sábado, 27 de fevereiro de 2016

UMA GLORIOSA VISÃO E OS SOFRIMENTOS DA VIDA CRISTÃ


Por Pr. Silas Figueira
Texto Base 2Co 12.1-10
INTRODUÇÃO
Esta segunda carta de Paulo aos Coríntios tem como finalidade, em primeiro lugar, defender o seu apostolado (2Co 11.16-33), pois haviam se infiltrado na igreja de Corinto algumas pessoas que estavam tentando minar a sua autoridade como apóstolo.
Para combater os esforços daqueles que procuravam desmoralizar o seu ministério, Paulo apresenta as suas credenciais. Credencial é "aquilo que atribui crédito" e isso não faltava ao apóstolo.
As credenciais esperadas pelos coríntios eram apenas boa aparência e eloquência – que não é diferente dos dias atuais. Tais fatores não são negativos em si mesmos. São até desejáveis. Porém, podem constituir meios facilitadores do engano. Portanto, a beleza e a boa comunicação não serve como parâmetro para se julgar um servo de Deus. Jesus disse: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis..." (Mt 7.15,16). Alguns queriam também que Paulo mostrasse cartas de apresentação (2Co 3.1), talvez emitidas pelos apóstolos de Jerusalém, isso sendo o apóstolo Paulo o fundador desta igreja (At 18.1-8).
Paulo não tinha tais cartas, nem beleza, nem eloquência. Então, quais seriam suas credenciais?
As credenciais do servo de Deus são, primeiramente, espirituais e ele as tinha. É o selo do Espírito Santo, a vocação e aprovação divina, os dons para o ministério (At 9.15-17). Contudo, isso só serve como testemunho no mundo espiritual. Diante dos homens, precisamos apresentar credenciais visíveis, e o apóstolo Paulo as apresentou também aos Coríntios (2Co 12.12). Em outras palavras, os falsos apóstolos não tinham de que acusar o apóstolo Paulo, pois ele tinha todas as credenciais necessárias dadas por Deus.
Para concluir sua defesa, o apóstolo Paulo descreve uma experiência pessoal e real que lhe ocorrera há quatorze anos (2Co 12.2). Esse fato ocorreu por volta do ano 43 d.C., antes da sua primeira viagem missionária. Ele conta essa experiência porque os falsos apóstolos diziam que ele não tinha experiências tão arrebatadoras quanto eles, nem credenciais suficientes para o apostolado. Esse texto é uma resposta do apóstolo a essas levianas acusações.
Paulo se sente um tolo em ter que se utilizar desse fato para defender o seu apostolado (2Co 12.11). Algo completamente diferente dos “apóstolos” atuais que fazem das suas “experiências espirituais” o carro chefe de seus ministérios.
Warren W. Wiersbe diz que “os rabinos judeus costumavam referir-se a si mesmos na terceira pessoa do singular, e Paulo adota essa mesma abordagem ao expor esse acontecimento aos seus amigos e inimigos de Corinto”.
Enquanto esses falsos apóstolos faziam de tudo para receber a honra dos homens, o apóstolo Paulo recebia a honra do Senhor, pois somente essa honra lhe era importante, apesar dessa honra vir acompanhada de muitas tribulações.
Que lições nós podemos tirar dessa experiência de Paulo e as consequências ocorridas após ela? É sobre isso que eu quero pensar com você.
A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE AS VISÕES DE PAULO SEMPRE TIVERAM UM PROPÓSITO.
Num mundo “gospel” em que vivemos onde as pessoas têm tantas visões e revelações, devemos entender que tais experiências se não vem acompanhada de um propósito, creio que seja sem sentido – só gostaria de esclarecer que eu não duvido de revelações e visões nos dias de hoje; mas não para trazer novas revelações que contradiga a Bíblia (Dt 13).
Paulo foi arrebatado ao terceiro céu. Essa expressão significa o céu mais elevado, onde está a presença de Deus. Este céu é o que a Bíblia chama de Paraíso (Lc 23.43; Ap 2.7; 12.4). O primeiro céu é o das nuvens, o segundo o das estrelas e o terceiro céu à morada de Deus.  
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “os crentes de Corinto tinham constrangido Paulo a usar um método que ele mesmo desaprovava: o método de gloriar-se, de contar vantagens (2Co 12.1,11)”. A humildade de Paulo é um grande exemplo para todos nós e, principalmente, para aquelas pessoas que vivem de visões e testemunhos dessas tais visões.
1º - O Senhor nunca deu visões ao apóstolo Paulo sem um motivo específico. Paulo teve várias visões ao longo do seu ministério.
1ª – No caminho de Damasco, no dia da sua conversão, ele viu o Senhor glorificado e o comissionando para o ministério apostólico (At 9.3; 22.13-20).
2ª – Teve a visão de Ananias ministrando-lhe a cura da cegueira (At 9.11,12).
3ª – Quando Deus o chamou para pregar aos gentios (At 22.17-21).
4ª – O seu chamado para ir à Macedônia (At 16.9).
5ª – Em meio às dificuldades em Corinto, Deus também encorajou Paulo com uma visão (At 18.9,10).
6ª – Depois de ser preso em Jerusalém, o apóstolo voltou a ser encorajado por uma visão, pois ele iria testemunhar do Evangelho em Roma (At 23.11).
7ª – No naufrágio indo para a Itália o Senhor envia-lhe um anjo para encorajá-lo e garantir que todos iriam sobreviver (At 27.23,24).
8ª – Além dessas visões específicas relacionadas a seu chamado e ministério, o apóstolo também recebeu do Senhor certas verdades divinas (Ef 3.1-6). Até a ceia foi revelação do Senhor a ele (1Co 11.23-25).
9ª – E esta visão de que ele foi levado ao terceiro céu logo no início de sua conversão foi para encorajá-lo diante das muitas lutas e perseguições que iria enfrentar (2Co 12.7-10).
2º - Devemos entender a procedência das visões (2Co 12.1). Paulo sabia que havia recebido do Senhor cada revelação, mas o que vemos hoje são pessoas que dizem ter visto isso e aquilo, mas que se quer sabe a procedência. Não sabem se é fruto da imaginação ou se procede de Deus ou do diabo – ou algum mal súbito. 
Uma vez uma mulher me procurou muito preocupada, pois havia sonhado com sete cachorros; e me perguntou o que significava o sonho. Se eu jogasse no “Bicho” eu lhe diria a revelação, mas como não jogo não soube lhe responder.
Por favor, entenda uma coisa: Deus nos fala através de sonhos e visões, disso eu não duvido por experiência própria. Mas Deus não nos fala a torto que é direito e sempre vem acompanhada de um propósito. Veja o exemplo de Paulo; de Pedro (At 10); de João na ilha de Patmos (Ap).
3º - Não devemos nos gloriar em visões, mas na vida cotidiana com Cristo (2Co 12.5,6). Uma honra como essa teria enchido a maioria das pessoas de orgulho. Em vez disso o apóstolo Paulo se calou por quatorze anos e quando conta o ocorrido só fala para defender o seu apostolado, fora disso, os coríntios nunca ficariam sabendo desse episódio. Mas Paulo não se orgulhou, pois sua grande preocupação era que ninguém roubasse de Deus a glória que lhe era devida a fim de dá-la ao apóstolo.
Ah! Quanta diferença nós temos visto hoje. Temos visto hoje gente contanto cada revelação, cada visão que até Deus duvida, e que tem levado muita gente ao delírio. E há muitas pessoas idolatrando essa gente como se elas fossem melhores que as outras. São livros e mais livros nas livrarias evangélicas narrando tais coisas. É a divina revelação disso é a divina revelação daquilo, isso sem contar os vídeos na internet.  
Falo sem medo de errar: muitas dessas visões ou são pura fantasia ou a pessoa sofre de esquizofrenia.
Observe os versículos 5 e 6: “De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas. Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve”. 
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “os falsos apóstolos estavam cheios de orgulho por causa de suas experiências, mas Paulo, de forma radicalmente diferente, não aplaude a si mesmo [...] Ele gloria-se nas suas fraquezas, e não em suas experiências arrebatadoras. Paulo não está construindo monumentos ao seu próprio nome. Não está recrutando fãs para si mesmo”.
Eram as fraquezas de Paulo que mostravam a presença do Senhor em sua vida e não os êxtases arrebatadores. Meu irmão é nisso que constitui a vida cristã, saber que o Senhor está conosco todos os dias e não em visões e sonhos. É no momento de grande angústia que o Senhor nos assiste e nos consola (2Tm 4.16-18). Visões passam, mas a presença do Senhor conosco não.
SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE NO SOFRIMENTO DE PAULO DEUS O TORNA HUMILDE (2Co 12.7,8).
Warren W. Wiersbe diz que “Deus sabe como equilibrar nossa vida. Se tivermos apenas bênçãos, poderemos nos tornar orgulhos; assim, permite que também tenhamos fardos. A experiência maravilhosa de Paulo no céu poderia ter arruinado seu ministério na Terra; em sua bondade, Deus permitiu que Satanás esbofeteasse Paulo, a fim de evitar que se tornasse orgulhoso”.
Para atingir essa maturidade de Paulo em relação ao sofrimento leva algum tempo, não acontece da noite para o dia; não se alcança esse patamar espiritual sem buscar a Deus em oração e com perseverança.  
O sofrimento foi para seu crescimento espiritual e não para o seu inchaço. Paulo dá seu testemunho sem nenhum constrangimento. Ele não se importa em mostrar o que realmente  aconteceu com ele.
1º - Para não torna-lo orgulhoso, soberbo O sofrimento nos coloca em nosso devido lugar. Ele quebra nossa altivez e esvazia toda nossa pretensão de glória pessoal. Foi isso que o Senhor fez com Paulo. Como diz o Rev. Hernandes Dias Lopes: “É o próprio Deus quem nos matricula na escola do sofrimento”.
2º - A origem do sofrimento – A origem desse mal que ocorreu com Paulo foi o próprio Deus, assim como Ele permitiu que ocorresse com Jó. Isso não ocorreu para destruí-lo, mas para fortalecê-lo. Para que a glória do Senhor prevalecesse e não a humana. Para que ele fosse qualificado para o ministério que lhe estava proposto.
3º - O espinho na carne – muitas são as especulações, mas ninguém chegou a um denominador comum. A palavra skolops, espinho, só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Trata-se de qualquer objeto pontiagudo. Pode significar ferrão, farpa ou espinho e até ponta de anzol.
Esse espinho poderia ser de ordem física ou espiritual. Mas a maioria dos intérpretes concorda que esse termo skolops deve ser interpretado literalmente; isto é, Paulo suportava dor física. Talvez as severas surras que havia levado e apedrejamento tenham deixado severas consequências em seu corpo. Por ter contraído alguma doença e tenha ficado com sequelas, mas uma coisa é certa: aquilo procedia de Satanás pela vontade permissiva de Deus.
4º - Mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo – Esbofetear no grego é colaphizo, que significa “bater com o punho”, “espancar”. Isso nos dá a ideia de que esse sofrimento era muito doloroso. Por exemplo: Calvino tinha cálculo renal; Spurgeon sofria de depressão; Timóteo tinha problemas estomacais. O sofrimento faz parte da vida e enquanto nós estivermos neste corpo sofreremos sempre. Sejam problemas físicos, mentais ou espirituais.
5º - A oração não atendida – Assim como o Pai não atendeu a Jesus no Getsêmani, o apostolo Paulo teve a sua oração não respondida também. No entanto o Senhor lhe deu forças para suportar esse espinho em sua carne. Aqui que está a diferença.
Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “o sofrimento nos mantém de joelhos diante de Deus para nos pôr de pé diante dos homens”.
Algumas pessoas pensam que um cristão aflito envergonha o nome do Senhor. De acordo com essas pessoas, se você obedece a Deus e se apropria de tudo que tem direito em Cristo, nunca ficará doente. Esse era o pensamento de Kenneth Hagin e de muitos pregadores de hoje, mas isso é um ledo engano.
Warren W. Wiersbe diz que “o mistério do sofrimento não será inteiramente resolvido nesta vida. Por vezes, sofremos pelo simples fato de sermos humanos. Nosso corpo muda à medida que envelhecemos e que nos tornamos mais suscetíveis aos problemas normais da vida. O mesmo corpo que nos dá prazer também nos causa dores. Os mesmos membros da família e amigos que nos alegram também magoam nosso coração”.
TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE GRAÇA DO SENHOR É MAIOR QUE TODO SOFRIMENTO (2Co 12.9,10).
A resposta de Deus à oração de Paulo foi uma resposta que o satisfez por completo, mas que não tem trazido a mesma satisfação para muitos crentes hoje, principalmente por ouvirem certas mensagens de triunfo e conquista. Para muitos hoje, o apóstolo Paulo foi um derrotado, pois afinal de contas ele orou e se quer teve a sua oração respondida de acordo com a sua vontade. No entanto, Paulo entendia que era a vontade de Deus que deveria se realizar na terra e não a sua vontade que deveria de realizar no céu.
1º - Paulo aprendeu que a graça do Senhor é suficiente. O que é graça? É a provisão de Deus para tudo de que precisamos, quando precisamos. Por isso que a graça de Deus é melhor que a vida, pois é essa graça maravilhosa de Deus que nos ajuda a enfrentar vitoriosamente o sofrimento.
Warren W. Wiersbe diz que “na vida cristã, muitas das bênçãos vêm por meio da transformação e não da substituição. Ao orar três vezes rogando que seu sofrimento fosse removido, Paulo pediu uma substituição: ‘dá-me saúde em vez de enfermidade; livramento em vez de dor e fraqueza’. Por vezes, Deus supre a necessidade pela substituição; em outras ocasiões, supre pela transformação. Ele não remove a aflição, mas dá sua graça, de modo que a aflição trabalhe em nosso favor, não contra nós”.
A graça de Deus derramada no coração de Paulo o fez compreender de forma profunda de como o Senhor estava agindo em sua vida. Paulo descobriu que o espinho na carne era uma dádiva de Deus. Alguém poderá dizer: “Que presente mais estranho!” Mas, através desse espinho Deus estava trabalhando na vida de Paulo de forma que ele se tornasse uma pessoa ainda melhor. Deus o estava livrando dos laços de Satanás e o mantendo em Sua presença. 
2º - Paulo aprendeu que a graça de Deus traz fortalecimento e poder. O poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. A graça do Senhor nos traz aperfeiçoamento enquanto somos fracos, não quando nos sentimos fortes.
Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “o poder de Deus é suficiente para o cansaço físico. Paulo suportou toda sorte de privações físicas: fome, sede e nudez. Suportou todo tipo de perseguição: foi açoitado, apedrejado, fustigado com varas e preso. Enfrentou todo tipo de perigo: de rios, de mares, de desertos, no campo, na cidade, entre estrangeiros, entre patrícios e até no meio de falsos irmãos. Enfrentou toda sorte de pressões emocionais: preocupava-se dia e noite com as igrejas. Mas o poder de Deus o sustentou em todas as circunstâncias”.
Por isso Paulo disse: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”. A palavra repousar nesse texto dá a ideia de “abrir uma tenda sobre algo”. Paulo considerava seu corpo uma tenda frágil, mas a glória de Deus havia entrado nessa tenda e a transformara num santo tabernáculo. Apesar de todo sofrimento, seu corpo era como se fosse o Santo dos Santos.
3º - Paulo aprendeu que a graça de Deus traz alegria independente das circunstâncias (v. 10). A graça de Deus é pedagógica, ela nos ensina que o sofrimento não afasta o Senhor de nós, pelo contrário, o Senhor não nos deixa em momento algum. Embora muitas vezes pareça estar ausente.
O que determina a vida de um indivíduo não é o que lhe acontece, mas como ele reage ao que lhe acontece. Paulo aprendeu a reagir de forma positiva diante das circunstâncias da vida (Fl 4.10-13). A graça nos capacita a esse entendimento. Só através dela que conseguimos suportar toda e qualquer adversidade em nossas vidas.
4º - Paulo aprendeu que a graça manifesta no sofrimento nos faz ver o amor de Cristo. Sinto prazer – no grego é “eudokeo”, que significa “considerar bom, deleitar-se, aprovar”. Paulo não gostava do desprazer e da dor por si mesmo, como fazem os masoquistas, que sofrem de uma enfermidade psicológica. Por ver que tais circunstâncias acompanhavam a vida cristã, Paulo não se lamentava delas. Jesus disse que isso iria ocorrer com os seus discípulos (Jo 15.18; 16.33; 2 Tm 3.12). Isso se chama maturidade espiritual.
CONCLUSÃO
Warren W. Wiersbe diz que Paulo apropriou-se da promessa de Deus e se valeu da graça que lhe foi oferecida; esse passo transformou em triunfo o que antes, havia parecido uma tragédia. Deus não mudou a situação removendo a aflição; mudou-a acrescentando um ingrediente novo: a graça. Nosso Deus é “o Deus de toda graça” (1Pe 5.10) e está assentado no “trono da graça” (Hb 4.16). A Palavra de Deus é a “palavra da graça” (At 20.32) e, de acordo com sua promessa, Ele “dá maior graça” (Tg 4.6). Sob qualquer ponto de vista, a graça de Deus é suficiente para todas as nossas necessidades.
Pense nisso!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

OBEDECER A JESUS E A CRISE NA TEMPESTADE



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Mt 14.22-33
INTRODUÇÃO
Uma das maiores crises que muitos cristãos enfrentam é conciliar a bondade de Deus com as tribulações que enfrentamos no percurso da vida. E essa crise é geral, ela de alguma forma atinge a cada um de nós, alguns de uma forma mais intensa, outras mais brandas, mas todos nós a enfrentamos.
Philip Yancey em seu livro “Decepcionado com Deus” escreve: “Descobri que para muitas pessoas existe um grande abismo entre o que esperam de sua fé cristã e o que de fato acontece. A partir de um verdadeiro mundo de livros, sermões e testemunhos, todos prometendo vitória e sucesso, elas aprendem a esperar que Deus atue de modo impressionante em suas vidas. Se não enxergam tais intervenções, sentem-se desapontadas, traídas e frequentemente culpadas. Como disse uma mulher: Eu ficava pensando na frase ‘relacionamento pessoal com Jesus Cristo’. Mas, para minha surpresa, descobri que isso é diferente de qualquer outro relacionamento pessoal. Nunca vi a Deus, nunca o ouvi, nunca o senti, nunca experimentei os elementos mais básicos de um relacionamento. Ou existe alguma coisa errada com o que me ensinaram, ou existe alguma coisa errada comigo”.
Muitas pessoas estão decepcionadas com Deus por causa do tipo de evangelho que lhes têm sido apresentadas. Não um Evangelho bíblico, mas uma mutação de filosofia com espiritismo embalada em folhas da Bíblia. E isso não é evangelho.
Esse tipo de fé leva qualquer um a viver totalmente decepcionado com Deus. Mas quando temos uma fé firmada em Deus pelo o que Ele é tudo se torna diferente.  Como disse D. Martyn Lloyd-Jones: “Não devemos servir a Deus pelo o que Ele dá e faz, mas pelo o que Ele é”. A decepção que muitos tem tido com Deus é porque inverteram essa ideia, pois Deus não nos dá e nem faz tudo que queremos, mas supre todas as nossas necessidades (Mt 6.31-33).
John MacArthur comentando sobre o apóstolo Paulo diz que “Ao final de sua vida, assentado só, em um calabouço romano, Paulo ainda podia sorrir para o futuro. Palavras de esperança invadiam sua perspectiva, pois ele media o sucesso a partir do padrão celestial”. Essa é a diferença entre o apóstolo Paulo e os falsos “apóstolos” de nossos dias.  
Essa é a grande diferença entre uma fé firmada em Deus e uma fé firmada em milagres. Como disse Philip Yancey: “Será que uma erupção de milagres sustentaria a fé? Provavelmente não; pelo menos, não sustentaria o tipo de fé em que Deus parece estar interessado. Os israelitas são uma grande demonstração de que os sinais só conseguem nos tornar viciados em sinais, não em Deus”.
O verdadeiro evangelho é obediência independentemente da situação que estamos enfrentando. Ser cristão, no verdadeiro sentido da palavra, significa ser um seguidor incondicional de Jesus Cristo. Somos ordenados a obedecê-lo sem questionar, e a segui-lo sem reclamar. 
O texto que lemos nos diz que após a multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus compele seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado do mar. A palavra “compelir” quer dizer: fazer deslocar-se à força; empurrar, impelir. Ou seja, Jesus os obrigou a partir. Eles não foram por livre e espontânea vontade, mas receberam uma ordem direta de Jesus; e obedeceram.
Mas em meio a esta obediência, o mar se agitou, pois o vento era contrário. Como podemos conciliar obediência com ventos contrários em nossa vida? Como entender isso? Eu quero pensar com você sobre isso dentro desse texto de Mateus, pois ele tem muito a nos ensinar sobre este assunto.
EM PRIMEIRO LUGAR, QUEM OBEDECE A JESUS PASSA POR TEMPESTADES (Mt 14.22-24).
A vida é feita de lutas e dificuldades, não existe vida com Deus sem lutas, alias, o Senhor Jesus deixou isso bem claro para os seus discípulos quando disse que no mundo eles passariam por aflição (Jo 16.33). E outra coisa, a tempestade veio porque estavam dentro da vontade de Deus e não como Jonas fora da vontade dEle.
Uma vez que Jesus é oniciente, ou seja, sabe todas as coisas, Ele sabia que a tempestade estava por vir. Como então Ele manda os seus discípulos para ao encontro desta tempestade?
1º - Ele queria os livrar da tentação da multidão. No Evangelho de João nós encontramos a multidão querendo coroá-lo Rei. Por isso a pressa de Jesus em despedir logo a multidão e manda os seus discípulos embora (Jo 6.15). Se os discípulos não tivessem partido, certamente teriam apoiado os planos da multidão, pois eles ainda não entendiam os planos do Senhor.
2º - Porque os discípulos estariam mais seguros no meio da tempestade e dentro da vontade do Senhor do que em terra com as multidões e fora da vontade divina. A bonança nem sempre é sinal de bênção. Às vezes ela pode tornar-se a nossa queda. Davi estava em paz em seu palácio, e foi nesse momento que caiu (2Sm 11).
O centro da vontade de Deus é o lugar mais seguro da terra, ainda que seja em meio a uma grande tempestade.
3º - Os discípulos aprenderam muito mais através da manifestação do Senhor na tempestade do que se ela não tivesse ocorrido. Os discípulos haviam enfrentado uma tempestade com o Senhor no barco, agora estavam enfrentado outra com Ele fora do barco. O cristianismo é um aprendizado diário, é a fé em prática todos os dias. João quando narra este mesmo episódio diz que “Jesus ainda não viera ter com eles” (Jo 6.17). Ainda é uma palavra que gera esperança. Não é o fim de tudo. Jesus está a caminho. Ele ainda não chegou, mas vai logo chegar.
4º - Porque os discípulos precisavam ter discernimento espiritual (Mt 14.25,26). Uma das coisas mais urgentes hoje no seio da igreja é o discernimento espiritual. Quantas pessoas sendo enganadas pelos falsos profetas por falta de discernimento. Veem Jesus onde Ele não está e onde Ele está não o veem.
Observe que os discípulos ao verem Jesus andando sobre o mar pensaram ser um fantasma. Eles não conseguiram identificá-lo, mas isso tem ocorrido também hoje. Quantas pessoas que estão vendo “fantasma” quando na verdade é o Senhor vindo ao seu encontro. Não discernem o Senhor de um espírito maligno. E quem não tem discernimento acaba metendo os pés pelas mãos. Veja o que em Marcos 6.48 nos diz:
“E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira”. 
Jesus queria tomar-lhes a dianteira. Queria se identificar, mas o medo os fazia remar cada vez mais para longe. O discernimento nos faz ver e entender as coisas espirituais como elas são, mas a falta de discernimento nos afasta dEle.
Exemplo: A história de um homem que estava ausente de sua aldeia com seu filho. Quando eles retornaram a sua aldeia eles a olharam do alto de um monte e perceberam que ela havia sito atacada e todos estavam mortos. O homem disse então:
 - Ah se eu fosse Deus!
O menino então olhando para o pai disse:
- Pai se você fosse Deus não deixaria que isso acontecesse, não é?
- Não meu filho. Se eu fosse Deus eu entenderia.
O medo e a fé não podem conviver no mesmo coração, pois o medo sempre nos impede de ver a presença de Deus.
EM SEGUNDO LUGAR, QUEM OBEDECE A JESUS QUER ESTAR COM ELE (Mt 14.28,29).
Seja em que tempo for e em toda e qualquer situação. Quem lhe obedece tem prazer de estar com Deus. Pedro não pensou duas vezes para estar com Jesus.
Podemos destacar três razões para isso:
1º - Quem vive pela fé discerne a voz do Senhor. Pedro quando ouviu a voz do mestre não pensou duas vezes para estar com Ele, ainda que fosse sobre as águas. É preciso ter fé para sair do barco e estar com Jesus. Assim é a fé. Ela nos impulsiona a viver o impossível e crer no extraordinário quando discernimos a voz do nosso Senhor. Veja por exemplo a história de Abraão quando o Senhor lhe pediu Isaque (Gn 22 conf. Hb 11.17-19). Isso é fé.      
2º - Quem vive pela fé sabe que Jesus é o socorro bem presente na tribulação – v. 30-33. Quem obedece a Jesus, mesmo tendo uma pequena fé, vê grandes milagres. Observe que o Senhor repreende a Pedro pela sua pequena fé. Pedro começou a afundar porque começou a reparar na força do vento, então teve medo; preste atenção, Pedro não submergiu ele começou a afundar e logo pede por socorro. Ele não gritou por socorro quando já estava se afogando. Isso é uma grande lição para todos nós.
Devemos gritar por socorro enquanto há tempo e não quando ele já se esgotou. O socorro do Senhor é bem vindo já antes da tragédia. Depois, talvez, seja tarde.
Pedro teve uma fé vacilante, pois ele tirou os olhos do Senhor e olhou para as circunstâncias ao redor. O termo duvidar tem o sentido de “mostrar-se incerto ao ter de escolher entre dois caminhos”. Pedro começou com fé, mas terminou afundando, pois viu dois caminhos em vez de um. Se quisermos ser vitoriosos não podemos desviar os nossos olhos do Senhor. Essa é a lição que Pedro nos deixa. É possível andar sobre as circunstâncias adversas da vida, se não tiramos os nossos olhos do Senhor.
3º - Quem vive pela fé recebe o conforto e consolo de Jesus na hora da tribulação – v. 25, 27. Em meio a todo aquele desespero o Senhor traz ao coração dos seus discípulos conforto e consolo. Jesus veio ao encontro deles na quarta vigília da noite, ou seja, por volta da três da manhã.
Muitas vezes, temos a impressão de que o Senhor nos abandonou justamente no momento que mais precisamos dEle. No momento mais difícil de nossas vidas. Essa é a impressão que temos e o diabo gosta de botar dúvidas em nosso coração. Devemos lutar contra tais pensamentos e nos lembrar da Palavra em que Ele nos promete estar conosco em todo o tempo. Veja por exemplo: Is 43.2; Mt 28.20c; 2Tm 4.16-18.
Quando Jesus se aproximou disse: Sou Eu, tende bom ânimo, não temais.
Primeiro – Jesus se apresenta – Sou Eu para mostrar que Ele não era um fantasma.  
Segundo – Jesus renova o ânimo dos discípulos – Tende bom ânimo.
Terceiro – Jesus tira o medo dos seus corações – Não temais.
Da mesma forma o Senhor se apresenta a cada um de nós hoje, renovando a nossa fé e trazendo alento aos nossos corações.
EM TERCEIRO LUGAR, QUEM OBEDECE A JESUS O ADORA, POIS SABE QUE ELE É O VERDADEIRO DEUS (Mt 14.32, 33).
Observe que o vento só cessou quando Jesus e Pedro entraram no barco. Mas mesmo antes a confiança e a alegria já estavam estampadas em seus corações, pois afinal de contas o Senhor havia chegado.
Podemos tirar três lições aqui:
1º - A experiência de Pedro foi uma bênção não apenas para ele, mas para os demais discípulos também. A experiência de Pedro não fortaleceu somente ele, mas serviu de fortalecimento para os demais discípulos. Assim como nos fortalece hoje também. Não devemos viver das experiências dos outros, mas devemos entender que as experiências alheias é uma forma de nos consolar e nos fortalecer e, acima de tudo, nos trazer a memória que o Senhor não mudou, mas está cuidando dos Seus ainda hoje.
2º - Eles viram que o Senhor era o Filho de Deus. Nenhuma experiência espiritual, nenhum milagre alcançado que não glorifique a Deus procede dEle. Toda experiência, e todo milagre tem que nos levar a glorificar a Deus sempre. Toda vez que Jesus operava um milagre era para fortalecer a fé das pessoas na Pessoa dEle. Nunca se esqueça disso.
Observe um detalhe. Esse milagre engrandece a realeza de Jesus. Quando Pedro faz o pedido: “manda-me ir ter contigo”, usa uma palavra grega que significa “a ordem de um rei”. Pedro sabia que Jesus Cristo era Rei sobre toda a natureza, inclusive do vento e das águas. A palavra de Jesus é lei, e os elementos devem obedecê-lo. Por isso que Pedro ousou sair do barco.
3º - O Senhor sempre vem ao nosso encontro ainda que seja na quarta vigília da noite. Quem vive pela fé em Jesus não deve se esquecer de que Ele sempre vem ao nosso encontro, ainda que pareça tardar. O relógio de Deus não atrasa, o nosso é que está sempre adiantado.
CONCLUSÃO
A ordem de Jesus foi cumprida pelos seus discípulos, mas mal sabiam que aquela obediência iria lhes dar uma das maiores experiências de suas vidas. Obedecer a Deus não é garantia de que não enfrentaremos dificuldades na vida, mas certamente nos levará a termos experiências grandes que fortalecerão a nossa fé no decorrer de nossa caminhada com o Senhor.
Obedeça-O e deixe que Ele seja Senhor em sua vida e o mais Ele fará.
Pense nisso! 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A Tensão da Infidelidade!


Por Josemar Bessa

Neemias 9 é uma oração. É uma oração muito parecida com a grande oração de Abraão ou a grande oração de Esdras em Esdras 9, ou a grande oração de Daniel em Daniel 9. Destina-se a nossa instrução. É feita para nos ajudar em nossa vida pessoal de verdadeira comunhão com Deus.

“...E pão dos céus lhes deste na sua fome, e água da penha lhes produziste na sua sede; e lhes disseste que entrassem para possuírem a terra pela qual alçaste a tua mão, que lhes havias de dar. Porém eles e nossos pais se houveram soberbamente, e endureceram a sua cerviz, e não deram ouvidos aos teus mandamentos. E recusaram ouvir-te, e não se lembraram das tuas maravilhas, que lhes fizeste, e endureceram a sua cerviz e, na sua rebelião, levantaram um capitão, a fim de voltarem para a sua servidão; porém tu, ó Deus perdoador, clemente e misericordioso, tardio em irar-te, e grande em beneficência, tu não os desamparaste. Ainda mesmo quando eles... Porém tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; porque tu tens agido fielmente, e nós temos agido impiamente...” - Neemias 9:15-33

Esta é uma oração. E eu quero dizer em primeiro lugar que o que temos aqui pertence à área da experiência. É experiencial o que temos aqui. Isso é mais do que apenas uma confissão de fé. Isso é mais do que apenas algo cerebral. Isso é mais do que confessar o que eles sabem. Esta é uma confissão de sua experiência. Eles sentem o peso da condenação como povo de Deus.

O Espírito de Deus veio sobre eles ao ouvirem a Palavra lida, conforme o Espírito Santo escreveu essa palavra em seus corações. Eles estão profundamente conscientes de que seus pais e eles próprios pecaram. Eles não estão vivendo uma relação com Deus que eles deveriam estar vivendo. Na oração não há racionalizações ou justificações.

É profundamente comovente. É quase como um casamento desfeito. É como se o povo de Deus fosse como uma esposa infiel, dizendo ao esposo, sentindo agora toda a apreensão e tensão e nervosismo por sua infidelidade, que este casamento está quebrando. E é quase como se o povo de Deus coletivamente estivessem chegando a Ele e dizendo: 'Eu quero que esse casamento dê certo. Eu fui infiel. Eu fui infiel. Você tem todo o direito de me expulsar. Você tem todo o direito de se divorciar de mim. Mas eu quero começar de novo. Eu vou fazer de tudo para que ele funcione. Eu te amo '. É uma confissão que está vindo de um coração partido. A Palavra tem quebrado seus corações (E como isso é raro hoje, tanto individualmente quando coletivamente). Seu espírito está quebrado, quebrado do seu orgulho, quebrado de sua auto-confiança.

Eu me pergunto se você alguma vez chegou diante de Deus assim? Talvez eu devesse perguntar, você chegou diante de Deus assim recentemente? A Palavra de Deus tem quebrado teu espírito? Tocado em você? Condenado você? Mostrado onde você errou e se desviou e foi infiel como um crente, como cristão, como um membro da igreja?

Devemos perguntar isso a nós mesmos porque estar em Cristo é estar numa verdadeira relação com Deus que afeta cada segundo da vida. Queremos ouvir o que Ele tem para nos dizer. O que Ele tem falado com você tem tocado o reino da experiência cristã? Porque é lá que começa esta oração.

Observe, por outro lado, que esta oração concentra-se em Deus. O foco é sobre o pecado, uma vida que não está sendo vivida a altura do chamado, mas o foco está em Deus, refletindo sobre os atributos de Deus, refletindo sobre a graça de Deus, refletindo sobre o caráter de Deus, a misericórdia de Deus... Mais e mais e mais este capítulo de Neemias se volta para Deus.

É uma ótima maneira de reformar nossa oração. É a maneira bíblica de reformar nossa vida cristã. Não é tudo sobre o "eu". Não é tudo sobre a minha família. Não é tudo sobre a minha segurança pessoal. Não é tudo sobre a minha saúde. Trata-se do Senhor. Trata-se de Deus, esta aliança do Senhor, este Deus de Abraão, o Deus de nossos pais.

Observe que o que os levou a este ponto é na verdade um reconhecimento da intensidade de seu fracasso. Não há dica aqui de qualquer tentativa de desculpar-se.

Você percebe, nos versos 16-17, que eles se comparam ao Egito. Eles não são melhores do que o Egito. O Egito era seu inimigo. O Egito foi historicamente seu opressor, mas agora estão vendo que eles não são melhores do que o seu inimigo. Eles não são melhores do que o Egito. Isso é o caminho do crescimento. Eles cresceram. A adversidade fez isso. O julgamento fez isso. Isto os ensinou a confiar em Deus. Ensinou-lhes que não podiam ter confiança além da confiança que está no cerne das misericórdias da aliança de Deus. Esse é o único lugar certo e seguro para descansar.

Samuel Rutherford uma vez escreveu essas linhas, "A Graça cresce melhor no inverno". Talvez você esteja consciente de um inverno em sua alma agora. Talvez você esteja consciente que você não é o que você deveria ser, que você não está seguindo o Senhor tanto quanto você deveria. Você não está lendo a sua palavra ou sendo transformado por Sua palavra como deveria. Você está ciente disso. Você está consciente disso. O Espírito trouxe-lhe a sua atenção. Bem, use isso. Use isso para lançar-se sobre as misericórdias de Deus. Corra para o Senhor em sua fraqueza, sua fragilidade, em seu quebrantamento! "Senhor, dá-me uma percepção clara de meu pecado, que eu possa ter um maior senso de Sua beleza!"