domingo, 27 de novembro de 2016

JESUS: A VIDA E A LUZ DOS HOMENS



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: João 1.4-9

INTRODUÇÃO

O versículo três de João nos diz que “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito”. Através desse verso entendemos que o Verbo é o agente divino na criação, ou seja, houve um Ser criador de todas as coisas, e no versículo 10b fecha a questão dizendo: “e o mundo foi feito por intermédio dele”. A Bíblia deixa claro que o Verbo é o criador de todas as coisas. E há muitas pessoas que tem crido que existe um criador. Mas a questão é como as pessoas têm crido nesse Criador? Porque crer vai muito além de acreditar. Vai muito além de reconhecer Jesus como criador e salvador. Crer, biblicamente falando, significa ter compromisso com o criador. É tê-lo como Senhor de suas vidas. No entanto, há muitas que creditam num criador, mas como se relacionam com esse criador? Essa é a questão!

Por exemplo, há várias religiões no mundo, cada qual tendo o seu deus pessoal. Sendo adorado segundo seus costumes, suas tradições e seus mandamentos. Isso não é diferente com o cristianismo. Mas há uma diferença entre o cristianismo e as outras religiões, no cristianismo o Deus adorado se preocupa com a sua criatura. Coisa bem diferente dentro das outras religiões. Ainda em nível de introdução vamos ver como pensam as principais religiões mundiais. A maioria das principais religiões mundiais encaixa-se em uma dessas três categorias de visões religiosas: teísmo, panteísmo e ateísmo.

O teísta é a pessoa que acredita num Deus pessoal criador do Universo, mas que não é parte do Universo. Isso seria mais ou menos o equivalente ao pintor e a pintura. Deus é o pintor, e a Sua criação é a pintura. Deus fez a pintura, e Seus atributos estão expressos nela, mas Deus não é a pintura. As principais religiões teístas são o cristianismo, judaísmo e islamismo.

Em contraste, uma pessoa panteísta é alguém que acredita num Deus impessoal que literalmente é o Universo. Assim em vez de fazer a pintura, os panteístas acreditam que Deus é a pintura. O fato é que os panteístas acreditam que Deus é tudo o que existe: Deus é a grama, Deus é o céu, é a árvore, Deus sou eu, Deus é você. As principais religiões panteístas são orientais, tais como o hinduísmo, algumas formas de budismo e muitas formas da “Nova Era”.

Um ateu, naturalmente, é alguém que não acredita em nenhum tipo de Deus. Seguindo nossa analogia, os ateus acreditam que aquilo que se parece com uma pintura sempre existiu e ninguém a pintou. Os humanistas encaixam-se nessa categoria [1].

Resumindo: teísmo – Deus fez tudo. Panteísmo – Deus é tudo e ateísmo – não há Deus. 

Até para ser ateu deve-se ter muita fé, pois um ateu acredita que do nada todas as coisas vieram a existir, ou como dizem: tudo o que existe sempre existiu, não há um criador.

No entanto, não é isso que aprendemos aqui no Evangelho de João, pelo contrário, vemos que o Senhor Jesus não só criou o mundo e tudo que existe como também veio a este mundo para nos salvar nos tirando das trevas da ignorância espiritual. O Senhor Jesus se mostra como um Deus pessoal que se importa com o homem perdido e por isso Ele veio ao mundo salvar o homem dos seus pecados.  

O texto que lemos nos ensina algumas lições extremamente importantes em relação a este assunto. Vejamos:

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O VERBO É O SENHOR DA VIDA (Jo 1.4a).

A vida é um tema-chave de João, sendo um termo usado 38 vezes neste Evangelho. Tanto a vida natural quanto a vida espiritual procedem do Senhor, pois Deus tem vida em si mesmo. Ele é autoexistente. Observe que o texto nos mostra que “Nele estava a vida e esta era a luz dos homens”. Há três palavras gregas para descrever a palavra vida: bios, psique e zoe.

1º - O sentido de bios. Bios se relaciona com o viver, denota a “vida” nas suas manifestações externas e concretas. Desde o seu surgimento, se refere ao “curso da vida”, “duração da vida” ou “modo de vida”. Bios é uma palavra rara no NT, ocorre apenas 11 vezes e tem um significado claramente temporal e finito. A “vida” (bios) é, portanto, física, temporal, curta e finita.

Por isso que a vida (bios) do homem depende de quatro coisas básicas para viver, são elas: luz (se o sol se apagasse tudo morreria), ar, água e alimento.

No entanto, Jesus é todas essas coisas! Ele é a Luz da vida e a Luz do mundo (Jo 8.12). Ele é “o Sol da justiça” (Ml 4.2). Por meio do Seu Espírito Santo, Ele nos dá o “fôlego de vida” (Jo 3.8; 20.22) e água da viva (Jo 4.10, 13,14; 7.37-39). Por fim, Jesus é o Pão da Vida que desceu do céu (Jo 6.35ss). Não apenas tem vida e dá vida, mas também é a vida (Jo 14.6) [2].
     
2º - O sentido de psique. É de onde se deriva nossa palavra “alma”. Se examinada detalhadamente, desde seus usos mais antigos, ela significa basicamente três coisas: 1) a base impessoal da vida ou a própria vida, 2) a parte interior do homem e 3) uma alma independente do corpo. No Antigo Testamento, ela significa em linhas gerais o “hálito da vida”, o “coração”, o “homem interior” ou um “ser vivente”. No NT, ela ocorre 101 vezes e significa a sede da vida, a vida inteira de alguém. Psique abrange, portanto, a totalidade da existência e vida do ser humano, com a qual se preocupa e da qual tem cuidado constante. Essa palavra equivale ao ego, à pessoa ou à personalidade do homem. Psique é a vida interior do ser humano.

3º - O sentido de zoe. A vida (zoe) se refere a própria vida de Deus comunicada aos que a receberam em Cristo. Essa vida é de qualidade superior, ilimitada (pois não é confinada ao tempo histórico) e escatológica, porque nos levará à era futura, que possui uma vida cuja duração não tem fim: a Vida Eterna. Quando Jesus disse que veio para nos dar vida e vida em abundância (Jo 10.10b), a palavra vida ali é zoe, ou seja, vida de Deus, vida eterna. A mesma palavra nós encontramos em Jo 3.16; 6.40; 6.47.

A vida que o Senhor tem para os Seus é zoe, vida de Deus! 

A SEGUNDA LIÇÃO QUE PRENDO É QUE O SENHOR TRAZ LUZ AO ENTENDIMENTO (Jo 1.4b).

Jesus é tanto luz natural da razão concedida à mente humana, como para a iluminação espiritual que acompanha o novo nascimento; nenhuma das duas pode ser recebida sem a luz que está no Verbo. O que o evangelista tem em mente aqui é a iluminação espiritual que dissipa a escuridão do pecado e da descrença [3]. Em João “luz” significa revelação que manifesta a “vida” que está em Cristo e traz juízo aos que a rejeitam (Jo 3.19).

Mas quando não há a iluminação do Espírito duas coisas acontecem:

1º - As pessoas que conhecem a letra da Palavra, mas ignoram o Espírito da Palavra. Há muitas pessoas que conhecem a Bíblia (letra), mas que agem totalmente contrários aos seus ensinamentos. São pessoas que estão em nossas igrejas, pregando em muitos púlpitos, mas totalmente cegos no conhecimento espiritual, que é a revelação da Palavra.

Em Lucas 24.44,45 nos diz que o Senhor abre o entendimento dos discípulos para entenderem as Escrituras:

“Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. (NVI).

Sem a revelação do Espírito Santo não há entendimento espiritual das Escrituras.  

2º - Há de muitas pessoas colocando as tradições religiosas em pé de igualdade com as Escrituras (Mc 7.1-13). Os fariseus apegavam-se a um conjunto de “tradições dos pais”, as quais acreditavam que, embora transmitidas oralmente e não escritas na lei, também haviam sido dadas a Moisés no monte Sinai. Os fariseus, portanto, pensavam que havia duas revelações paralelas de Deus, igualmente importantes e fidedignas: a lei escrita e a tradição oral. Durante o segundo século antes de Cristo, essas tradições orais foram registradas na forma escrita no que ficou conhecida como Mishná, uma coleção com seis divisões que contém leis sobre agricultura, festas, e casamento, junto com leis civis, penais e cerimoniais. Foi completada mais tarde com a Guemará, que é um comentário sobre ela. A Mishná junto com a Guemará formam o Talmude judaico [4].

Hoje podemos chamar isso de usos e costumes. E isso se encontra em quase todas as tradições evangélicas, principalmente as mais antigas, conhecidas como históricas. Isso tanto nas tradicionais como nas pentecostais.

Uma vez eu fui pregar em uma igreja batista no Rio de Janeiro e o dirigente do culto não estava usando gravata, imediatamente um diácono tirou a sua própria gravata e colocou no dirigente, pois sem gravata não se podia dirigir o culto naquela igreja.

O problema não está na tradição, mas no tradicionalismo. O teólogo luterano Jaroslav Pelikan, professor emérito da Universidade de Yale fez a seguinte distinção entre tradição, de um lado e o que denominou tradicionalismo, de outro. Ele diz:

“Tradição é a fé viva daqueles que já morreram. Tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem”

O caso que ocorreu na igreja que fui pregar não passa de puro tradicionalismo. 
         
TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE A LUZ DO VERBO DISSIPA TODA A TREVA (Jo 1.5).

Na primeira criação “Havia trevas sobre a face do abismo” (Gn 1.2) até que Deus chamou a luz à existência. Da mesma forma, a nova criação (em que o Verbo é o agente de Deus com tanta eficiência como na primeira) abrange a expulsão da escuridão espiritual pela luz que brilha no mundo. Sem luz o mundo está envolto em trevas [5].

Satanás esforça-se para manter as pessoas nas trevas, porque trevas significam morte e inferno, ao passo que luz significa vida e céu [6]. Mas João nos diz que as trevas não prevaleceram. Não se pode apagar o testemunho à verdade divina. A luz é inextinguível e inconquistável, “as trevas não prevaleceram contra ela” [6].

As trevas significam falta de conhecimento da verdade, cegueira espiritual, como nos fala Paulo em 2Co 4.4:

“O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (NVI).

Por isso, quando o Senhor ilumina a mente do homem duas coisas acontecem:

1º - O homem passa a ver o seu estado espiritual. O homem sem Deus não tem ideia do seu estado espiritual, pois as trevas o impedem de se ver como na verdade ele está. Veja o que o apóstolo Paulo nos fala em 1Co 2.14:

“Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente” (NVI).

Quando a Luz de Cristo brilha o homem discerne a diferença entre luz e trevas. Veja o que Paulo nos fala a respeito da iluminação do Espírito na mente do homem regenerado:

“Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois ‘quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?’ Nós, porém, temos a mente de Cristo”  (1Co 2.15,16 – NVI).

Quando a luz do Evangelho chega às trevas se dissipam, pois o homem iluminado pela verdade da Palavra têm seus olhos espirituais abertos para ver o que antes era impossível ver. 

2º - Ele passa odiar as trevas. Jesus conversando com Nicodemos disse que “a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são realizadas por intermédio de Deus” (Jo 3.19-21 – NVI).

O homem sem Deus ama as trevas porque ela esconde o seu pecado, mas quem foi alcançado pelo Senhor não só abandona as trevas (pecado), como também passa a viver na luz. Veja o que João nos diz na sua primeira carta:

“Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9 – ARA).

Aquele que diz que é nascido de Deus e vive na prática do pecado tem que reavaliar a sua vida espiritual, pois tal não condiz com o Evangelho de Cristo.

A QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR ENVIA SEU ARAUTO PARA TESTEMUNHAR A CERCA DA LUZ (Jo 1.6-9).

Quando João entrou em cena, começou o grande drama do Evangelho de João. Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista, declarou Jesus. Ele foi o precursor de Messias [7]. O Verbo é agora contemplado em sua relação com história humana. Sua vinda foi proclamada por João, o qual não é conhecido neste Evangelho como o Batista [8]. O nome “João”, assim como numerosas variantes em muitas linguagens – John, Jean, Juan, Jon, Ivan, Giovanni – vem do Hebraico Yochanan, que significa “YHVH foi gracioso, demonstrou favor” [9]. E uma forma helenizada de Jônatas ou Joanã.

Algumas lições que podemos tirar desses versos:

1º - João é enviado por Deus (Jo 1.6). João não se lança em um projeto por livre e espontânea vontade. Ele não se fez profeta, ou melhor, o último profeta do Antigo Testamento. Ele foi comissionado por Deus para esse momento ímpar na história.

Ele não se consagrou profeta do Deus Altíssimo. João sabia o seu lugar e se posicionou nele. João serve de exemplo para muitas pessoas nos dias de hoje onde muitos se lançam em projetos em nome de Deus, mas pelas suas atitudes e pelas suas palavras questiona-se se tal pessoa se lançou nesse projeto por vontade própria ou foi comissionado pelo diabo.

O próprio Senhor nos alertou para tomarmos cuidado com muitos que viriam em seu nome. Veja o que Ele nos disse em Mt 7.15-23:

“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?”Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!”(NVI).

Como essas palavras tem sido urgentes nos dias de hoje!

2º - João deixa claro que ele veio como testemunha da luz (Jo 1.7). João era apenas uma testemunha da luz, ele não era a luz. No grego esta palavra testemunha é marturian, de onde vem a palavra mártir. Mártir é uma pessoa que morre por sua fé religiosa, pelo simples fato de professar uma determinada religião ou por agir coerentemente com a religião que possui.

João foi morto por Herodes por recriminar o seu pecado. Estevão por se opor aos doutores da lei e testemunhar a respeito de Jesus (At 7). Paulo foi decapitado por Nero. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. A história da Igreja está repleta de histórias de vários mártires. 
    
3º - João não foi além do que ele era (Jo 1.8). João não se divinizou como acontece com algumas pessoas que, ainda que não digam, se divinizam. São líderes que recebem adoração dos seus liderados. Recebem honra que deveria ser dada a Deus. São cultuados como divindades. Desses Jesus nos alertou em Mt 24.4,5:

“Jesus respondeu: Cuidado, que ninguém os engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo!’ e enganarão a muitos” (NVI).

João era o arauto da luz, e não a luz; era o amigo do noivo, e não o noivo; era a voz, e não a mensagem; era o servo, e não o senhor. Jesus é a verdadeira luz. As outras que vieram foram apenas sombras da luz verdadeira [10].

4º - João testifica que Jesus era a verdadeira luz (Jo 1.9). Nesse versículo, João emprega um vocábulo para descrever Jesus. No grego, há duas palavras para definir a “verdade”. A primeira delas é alethes, que significa “verdadeiro em oposição ao falso”. A outra palavra é alethinos, que significa “real ou genuíno em oposição ao irreal”. Jesus é a luz genuína que veio alumiar e esclarecer a humanidade. Jesus é a única luz genuína, a luz verdadeira, que guia as pessoas em seu caminho [11].

Jesus não era mais uma verdade. Ele era e é a única verdade que nos leva para o céu. Há muitos atalhos, mas só Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vai ao Pai a não ser por Ele (Jo 14.6).

CONCLUSÃO

João Batista veio para testificar a respeito do Verbo mostrando que Jesus é a verdadeira luz que ilumina todo homem. João é um exemplo de fidelidade na pregação, ele não se colocou como a fonte, mas como alguém que estava ali para mostrar onde ela estava. Ele foi fiel na mensagem, pois ele era o arauto do Senhor.

João em momento algum buscou a glória para si, muito pelo contrário, ele procurou levar todos a reconhecer o Senhor Jesus como a Luz e ele simplesmente como o portador das boas novas que essa Luz traria.

Enquanto viveu ele procurou ser uma fiel testemunha de Cristo levando as pessoas a reconhecerem Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Que possamos nos espelhar em seu testemunho e viver de tal forma que as pessoas possam encontrar Jesus através do nosso bom testemunho.

Pense nisso!

Fonte:

1 – Geisler, Norman e Turek, Frank. Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. Editora Vida, São Paulo, SP, 2001: p. 22.
2 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo vol. 5. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 367.
3 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 38.
4 – Stott, John. As Controvérsias de Jesus. Editor Ultimato, Viçosa, MG, 2015: p. 59.
5 – Bruce, F. F. João: introdução e comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1987: p. 39.
6 – Davidson, F. M.A., D.D. O Novo Comentário da Bíblia Vol. II. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987, p: 1063.
7 – Mears, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 14ª impressão, 2002: p. 361.
8 – Davidson, F. M.A., D.D. O Novo Comentário da Bíblia Vol. II. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987, p: 1063.
9 – Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Editora Atos, São Paulo, SP, 2008: p. 40.
10 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 29.
11 – Ibid, p. 30.

sábado, 19 de novembro de 2016

A PALAVRA TORNOU-SE CARNE


Pr. Silas Figueira

Texto Base: João 1.1-3; 14

INTRODUÇÃO

Conforme se diz, o Evangelho de Lucas é a mais bela obra literária da Bíblia. Neste caso, o quarto Evangelho é a mais sublime. Nenhum outro livro levou tantas pessoas a Cristo e inspirou tantos a segui-lo e servi-lo. Aqui a teologia foi colocada em termos tais, que até uma criança pode compreender a visão da grandeza do amor de Deus, como mostrado em Jesus [1]. Este Evangelho foi escrito no final do primeiro século (80 e 95 d.C), depois que os demais apóstolos estavam mortos pelo viés do martírio e depois que os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) já circulavam nas igrejas por mais de quarenta anos [2]. Quando o Evangelho de João foi escrito já não havia mais o templo em Jerusalém, este havia sido destruído pelos romanos, através da liderança do general Tito no ano 70 d.C. O apóstolo Pedro e Paulo tinham sido martirizados, e todos os outros apóstolos haviam morrido também. 

João, o filho de Zebedeu foi o autor desse Evangelho; embora este quarto Evangelho, como os outros três, é anônimo. Em nenhum lugar o autor se identifica pelo nome. Contudo, a referência contida em João 21.20; 24, 25, realmente parece apontar para o “o discípulo a quem Jesus amava” (13.23; 19.26; 20.2; 21.7).

Sua mãe era Salomé, devota seguidora do Senhor, irmã de Maria, mãe de Jesus (Mc 15.40 conf. Jo 19.25). Sendo assim, João e Tiago eram primos de Jesus; provavelmente devido a este parentesco a mãe deles pediu ao Senhor um lugar de honra no reino do Senhor Jesus para seus filhos (Mt 20.20,21; Mc 10.35-37). Se fosse aos dias de hoje Jesus seria acusado de fazer nepotismo!

Junto com Pedro e Tiago, João formou o grupo mais íntimo dos três discípulos que estiveram com Jesus na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37), na transfiguração (Mc 9.2) e na sua angústia do jardim do Getsêmani (Mc 14.33). Dos três, João era o mais íntimo de Jesus. Ele é conhecido como o discípulo amado (Jo 13.23). Foi João quem se inclinou sobre o peito de seu mestre durante a ceia pascal; foi ele quem acompanhou seu Senhor ao julgamento, quando os demais discípulos fugiram (Jo 18.150) [3]. Foi ele quem foi até a cruz e recebeu do Senhor a incumbência de cuidar de Maria (Jo 19.25-27). 
 
João devia ter uns 25 anos quando Jesus o chamou. Tinha sido seguidor de João Batista. No governo de Domiciano, sucessor do Imperador Tito, João, o discípulo, foi exilado para a ilha de Patmos, porém mais tarde voltou a Éfeso, por permissão de Nerva, sucessor de Domiciano. Provavelmente o Evangelho de João havia sido escrito antes de ele ser banido para a ilha de Patmos.

João escreveu este Evangelho para provar que Jesus era o Cristo, o Messias prometido (para os judeus) e o Filho de Deus (para os gentios); tinha em mira levar os seus leitores a crer nele a fim de que, crendo, tivessem vida em Seu Nome (Jo 20.31). O tema do Evangelho de João é a divindade de Cristo [4].

O Evangelho de João foi escrito para que os homens cressem que Jesus Cristo era Deus. João apresenta sete testemunhas para provar esse fato. Abra as Escrituras e ouça cada uma fazendo a sua declaração:

O que você diz João Batista? Ele é o Filho de Deus (Jo 1.34).
Qual a sua conclusão, Natanael? Tu és o Filho de Deus (Jo 1.49).
O que você diz Pedro? Tu és o Santo de Deus (Jo 6.69).
O que você pensa Marta? Tu és o Cristo, o Filho de Deus (Jo 11.27).
Qual é o seu veredito Tomé? Senhor meu e Deus meu! (Jo 20.28).
Qual a sua declaração João? Jesus é o Cristo, o Filho de Deus (Jo 20.31).
Que dizes de ti mesmo Jesus? Sou o Filho de Deus (Jo 10.36) [5].

Como vimos, o Evangelho de João foi escrito para que os homens cressem que Jesus Cristo era o Deus encarnado (Jo 1.14), e ele faz isso logo no início de seu Evangelho. E como ele nos mostra isto?

EM PRIMEIRO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA A ETERNIDADE DE JESUS (JO 1.1,2).

“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio” (NVI).

Talvez alguém pergunte por que João apresenta Jesus no início do seu Evangelho como “a Palavra” ou “o verbo”, em grego “logos”? Essa expressão logos corresponde ao termo aramaico memra (também Palavra), ou davar (em hebraico), um termo técnico e teológico usado pelos rabinos nos séculos antes e depois de Cristo, quando tratavam da expressão de Deus a respeito de si mesmo [6]. Assim como as palavras expressam o pensamento, assim Cristo exprime Deus. As palavras revelam o coração e a mente; assim Cristo expressa, manifesta e mostra Deus. Jesus disse a Filipe: “Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto” (Jo 14.7 – NVI) [7]. Em João 14.9 também nos diz: “Quem me vê, vê o Pai”.

Já na filosofia grega, o termo logos era usado para descrever o agente intermediário pelo qual Deus criava as coisas materiais e se comunicava com eles. Na cosmovisão grega, pensava-se que o logos era uma ponte entre o Deus transcendente e o universo material. Portanto, para os seus leitores gregos, o uso do termo logos provavelmente teria trazido a ideia de um princípio mediador entre Deus e o mundo.

Entretanto, João vai além do conceito familiar de logos que os seus leitores gentios teriam e apresenta Jesus Cristo não como um mero princípio de mediação, assim como enxergado pelos gregos, mas como um ser pessoal, inteiramente divino e ainda plenamente humano. Em outras palavras: Pai se revelou na Pessoa de Seu Filho, por isso Jesus era o Verbo ou a Palavra, Ele era a perfeita revelação do próprio Deus na carne.

João não registra nenhuma genealogia, nem sua linhagem legal através de José (como Mateus), nem a linhagem pessoal através de Maria (dada por Lucas). Não narra seu nascimento porque Ele era “no princípio”. Não fala da sua infância, não relata a sua tentação. Jesus é apresentado como Cristo, o Senhor, e não como aquele que foi tentado em tudo como nós. O propósito de João é mostrar Jesus como o Deus.

Jesus o Logos, existia antes da criação (Jo 17.5) – “E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse”. Jesus não era um ser criado, como ensinou Ário, o herege do século quarto, e como ensinam as testemunhas de Jeová [8]. Jesus sempre existiu!

EM SEGUNDO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA A DEIDADE DE JESUS (Jo 1.1c).

O Verbo não é meramente um anjo criado (Miguel) ou um ser inferior a Deus Pai e investido de autoridade para redimir pecadores. Ele mesmo é Deus, coigual com o Pai [9].

O professor F. Davidson diz que o logos é identificado com Deus no sentido de que Ele é coparticipante da essência e natureza divinas e, em virtude de tal relação, pode ser considerado como Deus. O verbo era se usa no sentido de “existir” e não no sentido de “tornar-se”. Sua existência transcende o tempo, não sendo Ele criado [10].

Como nos fala A. W. Tozer a respeito de Jesus: “Do passado sem começo até o futuro sem fim Tu és Deus” [11]. Jesus tem a mesma essência e natureza do Pai. Veja o que o apóstolo Paulo nos fala em Cl 2.9:

“Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (NVI).

No Evangelho de João o Logos é apresentado como Deus de três maneiras básicas:

1 – Quando nos é apresentado como criador (Jo 1.3, 10).
2 – Como controlador da natureza (Jo 2.1-11; 5.1-8; 6.1-11; 16-21; 38-44).
3 – Como o Deus encarnado (Jo 1.14).

Não há como negar a divindade de Cristo. Não há como negligenciar a Sua divindade. O próprio João deixa isso bem claro quando nos diz qual é o propósito do seu Evangelho:

“Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais milagrosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome” (Jo 20.30,31 – NVI).

EM TERCEIRO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA QUE JESUS ERA EM ESSÊNCIA IGUAL AO PAI, MAS DISTINTO DO PAI (Jo 1.1b, 2).

Antes da criação do universo, nos recônditos da eternidade, o Verbo desfrutava de plena comunhão com o Pai. A expressão grega pros ton Theon traz a ideia de “face a face com Deus” [12].

Algumas afirmações das Escrituras, isoladas do contexto maior da Bíblia, são facilmente distorcidas. Por exemplo, Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). Então, podemos concluir que Jesus e o Pai são realmente a mesma pessoa? A doutrina conhecida como “unicismo” ensina que Deus Pai e Jesus Cristo, o Filho, são uma só e a mesma pessoa. Às vezes, explicam que o Pai e o Filho são apenas duas manifestações da mesma pessoa.

Certamente, há coisas difíceis de entender nas Escrituras, mas devemos ter cuidado para não deturpar a verdade para a nossa destruição (2Pe 3.16). Mesmo se alguém enfrentar alguma dificuldade em explicar o que a Bíblia diz, jamais devemos contradizer a palavra do Senhor. A Bíblia claramente ensina que o Pai e o Filho são duas pessoas distintas. Vamos considerar alguns exemplos deste ensinamento bíblico que nos levam a rejeitar a doutrina unicista.

Jesus veio do Pai e voltou ao Pai (Jo 16.28). Este comentário de Jesus é um de vários que mostram uma distinção. Ele estava em um lugar (na terra) enquanto o Pai estava em outro (o céu).

Jesus e o Pai dão o testemunho de duas pessoas. Qualquer doutrina humana que nega a palavra do Senhor precisa ser totalmente rejeitada. A doutrina unicista invalida os argumentos de Jesus no Evangelho de João e deve ser rejeitada. Considere o que Jesus disse:

“Mesmo que eu julgue, as minhas decisões são verdadeiras, porque não estou sozinho. Eu estou com o Pai, que me enviou. Na Lei de vocês está escrito que o testemunho de dois homens é válido. Eu testemunho acerca de mim mesmo; a minha outra testemunha é o Pai, que me enviou” (Jo 8.16-18 – NVI).

“Se testifico acerca de mim mesmo, o meu testemunho não é válido. Há outro que testemunha em meu favor, e sei que o seu testemunho a meu respeito é válido. E o Pai que me enviou, ele mesmo testemunhou a meu respeito” (Jo 5.31,32,37 – NVI).]

“Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”. Jesus respondeu: Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: “Mostra-nos o Pai”?” (Jo 14.8,9 – NVI).

“Depois de dizer isso, Jesus olhou para o céu e orou: Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique. Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.1-5 – NVI).

Há muitos outros textos que nos mostram isso de forma clara, por exemplo, no dia em que Jesus foi batizado a Trindade Santa estava ali presente (Mt 3.16,17); no monte da transfiguração (Mt 17.5); Jesus no Getsêmani quando estava orando (Mt 26.39); quando estava crucificado Jesus grita ao Pai (Mc 15.34).

Há muitos cristãos evangélicos que consideram o movimento Pentecostal Unicista (também conhecido como “Só Jesus”) como um movimento cristão evangélico. A realidade é que este movimento está muito longe de ser considerado como cristão; está mais para uma seita. Uma das definições teológicas de seita é: Qualquer grupo que se desvia das doutrinas fundamentais do cristianismo, como a Trindade, a divindade de Jesus Cristo e a salvação pela graça, através da fé em Jesus Cristo somente.  

EM QUARTO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA JESUS COMO CRIADOR (Jo 1.3).

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (NVI).

Quando João registra: “No princípio era o verbo...”, ele está fazendo referência ao livro de Gênesis 1.1 que nos diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra”. E esse paralelo nos remete a ideia da antiga criação com a nova criação. Não está dizendo que Jesus teve um princípio, mas que Ele estava no princípio de todas as coisas. Jesus estava no princípio da criação de todas as coisas visíveis e invisíveis, na criação do universo como na criação dos anjos e de todas as coisas que existem no céu. Não há nada em que Ele não tenha participado como criador. Aliás, a Trindade Santa sempre esteve nesse projeto.

Veja o que nos fala o apóstolo Paulo em Cl 1.15-17:

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste” (NVI).

Veja também Hb 1.2:

“Mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo” (NVI).

O Verbo é o agente divino na criação do universo. Foi Ele quem trouxe à existência as coisas que não existiam. Deus disse: “Haja luz”. E houve luz (Gn 1.3). O Verbo é a palavra criadora de Deus, por meio de quem todas as coisas foram feitas, tanto as visíveis como as invisíveis, tanto as terrenas como as celestiais (Cl 1.16) [13].

EM QUINTO LUGAR, JOÃO NOS MOSTRA JESUS COMO O DEUS ENCARNADO (Jo 1.14).

Um ser humano transformando-se em peixe não é nada se comparado a Deus tornando-se um bebê [...]. Deus escreveu uma história nas páginas da história real utilizando apenas personagens verdadeiros. A Palavra se tornou carne [14].

Não é um homem chamado Jesus, que cresceu em Nazaré, certo dia decidiu que seria Deus. Pelo contrário; a Palavra que “estava com Deus” e “era Deus”, abriu mão da glória que tinha contigo (o Pai) antes de o mundo existir (Jo 17.5), e “esvaziou-se a si mesmo, ao assumir a forma de servo, tornando-se como os seres humanos” (Fl 2.7). É Deus a Palavra, que decidiu tornar-se homem; e não o contrário [15]. O Verbo possui duas naturezas distintas. É Deus de Deus, luz de luz, coigual, coeterno e consubstancial com o Pai. Não obstante, fez-se carne [16].

O professor F. Davidson diz que nosso Senhor assumiu um corpo humano real; ele tabernaculou entre os homens [17]. Assim como no Antigo Testamento o Senhor se manifestava no Tabernáculo no deserto, agora, com a vinda de Cristo, o Senhor se manifestou entre os homens através de Seu Filho.

Três coisas podemos destacar aqui com a encarnação de Jesus:

1º - O Verbo assumiu a natureza humana (Jo 14.1a). Quando João registra que o Verbo “se fez carne”, ele não quis dizer com isso que Jesus deixou de ser o que era antes. O Verbo se fez carne, mas permaneceu sendo o Verbo de Deus (Jo 1.1,18). Jesus assumiu a natureza humana sem deixar de lado a natureza divina. Jesus como homem sentia as mesmas necessidades de uma pessoa qualquer, tanto que foi tentado em todas as coisas (Lc 4.1,2,13), no entanto sem nunca ter pecado (Hb 4.15,16). Por isso é o nosso intercessor.

2º - O Verbo encarnou para nos trazer salvação (Jo 1.14.b). Jesus veio manifestar a graça salvadora do Pai aos homens perdidos. Como nos fala João:

“Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1.17 – NVI).

3º - O Verbo veio manifestar a glória do Pai (Jo 1.14c). Aquilo que Moisés quis ver, mas lhe foi negado (Êx 33.17-23), o Senhor na pessoa de Jesus se manifestou a nós. Como disse Jesus aos seus discípulos: “Quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12.45 –NVI).

Por isso que o apóstolo João é enfático em dizer: “Vimos a Sua glória”. João foi uma testemunha ocular da glória de Deus. O Senhor Jesus veio manifestar a glória do Pai aos homens e aqueles que o receberam viram essa glória manifesta, mas o que o recusaram continuaram em densas trevas.

O Verbo não era um conceito abstrato nem uma filosofia, mas uma Pessoa real, que podia ser vista, tocada e ouvida. O cristianismo é Cristo, e Cristo é Deus [18].

CONCLUSÃO

Em poucos versos João registrou uma das verdades mais sublimes do Evangelho: a deidade de Cristo e a sua encarnação. Quando João escreveu o seu Evangelho já no final do primeiro século, estava florescendo uma perigosa heresia chamada gnosticismo, e esta estava se infiltrando no cristianismo. Esta heresia dizia que a carne era pecaminosa, pois ela sofria a influência do dualismo de Platão que dizia que o espírito era bom, mas a matéria era má. Com isso em mente eles diziam que Jesus não podia ter encarnado que o corpo de Cristo era apenas aparente, mas não era real. Essa doutrina era chamada de docetismo. Por isso que João inicia o seu Evangelho enfatizando exatamente a deidade do Verbo e a Sua encarnação.

Desde os primórdios da Igreja que o Evangelho tem sido atacado e cabe a cada um de nós defendê-lo sem medo de retaliações, de sermos chamados de fundamentalistas, de fanáticos ou coisas parecidas. Devemos fazer como João e os outros apóstolos que ousaram crer e testemunhar da sua fé sem medo do que os homens podiam lhes fazer de ruim. Que possamos falar como Paulo:

“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (At 20.24 – NVI).

Pense nisso!

Notas

1 – Hale, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Editora JUERP, Rio de Janeiro, RJ, 1986: p. 135.
2 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 9.
3 – Ibid, p. 12.
4 – Mears, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 14ª impressão, 2002: p. 355.
5 – Ibid, p. 357.
6 – Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Editora Atos, São Paulo, SP, 2008: p. 180.
7 – Mears, Henrietta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 14ª impressão, 2002: p. 361.
8 – Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Editora Atos, São Paulo, SP, 2008: p. 180.
9 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 26.
10 – Davidson, F. M.A., D.D. O Novo Comentário da Bíblia Vol. II. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987, p: 1063.
11 – Tozer, A. W. E Ele Habitou Entre Nós. Graça Editorial, Rio de Janeiro, RJ, 2014, p: 17.
12 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 26.
13 – Ibid, p. 27.
14 – Yancey, Philip. O Jesus que nunca conheci. Editora Vida, São Paulo, SP, 2000: p. 40.
15 – Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Editora Atos, São Paulo, SP, 2008: p. 181.
16 – Lopes, Hernandes Dias. João, As glórias do Filho de Deus. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2015: p. 33.
17 – Davidson, F. M.A., D.D. O Novo Comentário da Bíblia Vol. II. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987, p: 1064. 
18 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo vol. 5. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 367. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Evangelização Bíblica



Por Pr. Mauro Rehder Meira

Evangelização é a suprema vocação de todo verdadeiro filho de Deus. A evangelização pode ser entendida como o anúncio das virtudes de Deus. 1 Pedro 2:9 "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;". Percebemos nesse texto que aqueles que são chamados à salvação, tem o propósito de anunciar ao mundo as virtudes de Deus, que chama pecadores, das trevas, para a sua maravilhosa luz; portanto, só estão habilitados a anunciar, aqueles que foram chamados, pois conhecem as virtudes e a maravilhosa graça de Deus.

A principal motivação bíblica para evangelizarmos as pessoas não é, a princípio, que elas sejam salvas, mas que Deus seja glorificado. A glória Deus é a maior motivação que temos para realizar todas as coisas desde as mais simples até as grandiosas, inclusive evangelizar (1 Coríntios 10:31). Deus tem compromisso e prazer com a sua própria glória; fomos criados para glorificar a Deus (Isaías 43:7). A maior manifestação da glória de Deus na história, sem dúvida foi quando Deus estava em Cristo, crucificado no madeiro, reconciliando consigo o mundo. Na cruz percebemos a manifestação gloriosa do seu eterno amor pela sua igreja, pela qual se entregou (Atos 20:28).

1 João 4:9-10 "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados". Essa é a mensagem central do evangelho, é a essência do evangelho de Jesus Cristo, e essa mensagem deve nortear e dirigir a nossa evangelização.

Evangelizar não é convidar pessoas para vir na igreja, não é dar o seu testemunho, não é dizer que Deus é amor, não é dizer que Jesus quer ser seu melhor amigo, não é orar pelas pessoas, não é visitar as pessoas e não é ajudar as pessoas. Podemos e devemos fazer todas essas coisas como procedimentos complementares à nossa evangelização pessoal; entretanto, evangelizar, biblicamente falando, é apresentar o evangelho; é anunciar as boas novas, é fazer com que a pessoa evangelizada, entenda a sua real situação diante de Deus e o que Deus fez em Cristo na cruz, a fim de que ela seja aceita por Deus e tenha novamente comunhão com o seu criador. Por isso é necessário conhecer o evangelho a fim de apresentá-lo de maneira apropriada aos perdidos, pois a mensagem do evangelho é que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, nada mais (Rm 1:16).

Evangelizar é chamar pecadores ao arrependimento e à fé em Cristo, através da pregação da palavra Deus. A mensagem inicial de Jesus ao pregar o evangelho de Deus era: arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1:14-15). Evangelizar é chamar pecadores a obedecerem a Deus, mas percebemos que hoje em dia, essa mensagem em sua essência, se perdeu, em meio a tantas técnicas e modelos de evangelismo, que mal fazem cócegas no coração do homem morto em delitos e pecados; pois a mensagem apresentada por muitos não passa de psicologia e auto ajuda recheada de humanismo, fazendo o bem estar do homem o fim principal de todo suposto esforço evangelístico. Essa é uma abordagem deturpada e superficial da evangelização, comumente encontrada, infelizmente, em muitas igrejas.

Esse tipo de evangelismo pode ser qualquer coisa menos evangelismo e pode passar qualquer mensagem menos a do evangelho. Precisamos depressa, nos dedicar cada vez mais ao estudo das sagradas escrituras a fim de estarmos sempre prontos para compartilhar o evangelho, que é a razão da nossa esperança (1 Pe 3:15).

Se você tivesse a oportunidade de passar uma tarde com uma pessoa que não conhece o evangelho, você saberia evangelizá-la? Saberia por onde começar, quais versos ler, por onde caminhar com ela pelas escrituras, saberia como apresentar o evangelho e tirar suas dúvidas, respondendo com clareza aos seus questionamentos? Ou ficaria confuso sem saber o que dizer? Se não sabemos compartilhar de maneira bíblica o evangelho, temos que repensar nossa fé, pois como glorificaremos a Deus se não somos dedicados a fazer aquilo para o qual fomos chamados a fazer? (Mt 28:19-20)

Se vivemos para glorificar a Deus, como não haveremos de saber compartilhar com o mundo a mensagem da glória e do amor Deus, mensagem essa que o mundo urgentemente precisa ouvir? Evangelizar revela amor. Revela amor a Deus, pois desejamos a exaltação da sua glória e evidenciamos obediência a sua palavra, revela amor ao próximo, pois não há maior ato de amor para com os perdidos do que anunciar a única verdade que os pode salvar e, finalmente, revela o amor de Deus, pois evangelizar é a melhor maneira de revelar o amor de Deus ao mundo, pois Deus escolheu salvar pecadores, por meio da loucura da pregação (1 Co 1:21), por isso, devemos evangelizar. Pregue a palavra! (2 Tm 4:2).