domingo, 28 de junho de 2015

Nuvens escuras na vida cristã


Por João Rodrigo Weronka

A caminhada cristã não é fácil. É interessante que na medida em que os anos passam, vamos descobrindo que nem todas as coisas na vida são tão simples e divertidas como pensávamos quando éramos crianças. Na jornada cristã este movimento não é muito diferente. Nem tudo é doce e brilhante como aparenta e nem só de dias ensolarados se faz a vida. Mas nas adversidades (e diante das nuvens) podemos enxergar a graça de Deus e seu zelo, aprender muito com aquilo que se opõem e descobrir o que realmente tem – ou deveria ser reconhecido como tendo – valor para nossas vidas.

O livro de Atos dos Apóstolos apresenta diversos episódios cuja fé dos cristãos em geral e dos apóstolos em específico eram moldadas pelas adversidades. Neste estudo vamos nos ater ao relato de At 16.12-40. Paulo e Silas estavam em Missão conforme textos anteriores (junto com Lucas e Timóteo) e alguns fatos anteriores mostram conversões acontecendo, através da pregação do Evangelho e pela obra do Santo Espírito (At 16.13-15). Deus estava com seus servos assim como permanece com os Seus nos dias de hoje. Talvez para muitos a sequencia de fatos que foram se desenrolando podem soar como injustas para quem estava tão somente fazendo a obra de Deus. Vejamos.

A falsa religião como fonte de lucro

Passando pela maravilhosa experiência de compartilhar o Evangelho e ver corações – como o de Lídia, v.14 – se prostrando ao Senhor, encontramos mais uma vez a forma impressionante como a religiosidade pode engordar os bolsos de líderes nefastos. Tal prática não nasceu ontem, ela está enraizada na humanidade como um culto paralelo cujo fim é a riqueza e o bem-estar momentâneo. Enquanto Paulo e Silas avançavam na pregação do Evangelho e na comunhão com os novos crentes, uma jovem possessa “que tinha um espírito adivinhador” os seguia gritando uma suposta glorificação ao nome de Deus (v.17), porém tal glória era falsa e tal jovem servia tão somente como fonte de lucro aos seus senhores. A jovem estava possessa por um espírito mau e era explorada por seus senhores.

Outras passagens nos mostram – ainda em Atos – a luta da Igreja contra estas investidas. Veja por exemplo Pedro contra Simão em At 8.14 e Paulo com Bar-Jesus em At 13.4. No caso de Simão, seu ato pecaminoso passou a nomear a prática de aferir lucro no comércio das coisas sagradas: “Simonia”. Pela narrativa da história da igreja encontra-se na obra “Apologia” de Justino Mártir – datada de 150 a.D. que posteriormente Simão passou a ser seguido por muitos e se autodenominava como “Manifestação do Deus Supremo”.

Segundo os versículos de At 16.16-19 diante de uma perturbação diária gerada pela jovem possessa, pois poderia com sua “glorificação” levar as pessoas a desacreditar o Evangelho, associando-o ao ocultismo [1], Paulo se aborreceu e ordenou que o espírito saísse da jovem, ao que pela ordem e sujeito ao nome de Jesus tal espírito foi expulso. Deus foi verdadeiramente glorificado, enquanto a fonte de lucro de homens perversos secou. Não houve júbilo a estes homens, mas tal decepção que denunciaram Paulo e Silas às autoridades, e em praça pública foram acusados e espancados sem chances de defesa.

Muitos de nós se indignariam diante de Deus com perguntas do tipo “Por que? Qual o motivo, oh Deus!”. Paulo e Silas estavam fazendo a obra de Deus e ainda assim foram injustamente condenados.

A Verdade não trouxe alegria aos ímpios. Muito tem a ensinar o texto de At 16.20-24. Por mais que a jovem estivesse livre, o que realmente interessava era o lucro perdido. Além disso, aprendemos que todo aquele que defende a fé cristã e está comprometido com o Evangelho deve estar atento, em alerta constante em relação às amizades falsas e interesseiras, pois para muitos a glorificação da jovem poderia inflar o ego do pregador quando na verdade visava desviar o culto. E ainda: estar preparado para ferrenha oposição e “revolta dos magistrados” que declaram guerra contra Paulo e Silas.

Paulo cura a menina; no entanto, o bem, em vez de trazer-lhe glória e gratidão, trouxe-lhe açoitamento e prisão. Há um dito popular que diz: ‘Não há mal que não traga algum bem’. Talvez também devêssemos dizer o oposto: ‘Não há bem que não traga algum mal’. Talvez isso seja um tanto exagerado, mas, com frequência, é verdade. Vivemos em um mundo caído que, por essa razão, é dominado pelas estruturas do pecado. Por isso, quando nos opomos ao pecado, estamos nos opondo aos interesses de alguém. Paulo cura a menina; mas ao fazer isso, ele prejudica os interesses econômicos dos donos dela, que, portanto, acusam-no e conseguem que seja açoitado e preso. [2]

Um costume maligno foi destronado e a fé dos servos de Deus estava posta a prova.


Um exemplo de como se portar diante da adversidade e o milagre da salvação

Não vamos nos ater a pensar no que a maioria faria diante de tudo que estava sobrevindo naquele momento de humilhação. Vamos focar nosso olhar para o exemplo de Paulo e Silas. Trancafiados injustamente, acoitados, pés presos ao tronco, entoavam louvor a Deus orando e cantando hinos. Deus respondeu rompendo as cadeias e colocando o injustiçado em liberdade.

Interessante que a resposta de Deus não era um fim em si própria, mas um meio de fazer um obra ainda maior e trazer glória ao nome dEle!

A liberdade que Deus proporcionou aos Seus servos foi o bálsamo em relação ao injusto castigo que lhes foi afligido sem a menor possibilidade de defesa.

Diante de tantos feitos maravilhosos e miraculosos, o maior dos milagres chega à casa do carcereiro. Aquele que estava outrora separado e apartado pode se achegar à graça salvadora de Jesus: “Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” pergunta este homem no verso 30. Perceba que somente àquele cujo Espírito de Deus colocou a consciência de perda e condenação pode clamar para ser salvo. Somente o perdido pode clamar pela salvação.

Naquela mesma noite não somente o carcereiro como todos os seus foram alcançados. Era Deus – ao Seu tempo – produzindo o bem das circunstâncias que apenas registravam o mal e a injustiça.

Não há nada de mágico neste contexto e neste versículo em específico (“Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” Atos 16:31) uma vez que a salvação de um indivíduo não depende da crença de outrem. Foi pela ação de Deus e pelo poder de Sua palavra que o Evangelho pregado alcançou morada e a contemplação da misericórdia divina.

Concluindo

Depois de toda a luta enfrentada, mesmo fazendo aquilo que estava certo e que era para Deus e Seu Reino, ainda que diante da injustiça dos homens, Paulo e Silas não esmoreceram na fé. Pelo contrário, houve ainda tempo de retornarem aos irmãos recém-convertidos e os encorajarem. Deus deu a estes homens a oportunidade de ver o fruto de seu trabalho:

Esta é nossa luta constante. Ainda que sob o céu nublado das adversidades é possível ver a graça de Deus presente, e ainda que tudo possa parecer desfavorável, o Senhor pode fazer daquilo que é mal, o bem. Confiança é algo que se constrói na certeza de estarmos com Deus em nosso dia-a-dia, e mesmo que tudo pareça difícil, sempre haverá oportunidade para consolar e encorajar o próximo, ainda que muitas adversidades nos possam parecer injustas.

Vamos prosseguir, sempre olhando para o Alvo!

NOTAS

[1] STOTT, John R.W. A Mensagem de Atos. ABU Editora. São Paulo: 1994. p. 298

[2] GONZÁLEZ, Justo. Atos. Hagnos. São Paulo: 2011. p.232

Fonte: NAPEC

terça-feira, 23 de junho de 2015

VOCÊ TEM UM ÍDOLO!


Por Fabio Campos

Texto base: "Venha, faça para nós deuses que nos conduzam...”. – Êxodo 32.1b (NVI)

Segundo o dicionário popular de teologia da Editora Mundo Cristão, ídolo é qualquer coisa que não seja Deus e à qual se presta adoração devida apenas ao Todo-Poderoso [1]. Certa vez, o Reformador João Calvino, disse que o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Calvino ainda diz que, “uma imensa turba de deuses nasce da mente dos homens, quando cada um, com vaga licenciosidade, inventa indevidamente isso ou aquilo a respeito de Deus” [2]. É mais ou menos o que disse o filósofo e matemático Francês, Blaise Pascal: “Deus criou o homem a sua imagem e semelhança; o homem foi lá e retribuiu a ‘gentileza’”. 

Contrário do que muitos pensam, ídolo não é somente (ainda que repugnante) uma imagem ou estátua feita pelas mãos dos homens. Por exemplo: o seu vício é um ídolo que, quando consumido, pela prática, transforma-se numa adoração. O ser humano, de modo geral, possui um ídolo. O homem devido a sua natureza pecaminosa é um idólatra por natureza. Nem os ateus se safam disto! Eles não possuem uma religião (ainda que eu considere o ateísmo uma religião), mas têm o seu objeto de adoração e devoção. Sejam as bandas de rock – seja alguma ideologia ou partido. Mas eles encostam a algo para tentar suprir o vazio do coração que emana da busca do significado da vida.

Por que os homens edificam ídolos para si mesmos? A semente do transcendente foi colocada por Deus no coração de todos os homens. O ser humano, nunca, ainda que se esforce, sentirá segurança em si mesmo; ele sempre busca algo fora de si para se apoiar e sentir-se protegido. Não há como escapar do anseio pelo Criador! Vem de fábrica, pois “o sentimento da divindade foi naturalmente impresso no coração dos homens” [3]. O homem é a criatura mais medrosa e amedrontada dentre as criaturas, por isso que, pela guerra, faz-se da “vitória” e da “reputação”, um ídolo.

Deus, no entanto, não divide a Sua Glória com ninguém (Is 42.8). Relativizando a verdade, pelo pluralismo [4],na dureza do seu coração, o homem não se submeteu ao Criador. A questão é que, quem não se submete ao Criador, mesmo inconsciente, submete-se a criatura. Ao invés, então, de adorar ao Criador, adora-se a criatura. Todo mundo está adorando alguém. Pode ser Jesus, Buda, Kardec, Karl Marx, Darwin, o Papa ou o pastor da igreja; mas alguém, ainda que não citado aqui, está controlando o seu coração. Desta lista, Jesus é Criador (Jo 1.1-3); todo o resto é criatura.

Quando se rejeita o Criador e adora-se a criatura, pelo desprezo do conhecimento de Deus, o próprio Deus os entrega a uma disposição mental reprovável, para praticar coisas terríveis (Rm 1.28). Desta disposição mental é que surgem a gama de deuses. Estes veem por meio das religiões, ideologias, filosofias e falsas-teologias. Tudo para suprir este anseio pelo o divino. Quando eles servem estes deuses, sua consciência culpada, se auto-sabota, atenuando a culpa latente que convence, pela lei moral, intrínseca em todo ser humano, a respeito do “certo e errado”.

Como disse Calvino, a vaidade, unida a soberba, mostra-se nisto: os homens miseráveis, na busca de Deus, não elevam acima de si, como seria esperado, mas querem medi-lo segundo a dimensão de seu entorpecimento carnal. Negligenciando a verdadeira procura, passam por alto, por curiosidade, a vãs especulações [5].

Este tipo de assunto causa muito desconforto, principalmente porque nosso país é um país místico. Aqui se acredita em tudo: Saci-Pererê, Mula sem cabeça, político honesto (ok, há exceções, ainda que bem poucas)!... Mas é necessário que a verdade seja dita, pois é somente por meio dela que há libertação (Jo 8.32). O propósito de um teólogo não é deleitar ou ouvidos, mas, ao ensinar o que é verdadeiro, certo e útil, confirmar as consciências [6].

Há uma serie de restrições na Bíblia concernente aos ídolos e a idolatria: “não fazer imagem escultura” (Ex 20.4); “não se inclinar diante dos ídolos ou estátuas para assim adorá-los ou venerá-los” (Lv 26.1); “não atribuir os milagres e bênçãos doados por Deus aos ídolos” (Is 42.8). Jesus mesmo disse que não há como servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro (Mt 6.24).

Quem põe sua confiança em imagens de prata e ouro, obras das mãos dos homens, tornam-se iguais a elas; ou seja, têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam (Sl 115). Quantas pessoas por aí, devotas de tantas coisas, fervorosas, entretanto, mortas espiritualmente estão semelhantes aquilo que adoram!?

A Bíblia é clara ao ordenar para “guardarmo-nos dos ídolos” (1 Jo 5.21). Não somente as imagens, mas há uma série de outras coisas que pode se tornar nosso ídolo: um artista; o padre; um time de futebol; o pastor ou um teólogo. Sexo, cobiça, dinheiro - também entram na lista dos ídolos (Cl 3.5). Sua vontade, quando não de acordo com a vontade de Deus, é um ídolo.

Deus pode mudar sua sorte e fazer da sua vida uma bênção para o louvor da Sua Glória. Apenas se submeta a Ele, ou seja, ao Criador. Particularmente, identifiquei que há sim ídolos em minha vida que precisam ser destruídos. Examine-se a si mesmo e peça a Deus para libertá-lo desta “desgraça” chamada idolatria. O Senhor demanda que caminhemos com Ele na paz e com alegria. Ele é quem tira, quando “decidimos por isto”, todo empecilho que embaraça nossa caminha rumo à pátria celestial. Aos idólatras obstinados que não querem abandonar suas práticas, a Bíblia diz que ficarão de fora do Reino (Ap 22.15).

Quero fazer deste artigo uma proposta, a mesma de Josué qual fez diante do povo; o mesmo povo que pediu a Arão que fizesse “deuses que os conduzissem” (Ex 32.1, conforme nosso texto base). Se for preciso você romper com a “tradição religiosa” da sua família, faça!, pois quem ama mais os familiares do que a Jesus, não é digno dEle (Mt 10.37). Eis aí a proposta:

“Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, EU E A MINHA FAMÍLIA SERVIREMOS AO SENHOR". – Josué 24.15 (NVI)

Minha “escolha” é servir a Deus, e você, quem irá servir?

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!
______________________________
Notas: 

[1] ERICKSON, Millard J. Dicionário Popular de Teologia. São Paulo, SP; Mundo Cristão, 2011.
[2] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p.62.
[3] Ibid, p. 50.
[4] Situação caracterizada pela existência de diversas opções religiosas e perspectivas sobre religião, com o problema decorrente para os adeptos de um ponto de vista sobre que atitude adotar em relação aos dos demais [Dicionário de Apologética e filosofia da religião; EVANS, C. Stephen; Editora Vida].
[5] CALVINO, João. A instituição da Religião Cristã. São Paulo, SP; Unesp, 2008, p. 74.[6] Ibid, p. 154

Fonte: Fabio Campos

O valor do homem ou o tamanho de seu crime?


Por Jonathan Edwards

A ideia de que o homem é valioso e de que Cristo é o preço justo por ele é uma visão distorcida e blasfema do valor infinito de Cristo. A morte de Cristo mostra o quão infinito é o crime do homem, não o seu valor - que crime mereceria tão elevada pena?

Olhe para a visão bíblica do que Cristo fez, o valor infinito do Filho de Deus, sua majestade e condescendência tão bem descritos por Jonathan Edwards: 

"Em Cristo se encontra infinita majestade e infinita condescendência. Cristo, sendo Deus, é infinitamente grande e exaltado acima de tudo. Ele é maior que os reis e poderosos da terra, pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele é mais alto que os céus e maior do que todos os anjos do céu juntos.

Tão grande Ele é, que todos os homens, todos os reis e príncipes, são vermes do pó diante dEle... todas as nações são como a uma gota em um balde, mera poeira insignificante, sim, e os próprios anjos são nada diante dele.

Ele é tão grande que está infinitamente acima de qualquer necessidade de nós, nossa existência... acima de nosso alcance, que poderíamos dar a Ele? Ele está acima de nossas concepções, não podemos de fato compreendê-lo –“Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?” - Provérbios 30:4

Se esticássemos ao máximo o entendimento de todas as mentes humanas juntas, não poderíamos chegar as margens de Sua glória divina – “Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? E mais profunda do que o inferno, que poderás tu saber?” - Jó 11:8 – Cristo é o Criador e grande Possuidor dos céus e da terra.

Ele é o Senhor Soberano de todos. Ele governa sobre todo o universo, e faz tudo o que lhe agrada. Seu conhecimento é sem limites. Sua sabedoria é perfeita e ninguém pode aconselhá-lo. Seu poder é infinito e ninguém pode lhe resistir. Suas riquezas são imensas e inesgotáveis, ninguém pode lhe acrescentar. Sua majestade é infinitamente terrível.

E ainda assim Ele é de infinita condescendência. Ninguém é tão baixo ou inferior que a condescendência de Cristo não seja suficiente para chegar a ele gentilmente.

Ele é condescendente não só para com os anjos, pois é um humilhar-se para Ele mesmo apenas a contemplação do que os anjos fazem no céu, mas Ele também condescende a essas pobres criaturas como os homens, e não só para tomar conhecimento dos príncipes, reis e poderosos da terra, mas com alegria daqueles que são de pior classificação e grau segundo os homens, “os pobre do mundo” – Tiago 2.5.

Tais que são desprezados por seus semelhantes, mas jamais por Cristo. Todos nós, os escolhidos para sermos redimidos, exemplificam sua condescendência, e esta é a razão de nossa eleição: “E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante ele.” - 1 Coríntios 1:28-29 – Cristo condescendeu em tomar conhecimento de mendigos – “E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.” - Lucas 16:22 – E pessoas das nações mais desprezadas. Em Cristo Jesus não há nem “bárbaro, cita, escravo nem livre...” Colossenses 3:11

Aquele que é infinitamente exaltado, condescende em falar graciosamente sobre crianças – “Deixai vir a mim” – Mateus 14.14 – Sim, o que é infinitamente exaltado além de toda comparação e compreensão é capaz de se inclinar aos mais indignas criaturas pecadoras, aqueles que só merecem o inferno, que não apenas não merecem nada, mas merecem infinito mal.

Sim, assim é grande a Sua condescendência, que não apenas é suficiente para mandar um aviso gracioso, mas suficiente para cada ato de condescendência infinita que resgata soberanamente a custos imensos. Sua condescendência é ainda grande o suficiente para tornar-se amigo de quem merece a destruição, tornar-se companheiro, unir a suas almas como um esposo numa união espiritual eterna.

É suficiente para tomar a sua natureza sobre Ele, para se tornar um deles, para que Ele possa ser um com eles. Sim, Ele é grande o suficiente para se humilhar de maneira espantosa, se expor a vergonha, ao cuspe, sim, render-se a Si mesmo, se entregar a uma morte ignominiosa por eles – o povo que o Pai lhe deu na eternidade.

Algum ato de condescendência poderia ser concebido que fosse maior que esse? No entanto, tal ato de condescendência ocorreu para os vis, indignos... pensar que essas criaturas tem algum mérito ou merecimento é uma ofensa infinita ao Seu coração condescendente. Ele resgatou o desprezível e indigno.
Essa conjunção de infinita majestade e infinita condescendência na mesma pessoa, é admirável elem de toda a imaginação – precisamos de mais alguma coisa para viver em adoração arrebatadora? Nós vemos na vida, por instâncias múltiplas, que a tendência de todos os homens e contrária a isso – se tem alguma posição, logo tem uma disposição contrária a tudo que Ele é.

Se um verme for um pouco exaltado acima de outro verme, por ter mais poeira, por ter um monte de estrume maior... quanto ele faz de si mesmo orgulhoso. Que distância há entre um verme e outro – nenhuma! Algo desprezível. Mas a condescendência logo se esvai. Ele espera ser muito reconhecido.

Cristo condescende em lavar os pés de vis criaturas... mas como são os grandes homens? Ou melhor, os vermes maiores? Contam como aviltação atos muito menores de condescendência."

–Jonathan Edwards, “The Excellency of Christ,” The Works of Jonathan Edwards - Ed. Edward Hickman

Fonte: Josemar Bessa

terça-feira, 9 de junho de 2015

DISCÓRDIAS NA IGREJA



Por Pr. Silas Figueira

“Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor. A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida” Fl 4.2,3

Um dos grandes problemas que encontramos na igreja é o de relacionamento. Muitos crentes vivem em pé de guerra uns com os outros, e, muitas vezes, por questões das mais absurdas. O Rev. Augustus Nicodemos diz que muitos dessas discórdias ocorrem porque há muitas pessoas não convertidas em nosso meio, mas ele não nega que entre cristãos verdadeiros tal coisa não ocorra. Mas há uma pequena diferença, os verdadeiros cristãos se arrependem, pedem perdão e procuram não errar novamente. Diferentemente dos não crentes que estão dentro de nossas igrejas que espalham fofoca, criam contendas, vivem na prática do adultério, são gananciosos; tais pessoas precisam nascer de novo. 

No texto de Fl 4.2,3 encontramos o apóstolo Paulo falando a respeito de uma discórdia que estava ocorrendo entre duas irmãs em Cristo, e a situação se agravou a tal ponto do apóstolo pedir a intervenção da liderança para que tal coisa acabasse. A Evódia (doce fragrância), e a Síntique (boa sorte), estavam vivendo de forma repreensível. 

Essas duas irmãs ocupavam um papel de liderança dentro da igreja, elas haviam trabalhado em prol do evangelho juntamente com Paulo e outros líderes; tinham seus nomes escritos no Livro da Vida, e não se sabe o porquê, dessas duas irmãs estarem agora vivendo em desarmonia. 

É bem sabido que as mulheres macedônias eram conhecidas por sua forte personalidade. Segundo os historiadores elas atuavam em pé de igualdade com os homens. Eram muito competentes e desempenhavam papel importante nos negócios, e obtinham de seus maridos concessões para construírem templos, fundarem cidades, comandavam exércitos, muitas eram regentes ou magistradas. 

Por causa disso, tudo indica que esse problema entre essas irmãs era algo comum dentro da comunidade de Filipos, tanto que nesta mesma carta o apóstolo escreve: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas” (Fl 2.14). Mas, independentemente da personalidade forte dos macedônios, o apóstolo Paulo pede que essas mulheres tenham o mesmo sentimento no Senhor.

Podemos aprender três coisas aqui:

Em primeiro lugar, entre cristãos verdadeiros pode haver contendas. Observe que o apóstolo Paulo diz que essas duas irmãs em Cristo eram atuantes, e que muito fizeram em prol do evangelho, e que seus nomes constavam no Livro da Vida. 

Elas não eram duas estranhas entre si, e muito menos duas incrédulas, muito pelo contrário, eram duas crentes em Jesus e que exerciam um papel de liderança muito grande dentro dessa comunidade. Isso nos mostra que dentro da igreja como em qualquer outro lugar pode haver desacordos e até brigas. 

A questão é como iremos lidar com as discórdias. Se elas começarem a ser frequentes devemos parar para ver o que está acontecendo na igreja. Se não tivermos cuidado para tratar isso iremos ter uma igreja não como um lugar de harmonia e paz, mas um campo de guerra. Como disse Paulo em Gálatas 5.15: “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos”. E como dizem alguns: “aí que mora o perigo!” 

Em segundo lugar, a causa de muitas contendas é a falta de um mesmo sentimento. Essas duas mulheres estavam em desarmonia porque havia uma discordância de pensamento. Não sabemos o que levou a essa discordância, mas a coisa estava ficando fora de controle. 

Pelo que podemos entender de Paulo, como ele disse para que elas pensassem concordemente, é sinal de que a discórdia não era por uma razão relevante. Provavelmente não era uma questão teológica, se não ele, provavelmente, teria exposto a sua opinião de quem estava certa. 

Se pararmos para analisar friamente, as muitas discórdias que ocorrem em nossas igrejas são por motivos fúteis. Mas por falta de maturidade espiritual, e por que não dizer, por influência satânica, muitas pessoas dentro de nossas igrejas brigam e acabam perdendo boas amizades. 

No início da minha caminhada cristã, eu fui trabalhar em uma casa de recuperação em Teófilo Otoni, MG. Um belo dia, dois internos estava picando tomates quando um deles disse para o outro que a forma correta de picar era do jeito dele, o outro discordou e em poucos minutos um estava tentado esfaquear o outro. Motivo fútil; e é isso que tem causado muitas discórdias em nossas igrejas. 

Em terceiro lugar, devemos exercer na igreja o ministério de reconciliação. Como diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, devemos ser construtores de pontes e não de cercas. Veja o que Paulo diz: “peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo...”. Juntas e não separadas. Juntas eram muito fortes na realização da obra do Senhor. Juntas eram capazes de realizar a obra em prol do Evangelho. Mas agora estavam separadas por uma discórdia. Uma das marcas de uma igreja é a unidade e não a separação. É regida pelo trabalho em conjunto, por isso que um dos símbolos da igreja é o corpo vivendo em harmonia (1Co 12.12-26). 

Paulo pede ajuda para que aquilo não se tornasse um câncer, um mal maior. São nas pequenas discussões que muitas inimizades começam. Como disse Tiago em sua carta: “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3.16). E esse desacordo entre essas duas irmãos estava causando uma ameaça à unidade da igreja. E isso não é diferente hoje. Tiago nos diz que uma fagulha põe em brasas tão grande selva (Tg 3.5b).

Um dos maiores ministérios da igreja é o da reconciliação (2Co 5.18-21). É impossível estar em paz com Deus em desavença com os irmãos. Como disse o próprio Senhor Jesus em Mt 5.9: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. Precisamos entender que quem ganha com as discórdias dentro da igreja é o diabo e não Deus. Por isso devemos ser instrumentos de Deus para lutar pela paz entre os irmãos e não colocarmos uns contra os outros. 

Gostaria de encerrar reafirmando que a causa de muitas contendas em nossas igrejas são por motivos fúteis e, por falta de vigilância, muitas pessoas têm perdido bons amigos e se tornando amargas em seus relacionamentos. Por isso vigie, não seja um partidário das contendas, mas lute por ser um pacificador. E o que o Senhor Jesus disse a respeito de Sua Igreja seja realidade em nossas vidas: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Pense nisso e que Deus o abençoe!

sábado, 6 de junho de 2015

Algumas dificuldades no trato do pecado


Por Robson Fernandes Tavares

Existem grandes dificuldades para tratarmos corretamente o pecado e o pecador. Essas dificuldades podem ser geradas por diversas razões. Vejamos algumas delas:

1) FALTA DE PREPARO BÍBLICO-TEOLÓGICO. Pela falta de embasamento bíblico adequado para tratar da questão corretamente, a disciplina pode ser aplicada sem as presenças do amor, da doutrina e da esperança de restauração. Daí, a disciplina passa a ser destrutiva e não restaurativa. Porém, a finalidade da disciplina não é destruir ninguém, mas trazê-lo de volta à consciência para que haja arrependimento e para este seja restaurado e reintegrado ao Corpo de Cristo. A finalidade da disciplina não é jogar a pessoa fora, mas jogar o pecado para fora da pessoa;

2) CUMPLICIDADE. Quando há a cumplicidade com o pecador em questão e não há a disposição de sofrer as consequências junto com aquele que foi disciplinado, prefere-se a omissão ou o disfarce (o uso de uma máscara para o público), dando a falsa impressão que ninguém sabia de nada ou de que não era conivente com tal pecado. Daí, o pecado e o pecador são tratados de forma errada e de forma incompleta, porque o culpado é “executado” mas os cúmplices não. Na verdade, em boa parte dos casos são os próprios cúmplices que condenam o principal culpado;

3) DESCARTE. Muitas vezes, quando o pecado é descoberto, a disciplina é aplicada por desejo de vingança, autojustificação ou oportunidade. VINGANÇA, porque haviam mágoas escondidas em um coração que não foi tratado e que sempre buscou o momento certo para dar o troco pelas disciplinas anteriormente recebidas. AUTOJUSTIFICAÇÃO, porque ao mesmo tempo em que havia a ciência dos atos cometidos também havia a conivência com tais atos. Então, buscar disciplinar o autor do pecado pode ser um meio do sujeito tentar apaziguar a própria consciência, na busca de tentar “se limpar” de alguma forma. OPORTUNIDADE, porque em uma luta por poder e pelo desejo de ascender a posição desejada, e que agora está vazia, aquele que executa a disciplina pode estar fazendo isso simplesmente pelo desejo de ocupar o lugar daquele que foi disciplinado;

4) FALTA DE AMOR. Como já foi dito, a finalidade da disciplina não é destruir ninguém, mas tentar, através de uma atitude extrema, trazer à consciência aquele que cometeu o pecado. Portanto, a disciplina nunca deve ser aplicada sem o amor. O disciplinado não pode ser tratado como alguém descartável. Isso é um erro comum cometido por várias igrejas quando, por exemplo, estas descobrem pecados na vida de seus pastores. Quando isso acontece, a igreja quase nunca demonstra o mesmo amor, graça e cuidado que o pastor demonstrou quando seus membros foram descobertos em pecado. Aqui observamos um fator triste sobre isso: quando a igreja disciplina um membro, os próprios membros se unem para dar apoio àquele que foi “castigado”, mas nos casos dos pastores, parece que são os próprios membros que se encarregam de não demonstrar o mesmo cuidado que receberam no passado com aquele que um dia os apascentou;

5) DESEQUILÍBRIO EMOCIONAL. O choque causado pela descoberta de um pecado pode ser alarmante e pode produzir um profundo desequilíbrio e instabilidade. Esse é o momento crítico em que muitas pessoas podem ficar vulneráveis. Portanto, a disciplina bíblica deve ser aplicada sim, mas acompanhada de muita oração e domínio próprio. Decisões sérias e que tenham implicações profundas não devem ser tomadas por pessoas que tenham instabilidade emocional ou moral, porque agirão movidos por desejos desequilibrados e por isso os resultados serão destrutivos;

6) OMISSÃO. Alguns outros casos que dificultam o trato do pecado é o surgimento de outro pecado igualmente nocivo: a omissão. A omissão nada mais é que uma mistura de covardia, egoísmo, narcisismo e hedonismo. COVARDIA, porque esta é a falta de coragem, medo, timidez, fraqueza de ânimo ou um caráter traiçoeiro. EGOÍSMO, porque isto é o amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios, é o exclusivismo que faz o indivíduo referir tudo a si próprio (egocentrismo) e que, por isso, os princípios éticos e morais que envolvem a comunidade não são levados em conta já que ferem seus interesses ou convicções particulares. NARCISISMO, porque o amor ao próprio ego impede que decisões sérias e importantes sejam tomadas pelo bem da comunidade e para a restauração do próprio disciplinado, exatamente porque o narcisista está preocupado com a sua aparência e qualquer surgimento público de um pecado é uma séria ameaça a aparência que este deseja manter. HEDONISMO, porque esta é a busca pelo prazer individual e imediato como se isto fosse o único bem possível e a razão de seu bem estar e objetivo final. Portanto, aquele que não busca se envolver na solução do problema para a purificação da Igreja é omisso, e a omissão reside nos pecados da covardia, egoísmo, narcisismo e hedonismo. Lembrando, entretanto, que a “solução do problema para a purificação da Igreja” não é jogar o pecador fora, mas jogar fora o pecado. Se pensarmos que a solução for jogar o pecador para fora da Igreja devemos entender que não sobrará ninguém, nem mesmo nós (1Jo 1:10).

Por fim, uma das marcas de uma igreja saudável é a Disciplina Bíblica. Se houve o pecado deve haver sim a disciplina, mas essa disciplina não pode ser aplicada de outra forma que não seja aquela estabelecida pela própria Sagrada Escritura e aquele(s) que executa(m) a disciplina deve(m) estar apto(s) para isso. Então, até nos casos extremos de exclusão, que é a disciplina máxima que uma igreja pode aplicar, isso deve ser feito debaixo de muita oração e com a expectativa do Senhor tratar do coração do disciplinado para que lhe seja gerado o arrependimento e para que este seja restaurado e reintegrado na Igreja de Cristo. A finalidade da disciplina, como a própria definição da palavra determina, deve ser a busca pela organização da vida ou o estabelecimento da ordem para que as coisas funcionem corretamente, tanto na vida pessoal como na vida da comunidade. A disciplina deve produzir ensino, instrução e educação.

Se a disciplina não tiver o objetivo de produzir estas coisas (ensino, instrução e educação) estará sendo exercida de forma errada e não bíblica e se isso estiver ocorrendo, aqueles que executam a disciplina também estarão sujeitos a serem disciplinados. Por isso, quem estiver em pé cuide para que não caia (1 Co 10:12) e deve-se, primeiro, tirar a trave do próprio olho, para só depois buscar tirar o cisco no olho do irmão (Mt 7:5).

UMA PALAVRA FINAL

Devemos entender que o pecado é algo espiritual que tem consequências emocionais e físicas, inclusive (Gn 3:9,1017). Como o pecado é algo de origem espiritual, deve ser tratado dessa forma. Então, em se tratando de questões espirituais, devemos compreender que é o Espírito Santo quem molda o coração do homem. Sabendo de tudo isso, a Igreja deve utilizar a disciplina quando necessário sim, mas compreendendo sempre que é o Senhor Deus quem molda o coração daquele que foi disciplinado. Não adianta querer utilizar a disciplina para tentar “forçar a barra” para que haja arrependimento. O arrependimento é obra do Espírito Santo. Então, da mesma forma que o Senhor usa a disciplina para tratar do coração do disciplinado e lhe gerar arrependimento, o Senhor também utiliza toda essa situação para tratar do coração da Igreja, lhe ensinado a orar, esperar no Senhor, amar o pecador, exercer Graça e ansiar por reconciliação e restauração.

Fonte: NAPEC