofrendo sobre as consequências dos meus pecados.

Eu faria qualquer coisa se eu pudesse voltar até aquele instante em que a luxúria começou a subir em meu coração... teria sido muito mais fácil mortificar o pecado ali. E como Deus seria honrado se eu tivesse feito... e como Ele foi desonrado diante dos outros por minha causa. Se eu pudesse voltar naquele instante, negar as minhas paixões e deixar a Verdade reinar em meu coração... meus filhos estariam agora sentados ao meu lado em minha mesa na minha velhice...

Mas eu não posso. Eu deixei... eu deixei o câncer crescer e criar metástases... E Deus teve que fazer uma grande cirurgia em minha alma e minha vida desde então. Ficaram cicatrizes imensas.

Saiba isto, meu amigo – pecados perdoados ainda podem te encontrar em consequências não planejadas... Certifique-se disso. Pecados perdoados podem produzir dor duradoura. Eu já estou velho... logo partirei... mas ainda sinto as picadas ao olhar para meus filhos. Vejo que as consequências vão continuar mesmo depois de eu ter partido.

Fonte: Josemar Bessa