sábado, 27 de agosto de 2016

NÃO PODEMOS DEIXAR DE FALAR DO QUE VIMOS E OUVIMOS

Por Pr. Silas Figueira

INTRODUÇÃO

Texto base: Atos 4.1-22

Esse texto é a continuação da cura do coxo em Atos 3.1-10. Logo após a cura do coxo, Pedro, juntamente com João, prega para as pessoas que os rodearam ao verem o coxo curado. Os apóstolos então lhes mostram que não havia porque ficar admirados, pois o ocorrido foi realizado na autoridade do nome de Jesus, este, que eles, juntamente com suas autoridades, condenaram a morte de cruz, mas que o Senhor o havia ressuscitado dentre os mortos (At 3.11-26).

O texto nos diz que enquanto Pedro e João ainda falavam ao povo chegaram os sacerdotes (sacerdotes principais), o capitão da guarda ou do templo (o sacerdote que vinha após o sumo sacerdote na hierarquia sacerdotal) e os saduceus e os levam presos porque os dois apóstolos estavam ensinando ao povo a respeito de Jesus e falavam da sua ressurreição. O que temos aqui é o início da perseguição a Igreja; começa a se cumprir o que o Senhor Jesus havia falado para os seus discípulos o que eles enfrentariam após a sua partida (Mt 10.17-20; Lc 21.12-15; Jo 15.18-20). Aqui foi só um aviso, posteriormente viram perseguições, prisões, martírio. Como está registrado em Hebreus 10.32-34:

“Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados, quando suportaram muita luta e muito sofrimento. Algumas vezes vocês foram expostos a insultos e tribulações; em outras ocasiões fizeram-se solidários com os que assim foram tratados. Vocês se compadeceram dos que estavam na prisão e aceitaram alegremente o confisco dos seus próprios bens, pois sabiam que possuíam bens superiores e permanentes” (NVI).

Lucas deixa bem claro que ambas as ondas de perseguição foram iniciadas pelos saduceus (At 4.1 e 5.17,18). Eles eram a classe governante dos aristocratas ricos. Politicamente, integravam-se ao sistema romano e adotavam uma atitude de colaboração, de modo que temiam as implicações subversivas dos ensinos dos apóstolos [1].

Lucas deixa claro que há duas motivações na ação empreendida contra Pedro e João. Uma é de natureza teológica: os saduceus não acreditavam na ressurreição, e a pregação de Pedro e João, claramente, opunha-se às doutrinas deles (Lc 20.27-40). Mas o texto também mostra que essa não é a verdadeira causa para a intervenção das autoridades. A verdadeira causa é que eles ficaram “muito incomodados porque os discípulos ensinavam o povo” – em outras palavras, com o fato de eles estarem usurpando e subvertendo a autoridade dos sacerdotes e dos outros líderes [2]. Eles se declaravam religiosos, mas não aceitavam a tradição dos fariseus e não considerava que os livros proféticos do Antigo Testamento estivessem no mesmo nível da Lei (a Tora, o Pentateuco). Também negavam a existência de anjos e de espíritos (Mt 22.23; At 23.8).

Teologicamente falando também, eles não criam na vinda do Messias. Para eles a era messiânica havia começado no período dos macabeus; portanto, para eles Jesus não era o Messias anunciado pelos apóstolos. Por isso eles eram vistos como agitadores e hereges, perturbadores da paz e inimigos da verdade [3].

Os sacerdotes procediam do partido dos saduceus e tomavam conta do templo e das coisas alusivas ao culto. Eles transformaram a casa de Deus num covil de salteadores e numa praça de comércio. Já estavam estremecidos desde que este virou a mesa dos cambistas (Mt 21.12-15). O ensino de Jesus era uma ameaça para eles [4]. É interessante que, embora os fariseus formassem o grupo que mais se opôs a Jesus durante o Seu ministério, em Atos quase ficaram amigáveis com a igreja, ao passo que os saduceus (que não figuram nos Evangelhos até os últimos dias de Jesus), agora ficaram sendo os líderes da oposição [5]. Vemos aqui que a Igreja sempre será perseguida, seja por um grupo, seja por outro, mas a Igreja sempre sofrerá oposição.

Com isso em mente, quais lições nós podemos tirar desse texto? O que ele tem a nos ensinar?

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE A FÉ VEM PELO OUVIR A PALAVRA DA VERDADE (At 4.4).

Enquanto os apóstolos estavam sendo presos, a fé dos que haviam crido não fora abalada. Muito pelo contrário, nos diz o texto que cerca de quase cinco mil homens, isso sem contar mulheres e crianças – por ser uma sociedade patriarcal estes não eram contados, creram na mensagem proferida pelos apóstolos. Isso nos mostra duas coisas:

1º - Cai por terra a ideia de que a mensagem do Evangelho deve ser atraente para que haja conversões. A verdade liberta (Jo 8.32). A verdade trás ao coração das pessoas a tristeza pelo pecado, mas a alegria do perdão dado por Deus. A verdade gera vida, mas o falso evangelho mantém as pessoas presas no inferno. Contra esse falso evangelho que os apóstolos tanto lutaram em suas cartas. Veja por exemplo o apóstolo Paulo quando escreveu aos Gálatas:

“Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!” (Gl 1.6-9 – NVI).

Leia a carta de Judas. Veja o que o Senhor Jesus disse as sete igreja mencionadas no Apocalipse.  

2º - A perseguição nunca impediu o crescimento da Igreja. Quanto mais a igreja é perseguida, mais avança no poder do Espírito. A prisão dos apóstolos não fechou a porta da igreja para a entrada de novos convertidos. Nenhuma ameaça pode deter os passos de uma igreja cheia do Espírito Santo de Deus [6].

Um missionário sul-coreano falou sobre o desafio de entrar na Coreia do Norte, a nação mais fechada em todo o mundo, inclusive para o Evangelho. Ele destacou que o país, atualmente sob um regime ditatorial, viveu no início do século 20 um grande avivamento, mas que hoje não há mais nenhuma igreja.

“Eram 3.800 igrejas antes do comunismo. O regime destruiu as igrejas uma por uma, matou pastores um por um e se livrou dos cristãos. Em 1958, já não havia mais nenhuma igreja”, contou o missionário.

“A única religião existente é a adoração à pessoa do líder norte-coreano, Kim Jong-un, e seus antecessores”, explicou.

Ser crente em Jesus na Coreia do Norte é sinônimo de risco de vida. O missionário relatou casos de torturas e execuções de pessoas, inclusive crianças, que não negaram a Deus. Ser crente naquele país já é correr risco, ser um missionário é algo visto como temeroso pelos norte-coreanos. O missionário descreveu situações em que percebeu estar sendo vigiado.

Porém mesmo perseguida, a igreja de Cristo continua viva na Coreia do Norte. É o que nos relatou o obreiro sul-coreano durante a Conferência Missionária Global, e citando o texto de Mateus 16.18, disse que por muito tempo se pensou que a igreja tinha sido completamente eliminada naquele país.

“Deus tem seus propósitos, e o inimigo não pode destruir a igreja edificada por Jesus Cristo”, declarou.

A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O ESPÍRITO SANTO NOS DÁ INTREPIDEZ PARA TESTEMUNHARMOS DE CRISTO (At 4.5-14).

Os apóstolos foram tirados da prisão e colocados diante das autoridades religiosas. O tribunal era constituído, basicamente, da família do sumo sacerdote. O sistema religioso judaico havia se tornado tão corrupto que os cargos eram passados de um parente para outro sem qualquer consideração pela Palavra de Deus [7]. Lucas menciona certos sacerdotes importantes que estavam presentes. Anás tinha sido sacerdote em 6-14 A.D., mas os romanos o depuseram e foi sucedido por vários membros da sua família, inclusive pelo genro Caifás (18-36 A.D.). Podemos dizer que Anás e Caifás, juntos com alguns dos demais parentes de Anás, na realidade formavam uma corporação fechada que administrava o templo. Warren W. Wiersbe disse que alguém definiu “nepotismo” como “a prática de homens que são maus, mas sabem dar boas dádivas aos seus filhos”. Anás, sem dúvida, se encaixa nessa descrição [8].  

Nos são apresentados três grupos que formavam o Sinédrio. Os anciãos eram líderes leigos da comunidade, sem dúvida os chefes das principais famílias aristocráticas, sendo que a maioria delas adotava o ponto de vista dos saduceus. Os escribas eram tirados da classe dos doutores da Lei, e a maioria deles pertencia ao partido farisaico. O outro grupo mencionado, as autoridades, deve ser identificado com o elemento sacerdotal no Sinédrio; às vezes com o nome de principais sacerdotes, eram estes os detentores das várias posições oficiais na administração do templo [9]. 

O Sinédrio judaico era composto de setenta membros mais o sumo sacerdote, que era o presidente. Os apóstolos não esperavam justiça desse tribunal, que contratou testemunhas falsas para sentenciar Jesus á morte. Como disse Stott, algumas lembranças do julgamento devem ter surgido na cabeça dos apóstolos [10].

1º - Sem o Espírito Santo não há intrepidez para testemunhar (At 4.8). Quando Pedro e João foram colocados diante dessas autoridades eles não se amedrontaram, mas cheio do Espírito Santo, Pedro, de forma cortês, começou a falar com autoridade e intrepidez, pois as palavras que lhe saiam da boca eram palavras inspiradas pelo Espírito Santo.

Estava se cumprindo o que o Senhor Jesus lhes havia falado em Mateus 10.19,20:

“Mas quando os prenderem, não se preocupem quanto ao que dizer, ou como dizê-lo. Naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês” (NVI). 
     
Observe o versículo 13. Os membros do tribunal admiravam-se ao verem a intrepidez de Pedro e João, especialmente porque eram iletrados (agrommatoi – não significa que eram analfabetos, mas que não haviam recebido treinamento adequado em teologia rabínica) e incultos (idiotai – significa leigos ou não profissionais). Mas reconheceram que eles estiveram com Jesus [11]. Aqui que está a diferença. Eles estiveram com Jesus e agora estavam cheios do Espírito Santo. Aprenderam com Jesus e agora falam na autoridade do Espírito Santo. E o milagre que operaram foi na autoridade do Nome de Jesus, pois Jesus estava agindo na vida da igreja através do Espírito Santo que nos foi dado.

Os líderes religiosos ao ouvirem o poderoso sermão de Pedro reconheceram nos apóstolos algo da personalidade de Jesus, nele embebida, e não meramente que haviam sido discípulos dele [12].

2º – Pedro cheio do Espírito Santo confronta os seus acusadores com o crime que eles haviam cometido (At 4.9,10). Pedro aproveita o ensejo para acusar seus interrogadores, culpando-os de terem crucificado a Jesus, ao mesmo tempo em que proclama a ação de Deus, ao ressuscitá-lo dentre os mortos. Os apóstolos não se intimidaram diante do Sinédrio, pelo contrário, os acusou do maior crime já cometido na história.

Pedro praticamente repete o que havia falado no sermão anterior quando estava no pórtico de Salomão pregando para o povo (At 3.14,15), com uma pequena diferença, lá Pedro ameniza a culpa do povo, diante do Sinédrio não. Porque aqueles homens se diziam ser os detentores da verdade, mas por inveja mataram o Senhor da vida.

Esses homens eram indesculpáveis diante do Senhor. Veja o que o Senhor nos diz em Lucas 12.48,49:

“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (NVI).

Quem conhece a verdade e a rejeita carrega a maior culpa. Quem conhece a verdade, mas não a prega e nem a vive será cobrado por negligenciá-la.

3º - A Pedra rejeitada é a Pedra que gera vida (At 4.11,12,14). A pedra angular era a pedra fundamental utilizada nas antigas construções, caracterizada por ser a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes. A partir da pedra angular, eram definidas as colocações das outras pedras, alinhando toda a construção. A pedra angular é o elemento essencial que dá existência àquilo que se chama de fundamento da construção. Atualmente, a pedra angular seria semelhante ao alicerce dos prédios contemporâneos.

Pedro cita o Salmo 118.22 mostrando que aqueles homens que se diziam ser os construtores de Israel haviam considerado Jesus como uma pedra imprestável. Mas foi Aquele que os construtores rejeitaram que o Senhor o fez Senhor e Cristo. É sobre esta Pedra que a Igreja está edificada (Ef 2.20; 1Pe 2.4-8).

“Edificados sobre o fundamento e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular” (Ef 2.20 – NVI).

“À medida que se aproximam dele, a pedra viva — rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele — vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo. Pois assim é dito na Escritura: “Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será envergonhado”. Portanto, para vocês, os que creem, esta pedra é preciosa; mas para os que não creem, “a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”, e, “pedra de tropeço e rocha que faz cair”. Os que não creem tropeçam, porque desobedecem à mensagem; para o que também foram destinados” (1Pe 2.4-8 – NVI).

Observe o verso 14 onde mostra que Jesus havia curado aquele pobre coxo e ele era a prova viva desse milagre. Diante dos olhos de todo o Sinédrio aquele homem estava curado, salvo, liberto e fortalecido.

Jesus não é só a Pedra, mas também o salvador (At 4.12). O apóstolo viu a cura do mendigo um retrato da cura espiritual que se dá com a salvação. A expressão “foi curado”, em Atos 4.9, é uma tradução do mesmo termo grego traduzido por “salvos” em Atos 4.12, pois a salvação implica plenitude e saúde espiritual [13].

Com isso cai por terra aquela ideia de quebra de maldição na vida do crente como se a salvação em Cristo não fosse suficiente para libertar o homem das garras de Satanás. Como um determinado autor de livros sobre batalha espiritual disse que nada é mais perigoso que um ser humano SALVO, porém não CONVERTIDO. Segundo ele, a pessoa nasce de novo, mas continua com velhos hábitos de antes da conversão.

Ele chama de conversão o processo de santificação. A santificação só ocorre na vida do salvo por Cristo, ou seja, na vida da pessoa convertida.

O que é Conversão?

A conversão é um giro de 180 graus na vida de uma pessoa. É virar completamente a vida de alguém do pecado para Cristo e para a salvação. Da adoração de ídolos para a adoração a Deus. Da autojustificação para a justificação de Cristo. Do governo do ego para o governo de Deus.

● A conversão é o que acontece quando Deus desperta aqueles que estão espiritualmente mortos e os capacita a se arrependerem de seus pecados e a terem fé em Cristo. 

● Quando Jesus nos chama para nos arrependermos e crermos, Ele está nos chamando à conversão. É uma mudança radical naquilo que cremos e fazemos (Mc 1.15).

● Quando Jesus nos chama para tomarmos a nossa cruz e o seguirmos, ele está nos chamando à conversão (Lc 9.23).

● Para que nos arrependamos, é necessário que Deus nos dê nova vida, novo coração e fé (Ef 2.1; Rm 6.17; Cl 2.13; Ez 36.26; Ef 2.8; 2Tm 2.25).

A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE NÃO PODEMOS DE DEIXAR DE FALAR O QUE TEMOS VISTO E OUVIDO AINDA QUE NOS MANDEM CALAR (At 4. 15-22).

O Sinédrio estava em um dilema e não tinha saída. Não podiam negar o milagre, pois o homem estava em pé diante deles e, no entanto, não tinham como explicar de que maneira “homens iletrados e incultos” haviam realizado um feito tão poderoso [14].

Os poderosos estão confusos em relação ao que fazer. O que acontecera está absolutamente claro, e, por isso, eles dizem: “Não podemos negar” (4.16). A implicação óbvia é que se eles pudessem, de fato, negariam o ocorrido, embora soubessem que era verdade. A única solução que encontraram, porque não podem negar a verdade, é escondê-la. Mais uma vez o que está em jogo é o controle sobre o povo, nesse caso específico por meio do controle da informação [15]. A incredulidade não enfrenta os fatos; a incredulidade os omite. Você pode livrar-se dos mensageiros, mas não pode livrar-se dos fatos, não pode livrar-se da verdade [16].

A fé gera o milagre, mas o milagre não gera fé. É isso que está diante de nós. Homens que falam em nome de Deus, mas que negam os Seus feitos. Homens que mostram que são guias cegos guiando outros cegos (Mt 15.14).

1º - O Sinédrio dá uma ordem e faz uma ameaça descabida (Atos 4.17,18, 21a). O Sinédrio quer calar a verdade na boca dos apóstolos de Jesus. Quantas pessoas querem calar a verdade na boca da Igreja de Cristo nos dias de hoje. Quantas pessoas querem que a igreja deixe de pregar a verdade, pois tais verdades confrontam os seus pecados e os deixa aborrecidos com isso. Há muitas pessoas que preferem ouvir mentiras doces, apesar de não lhes darem vida, a ouvir a verdade amarga do Evangelho, mas que gera vida.

Como disse Champlin: “Não há razão alguma para acreditarmos que todos os homens verdadeiramente querem conhecer e seguir a verdade, porque a perversão humana é tão vasta e profunda que muitos homens dão preferência à mentira, à falsidade, em detrimento da verdade, por não quererem sujeitar-se às exigências da verdade, porque a verdade é muito exigente. No caso sob consideração, a verdade que enfrentou aqueles homens de forma tão patente só serviu para condená-los, porquanto eles tinham crucificado Jesus, o autor de tal poder [...]. Portanto, ao invés de reconhecerem o seu erro e se arrependerem, preferiram continuar a perpetrar seu insano e pretenso engodo ante o povo, durante toda a vida” [17]. 

2º - Pedro com uma resposta ousada os coloca em xeque (At 4.19,20). Pedro e João não se deixaram intimidar pelo Sinédrio, pelo contrário, já que eles estavam na posição de julgar então eles deveriam julgar se eles, os apóstolos, deveriam obedecer a eles, o Sinédrio, ou a Deus. Quem é que tem autoridade? Quem é supremo?

A autoridade de Deus está e sempre estará acima da autoridade do homem. Quando uma autoridade torna-se absolutista, precisamos desobedecê-la para obedecermos a Deus. Quantos hoje também querem nos calar, mais a igreja não deve se acovardar, muito pelo contrário, devemos agir como a Igreja Primitiva que mesmo diante das perseguições não deixaram de anunciar o Evangelho. Veja At 8.1,4:

“Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e de Samaria. Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (NVI).
   
Como disse o apóstolo Paulo em 1Co 9.16,17:

“Contudo, quando prego o evangelho, não posso me orgulhar, pois me é imposta a necessidade de pregar. Ai de mim se não pregar o evangelho! Porque, se prego de livre vontade, tenho recompensa; contudo, como prego por obrigação, estou simplesmente cumprindo uma incumbência a mim confiada” (NVI).

Há pastores hoje que para não sofrerem perseguição mudam a verdade do Evangelho por meias verdades, que para mim é pior que uma mentira inteira. Pregam um Evangelho sem cruz; um Evangelho sem renúncia; um Evangelho sem vida santa, sem vida consagrada totalmente a Deus; pregam um Evangelho sincrético. Como disse o Reverendo Hernandes Dias Lopes em um de seus programas na TV:

Essa igreja está interessada em resultados e não em fidelidade à Verdade. Essa igreja é aquela que faz uma pesquisa de mercado para saber o que o povo quer! O que o povo gosta! O que o povo deseja! E então essa igreja é uma igreja supermercado que expõem no seu balcão o produto que o cliente quer. O que as pessoas querem? Saúde? Prosperidade? Milagres? É isso que nós vamos oferecer!

As pessoas não estão pregando pra salvação! Elas estão pregando para serem populares! O que interessam pra elas é que seus templos fiquem lotados! É que a multidão chegue! É que a multidão aplauda! É que a multidão receba o que ela está procurando, o que está buscando. Mas nós estamos sonegando dessa forma o povo o trigo da verdade e dando ao povo a palha das ideias humanas, das doutrinas humanas, de um pragmatismo religioso.

Julgue você meu irmão e minha irmã, a quem devemos obedecer: A Deus ou aos homens?

CONCLUSÃO

Depois de ameaçá-los o Sinédrio solta os apóstolos. A mensagem que os apóstolos pregaram ia muito além de palavras, havia confirmação da verdade pregada. A prova estava diante dos doutores da Lei, mas eles se recuram a acreditar nela. O homem curado estava diante deles, e este tinha mais de quarenta anos. Era uma pessoa conhecida de todos, pois há muitos anos esmolava por ali. Contra fatos não há argumento, já disse alguém.

Assim como aquele Sinédrio formado por cerca de setenta homens cultos estavam cegos diante da verdade, há hoje muitas pessoas que se recusam a crer na verdade do Evangelho que tem sido pregada em muitos púlpitos e através de muitos servos do Senhor no dia a dia.

Meu querido não feche seus olhos espirituais para a verdade do Evangelho. Creia na autoridade do Evangelho. Creia nos seus servos que pregam e vivem a verdade. Deixe a graça do Senhor entrar em sua vida. Não faça como os doutores da Lei, faça como o coxo mendigo que foi alcançado com cura, libertação e salvação de Cristo.

Pense nisso!

Notas   
   
1 – Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São Paulo, SP, 2010: p. 105.
2 – Gonzáles, Justo L. Atos, O Evangelho do Espírito Santo. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2014: p. 79.
3 – Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São Paulo, SP, 2010: p. 105.
4 – Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 93.
5 – Marshall, I. Howard. Atos, introdução e comentário, Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1988: p. 97.
6 – Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 95.
7 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 538.
8 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 538.
9 – Marshall, I. Howard. Atos, introdução e comentário, Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1988: p. 98.
10 – Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São Paulo, SP, 2010: p. 106.
11 – Stott, John. A Mensagem de Atos, até os confins da terra. Editora ABU, São Paulo, SP, 2010: p. 107.
12 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo. Editora Candeia, São Paulo, SP, 10ª Reimpressão, 1998: p. 97.
13 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 539.
14 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 539.
15 – Gonzáles, Justo L. Atos, O Evangelho do Espírito Santo. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2014: p. 83.
16 – Lloyd-Jones, D. Martyn. Cristianismo Autêntico, Sermões sobre Atos dos Apóstolos, volume 2. Editora PES, São Paulo, SP, 2006: p. 17.  
17 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo. Editora Candeia, São Paulo, SP, 10ª Reimpressão, 1998: p. 97.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ABRAÃO, UM PAI AMADURECIDO NA FÉ

Por Pr. Silas Figueira

INTRODUÇÃO

Texto Base: Gênesis 22.1-19

A história de Abraão começa quando o Senhor o chama de Ur dos caldeus para, a partir dele, fazer uma grande nação (Gn 12.1). Abraão estava com 75 anos e sua esposa Sara com 65, sendo que eles não tinham filhos, pois Sara era estéril.

Warren W. Wiersbe diz que Abraão matriculou-se na “escola da fé” aos setenta e cinco de idade. Nesta passagem, estava com mais de cem anos e continuava passando por experiências intensas. Nunca somos velhos demais para enfrentar novos desafios, para lutar novas batalhas e para aprender novas verdades. Quando paramos de aprender, deixamos de crescer, e quando deixamos de crescer, paramos de viver [1].
 
Quando lemos a história de Abraão, em Gênesis, nós nos deparamos com um homem em conflito da fé e nos fracassos que ele cometeu; mas à medida que os anos foram se passando ele foi tendo um crescimento na fé, alcançando o seu ápice em Gênesis 22 quando o Senhor pede seu filho em sacrifício. No entanto, até chegar a essa maturidade espiritual muitos percalços Abraão enfrentou.

A estrada da maturidade da fé (Gn 22.1-19; Tg 2.21,22) sempre foi baseada na prática de dois passos para frente e um para trás; é um teste constante, no qual as pressões da vida – alimento (Gn 12.10), família (Gn 13.7), anseios (Gn 15.3, 16.1) e temores (Gn 20.11) – cooperam, em forma de “provações” (Tg 1.2), as quais, quando enfrentadas com fé e perseverança, nos tornam “maduros e completos” (Tg 1.4) [2].

Qual pai que nunca enfrentou essas crises também? Crise do pão de cada dia, quando o dinheiro acaba e não sabemos o que fazer para alimentar a família? Problemas com membros da família; parentes que vem nos causar angústias e tristezas? Momento de dúvidas, se realmente o que o Senhor falou irá se cumprir em nossa vida, ou será que não foi fruto da nossa imaginação? Quantos medos nós enfrentamos também. Quantas aflições diante de uma insegurança do bem estar de nossa família. A história de Abraão não é diferente em nada da nossa. Enfrentamos problemas e mais problemas, talvez não tanto quanto Abraão enfrentou, mas enfrentamos os nossos. Pequenos ou grandes, reais ou imaginários, mas nós os enfrentamos todos os dias. Por isso que o “justo vive pela fé” (Hc 2.4).

E para enfrentar esses problemas nós precisamos do Senhor e, com urgência, amadurecer na fé como Abraão amadureceu. Nesse episódio narrado em Gênesis 22 Abraão já estava andando com Deus por cerca de 40 anos. Por isso eu quero pensar com você sobre esse amadurecimento da fé, e como ela deve demonstrada na vida de um pai.

1º - Um pai maduro na fé sabe que passará por provas e ensina isso a seus filhos (Gn 22.1). Uma das maiores imaturidades que alguém pode ter é pensar que a vida não lhe trará problemas. É achar que na vida tudo vai dar certo e que não sofreremos decepções. A geração atual de crentes tem recebido essa ideia através de muitos púlpitos, e pior, dentro de casa.

Há uma geração de pais que querem poupar seus filhos das lutas da vida. Tentam a todo custo fazer da vida dos filhos uma vida sem dificuldades; com isso, temos hoje uma grande gama de jovens que acham que na vida tudo é fácil, pois seu “papai” os socorre em tudo que fazem, principalmente nos seus erros.

Temos vivido a geração de Adonias, uma geração de jovens que não são contrariados pelos seus pais: Ora, Adonias, cuja mãe se chamava Hagite, tomou a dianteira e disse: “Eu serei o rei”. Providenciou uma carruagem e cavalos, além de cinquenta homens para correrem à sua frente. Seu pai nunca o havia contrariado; nunca lhe perguntava: “Por que você age assim?(1Rs 1.5,6).

Um pai maduro na fé não passa a mão nos erros dos filhos e os ensina a assumir suas responsabilidades diante dos erros cometidos, mas para isso esse pai deve ser também amadurecido na fé.

Abraão não só enfrentou a prova dada por Deus como levou seu filho a enfrentá-la também, pois Isaque fazia parte da prova. O amadurecimento na fé de nossos filhos vem através exemplo de crescimento da fé de seu pai. Lembre-se disso!

E há outro detalhe importante na maturidade da fé: saber discernir provação e tentação. As tentações vêm dos desejos de dentro de nós (Tg 1.13-15), já as provações procedem de Deus, que tem um propósito específico a cumprir. A tentação é par a nossa queda, a provação é para nos manter de pé.  
      
2º - Um pai maduro na fé conhece a voz de Deus (Gn 22.1,2). Quem anda com Deus deve saber discernir a voz de Deus entre muitas vozes. Há pessoas que diz que Deus falou com elas, essa colocação é extremamente séria. Se Deus falou não há discussão, não há questionamentos, não há duvidas. Mas quantas pessoas dizem que Deus falou e depois dizem que foi engano. Isso se chama imaturidade na fé.

Abraão conhecia a voz de Deus, tanto que ele não questiona a ordem dada, ele obedece. Os pais devem saber discernir a voz de Deus e ensinar seus filhos a terem essa mesma experiência, pois afinal de contas nós não queremos ver nossos filhos agindo como esquizofrênicos na fé. E um dos sintomas da esquizofrenia é a alucinação: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia.

Pai maduro na fé não é esquizofrênico nela.  

3º - Um pai maduro na fé obedece a ordem do Senhor (Gn 22.2,3). Como já falamos, por conhecer a voz de Deus, Abraão não questiona, ele obedece. Ainda que aparentemente fosse uma ordem absurda, ele não deixou de cumpri-la.

Um pai maduro na fé entende que Deus sabe o que faz ainda que não entendamos. Como nos diz o Senhor por boca do profeta Jeremias: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês”, diz o Senhor, “planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro” (Jr 29.11 – NVI).

Deus sabe o que faz e o que nos pede!

No entanto, há pais que estão questionando o agir de Deus e até lhe pedindo explicações de seus atos, como se Deus lhe devesse alguma explicação. Isso é imaturidade, criancice e mundanismo. Veja o que Paulo disse para os crentes de Corinto:

“Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?” (1Co 3.1-3 – NVI).

A imaturidade na fé leva aos questionamentos.

Isaque nesse texto tipifica Cristo e Abraão tipifica Deus. Observe o versículo 2 de Gênesis 22: Então disse Deus: “Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei” (NVI).

1) Abraão é o Pai que sacrificou Seu Filho Unigênito como expiação pelo mundo (Jo 3.16).
2) Isaque é tipifica Cristo que foi obediente até a morte (Fl 2.5-8).
3) A lenha sobre Isaque tipifica a cruz que o Senhor levou (Jo 19.16,17).
4) O carneiro é tipifica a substituição de Cristo que foi oferecido como oferta em nosso lugar (Hb 10.5-10).
5) A ressurreição foi tipificada na fé de Abraão de que Deus traria Isaque de volta à vida, se o sacrifício fosse levado a efeito (Hb 11.17-19).

Teu único filho. Abraão já tinha Ismael, mas Isaque era o único filho por meio de quem o pacto que o Senhor havia feito com Abraão seria realizado (Gn 15.1-7).

4º - Um pai maduro na fé adora a Deus em todas as circunstâncias (Gn 22.5). Observe que Abraão diz para os seus servos que ele e o rapaz iriam adorar. Ele não lamuriou diante da crise aparente, mas foi buscar a face do Senhor em adoração.

Quantos pais ficam em casa e deixam de vir adorar a Deus junto com outros irmãos na igreja porque estão passando por alguma crise. Deixam de ser adoradores para serem lamuriadores. Ficam como cães lambendo a própria ferida. E nem em casa adoram, não adoram no hospital, na sala de espera do consultório médico, não adoram diante de um túmulo. Adoração é um estilo vida e não um ato de momento. Independe das circunstâncias, mas adora em todo o tempo. 

Adorar quando tudo vai bem é fácil, mas nem sempre está tudo bem com a gente. Há dias de densas trevas em nossas vidas, como também há dias ensolarados. Lembre-se de Jó:

“Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”. Em tudo isso Jó não pecou e não culpou a Deus de coisa alguma (Jó 1.21,22 – NVI).

Mas um pai maduro na fé não anda com gente incrédula. Anda com gente crente. Anda pela fé. Gente incrédula deve ficar tomando conta de jumento. Observe que Abraão falou para os moços que foram com ele: “Fiquem aqui com o jumento enquanto eu e o rapaz vamos até lá. Depois de adorarmos, voltaremos” (Gn 22.5 – NVI).

Há provações na vida que precisamos enfrentar sozinhos e entender isso é maturidade da fé. Quem amadurece na fé sabe que há momentos que é você e Deus somente. Não tem como termos a companhia de amigos ou familiares. Jesus quando estava no Getsêmani levou consigo três de seus apóstolos, Pedro, Tiago e João, mas se dirigiu sozinho para orar (Mt 26.36-39). 

5º - Um pai maduro na fé crê na intervenção divina (Gn 22.7,8). Andar pela fé é andar crendo em milagres. Um pai maduro na fé crê na intervenção divina na vida dos filhos, na família. Crê que o Senhor há de intervir para mudar a história que parece estar caminhando para o fim. Um pai maduro na fé crê na provisão divina em todo o tempo.

O SENHOR proverá – “Jeova-Jire”. A declaração: “No monte do Senhor se proverá” (v. 14) nos ajuda a compreender algumas verdades sobre a provisão de Senhor.

Onde o Senhor provê nossas necessidades? No lugar indicado por Ele. Abraão estava no lugar certo, de modo que o Senhor pôde suprir as suas necessidades. Não temos o direito de esperar pela provisão de Deus se não estivermos dentro da vontade de Deus.

Quando o Senhor provê nossas necessidades? Exatamente quando precisamos, nem um minuto antes – “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4.16 – NVI).

Como Deus provê? De maneira que, normalmente, são bastante naturais. Deus não enviou um anjo junto com o sacrifício; simplesmente permitiu que carneiro ficasse preso pelos chifres nos arbustos no momento em que Abraão precisava e num lugar que Abraão podia alcançar. Abraão só necessitava de um animal, de modo que o Senhor não mandou um rebanho de ovelhas.

A quem o Senhor concede sua provisão? Àqueles que confiam nele e que obedecem a suas instruções.

Por que o Senhor supre todas as nossas necessidades? Para que Seu nome seja glorificado [3]. 
  
6º - Um pai maduro na fé constrói altares para oferecer os filhos (Gn 22.9). Abraão era um construtor de altares, vemos isto por quatro vezes no decorrer de sua vida.

Após Abraão conhecer o DEUS VERDADEIRO ele dispôs o seu coração para servi-lo e obedecê-lo. Começa então a sua trajetória de "Construtor de Altares".

1º Altar - SIQUÉM (Altar da Promessa – Gn 12.6,7).  A motivação de Abraão construir este primeiro altar foi em adoração ao SENHOR que lhe aparecera. E nesta aparição o SENHOR reafirmou-lhe a Sua Promessa: “... te darei esta terra". Hoje nós também temos valiosíssimas promessas de Deus para nossa família (Sl 128).

2º Altar - BETEL (Altar da Comunhão – Gn 12.8). Betel significa "Casa de Deus". E foi aí, na Casa de Deus onde Abraão invocou o Nome do Senhor. Não somente Deus falava com Abraão, mas Abraão podia falar com Deus! É interessante atentarmos para o fato de que hoje nós somos "Betel", ou seja, nós somos “Casa de Deus”: “Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês?” 1Co 3.16 e “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos?” 1Co 6.19.

3º Altar - HEBROM (Recomeço – Gn 13.18). Após separar-se de Ló o SENHOR volta a falar com Abraão, é seu recomeço! 

“Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló separou-se dele: De onde você está, olhe para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre” (Gn 13.14,15 – NVI).

4º Altar - MORIÁ (Provação – Gn 22.9). O último e mais impactante altar da vida de Abraão marca este que foi o momento crucial na vida de Abraão.

Devemos ensinar aos nossos filhos que há uma necessidade de termos o nosso coração como altar ao Senhor. Necessitamos construir o altar da promessa, da comunhão, do recomeço e da provação e mantê-los erguidos em nossas vidas para testemunho diante de nossos filhos e apresentar os nossos filhos ao Senhor nesses altares todos os dias.
 
7º - Um pai maduro na fé não adora as bênçãos recebidas, mas adora o doador das bênçãos (Gn 22.10-12). Um dos grandes perigos que corremos é de adorar as bênçãos no lugar do abençoador. Não são raros os casos de pessoas que trocam Deus pelos bens materiais recebidos, aliás, vemos isto em muitas igrejas onde dão ênfase as bênçãos fazendo de Deus um doador simplesmente.

A maturidade na fé nos leva a ver as coisas como elas realmente são: bens matérias, família e tantas outras coisas não podem substituir a nossa adoração a Deus. Como nos disse Jesus em Mateus 10.37,38:

“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (NVI).

Abraão amava seu filho, mas ele não o amava mais do que amava a Deus. Isso aqui é muito sério. Por isso que o Senhor nos deixou esse alerta em Mateus 10.37, há um perigo de isso acontecer e nós nos tornarmos idólatras.

Devemos levar os nossos filhos entenderem que somente Deus deve receber o nosso amor pleno e só a Ele adorar. O Senhor Jesus em Mateus 6.38 que devemos buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, pois o resto é resto.

O nome Isaque quer dizer sorriso, mas quem deu esse sorriso para Abraão e Sara foi o Senhor. A nossa real alegria está em Deus, pois se depositarmos a nossa felicidade nas coisas dessa terra nós seremos os mais infelizes dos homens. Veja o que Paulo nos fala em Filipenses 4.10-13:

“Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (NVI).

Isso é maturidade na fé, e essa maturidade que os pais cristãos precisam atingir, não só para viverem felizes, mas também para não idolatrar as bênçãos recebidas de Deus; ainda que essas bênçãos seja a família.

8º - Um pai maduro na fé crê no milagre na vida dos filhos (Gn 22.9-12; Hb 11.17-19). O texto de Hebreus nos diz que Abraão cria que o Senhor era poderoso para ressuscitar Isaque. Havia uma confiança em Deus e nas suas promessas, pois Isaque era o filho da promessa (Gn 17.16,17,19). Veja o texto:

Eu a abençoarei e também por meio dela darei a você um filho. Sim, eu a abençoarei e dela procederão nações e reis de povos.  Abraão prostrou-se com o rosto em terra; riu-se e disse a si mesmo: “Poderá um homem de cem anos de idade gerar um filho? Poderá Sara dar à luz aos noventa anos?” Então Deus respondeu: Na verdade Sara, sua mulher, lhe dará um filho, e você lhe chamará Isaque. Com ele estabelecerei a minha aliança, que será aliança eterna para os seus futuros descendentes.

O que Abraão fez vai muito além da compreensão humana, isso se chama fé, e a fé não tem explicação. Ou você crê ou você não crê. Há momentos que muitos pais olham para os seus filhos e a impressão que tem é que a morte irá chegar a qualquer momento. Quantos pais estão chorando a morte espiritual de seus filhos, mas creia na intervenção de Deus na vida deles, não deixe de crer. Se há uma promessa para vida deles da parte de Deus, creia que o Senhor irá intervir. A ressurreição vai acontecer, creia somente, foi isso que o Senhor Jesus disse para Jairo quando este recebeu a notícia que sua filha havia falecido (Mc 5.35,36).

Ainda que só você creia no milagre, ofereça seus filhos no altar e deixe o resto com Deus. A entrega no altar do Senhor é deixar Deus ser Deus na vida de seus filhos. É deixar as coisas acontecerem segundo a ordem dada e não segundo o que achamos que deveria ser. Deus sabe o que faz, e nós muitas vezes só atrapalhamos – veja o que Sara fez (Gn 16). Não seja precipitado!

9º - Um pai maduro na fé vê sua fé confirmada (Gn 22.13). A fé não é um salto no escuro como algumas pessoas pensam. A fé é a certeza da ação poderosa de Deus intervindo em nosso lar. Como está registrado em Hebreus 11.1,6:

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam”.

Esse carneiro é o cordeiro adulto, esse animal simbolizava a fé madura de Abraão. Ele já não era um neófito na fé, mas um maduro na fé. Jesus deixou isso bem claro em relação a nossa fé. Ele disse que a nossa fé deveria crescer. Veja o que Ele disse para os discípulos em Lucas 17.5,6:

“Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” Ele respondeu: Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: “Arranque-se e plante-se no mar”, e ela lhes obedecerá” (NVI).

Na verdade o Senhor ensinava sobre a semelhança entre a fé e uma semente e não sobre o tamanho da fé. O Senhor Jesus está mostrando que a fé deve ser desenvolvida. Deve virar árvore. Tem que crescer. Mas como ela cresce? Para que nossa fé cresça, temos que SEMEÁ-LA. E a forma pela qual se semeia a fé é mediante seu exercício; quando usamos a fé que temos em uma necessidade específica, e vemos a intervenção de Deus, colhemos mais fé. Foi o que Abrão fez durante toda a sua vida, por fim colheu o milagre.

10º - Um pai maduro na fé é canal de bênção para outras pessoas (Gn 22.15-19). Veja que a promessa de que a casa de Abraão seria abençoada chegou até nós. Por isso que Abraão é chamado de pai da fé (Rm 4.11).

Através da fé de Abraão o Senhor disse que todas as famílias da terra seriam abençoadas, o Senhor está se referindo a Pessoa de Jesus que viria ao mundo. Quando obedecemos a Deus nós nos tornamos, através de Jesus, abençoadores também.

As bênçãos procedentes da fé não são egoístas, mas abrangentes, elas alcançam muitas vidas. Charles Spurgeon costumava dizer que as promessas de Deus nunca brilham com tanta intensidade quanto na fornalha da aflição. Aquilo que dois homens fizeram num altar solitário um dia serviria de bênção para todo o mundo. 
  
11º - Um pai maduro na fé se preocupa com quem os filhos irão constituir família (Gn 22.23, 24.1-4). A preocupação de Abraão também deve ser a nossa preocupação, com quem nossos filhos irão se casar. Abraão não queria que seu filho se casasse com uma mulher cananéia. A Lei de Moisés também não permitia que homens israelitas se casassem com mulheres pagãs (Dt 7.1-11). Os cristãos também não devem se casar com pessoas incrédulas (1Co 7.39, 2Co 6.14-18). Por isso devemos buscar a Deus em oração para que o Senhor tenha misericórdia de nossos filhos e lhes deem pessoas crentes e fiéis, não basta ser crente.

Pais maduros na fé tem essa preocupação porque sabem que um relacionamento de jugo desigual gera confusão espiritual na vida do cônjuge, assim como na vida dos filhos. Veja o que ocorreu em Israel depois do cativeiro babilônico:

Além disso, naqueles dias vi alguns judeus que se haviam casado com mulheres de Asdode, de Amom e de Moabe. A metade dos seus filhos falavam a língua de Asdode ou a língua de um dos outros povos, e não sabiam falar a língua de Judá. Eu os repreendi e invoquei maldições sobre eles. Bati em alguns deles e arranquei os seus cabelos. Fiz com que jurassem em nome de Deus e disse-lhes: “Não consintam mais em dar suas filhas em casamento aos filhos deles, nem haja casamento das filhas deles com seus filhos ou com vocês. Não foi por causa de casamentos como esses que Salomão, rei de Israel, pecou? Entre as muitas nações não havia rei algum como ele. Ele era amado de seu Deus, e Deus o fez rei sobre todo o Israel, mas até mesmo ele foi induzido ao pecado por mulheres estrangeiras. Como podemos tolerar o que ouvimos? Como podem vocês cometer essa terrível maldade e serem infiéis ao nosso Deus, casando-se com mulheres estrangeiras? (Ne 13.23-27 – NVI).

O que temos aqui é uma casa dividida onde cada um fala uma língua, menos a língua do povo de Deus. Isso tem ocorrido em muitos lares de pessoas cristãs também, pois se casaram com pessoas que não eram cristãs, ou estavam na igreja, mas não eram fiéis. Jugo desigual acontece até com pessoas da mesma igreja.

Por exemplo: se você tem o chamado para o ministério e sua namorada não concorda com isso é melhor terminar esse relacionamento ou, você é totalmente envolvido com as coisas de Deus e seu namorado é um songa monga procure outro rapaz que tenha os mesmos objetivos que você. Isso em relação aos estudos, se a pessoas é ciumenta demais etc.

Meus queridos pais se preocupem com quem seus filhos irão se casar, pois se não você sofrerá como rebeca e Isaque sofreram com Esaú (Gn 26.34,35).

CONCLUSÃO

Vimos que um pai maduro na fé age de acordo com a vontade de Deus e não segue os seus desejos. Um pai maduro na fé conhece e obedece a voz de Deus e colhe frutos abençoados das mãos do Senhor.

Homens maduros na fé sabem que são totalmente dependentes de Deus em todo o tempo. Como disse Max Lucado: “Conselheiros podem confortar você na hora da tempestade, mas você precisa de um Deus que possa acalmar a tempestade. Amigos podem segurar-lhe a mão em seu leito de morte, mas você precisa de Yahweh que venceu a sepultura. Filósofos podem debater o significado da vida, mas você precisa de um Senhor que possa declarar o sentido da vida. Você precisa de Yahweh!”  
  
Pense nisso!

Fonte: 
  
1 – Wiersbe, Warren W. Pentateuco, Comentário Bíblico Expositivo. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 133. 
2 – Gardner, Paul. Quem é Quem na Bíblia Sagrada. Editora Vida, São Paulo, SP, 1999: p. 11.

3 – Wiersbe, Warren W. Pentateuco, Comentário Bíblico Expositivo. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 135.
4 - Lucado, Max. Aliviando a Bagagem. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2002: p. 19.