sábado, 29 de outubro de 2016

O CULTO ACEITÁVEL A DEUS


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Gn 4.1-11 

INTRODUÇÃO

Temos vivido um tempo difícil para a Igreja do Senhor Jesus. Quando digo “Igreja” eu me refiro àquelas pessoas que tem compromisso com Cristo e não aquelas pessoas que frequentam as nossas igrejas, mas que estão longe de um real compromisso com o Mestre.

E esse tempo difícil se resume no tipo de culto que se tem apresentado ao Senhor em muitos templos espalhados por aí, e também no nosso dia a dia – pois o culto não se resume a um ajuntamento eclesiástico, o culto é o nosso testemunho diário numa sociedade perdida. O que temos presenciado em muitas comunidades é um culto sem compromisso com o “Ser cultuado”, nesse caso com Deus. Assim como Caim, há muitas pessoas apresentando a Deus um culto não aceitável, diferentemente de Abel que ofereceu a Deus o melhor de si e do seu rebanho.

O que tem havido é uma expressão de fé que não é sadia, pois está adoentada pela carne, pelos desejos mundanos, pela falta de seriedade na adoração. Há um emocionalismo a flor da pele, mas que não passa de pura piegas. É uma fé que quer sentir o sobrenatural, mas que não encara o dia a dia com suas dificuldades e lutas diárias. É gente que quer ouvir: “É só vitória!”, mas se esquece, ou não sabe que não há vitória sem luta; e que a vitória que o Senhor tem para o Seu povo vai muito além de alcançar algum benefício nesta terra. Uma fé sadia e madura reconhece o sobrenatural de Deus e não necessita de intervenções miraculosas para provar que Deus é real. O cristão sadio não busca a Deus para que mude as circunstâncias num passe de mágica, mas confia que Deus o ajudará em meio a tribulações, disse John Stott [1].

E pensando nessa maturidade que eu quero analisar esse texto de Gênesis 4.1-11 onde encontramos Abel e Caim, esses dois irmãos, oferecendo os seus sacrifícios, o seu culto ao Senhor. Porque que um foi aceito e o outro não e as consequências que isso causou na vida desses dois irmãos.

O que podemos aprender com esse episódio nos primórdios da humanidade?

EM PRIMEIRO LUGAR APRENDEMOS AQUI QUE A ADORAÇÃO É INDIVIDUAL (Gn 4.3,4).

“Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho” (NVI).

O que é adoração? Poderíamos dizer que é uma honra que se presta a Deus, em virtude do que Deus é e do que significa para os que O adoram. A palavra hebraica que mais se usa para adoração no Velho Testamento significa inclinar-se. No caso, por exemplo, em Gn 18.2. A palavra grega que geralmente se utiliza no Novo Testamento proskuneo, e significa prestar honra, tanto a Deus como aos homens.

Observe que o texto nos diz que cada um trouxe a sua oferta, e ofertas diferentes; isso é mais uma prova que a forma como me chego a Deus é de forma individual. Podemos adorar em comunidade, mas a adoração sempre será individual. A prova é que o Senhor aceita a adoração de Abel e rejeita a de Caim.

Veja o que o Senhor nos fala no Salmo 139.1-3:

Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos. Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos são bem conhecidos por ti (NVI).

O Senhor sonda indivíduos, ainda que estejam adorando em comunidade.
  
EM SEGUNDO LUGAR APRENDEMOS AQUI QUE NEM TUDO QUE SE CHAMA “ADORAÇÃO” É ACEITÁVEL A DEUS (Gn 4.4c,5a).

“O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta” (NVI).

O Senhor Jesus não está preocupado com a minha oferta, mas como eu levo a minha oferta. Veja que o Senhor se agrada de Abel e depois da sua oferta. Deus esquadrinha o coração do adorador, o que eu dou é secundário. Observe, por exemplo, a passagem em que o Senhor está diante do gazofilácio vendo as pessoas ofertarem no templo (Mc 12.41-44):

“Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições, e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias. Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor. Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver” (NVI).
O Senhor Jesus viu os ofertantes antes de ver a oferta oferecida. Uns davam sobra, a viúva deu tudo.

Notemos as condições para a adoração. Podemos apresentar pelo menos três condições para uma adoração aceitável:

1º - A adoração tem que vir de um coração regenerado – O homem natural não tem capacidade própria para adorar a Deus; nem mesmo tem direito aos privilégios do Reino de Deus. O Senhor não aceita a adoração de quem não se submete aos termos da sua aliança (SI 50.16-17). O pecador não regenerado não pode ver o Reino de Deus (Jo 3.3). O homem natural não pode compreender as coisas espirituais (1 Co 2.12-16).

Por isso que o autor de Hebreus disse que “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam” (Hb 11.6 – NVI).

2º - A adoração tem que ser em Espírito (Jo 4.24) – Isto significa adoração em conformidade com a natureza de Deus. Deus é espírito e, em razão disto, somente pode ser adorado “em espírito”. E assim como nascemos de novo – nascidos do Espírito – ou seja, regenerados, a nossa adoração deve ser de acordo com a nossa nova natureza.  

3º - A adoração tem que ser em Verdade (Jo 4.24) – Isto diz respeito aos motivos e à vida do adorador. Se quanto à natureza do culto temos de adorar em espírito, quanto aos motivos temos de adorar em verdade; temos de trazer à presença de Deus um espírito cheio de sinceridade, honestidade e verdade.

Portanto, um culto formal, orientado por uma “ordem” humanamente estabelecida, pode ser muito atraente e bonito, mas não é culto verdadeiro. A adoração a Deus não consiste em rituais complicados e cerimônias pomposas. Esses artifícios humanos podem, quando muito, provocar emoção e, não raro, salvam as aparências, satisfazem o orgulho e vaidade humana, mas não alegram o coração de Deus.

John Stott diz que a primeira característica da adoração de coração é que ela se baseia na razão; a mente está totalmente envolvida. Na Bíblia, o “coração” não equivale simplesmente às emoções como na linguagem atual. No pensamento bíblico, o “coração” é o centro da personalidade humana e é, muitas vezes, usado para enfatizar mais o intelecto do que as emoções [2].

O apóstolo Paulo deixou isso bem claro quando disse que o nosso culto tem que ser um “culto racional” (Rm 12.1). Racional vem da palavra grega logikos. Nesta palavra, não é difícil ver a ideia da lógica ou raciocínio.

Por isso que em Atos 16.14 nos diz que o Senhor abriu o entendimento de Lídia para atender à mensagem de Paulo.

Por exemplo, os samaritanos aceitavam o Pentateuco, mas rejeitavam a revelação posterior que Deus fez de si mesmo por meio dos profetas. Tendo a Lei sem os profetas, o conhecimento divino dos samaritanos era incompleto. Então, a “verdadeira adoração” é a “adoração em verdade”; é a adoração de Deus Pai como ele se revelou plena e finalmente em Jesus Cristo. Se a adoração samaritana estava (para dizer o mínimo) empobrecida por causa da rejeição ao ensinamento dos profetas, grande parte da adoração judaica estava corrompida pelo ritualismo [3].

Através da Sua Palavra o Senhor se revela e nos revela como devemos adorá-Lo. Por isso a necessidade de conhecermos a Sua Palavra para podermos adorá-Lo de forma correta. 
   
EM TERCEIRO LUGAR APRENDEMOS AQUI QUE O SENHOR QUER RESTAURAR O CORAÇÃO DO ADORADOR (Gn 4.5b-7).

“Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. O Senhor disse a Caim: Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo”.

O Senhor não aceitou nem a Caim nem a seu sacrifício, pois não se agradara de Caim. Tudo indica que Caim não se apresentou diante do Senhor com o seu coração totalmente rendido a Ele.

Mas o Senhor não desistiu de Caim. O Senhor tentou restaurá-lo, trazer-lhe a consciência de que ele é quem estava errado, e que se ele agisse de forma correta seria aceito. No entanto Caim não ouviu o conselho amoroso do Senhor e se deixou dominar pelo pecado.

Por que o Senhor rejeitou a oferta de Caim e por que Caim não aceitou a correção do Senhor? Creio que há somente uma resposta para esta pergunta: Porque Caim era do maligno (1Jo 3.12).

Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas”

O apóstolo João diz que Caim é um símbolo do mundo que nos odeia (1Jo 3.13). Caim odiou Abel não porque Abel era mau, mas porque Abel era piedoso. Não foram os pecados de Abel que inflamaram seu ódio, mas as virtudes. A retidão de Abel atormentava Caim. O mesmo aconteceu com Davi em relação a Urias.

Caim não era um ateu. Ele era um religioso. Ele fazia oferendas a Deus. Seu ódio brota neste contexto da prática religiosa. Vamos ver o processo da rebeldia espiritual de Caim.

1º - Caim quis adorar a Deus sem observar os preceitos de Deus. A aproximação de Deus se dava por meio do sangue (Gn 4.4). O sangue dos animais apontava para o sacrifício de Cristo na cruz (Rm 3.24-26). Todos os sacrifícios apontavam para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29; Hb 9.22). Quando Caim trouxe a Deus um sacrifício incruento, ele estava desprezando o caminho de Deus, a Palavra de Deus, as prescrições do culto divino. Queria abrir até Deus um caminho pelos esforços, o caminho das obras. O caminho de Caim é o caminho do humanismo idolátrico, o caminho das obras de justiça separado da graça (Jd 11).

Em outras palavras ele quis dizer: eu cultuo do meu jeito, da minha maneira, segundo a minha vontade. Assim como há pessoas que dizem que são servas de Cristo, mas não frequentam igreja, pois não há necessidade de estar na igreja para adorá-lo, segundo eles. Mas também não há nenhum testemunho na vida de que tem compromisso com Ele.

Mas há uma segunda interpretação dessa passagem. Para alguns teólogos não foi porque Caim não ofereceu um sacrifício incruento que o Senhor o rejeitou, mas por falta de compromisso com Deus, e falta de temor, já que ele era do maligno. Derek Kidner diz que é um argumento precário afirmar que a ausência de sangue desqualificou a oferta de Caim (cf. Dt 26.1-11); tudo que é explicito aqui é que Abel ofereceu a fina flor do seu rebanho e que o espírito de Caim era arrogante (v. 5; cf. Pv 26.27). O Novo Testamento infere as implicações adicionais e importantes de que a vida de Caim, diversamente da de Abel, desmentia sua oferenda (1Jo 3.12) e de que para aceitação de Abel, sua fé foi decisiva (Hb 11.4) [4].

2º - Caim quis prestar culto a Deus sem examinar o próprio coração. Caim pensou que poderia separar o culto da vida. Ele pensou que Deus estivesse buscando adoração e não adoradores. Se nossa vida for de Deus e não estiver certa em Deus, o nosso culto será abominável aos olhos do Senhor. Pois o Senhor não se agrada de rituais separados da vida. Culto sem vida é abominação para Deus (Is 1.13,14; Am 5.21-23; Ml 1.10).

3º - Caim quis prestar culto a Deus com o coração cheio de ódio e inveja do seu irmão Abel. De nada adianta trazermos ofertas a Deus se o coração for um poço de inveja e ódio. A relação com Deus não pode estar certa se a relação com o próximo estiver quebrada. Antes de trazer a oferta ao altar precisamos nos reconciliar com os nossos irmãos (Mt 5.23,24). Antes de Deus aceitar a oferta, ele precisa aceitar o ofertante.

Não podemos separar o culto da vida. A raiz do problema de Caim era a inveja. Ele se desgostou ao ver que Deus havia aceitado seu irmão e sua oferta, ao passo que ele mesmo e sua oferta foram rejeitados. Caim preferiu eliminar o seu irmão a imitá-lo. A inveja de Caim o levou a tapar os olhos e os ouvidos para o aprendizado [5].

EM QUARTO LUGAR APRENDEMOS AQUI QUE UM CORAÇÃO QUE NÃO QUER SER RESTAURADO O PECADO ENTRA E DESTRÓI (Gn 4.8-10).

A Bíblia é clara em mostrar que o ódio de Caim era originado pelo diabo, no maligno, e que acabou no assassinato do próprio irmão. A palavra grega esphaxen significa literalmente cortar a garganta ou degolar. Não é só o pecado em geral que procede do diabo, mas o ódio e o homicídio em particular, pois, como dissera Jesus, o “diabo... foi homicida desde o princípio” (Jo 8.44). Inveja – ódio – assassinato é uma sequência natural e terrível [6].

Caim mata o seu irmão no coração, depois o envolve em uma mentira e por fim o assassina. O homicídio foi tão somente o resultado do que ele já vinha sendo, e não o começo da sua iniquidade (1Jo 3.15).

Com essa atitude Caim colheu frutos amargos em sua vida.

1º - Tornou-se o primeiro homicida da terra. Ele não matou um estranho, mas um que era carne de sua carne, o seu próprio irmão. E tudo por inveja, por ser seu irmão justo e ele não.

2º - Trouxe tristeza duas vezes para sua família. Primeiro por ter assassinado o seu irmão Abel e segundo, por ter deixado a companhia de seus pais, ou seja, seus pais perderam os seus dois filhos.

3º - Ele se tornou uma pessoa amaldiçoada pelo Senhor (Gn 4.10-12,15). Diz o texto que Caim foi marcado pelo Senhor para que ninguém o matasse. Esse sinal que ninguém sabe o que é, mas esse sinal visava tanto à sua proteção quanto para mostrar o desprezo do Senhor por ele.

A vida de Caim é um exemplo da fúria do pecado no coração do homem. O quanto ele é destrutivo e as suas consequências extremamente danosas. Ele não só destrói a pessoa que o carrega, mas também as pessoas ao redor, é só olharmos para a nossa sociedade e veremos as suas consequências. 
   
EM QUINTO LUGAR APRENDEMOS AQUI QUE A VERDADEIRA ADORAÇÃO NÃO É VÃ (Hb 11.4).

“Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala” (NVI).

Abel era um homem justo por causa da sua fé (Mt 23.35), por isso que ele é exemplo para todos nós hoje. 

Mas entenda uma coisa: a fé não nos isenta de sermos perseguidos, de passarmos por tribulações, muito menos de sermos mortos. Tudo isso o Senhor já nos havia alertado que passaríamos nesta terra e ao lermos a história da Igreja, seja no Novo Testamento quanto na própria história da Igreja no mundo vemos isto de forma muito clara.

Desconforto é realidade. Dor é realidade. Conflito é realidade. Batalha espiritual é realidade. A fé sadia nos ajuda a aceitar todas essas realidades bíblicas, sendo beneficiados pela realidade da presença e ajuda de Cristo. Uma fé tóxica e doente nega o lado negro, criando, assim, um conflito ainda maior [7].

Como disse Pedro em sua primeira carta:

“Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria. Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. Se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como quem se intromete em negócios alheios. Contudo, se sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome. Pois chegou a hora de começar o julgamento pela casa de Deus; e, se começa primeiro conosco, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, “se ao justo é difícil ser salvo, que será do ímpio e pecador?” Por isso mesmo, aqueles que sofrem de acordo com a vontade de Deus devem confiar sua vida ao seu fiel Criador e praticar o bem” (1Pe 4.12-19 - NVI).

CONCLUSÃO

A história de Abel e Caim é um alerta para todos nós, pois afinal de contas somos adoradores. Adoramos a um único Deus verdadeiro que quer ser adorado em espírito e em verdade, ou seja, devemos adorá-lo com todo o nosso ser e firmados na Sua Palavra. Assim procedeu Abel, por isso foi aceito diante do Senhor, ele, em primeiro lugar e depois a sua oferta. No entanto, Caim, por ser do maligno, agiu segundo a sua vontade e Satanás encheu o seu coração de ódio do seu irmão por este ser piedoso.

Mas devemos nos lembrar das palavras de Jesus que nos alertou dizendo: “Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou” (Jo 15.18 – NVI). Ser odiado faz parte da vida cristã, não pense que seremos sempre amados por sermos fiéis ao Senhor. E muitas vezes o ódio virá de pessoas próximas a nós. De gente que amamos, mas que, infelizmente, nos odeiam.

Que o nosso coração esteja guardado desse sentimento maligno. Que façamos o que o Senhor nos orientou a fazermos: “vigiar e orar para não cairmos em tentação” (Mt 26.41).

Pense nisso!

Notas

1 – Felton, Jack e Arterburn, Stephen. Mais Jesus, menos religião. Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP: 2002, p: 19.
2 – Stott, John. As Controvérsias de Jesus. Editora Ultimato, Viçosa, MG: 2015, p. 139.
3 – Ibid, p. 140.
4 – Kidner, Derek. Gênesis, Introdução e Comentário. Editora Mundo e Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 70.
5 – Lopes, Hernandes Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia de salvação. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2010, p. 171, 172.
6 – Stott, John R. W. I, II e III João introdução e comentário, Editora Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1988, p. 120.
7 – Felton, Jack e Arterburn, Stephen. Mais Jesus, menos religião. Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP: 2002, p: 17.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Jesus orou por igrejas verdadeiras num mundo real e caído, orou por igrejas imaturas, orou...

 
 
Por Josemar Bessa

Muitas pessoas num mundo que prega abertamente o individualismo e cada homem como medida do que é bom e correto para si mesmo, tentam encontrar desculpas que racionalizem o problema nascido no Éden, o homem sendo “deus” de si mesmo.

Uma das desculpas é sempre tirar a responsabilidade pessoal pelo meu fracasso e colocá-lo em grupos maiores que não tem uma cara específica. Gostamos e abraçamos como desculpa os pecados institucionais, tão condenados diariamente, e pouco falamos dos pecados pessoais, que em última análise, são o nosso verdadeiro problema.

Muitos falam da imperfeição da igreja apenas como uma desculpa para sua vida vivida em torno de si mesmo.

Por exemplo, a unidade da igreja – A unidade da igreja ( olhe para a igreja local) não significa a ausência de conflitos. Quando Cristo orou pela unidade, ele também orou pela santificação de sua igreja ( João 17.17). A necessidade de santificação pressupõe a presença do pecado, e presença do pecado resulta muitas vezes, como não podia deixar de ser, em desunião.

Cristo sabia disso, ele não ora de forma ingênua, ele orou por igreja verdadeiras num mundo real e caído, orou por igrejas imaturas, por igrejas perseguidas que lutariam com o medo..., igrejas que teriam problema com o orgulho, igrejas com membros pecadores... Ou seja, igrejas como as que o apóstolo Paulo fundou e dirigiu, e Pedro, e João... e tiveram que escrever cartas, admoestar, repreender... Igrejas como as que Jesus repreende através de João em Apocalipse 1-3. Mas a oração de Jesus ainda é que esses pecadores justificados, regenerados... estejam juntos, se mantenham juntos... Por quê? O plano de muitos hoje seria cada um ficar em sua casa até que todos fossem perfeitos para se juntarem. Mas Jesus os quer juntos e ora para que sejam santificados pela Palavra... pecadores que muitas vezes tem conflitos, juntos? Por que? Porque Jesus usa os pecados irritantes dos outros para expor nossos próprios pecados, criando oportunidades de tolerar, desenvolver a paciência, orar por transformação, aprender a perdoar... cumprindo assim uma instrução fundamental: “amar uns aos outros” ( Jo 13.34-35). Como Ele nos amou, como Ele amou os discípulos... se havia algo longe de qualquer perfeição era o grupo de discípulos que andou com Jesus naqueles três anos: Pedro, Tiago e João, Tomé... Quanto orgulho e disputa por primeiro lugar houve entre eles, quanto medo, quanta incredulidade... Tudo isso levou a desunião muitas vezes, mas a contenda que naturalmente leva a desunião traz consigo a possibilidade de refinar a igreja quando o pecado é confrontado, confessado... e o evangelho da graça é aplicado (Mt 18.21-35).

O crescimento na unidade da igreja não depende de faixa etária, música... Você cria tribos, “igrejas tribais” – Em torno da juventude, estilos musicais, vestes... Não é Cristo o ponto focal dessa união – ela é humana e carnal. Sempre é a isso que nossas estratégias levam.

A unidade da igreja depende da Palavra de Deus. Logo antes de Cristo orar pela unidade da igreja nos versos 20,21 de João 17, ele ora para que Deus santifique o seu povo. A sua oração deixa claro que a unidade tem uma base, a santificação. E ele afirma que a santificação flui da Verdade: “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade!”

Apenas quando nos humilhamos de fato sob a Palavra, não sobre partes, mas toda a Palavra, toda a Verdade. Quando abandonamos a ideia de determinar o que é relevante ou não nela, o que sempre é forjado na arrogância de um coração que não ama a Verdade, sempre que nos reunimos em torno de sua mensagem integral, mudanças espirituais verdadeira produzem unidade espiritual verdadeira.

Unidade construída em qualquer outra base, quer seja a personalidade do líder, o estilo, o ministério específico que se molda ao gosto natural de um grupo... está destinado ao fracasso aos olhos de Deus. Só quando a Palavra é central, os membros podem de fato ser reconciliados uns com os outros, aprender a perdoar uns aos outros, amar uns aos outros... a unidade da igreja depende de empenho de todos juntos crescerem na prática na compreensão da Palavra de Deus: “Santifica-os na Verdade!”

Muitos esperam o que nunca foi prometido por Cristo. Muitos esperam o que nunca foi experimentado por nenhuma das igrejas fundadas por Paulo, Pedro, João... A unidade da igreja não será plenamente realizada neste mundo. Portanto, muitos usam esse tema, como outros, apenas para disfarçarem sua recusa em viver o evangelho e crescer como povo e rebanho de Deus juntos. O que leva a compromisso, obediência, sujeição... e tantas outras coisas que apesar de ser o claro ensino bíblico, a mente desta geração detesta. Nesta geração um dos deuses mais cultuados é o individualismo. E muitos usam de várias desculpas para cristianizarem esse deus em suas vidas.

Muitos esperam hoje o que não está prometido até a volta de Cristo, o que o torna a pessoa inútil agora, no único tempo que ela tem neste mundo no trabalho de Deus na edificação da Sua igreja. Como Paulo poderia se manter útil e motivado em escrever cartas para as igrejas locais, pessoalmente lutar pela verdade de Deus nelas, pelo crescimento espiritual das pessoas... se pensasse assim?

A esperança do futuro não pode distorcer a percepção do presente. Todos nós devíamos saber, pelo claro ensino bíblico e pela nossa luta pessoal, que vivemos em um momento em que o Espírito e a carne coexistem numa guerra. Que o mundo é um inimigo poderoso, que Satanás engana e trabalha também em nosso meio. Devemos então, de modo realista, como Jesus, orar pela paz e união da igreja, buscar “se possível estar em paz com todos” – ou seja, no que depender de nós. Sermos filhos de Deus, ou seja, pacificadores no meio da igreja (Mt 5.9)... mas não ficarmos surpresos quando a desunião mostrar sua feia face. Devemos em momentos assim avaliar a nossa própria contribuição tanto na quebra da união, como na responsabilidade pela paz. Este é um assunto, como muitos outros, que nós temos o já, e temos também o “ainda não”.

Devemos avaliar a nossa própria contribuição para a luta, é preciso remover o registro do nosso próprio olho, e devemos esperar de novo no evangelho de Jesus Cristo. Sua paz é já, mas ainda não!

Exercer o perdão, a paciência, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o amor... é estar vivendo exatamente isso. Num perfeito ambiente de paz, esses frutos não estariam sendo desenvolvidos. Um dia esse tempo chegará.

Se tua aspiração fixa agora está no que ainda está no futuro, e com isso a tua desculpa está na imperfeição da igreja, sua motivação não pode ser a mesma dos apóstolos... nem mesmo a de igreja ao orar por sua igreja (João 17), mas não passa disso, desculpa e racionalização. No entanto, paz perfeita está prometida, e está prometida por um Deus soberano que não pode falhar e não falhará. Hoje já estamos em paz com Ele (Rm 5.1). Agora oramos pela união, temos nos tornado pacificadores, estamos sendo santificados pela Palavra... estamos engajados na batalha, e não procurando desculpas para fugir dela.
 
Fonte: Josemar Bessa

terça-feira, 18 de outubro de 2016

NADA É MAIS DESESPERADOR QUE CONHECER A SI MESMO!


Por Fabio Campos

Um das virtudes do sábio é conhecer a si mesmo. Mas conhecer a si mesmo, por vezes, é desesperador. “Quantas paixões”! Nossos sentimentos e motivações depõem contra nós. Neste mar revolto chamado mundo, somos penas movidas e agitadas pelo vento. Quanta inconstância há em nós; quão vacilantes nossos pés. Conhecer a si mesmo, sem dúvidas, é desesperador! A menos que você ignore quem realmente você seja ou se acovarde de contemplar a própria face do espelho. 

Com efeito, há um jeito de fugir disso; ou seja, olhar a face no espelho e logo se esquecer da própria aparência, criando uma personagem para poder atuar. Aí já não é você, se trata de outro. Alguém criado conforme a sua vontade. Uma réplica mal feita e clandestina. Pior é que tem gente que acredita na própria mentira que ele mesmo a criou. Como pode?

Disto nasce a hipocrisia que nada mais é, segundo os gregos, “desempenhar um papel” representando a si mesmo como outra pessoa e melhor do que realmente é. Quem não tem um pouquinho disto, não é verdade!? 

É duro encarar gênesis 3, a saber, a nossa derrota que ateus e filósofos não arrazoam. Caso não houvesse gêneses 3, de fato, os acusadores estariam certos em dizer que Deus é um ser tirano (responsável pelo mal do mundo), ou que Ele não é Todo-Poderoso (por não refrear o mal), e que, portanto, Ele não existe. Mas a Escritura traz uma teodicéia (tentativa de mostrar que Deus não é responsável pelo mal). A culpa é nossa; toda nossa!, como está escrito: “Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixa-se cada um dos seus próprios pecados” (Lm 3.39). 

O pecado afetou tudo, e mesmo os que receberam o Espírito de adoção não sabem orar como convém orar. O que seria da gente se o Espírito não gemesse em nós e por nós. Somos fracos! Você pode ser um pregador poderoso em palavras; um escritor habilidoso; um teólogo articulado – o seu carisma poderá arrastar multidões. Mas a verdade é que somos pó.

Você pode até ter a lei de Deus na sua mente; mas há outra lei em seus membros guerreando contra o que é bom, santo e perfeito. “Ah, Senhor, se não fosse a Sua Misericórdia ofertada em Cristo – para nos livrar do corpo desta morte”. Se não fosse o Teu Espírito interceder por nós e dentro de nós. Poderíamos fazer, no entanto, longas orações, porém, não como convém. Ele está em nós, ora por nós ao Deus que é sobre nós. Tudo porque Ele sabe: “Somos pó”! 

Quem poderia, portanto, surpreender Deus com a sua performance espiritual ou teológica? Quem poderia dar sequer um conselho a Deus? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompensado? 

É sábio conhecer a si mesmo, mas também é desesperador. Por essa razão, homens fogem (através dos seus vícios, sejam quais forem: drogas, sexo, poder, trabalho) de quem de fato são. Mas tudo muda quando este conhecimento se estende ao conhecimento de Deus. Com efeito, a sua glória nos amedronta e o seu juízo nos perturba. Mas o Cordeiro de Deus venceu o mundo por nós.

Por meio d’Ele temos livre acesso apelo novo e vivo caminho, a fim de alcançamos graça e misericórdia nas vezes que precisarmos. Mas quem não precisa de graça e misericórdia? Há algum momento no qual não precisamos deste favor? Até mesmo quando realizamos o que deve ser feito precisamos da graça de Deus para não cairmos no orgulho e ser enquadrado na “virtude” no Diabo.

Nosso Sumo Sacerdote conhece as nossas fraquezas. Ele é aquele que tem prazer na misericórdia e a faz triunfar sobre o juízo. É graça! É sua bondade que nos conduz ao arrependimento e o seu amor leal que nos constrange. Ele é a salvação dos fracos e trôpegos, como está escrito: “Eu habito em lugar alto e santo, mas estou junto do humilhado e desamparado, a fim de animar os espíritos desamparados, a fim de animar os corações humilhados” (Is 57.15 BJ). 

Tenha misericórdia de nós, Senhor; ô Eterno! Lança fora os nossos pecados; afasta de nós as nossas transgressões assim como o Oriente está para o Ocidente. Purifique o nosso coração. Fortaleça os nossos joelhos vacilantes. Nos dê animo para seguir a caminhada e acrescente a nossa fé.

Que Deus nos livre de nós mesmos, pois Ele é a Rocha que jamais foi abalada.

Em Teu Filho, lanço os meus pecados e cuidados. Dê-me tão somente a sua paz para que contigo eu possa vencer o mundo mesmo sendo quem sou. Que assim seja, amém! 

Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!

Fabio Campos

Fonte: Fabio Campos

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A cruz de Cristo e missões

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Por Pr. Mauro Rehder

INTRODUÇÃO

Texto Base: Isaías 53:1-12 

O que a cruz de Cristo tem a ver com missões, o que esse texto que anuncia a morte do filho de Deus tem a ver com a evangelização do mundo? A relação está no fato de que a obra de missões está fundamentada no amor de Deus pelo mundo.

Jo 3:16 - O amor de Deus é manifestado ao mundo pelo fato de ter Cristo morrido na cruz para redimir o seu povo que está espalhado e disperso no mundo, veja também Ap 5.9.

Por isso fazemos missões, porque Jesus morreu para reunir em um só corpo os filhos de Deus que andam dispersos pelo mundo (Jo 11.49-52).

E é isso que vemos isso acontecendo na história da igreja, desde a igreja primitiva até dias de hoje. Deus salvando pecadores e concedendo vida eterna (At 13.48)

Deus tem um povo que é dele e está trabalhando a fim de salvá-lo dos seus pecados. Mt 1.21.

Isaías profetizou exatamente isso, que Jesus seria ferido na cruz pela transgressão do povo de Deus (v. 8).

Deus em sua palavra, especificamente nesse texto de Isaías, não está anunciando coisas que podem acontecer mas coisas que vão acontecer a respeito da morte do seu Filho, para redimir o seu povo dos seus pecados.

Esse é um texto profético. Isaías profetiza e escreve detalhadamente aquilo que aconteceria 700 anos mais tarde. E tudo aconteceu conforme estava escrito. Deus não precisou consultar o futuro para ver o que os homens iriam fazer com o seu filho para então revelar essas coisas a Isaías. Pelo contrário, tudo o que aconteceu a Jesus acerca da sua traição, crucificação e morte foi para que se cumprisse a escritura.

Jesus não foi assassinado por que homens maus decidiram matar o filho e Deus. Não, Jesus foi entregue pelo desígnio e presciência de Deus (At 2.23).

At 4:27-28 - Deus não foi pego de surpresa mas antes fundação mundo já havia determinado resgatar o seu povo pelo sangue do seu filho derramado na cruz. A mensagem da cruz era a essência da pregação do apóstolo Paulo, o maior missionário que esse mundo conheceu.

1 Coríntios: 2.2: "Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado".

Nesse texto Isaías descreve com exatidão o que aconteceu ao servo sofredor para que homens e mulheres fossem resgatados e redimidos dos seus pecados.

Nesse texto está a essência do evangelho. Vejamos o que Cristo realizou naquela cruz.

1) Ele foi desprezado e rejeitado. v. 2,3

Não tinha beleza nem formosura - Não significa ausência de beleza, mas Isaías está detalhando o rosto desfigurado messias, pelo sofrimento - Is 52.14

Desprezado pelo seu próprio povo - Jo 1.11.

Rejeitado - Jo 12:37-40

2) Ele levou sobre si nossas dores e enfermidades. v. 4

Jesus experimenta em seu corpo toda a fraqueza e fragilidade humana ao ponto de suar sangue pois sua alma se angustiou até a morte.

Ele derramou a sua alma na morte. v. 12. Ele experimentou todo o sofrimento que o pecado pode causar a um homem até o mais alto grau e sofreu até entregar seu espírito a Deus.


3) Ele sofreu o castigo e a ira de Deus devido ao pecado. 
v.5;10

A punição pelo pecado do povo Deus, foi dada a ele. Ele foi afligido, ferido e oprimido até a morte. Ele foi castigado, traspassado, cortado, moído, Deus o fez enfermar. Como inocente ele sofreu cruciante dor.

Getsêmani: Pai se possível passa de mim este cálice. Jesus não estava com medo dos cravos, dos espinhos da coroa, das bofetadas, não estava com medo da lança que lhe furou o lado.

Nenhuma dessas coisas era o cálice a que Jesus se referia, Jesus o filho do homem estava com medo do cálice da ira de Deus que seria derramado sobre ele - v. 5 e 10.

Jesus suportou tudo sem abrir a boca, como um cordeiro foi levado ao matadouro e como ovelha muda perante os seus tosquiadores.

4) Ele reconciliou pecadores com Deus. v.5

2 Co 5.18 / Rm 5.10 - Fomos reconciliados, não há mais Inimizade. Com o seu sacrifício Jesus mudou a disposição de Deus em relação a nós.

O castigo removeu a ira de Deus que era contra nós.

1 Tessalonicenses: 1.10: "e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura".

Na cruz Jesus nos salvou ira de Deus a fim de nos aproximar dele.

1 Pedro: 3.18: "Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus".

5) Ele carregou em seu corpo o pecado de todos nós. v.6;12b

1 Pe 2:24-25 - Cristo é mais que um exemplo, ele fez em nosso lugar aquilo que não podíamos fazer. Ele sofreu a maldição do pecado recebendo punição e o castigo exigidos por Deus.

Gálatas: 3.13: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro".

6) Ele foi humilhado. v.7

Foi escarnecido, zombado, fizeram pouco caso dele. Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.

7) Ele foi condenado injustamente. v.8

Sem culpa alguma da parte Jesus a multidão eufórica insistia aos gritos: crucifica, crucifica.

Lc 23:4;14-15 - Deus providenciou que Jesus fosse julgado e sentenciado pela justiça romana, que era a representação máxima de inteligência jurídica e do poder judicial do mundo daquela época, a fim de que fosse provada a sua inocência.

Para que assim ficasse claro a todas as pessoas que ele não estava sendo condenado por nenhum crime cometido por ele, mas sim pelos pecados cometidos pelo povo de Deus. v. 8

8) Ele foi morreu sacrificialmente pelos pecados do povo de Deus. v.8

v. 8 - Foi cortado da terra dos viventes (morreu); por causa transgressão do meu povo foi ele ferido.

A morte de Jesus foi vicária, substitutiva. O bom pastor morreu no lugar das suas ovelhas e concedeu a elas vida eterna - Jo 10.11;15;27-28

9) Ele se ofereceu voluntariamente a Deus como oferta pelo pecado. v.10

Jo 10.17,18 - "Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai".

10) Ele justificou muitos pecadores. v.11

O que significa dizer que na cruz Jesus justificou pecadores?

A Justificação é um ato jurídico no qual, mediante a morte penal de Jesus cumprindo a pena imposta como punição pelo pecado, Deus nos declara justos. Deus pune o pecado e o pecador na pessoa do seu filho. A punição que a lei exige foi aplicada em Jesus, que pagou o preço pelos nossos pecados com o seu sangue, portanto não estamos mais há débito com Deus.

Aos olhos de Deus agora somos justos. Mas como Deus fez isso?

2 Co 5.21 - Deus atribui nossos pecados à Cristo e atribui à nós a justiça de Cristo.

2 Co 5.19 - Não atribuindo aos homens os pecados deles mas atribuindo a Cristo. E então nos declara justos.

Somente após nossa justificação é que somos reconciliados com Deus (Rm 5:1).

11) Ele foi vitorioso na cruz. v.10-12

Foi vitorioso pois obteve êxito e conquistou a liberdade do seu povo. Na cruz ele vislumbra o fruto da sua obra redentora. Tudo isso que estamos vendo Jesus adquiriu na cruz em favor do povo de Deus. O ensinamento central da morte de Jesus na cruz é que ele fez a expiação pelos pecados do povo de Deus. Mas o que significa isso?

O que é expiação? Expiar significa perdoar, remover, cobrir pecados.

No AT, por causa dos pecados do povo de Deus, todo dia o sacerdote precisava fazer o sacrifício de um animal.

Eles escolhiam um animal, colocavam as mãos sobre a cabeça dele simbolizando que a culpa pelos pecados estavam sendo lançadas sobre ele e então sacrificavam o animal como oferta a Deus pelo pecado, então Deus concedida o perdão ao seu povo.

O pecado deles havia sido expiado, havia sido removido, mediante o derramamento do sangue daquele animal. Jesus é esse cordeiro perfeito que levou sobre si os nossos pecados.

Propiciar significa tornar propício. Jesus pelo seu sacrifício remove a nossa culpa pelo pecado e por isso, Deus se torna propício, favorável e benigno para com o seu povo - 1 Jo 2.2 / 1 Jo 4.10.

O sacrifício substitutivo de Jesus na cruz é a essência evangelho. Rm 3.23-26

Rm 4.7-8 - "Por isso Deus nos considera justos pois ele não leva em conta os nossos pecados".

Deus é justo e o sacrifício do seu filho na cruz revela a punição divina imposta contra o pecado e contra o pecador. Jesus sofre punição pelos pecados e sofre no lugar de pecadores. Isso não significa que Deus é cruel mas que ele é justo. A sua misericórdia não anula a sua justiça e a justiça não anula a sua misericórdia, dessa forma ele pode ser justo ao punir o pecado e ao mesmo tempo ser justificador daqueles que crêem.

Deus sentenciou seu Filho à morte a fim de cumprir e executar a pena exigida pelo pecado do homem e ao mesmo tempo mostrar misericórdia ao seu povo os justificando dos seus pecados na morte de seu Filho. Um Deus justo nunca trata o culpado por inocente por isso Jesus sofreu como homem afim de que um representante da raça humana sofresse a punição devida para que então a justiça de Deus fosse feita, para que ela fosse satisfeita.

Na cruz Deus vindica a sua justiça. O que é vindicar? É reclamar, exigir algo a que se tem direito é protestar. E é isso que Deus faz, por meio da cruz, Deus está defendendo e afirmando a sua santidade e justiça, impondo a pena devida ao pecado cometido pelo seu povo.

De sorte que com a morte de Jesus todas as justas exigências divinas devido ao pecado foram de uma vez por todas satisfeitas. O preço foi pago. Dessa forma Deus resgatou o seu povo mediante o sangue do seu filho.

1 Pe 1.18-20 - É fundamental e de externa necessidade termos um entendimento correto acerca da morte de Jesus a fim de que esse entendimento dirija a nossa missão e o nosso evangelismo. Por isso a cruz e missões não se separam. A cruz como símbolo da salvação e missões como o chamado de todo aquele que foi salvo por ela.

Michael Green, teólogo na área de missões diz: A maioria dos teólogos não gosta de evangelismo e a maioria das pessoas que gosta de evangelizar não gosta de teologia.

Entretanto, teologia e evangelismo estão intimamente ligados. A teologia, o estudo sério das escrituras te leva à uma vida piedade, de boas obras, de missões e evangelismo. Não dá para separar teologia e prática. A teologia bíblica produz atitudes práticas na vida da igreja especialmente na área de missões e evangelismo. Se você vai ao mundo anunciar alguma coisa você tem que ter alguma coisa para anunciar. Que mensagem você vai levar? O que você vai pregar?

Fazer missões não é fazer ação social, teatro, EBF, não é distribuir doces, hoje em dia essas coisas são usadas por alguns como um meio para se aproximarem das pessoas a fim de compartilhar o evangelho. Toda atividade evangelística deve estar fundamentada em conceitos teológicos profundos caso contrário não passa de ativismo, entretenimento e caridade. Sem doutrina, sem teologia é melhor não fazer missões caso contrário o estrago será grande.

Paul Washer: Missões não é enviar missionários ao campo, missões é enviar a verdade do evangelho ao campo missionário, através de pessoas preparadas para falar acerca de Deus.

E podemos ter certeza de que nenhum daqueles que pertence a Deus deixarão de ser salvos, nenhum deles se perderá pois:

João: 6.39: "Essa é a vontade daquele que me enviou: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia".

Que Deus o abençoe!

sábado, 1 de outubro de 2016

FOGE TAMBÉM DAS PAIXÕES DO FACEBOOK E DO WHATSAPP




Por Fabio Campos

O facebook deu voz ao coração. As redes sociais democratizaram a opinião do anonimato. Agora não somente ouvimos, mas também somos ouvidos. O verbo veio a público. Gente de todas as religiões (até mesmo pessoas que consideravam, até então, internet coisa do capeta, agora estão online). Militantes de todos os partidos políticos; os extremos estão guerreando; direita versus esquerda. Todos estão lá querendo ser ouvidos. Tudo na santa paz! O respeito reina! Só que não, né!? ...

Minha impressão é que o mundo vai explodir a qualquer momento. Sério mesmo! Sem sensacionalismo. As pessoas não querem aprender e nem escutar. Elas anseiam em ser ouvidas (talvez seja por uma demanda reprimida de notoriedade). Raiva, ansiedade, frustração, decepção, inveja etc. Tudo na mesma panela. Imagine o resultado da receita.

Alguém posta algo com um intuito. Outra pessoa, num espírito totalmente diferente, comenta ou compartilha. Chega um terceiro, com outro ânimo, emite a opinião. Ninguém mais ouve ninguém. Vira diálogo de surdo. Cada qual na sua indignação emite o desabafo na sua página. Outros, porém, incomodados (que pensaram ser uma indireta a eles), comentam. Geraram-se mais tretas! E assim é desde o dia que foi dado voz aos escondidos (como eu).

Nem o futebol tem gerado tanta confusão como política e religião. E por falar em religião; como crente, preciso admitir: nós somos os mais chatos. Divergirmos em TODOS os assuntos. Mas isso não é novo. A “história da teologia” denuncia isso1. É sábio admitir que não exista teologia perfeita. Somente a Escritura é pura e cristalina! Teologia nada mais é que o esforço (legítimo) do homem para compreender o divino. 

Suas várias vertentes de interpretações passou-se por longas discussões. E muitas das vezes, acaloradas. Gente morreu por ter defender seu ponto de vista teológico. Coisas que afirmamos ser inerrantes foram formuladas no calor da paixão através de respostas e refutações! Cada sistemática defende o seu ponto de vista. Diferente das Escrituras. Ainda que contenha refutações (principalmente nas cartas), a Bíblia toda, diferente da teologia, foi inspirada por Deus de forma livre e perfeita, sem paixão humana, para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça o homem de Deus, preparando-o para toda boa obra. 

Não me entenda mal, por favor. Eu amo teologia mais do que qualquer outra coisa na academia. Mas entendo que ela é um sistema imperfeito para entender o que é perfeito. Isso me ajuda muito, pois quando sou tentado a ensoberbecer-se na minha refutação – este pensamento coloca-me no devido lugar.

Discutir teologia ao vivo já é complicado. Imagine fazer isso pela internet. Poucos são os que sabem usar a ferramenta do diálogo e do debate para a glória de Deus. É desanimador acompanhar certos debates (a maioria deles). Há mais calor do que luz. Será que vale a pena ser afligido pelo o que os outros dizem? Até onde Deus está envolvido nesta gritaria?

Eu mesmo tenho sido mais polido e criterioso em assuntos polêmicos. Não me acovardei (até onde sei); apenas tornei-me seleto pelo o que debater (se precisar). Digo isso porque já errei bastante. Perdi amigos de bobeira. Através da minha beligerância, levantei muros. Lamento muito, de verdade! Sei da importância das “vozes” cristãs a despeito de todos os assuntos. Só não caia na tentação de querer ser um messias cibernético. Quem fala muito traz perturbações (Pr 13.3). Portanto, com sabedoria, escolha a sua treta!

O cristão não pode ser superficial. Nós temos a mente de Cristo. Discernimos o mundo sem por ele se discernidos. As pessoas nos escutarão de fato se falarmos com propriedade. Aquele que possui fundamento não grita –, argumenta. 

Evitaremos muito sofrimento (nosso e para outros) se tivermos mais cuidado com o que iremos publicar, compartilhar e comentar (Pr 21.23). Foge, igualmente, das paixões do facebook e do whatsApp. O conselho bíblico é para seguirmos a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. Faça isso para o bem da sua alma.

Antes de postar algo – pare, pense, reflita, ore. Se for necessário, então escreva. Se não, fuja! Lembre-se que Nosso Senhor, em seu sofrimento, triunfou sobre seus adversários com a boca calada, como está escrito: “... ele não abriu a boca” (Is 53.7). Isso demonstra que não é a persuasão do homem quem faz as coisas, mas o poder de Deus.
Fuja, portanto, das paixões do Facebook e do WhatsApp. Você vai ser mais feliz e menos depressivo. É serio mesmo!

Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!

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1 Para saber mais sobre o assunto sugiro a leitura de OLSON, Roger em “História da Teologia Cristã” publicado pela Editora Vida Acadêmica.

Fonte: Fabio Campos