quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

BUSCANDO UM SUBSTITUTO PARA DEUS


Por A. W. Tozer

INTRODUÇÃO

Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha? (Sl 137.1-4 - ARA).

Moisés - que estava no monte Sinai encontrava-se com o Senhor e recebendo os Dez Mandamentos - não percebera que, lá em baixo, o povo de Deus estava em perigo. Envolto pela presença de Deus, esse líder não tinha outro pensamento, senão o Senhor. No arraial, contudo, a história era diferente.

Enquanto estava no topo da montanha, o seu irmão, Arão, cedeu à ociosidade de Israel. Moisés tinha ficado longe por mais tempo do que haviam previsto, e algo precisava ser feito para saciar o apetite carnal do povo de Deus. A verdade é que eles estavam cansados de esperar por Moisés. 

Quando você olha para os fatos, é fácil ver que um dos grandes perigos que confronta o povo escolhido está relacionado ao ócio religioso. Entendiar-se com a religião é compreensível, mas entendiar-se com Deus, não. Aqueles que um dia tiveram um encontro com o Senhor e com a Sua presença poderosa e majestosa, de maneira alguma se amofinam - o mesmo que: aborrecem, afligem, angustiam, apoquentam, atormentam, torturam, trateiam. A religião, por outro lado, com todas as suas regras enfadonhas, deixa-nos vulneráveis ao tédio. Qualquer um que tente seguir minuciosamente sua crença experimenta muitos momentos de fadiga, diante de todos os seus detalhes triviais. 

Israel havia vivenciado todas as maravilhas do Senhor a seu favor, no entanto ficara entendiado com Deus desses milagres. Ao ser confrontado pela ira de Moisés, Arão disse:

Respondeu-lhe Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que o povo é propenso para o mal. Pois me disseram: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe terá acontecido. Então, eu lhes disse: quem tem ouro, tire-o. Deram-mo; e eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro (Êx 32.22-24 - ARA).

O ambiente do espírito da Babilônia criou uma situação tal, que a Igreja tem sido dominada pelo que chamo de rituais. Essas práticas têm exercido tamanho domínio sobre a cena cristã atual, que o verdadeiro cristianismo tem dificuldade até de respirar. Permita que eu explique isso melhor e lhe mostre o que quero dizer.

O CULTO À IMITAÇÃO

O primeiro ritual que tem dominado o cristianismo contemporâneo é a imitação daquilo que se vê do lado de fora da Igreja [...]. Houve um tempo em que o Corpo de Cristo estabelecia os padrões da música. Naquela época, o mundo imitava a Igreja. Homens como Beethoven, Mozart e Handel definiam as tendências musicais, e o seu foco estava na música religiosa. Hoje, já não promovemos nossa musicalidade, apenas copiamos aquilo que ouvimos ao redor.

Com nossa leitura, não está diferente. Se há um best-seller mundial, tenha certeza de que, eventualmente, será imitado pela igreja [...]. Parece que alguns escritores sentem prazer em ver quão perto do abismo conseguem chegar sem cair nele. Eu tenho uma notícia importante: eles não correm perigo do precipício. Já caíram, apenas não sabem disso.

Alguns dizem que é uma grande honra e uma marca de sucesso escrever um livro que seja aceitável tanto no mundo quanto na Igreja. Há algo errado nisso. Não consigo encontrar na Bíblia, ou mesmo na história da Igreja, algo que, de algum modo, sugira qualquer compatibilidade entre o secular e o sagrado. O padrão eclesiástico deveria ser muito mais elevado e grandioso do que o mundano. Aquilo que satisfaz a Igreja jamais deveria satisfazer o mundo. O verdadeiro cristão tem um apetite insaciável por Cristo e pelos interesses dEle, enquanto o mundo não possui tal anseio.

Cristo é único e não imita o outro. Tampouco corteja o mundo em uma tentativa patética de ganhá-lo. Muitas igrejas evangélicas estão mais próximas do mundo do que dos padrões do Novo Testamento em quase todos os aspectos.

O CULTO AO ENTRETENIMENTO

Associada ao culto à imitação está a devoção ao entretenimento. Essa é, provavelmente, a heresia mais destrutiva a envenenar o Corpo de Cristo. A ideia de que a religião é uma forma de divertimento está tão longe dos ensinamentos dos Evangelhos, que me admiro em ver que até mesmo igrejas tradicionais têm cedido a esse apelo.

O que esta geração de cristãos precisa não são de distrações religiosas para satisfazer seu apetite carnal, mas de obras literárias com base bíblica, que desafiem e conduzam a alma a um conhecimento mais profundo acerca de Deus, de Cristo e de todo o plano da salvação. É verdade, tudo aquilo que nutrimos cresce. Se nutrirmos a natureza carnal e sua voracidade, isso se tornará o aspecto dominante de nossa vida. Por outro lado, ao saciarmos nossa natureza espiritual, o desejo por Deus crescerá.

O CULTO ÀS CELEBRIDADES

O terceiro rito que domina os evangélicos contemporâneos é a idolatria às celebridades. De certo, eu deveria parar por aqui. Por alguma razão, os líderes da Igreja atual acreditam que, para realizar seus propósitos em Cristo, precisam de alguma celebridade convertida.

Presume-se que essa pessoa ilustre fará pela Igreja o que um servo de Deus não pode fazer. Afinal, esses famosos têm acesso ao mundo. Aqueles que se deixam impressionar por uma celebridade convertida são cristãos carnais, e eles só se impressionam até que chegue uma celebridade ainda maior. Onde está a geração que se prostrava diante de Deus, com o coração quebrantado pelo mundo à sua volta? Onde estão aqueles cristãos que abriram mão de tudo para alcançar homens e mulheres não salvos?

Onde estão os D. L. Moodys da Igreja hoje? E os A. B. Simpsons? Os Adoniram Judsons? Ou os J. Hudson Taylors? Onde estão as Susanas Wesleys? As Lady Julians? Eu poderia citar muitos outros. Contudo, o cristão contemporâneo não é digno de desatar a correia das sandálias destes.

saber da existência desses homens e dessas mulheres, da obra que realizaram para Cristo e depois, sair à procura de alguma celebridade convertida a quem se possa seguir é quase uma blasfêmia. Nós desfalecemos diante das celebridades. Aceitamos o que quer que digam como sendo a palavra importante do momento, mesmo quando se trata de algo contrário ao ensinamento claro das escrituras. Inácio disse: "Não permita que nada o fascine além de Cristo". 

Hoje, vivemos deslumbrados por celebridades. Por alguma razão, presumimos que o entretenimento carnal é um substituto apropriado para a adoração santificada ao Deus Altíssimo. Todo o status desses famosos, com seu talento mundano, é estranho à Nova Jerusalém. Nenhuma emoção barata poderá substituir a alegria inefável de conhecer a Jesus Cristo.

Pense nisso! 

Fonte:

Tozer. A. W. Os Perigos de Uma Fé Superficial. Graça Editorial, Rio de Janeiro, RJ, 2014: p. 37 - 44.

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