quarta-feira, 27 de maio de 2015

Cristo não se envergonha dos seus


Por Denis Monteiro

Texto base: Mateus 1.1-17

Quem de nós já parou para ler com afinco as genealogias que a Bíblia apresenta? O que há de tão importante em saber que alguém gerou tal pessoa e viveram tantos e tantos anos? Será que o autor bíblico colocou esses dados em alguns livros porque não havia outra coisa a ser colocada?

Hoje nós veremos, tomando de exemplo a genealogia de Cristo, o porquê existe genealogia e o que podemos aprender com ela.

Se você fosse escrever a história de alguém muito importante, será que você colocaria algumas informações que poderiam manchar o seu currículo? Acho que seria improvável que isso acontecesse, pois o autor de tal biografia quer que todos se admirem com a história a ser contada e veja a impecabilidade do personagem. Mas, Mateus não está preocupado com isso na genealogia de Cristo, pois há alguns personagens que não foram tão bons assim para que fossem colocados na genealogia de uma pessoa tão importante como Cristo.

Portanto, quando Mateus escreve a genealogia de Cristo, há alguns pontos importantes a serem observados que fazem com que este relato seja não apenas uma simples linhagem familiar.

Criação – De Abraão a Davi (1.1-6)

Nesta primeira parte o autor mostra Cristo sendo Filho de Davi e de Abraão, mas, também, mostra como foi o desenrolar na história em todos os personagens citados. Não foi por acaso que Mateus escreveu sobre Jesus ser Filho de Davi e de Abraão. Isso parece não ser muito comum em textos que lemos por aí, na verdade sempre vemos outros títulos de Jesus do que “Filho de Abraão”. Mas, por que Jesus teria sido chamado “Filho de Abraão”? Jesus também pode ser chamado à descendência de Abraão, aquele que abençoaria a todas as famílias da terra (Gn 12; Gl 3.16), e por intermédio de Cristo, pela fé, tanto judeus quanto os gentios são chamados de verdadeiros filhos de Abraão (Gl 3.29). A aliança com o povo Judeu iniciou-se com Abraão, da mesma forma em Cristo é estabelecida a Nova Aliança. Ou seja, Mateus não quer só mostrar que Cristo é o verdadeiro filho de Abraão, mas que Cristo é maior do que Abraão (Jo 8.58).

Mas, além de ser chamado “Filho de Abraão”, Cristo é chamado de “Filho de Davi”. Esse título que Mateus se refere a Cristo faz parte da promessa de Deus a Davi que estabeleceria para sempre o seu trono (2 Sm 7.12-16; Is 9.6,7). Essa ênfase sobre as ligações davídicas de Jesus diz respeito à afirmação do Evangelho de que Jesus, na verdade, é o Rei de Israel. O verdadeiro Rei de todo o mundo, o herdeiro do trono de Davi.

Segundo alguns comentaristas o fato de Jesus ser chamado “Filho de Abraão” e “Filho de Davi” faz referência as características do Messias, aquele que viria libertar o povo da opressão do inimigo, tinha que ser um verdadeiro judeu da linhagem de Davi, um rei. E, na verdade, Cristo é de fato o Messias prometido, a raiz de Davi, a descendência de Abraão. Ele não veio nos libertar de um poder político, mas do poder das trevas. E essa libertação pode ser vista não somente no povo de Israel, mas em alguns povos gentílicos, assim como mostra a genealogia. Portanto, por que mencionar estas mulheres, Tamar, que se fez de prostituta; Raabe, uma prostituta; Rute, uma moabita; Bate Seba, uma adúltera? Uma das características do Reino de Deus, estabelecido por Cristo, que Mateus vai fazer questão de mostrar é que Ele “se assenta com pecadores para comer” (Mt 9.10), ou seja, o Reino de Cristo é para todas as nações (Ap 5.9).

Queda – De Davi à Babilônia (1.7-11)

Após o reinado de Davi, Salomão, seu filho, assumiu o trono, este reinado começou a crescer, mas a vida de Salomão foi manchada por alguns pecados. No entanto, seu filho, que foi um desobediente, fez com que o reino fosse divido, começando assim o processo de queda do trono. A partir daí, reis bons e maus assentaram ao trono, por exemplo: o perverso Roboão que foi pai do perverso Abias, este, foi pai do bom Rei Asa, pai do bom Josafá, o qual gerou o perverso Jorão, pai do Rei Uzias, o qual começa bem o seu reinado, mas por causa do seu orgulho ele desobedece a Deus e é atacado de lepra, acaba morando sozinho e é expulso da Casa do Senhor (2Cr 26).

Diante de tudo isso, mediante altos e baixos, vemos a graça de Deus operando na vida de cada um. Ou seja, o plano de Deus não pode ser frustrado e a graça de Deus não vai junto com o DNA, passando de pai para filho, mas Deus preserva e faz com que seu plano seja cumprido. Mas não é só isso, diante do declínio desta nação vemos que Deus age graciosamente e salvificamente com alguns, como por exemplo, o caso de Manassés que fez tudo quanto era mau aos olhos do Senhor, chegando ao ponto de queimar seu próprio filho ao deus estranho (1Rs 21.6), mas Deus faz com que este rei sofresse em mãos inimigas fazendo-o, por meio deste sofrimento, buscar ao Senhor e se arrepender de seus pecados, tentando reformar tudo aquilo que ele estragou com suas práticas pecaminosas (2Cr 33.11,12;14-16).

Não obstante, após um reinado ruim de Amom aos olhos do Senhor (2Cr 33.21-25; cf. 2Rs 21.19-26), de um reinado desastroso, o qual por suas práticas conseguiu influenciar o povo em seu favor, fazendo com que o povo ferisse aqueles que se levantaram contra o rei (2Rs 21.24), Deus levanta Josias, um rei que assume o trono aos oito anos de idade (2Cr 34.1,2) e faz reformas em Judá que se deram em três estágios:

1º – no oitavo ano começou a buscar o Senhor, Deus de Davi, seu pai (2 Cr 34.3);

2º – no décimo segundo ano começou a destruir os postes ídolos, imagens de deuses (2 Rs 23.4-20; 2Cr 34.3-7);

3º – no seu décimo oitavo ano ordenou que o Templo fosse reparado (2 Cr 34.8) e durante a reforma no Templo o Livro da Lei é achado por Hilquias e Josias entende, ao ler o Livro da Lei, que Deus amaldiçoara Judá por causa da idolatria.

Diante disso, vemos a graça de Deus atuando do começo ao fim, além de Deus preservar a genealogia do nosso Senhor, também fez com que pecadores fossem regenerados e servissem a Ele com suas forças, além de aplicar Sua lei em todos os aspectos da vida diária do povo.

Redenção – da Babilônia a Jesus (1.12-16)

Diante do declínio desta nação, mesmo com alguns momentos bons, esta é levada cativa como condenação aos pecados da nação. Portanto, nenhum rei da linhagem de Davi havia subido ao trono, mas mesmo assim a linhagem estava sendo preservada.

Mesmo sem um rei da descendência de Davi, e com a linhagem sendo preservada, Deus levantou homens para que a segunda reforma e a reconstrução do Templo fossem feitas por intermédio de Zorobabel.

Diante disso, vemos mais uma vez a graça de Deus nas pessoas, fazendo com que elas fossem fiéis a Ele em meio a uma época de apostasia e esquecimento da Lei do Senhor.

Conclusão (1.17)

Olhando para cada parte desta genealogia, vemos que Deus cuida dos mínimos detalhes para cumprir o que Ele mesmo dissera. Mas não é só isso, em todos os aspectos da genealogia, Mateus quer mostrar que Jesus é o Filho prometido de Davi. Aquele que abençoa todas as famílias da terra, o qual não faz acepção de pessoas, que é o Rei Soberano, que salva e condena o pecador, o único digno de se assentar eternamente no trono de Davi, trono este que é d’Ele por direito, desde a eternidade.

Alegremo-nos em Deus, observando o seu cuidado sobre todos e em tudo, até nos mínimos detalhes e pecados que tais personagens praticaram. Às vezes, não conseguimos entender como Deus controla atos pecaminosos que resultam em Seu louvor, mas sabemos que Deus está controlando e permitindo todas as coisas e nos fazendo lembrar, que o Único que se deve ser buscado mediante acontecimentos bons ou ruins, é o Senhor Deus, o Todo Poderoso.

Por isso que Cristo não se envergonha de nos chamar de irmãos, pois Ele é o Senhor da história e perdoa todos àqueles que se achegam a Ele com um coração arrependido e lavado por Seu sangue.

Fonte: NAPEC

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pedro e Smeagol!


Por Josemar Bessa

No Senhor dos Anéis de R. R. Tolkein, um dos personagens, Smeagol ou Gollun, tem uma maneira própria de chamar o anel – “Meu Precioso!”. Depois de uma jornada enorme ele morre junto com a destruição do anel na Montanha da Perdição.

O que é precioso para você de tal maneira que as pessoas possam ver sua paixão dessa maneira?

Precioso, preciosidade... Pedro usa essas palavras muitas vezes, ele gosta dessas palavras. Em suas breves cartas ele a usa sete vezes: 1 Pe 1.7, 19; 2.4,6,7; 2Pe 1.1,4.

O primeiro uso que ele faz é completamente surpreendente. Mal acreditamos que alguém pudesse fazer usa dessa palavra nessa situação, para um teste, para uma prova, para o sofrimento. Mas Pedro faz, logo ele, que em um famoso momento de teste no passado tinha falhado completamente.

Ele fala sobre essa preciosidade com olhos brilhando: “Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” 1 Pedro 1:6-7. Há duas palavras que ele usa em conjunto, ambas significando “julgamento” – traduzida aqui por “tentações” e “prova”. No verso 6 – peirazo. O ataque de coisas más, como o diabo é chamado de peirazon. Ele tenta para o mal. Mas a próxima palavra é dokimion – que é teste, prova, com o objetivo de se aprofundar o que é bom, a edificação do caráter: “...a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo”

É evidente a verdade espiritual profunda que o apóstolo se refere. Por exemplo, em nossos relacionamentos. A dor e a tristeza que atinge a vida faz com que ele seja duplamente preciosa. Por exemplo, na história de Jacó, em Gênesis, quando ele estava próximo a Belém, Raquel, sua esposa amada, lutou para dar a luz a seu segundo filho, e ali ela morreu. Jacó chamou o menino de Benjamim – “filho da minha tristeza” – Nós podemos ver como Jacó tenta de todas as formas proteger Benjamim não querendo enviá-lo ao Egito na companhia de seus irmãos. Mas tendo ido, os irmãos fazem um apelo dramático a José, sem saber que ele era irmão deles ( e o único irmão de Benjamim por pai e mãe). Por que o apelo dramático em nome do seu velho pai, Jacó? Benjamim era precioso pois nasceu em meio as agonias de Raquel, que morreu ao dar a luz a ele. Isso é verdade nos relacionamentos humanos – o custo e a tristeza fazem daquilo algo mais caro e precioso para nós. Assim era Benjamim para Jacó.

Isso também é verdade em nossas relações espirituais. Jó era um homem que amava e vivia para a glória de Deus, mas ele perdeu tudo. Em Jó 29.11-25 ele fala sobre essa vida: “Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça. Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo...”

Deus tinha dito que não havia ninguém como Jó na terra. Mas depois da dor de perder sua família, casa, bem, saúde, filhos... ele se sentou num monte de cinzas e chorou sua miséria por todas as aflições que vieram sobre ele. Agora você pode ouvir Jó no último capítulo: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Jó 42:5-6

É outro homem, não é? O sofrimento foi precioso em sua vida pois o pôs de joelhos como ele nunca tinha estado antes. Isso também é verdade em nossos relacionamentos celestiais.

Há razões mais profundas para a preciosidade do céu, mas por hora olhemos apenas esta – Uma das coisas que fazem o céu precioso para nós: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”Apocalipse 21:4

Qual seria o peso disso se nós não tivéssemos várias vezes estado ao lado de uma sepultura aberta? Que impacto haveria sobre nós ouvir: “...e não haverá mais morte”? Os anjos não podem entender como nós podemos entender isso. O que significaria para você se nunca tivesse sofrido as palavras: “não haverá nem pranto, nem clamor, nem dor...”

Pedro diz que isso é precioso. As provas de nossas vidas, as tristezas que nos afligem a fazem curvar nossos joelhos. Deus tem uma recompensa para nós que é mais maravilhoso que todo ouro que é purificado no forno tantas vezes.

Depois ele fala sobre algo muito mais precioso, o sangue de Cristo: Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... Mas com o precioso sangue de Cristo...” 1 Pedro 1:18-19.

Fonte: Josemar Bessa

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Mix sincrético ao gosto do freguês


Por Jonas Ayres

Fiquei profundamente incomodado ao assistir o vídeo do programa O Infiltrado sobre magia e o sincretismo religioso brasileiro. Ficou patente o enorme abismo que existe entre a Religião Oficial (ideal) e a Religiosidade Popular (real) praticada em solo brasileiro (clique aqui e assista).

O programa nos apresentou a “saga espiritual” do repórter Fred Melo Paiva, em uma busca frenética para dar solução a um suposto e particular problema financeiro. Desde Mãe Rita, mãe de santo famosa no Rio de Janeiro, passando por terreiros de candomblé, Igreja Católica fundada por negros escravos, Igreja Católica Central de São Jorge e até rituais europeus de magia Wicca, sempre acompanhado do Wilson (um boneco do exu-caveira), nos mostrou a dura e triste realidade em que se encontra a grande maioria dos brasileiros em sua forma de espiritualidade.

Espiritualidade esta que ficou testificada na vida do sacristão da Igreja Católica dos Negros, onde o mesmo não só praticava a magia como incentiva o repórter a assim proceder, dizendo ser absolutamente coadunáveis em sua cosmovisão, a prática do Catolicismo e também do Candomblé ao mesmo tempo.

Esta cosmovisão do sacristão é a que vivem a grande maioria do nosso povo, não somente Católico, mas também evangélico nos dias atuais. Uma fé pautada na superstição e crendice popular, misturada ao catolicismo e religiões africanas e afro-brasileiras, como também animismo indígena, e isso tudo misturado e batido no grande liquidificador da religião brasileira, formam um coquetel religioso gostoso para muitos, mas intragável para aqueles que têm compromisso com as Escrituras Sagradas, a Bíblia.

Nos deixa de cabelos em pé a dura realidade de que a maioria da sociedade brasileira que se denomina cristã beba também a grandes goles deste coquetel religioso e mágico semanalmente.

Aproveitando-se desta religiosidade popular brasileira, vemos igrejas intituladas de evangélicas no nome, mas mágicas na prática, servindo em seus cardápios também, deste coquetel magico. Penso que este seja o “sucesso” destas ditas igrejas neopentecostais, tais como Igreja Universal do Reino de Deus – fundador Edir Macedo, Igreja Internacional da Graça de Deus – fundador R.R. Soares (parente de Macedo), Igreja Mundial do Poder de Deus – fundador Valdemiro Santiago (discípulo de Macedo), e mais recentemente Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus – fundador Agenor Duque (Também discípulo de Edir Macedo, segundo ele próprio).

Todos estes, e outros mais, aproveitando-se desta realidade religiosa que vive nosso país, estão construindo verdadeiros impérios religiosos, cada um oferecendo um suposto coquetel mágico mais completo e poderoso que o outro, que só faz aumentar, acentuar, e viciar de forma inebriante o povo deste país.

Estes líderes se apresentam como especialistas em batalhas espirituais agindo como magos modernos possuidores de unções que controlam “deuses e demônios” para dar a tão sonhada vitória sobre o sofrimento de qualquer espécie e monta a seus seguidores.

Vejo que os pastores sérios desta nação tem um trabalho hercúleo pela frente, onde somente com o auxilio do verdadeiro e soberano Deus e de Seu Espírito Santo poderão, se não reverter, pelo menos, combater e minimizar os efeitos da religiosidade popular brasileira, e isto em longo prazo.

Penso que providencias devam ser tomadas com urgência, tais como:

Primeiro: A criação de mecanismos que protejam a liderança da igreja de se tornarem em imperadores que fazem da igreja do Senhor seus impérios pessoais, e evitando também uma Dinastia Eclesial, como foi o caso de Gideão que ao invés de gritar “pelo SENHOR Deus” tão somente, acrescenta em seu grito de guerra, por GIDEÃO também, revelando neste gesto o desejo de seu coração, ou seja, ser o cara que manda. Em minha humilde opinião o pastor não deve decidir sozinho sobre tudo na igreja local, parece que o sistema de Atos 15:23 “…pareceu bem a NÓS…” (compartilhamento de liderança – concílio de liderança) seja mais profícuo e democrático. O que definitivamente não ocorre nos arraiais neopentecostais e afins.

Segundo: Somente permitir integrar a liderança da igreja, em especial pastores e bispos, pessoas escolhidas com base em seu caráter cristão e não em seu carisma (dons). Porque está mais do que comprovado que o dinheiro muda a todos. Todos.

Terceiro: Enfatizar o ensino de uma cosmovisão equilibrada e bíblica sobre batalha espiritual, fazendo a igreja sair do conceito moderno, iluminista, dualista, onde lidamos com Deus e o diabo em pé de igualdade em poder. A igreja precisa saber definitivamente que só existe um Criador e o resto são seres criados, inclusive satanás e seus anjos caídos. Sendo assim, devemos aplicar melhor o conceito de Soberania divina, que Deus não apenas esta no controle, como Ele nunca o perdeu. Como bem nos disse Lutero, até mesmo o diabo, é o diabo de Deus!

Quarto: Como pastores, precisamos ensinar que nossa maior arma é a dependência absoluta aos desígnios deste Deus que é soberano, e que assim como Jesus Cristo viveu nesta dependência, nós também deveríamos viver. Do contrário, nunca descansaremos desta “roda viva” religiosa, vivendo como um hamster, correndo sempre atrás da promessa de algum queijo gostoso pendurado tão perto, porém jamais alcançável. Assim podemos romper definitivamente com este sistema religioso mágico, libertando este povo sofrido desta condição miserável de superstição religiosa. Porque se tem alguém vendendo coquetel mágico é porque tem gente querendo comprar, e quanto maior o sofrimento de um povo, maior o consumo deste tipo de bebida.

Encerro pedindo que Deus nos ajude nesta difícil, mas possível tarefa de desconstrução da religiosidade popular brasileira, para uma reconstrução de uma cosmovisão bíblica centrada no Evangelho e na busca não apenas da salvação da alma no por vir, mas em restaurar o “Shalom de Deus” para a humanidade, seu projeto original.

Que Ele nos conceda graça para isso.

Fonte: NAPEC

sexta-feira, 1 de maio de 2015

TEOLOGIA, SEM TESTEMUNHO DO ESPÍRITO, É MORTA!


Por Fabio Campos

Texto base: “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”. – Romanos 8.16 (NVI)

John Wesley tinha o grande desejo de levar Cristo aos índios da Geórgia. E isto de fato aconteceu. Certo dia, ao compartilhar da refeição com um deles, conta-se, que ao ver o índio orar agradecendo pelo o alimento, na sinceridade das palavras em gratidão ao Criador, Wesley perguntou ao índio se ele conhecia a Deus. O índio respondeu que sim, dizendo que Deus era seu amigo. Wesley indagou como poderia ocorrer tal cousa se ele não tinha instrução alguma. O índio, então, por sua vez, disse que o testemunho de Deus estava no seu coração (Rm 8.16).

Após ter passado junto dos morávios o perigo de um naufrágio, na iminência da morte - com medo de morrer e os morávios não, escutando daqueles irmãos que “morrer era lucro” – Wesley percebeu que ainda não era convertido de fato, pois não tinha o testemunho do Espírito dentro de si, ainda que já tivesse a teologia na sua mente. Por isto disse: “Fui à América para converter outros, mas nunca fora realmente convertido a Deus” [1]. Após o ocorrido, Wesley, então, buscou a Deus em oração, e pela primeira vez sentiu-se amado por Deus, fato este que lhe dera o poder de fazer o que fez, trazendo um grande avivamento ao seu povo.

Paulo em sua oração a favor dos efésios pediu a Deus que aqueles irmãos fossem “fortalecidos com poder pelo Espírito no homem interior” (Ef 3.16). O puritano Matthew Henry, comentando este verso, disse que “a força do Espírito de Deus no homem interior é a melhor e mais desejável força” [2].

Não adianta somente conhecer a vontade de Deus. É necessário praticá-la. Quando lemos as Escrituras, conhecemos a vontade de Deus; mas quando oramos, do alto somos revestido de poder para cumpri-la. Aqui está a questão do excesso de intelectualidade, no entanto sem piedade. Muitos têm teologia, mas não possuem o testemunho do Espírito no homem interior. Não conseguem se desvencilhar do pecado que os assedia porque lhes falta o poder do Espírito que livra o cristão da “corrupção deste mundo” (1 Pe 1.3).

Na sequencia de sua oração em favor dos efésios, Paulo expressa outro desejo: “que Cristo habite, pela fé, no coração dos irmãos” (Ef 3.17). O sentido deste texto é para “Cristo sentir-se em casa”. Pois é, Cristo está na mente de alguns, no entanto, distante dos seus corações. Se nossa teologia não vier acompanhada do testemunho do Espírito, certamente, será morta. Por isto que muita gente se esfria nos seminários teológicos. Não é por causa da teologia, mas pela postura ímpia dos alunos e professores. O reverendo Hernandes Dias Lopes diz que,“um ministro mundano representa um perigo maior para a igreja do que falsos profetas e falsas filosofias” [3].

O conceito de fé tem sido deturpado nos dias de hoje. Para muitos, ter fé, é simplesmente acreditar que a coisas darão certo. Mas a Escritura vai além. Quando Cristo habita em nosso coração, pela fé, o Seu Espírito nos dá força para vencermos o mundo, a carne e o diabo.

É pela fé que vemos e compreendemos as coisas da forma como realmente são. João Calvino disse que, “ainda que mesmo a alma dos ímpios seja forçada a elevar-se até o Criador pela visão da terra e do céu, a fé tem o seu modo peculiar de atribuir a Deus o pleno louvor da criação” [4]. A fé que opera pelo amor faz Deus trabalhar em nós de acordo com o seu “querer e efetuar”.

Muitos querem anunciar a ira e a justiça de Deus, no entanto possuem apenas luz na mente e nenhum fogo no coração. Querem pregar sobre “Pecadores na mão de um Deus irado” sem um terço da piedade de Edwards. Aí já viu!... Como disse Lutero: “Sermão sem unção endurece o coração”. Por isto que falam... , falam... , falam... , mais brigam do que dialogam. Não produzem frutos, pois lhe falta o “poder no homem interior”.

Só vamos conseguir vencer o pecado e testemunhar com eficácia a respeito do Evangelho se de fato estivermos“cheio da força do Espírito” (Mq 3.8). Acerca disso, Matthew Henry comenta: “[O profeta] tinha um amor ardente por Deus e pelas almas dos homens, uma consideração profunda pela glória divina e pela salvação deles, além de um zelo veemente contra o pecado. (...). Em todas as suas pregações havia luz, bem como calor, espírito de sabedoria e zelo” [5].

Jesus ensinou muitas coisas aos seus discípulos, no entanto, antes de subir aos céus, sabendo que o Evangelho já estava na mente deles, exortou-os a não pregar até que “do alto fossem revestidos de poder” (At 1. 1-8). Quanta gente pregando boa teologia, mas sem poder do Espírito. É aquilo que o Reverendo Hernandes Dias Lopes sempre diz: “ortodoxia morta!”.

João Calvino disse que “o testemunho do Espírito é superior a toda razão” [6]. O ser humano ainda que racional, é guiado pela emoção através das suas paixões. Luta para fazer o bem, contudo, sem ao menos perceber, o mal que não gostaria de fazer, este, já está praticando-o. Somente com o poder do Espírito conseguiremos andar conforme nossa razão e convicção da qual é oriunda de uma mente regida pela Palavra de Deus.

Nosso conhecimento precisa estar acompanhado de graça. A mensagem de muitos, infelizmente, apenas informa, mas não alimenta. Apontam o pecador, mas não indicam o Salvador. Sabem as Escrituras, mas não possuem poder para viver em conformidade com ela. Estão inchados pelo saber, mas totalmente desprovidos do amor que edifica (1 Co 8.1-3).

Quero terminar este artigo consultando novamente as palavras do eloquente teólogo e reformador, João Calvino:“É porque o Senhor nos quis tornar eruditos não em questões frívolas, mas na piedade sólida, no temor de seu nome, em uma confiança verdadeira, nos ofícios de santidade, aquiesçamos àquela ciência. (...). Ora, o propósito de um teólogo não é deleitar os ouvidos, mas, ao ensinar o que é verdadeiro, certo e útil, confirmar as consciências” [7]

Que Deus confirme por Seu Santo Espírito nossa teologia para que não sejamos homens apenas de “palavras persuasivas, mortas, que não trazem nenhum proveito, mas ministros cheios do poder e virtude do Altíssimo, assim como foi o Apóstolo Paulo:

“E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder”. – 1 Coríntios 2.4 (AFC).

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!
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Notas: 

[1] BOYER, Orlando. Heróis da fé. Rio de Janeiro, RJ; CPAD, 2009, p. 53.
[2] Bíblia de Estudo. Matthew Henry. Central gospel, p. 1929.
[3] DIAS LOPES, Hernandes. Piedade e Paixão. São Paulo, SP; Candeia, 2002, p. 20.
[4] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p. 184.
[5] Bíblia de Estudo. Matthew Henry. Central gospel, p. 1349.
[6] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p. 74.
[7] Ibid, p. 154

Fonte: Fabio Campos