sábado, 29 de abril de 2017

ISRAEL UMA NAÇÃO RENDIDA AO PECADO


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Oseias 4.1-3

INTRODUÇÃO

Oseias é o primeiro livro conhecido como “Profetas Menores”; não que sua mensagem fosse inferior a dos outros profetas, mas que era menor no volume do que foi escrito. Embora o livro de Oseias seja o de maior volume.

Pouco se sabe a respeito da vida desse profeta. A única coisa que se fala a respeito de sua genealogia é que ele era filho de Beeri (Os 1.1). Oseias profetizou nos dias de Uzias (790 a 739 a.C), Jotão (750 a 731 a.C.), Acaz (735 a 715 a.C) e Ezequias (729 a 686 a.C), todos reis de Judá, e no reinado de Jeroboão II, rei de Israel (793 a 753 a.C). Seu ministério público, assim, cobriu o espaço mínimo de 755 a 715 a.C., em torno de 40 anos. Isso torna Oseias contemporâneo de Isaías (739 a 680 a.C.) e possivelmente de também de Amós (765 a 755 a.C.) e Miquéias (735 a 700 a.C.) [1].

Oseias era terno, sensível e misericordioso, um tanto parecido com Jeremias (aliás, ele é conhecido como o profeta Jeremias do Reino Norte), pois não era tão agressivo como outros profetas a exemplo de Elias. Sua abordagem à mensagem profética que tinha de entregar baseava-se em sua relação de esposo. Isso representava o fato de que o Senhor havia sido ofendido por sua esposa infiel, a nação de Israel. A fim de que essa mensagem fosse sentida e entregue com eficácia, era mister que Oseias passasse por uma situação real de traição sofrida. E, para que isso acontecesse realmente, como é óbvio, ele teria de manter profundo amor por sua esposa. Somente então ele poderia sentir a ferroada da infidelidade, compreendendo, metaforicamente, a ofensa de Israel contra o Senhor, em sua infidelidade, que consistia na idolatria e corrupção moral [2].

O amor de Oseias por sua esposa era uma representação do amor do Senhor pela nação de Israel, que apesar de ser adúltera, o Senhor a amava e queria se reconciliar com ela. Oseias demonstrou a misericórdia de Deus ao povo de Israel ao perdoar Gômer e restaurá-la como esposa (Os 1.2,3; 3.1-3).

Quando o Senhor começou a falar por meio de Oséias, o Senhor lhe disse: "Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor". Por isso ele se casou com Gômer, filha de Diblaim; ela engravidou e lhe deu um filho. O Senhor me disse: "Vá, trate novamente com amor sua mulher, apesar de ela ser amada por outro e ser adúltera. Ame-a como o Senhor ama os israelitas, apesar de eles se voltarem para outros deuses e de amarem os bolos sagrados de uvas passas". Por isso eu a comprei por cento e oitenta gramas de prata e um barril e meio de cevada. E eu lhe disse: Você viverá comigo por muitos dias; você não será mais prostituta nem será de nenhum outro homem, e eu viverei com você (NVI).

A profecia de Oseias foi a última tentativa de Deus em levar Israel a arrepender-se de sua idolatria e iniquidade persistentes, antes que Ele entregasse a nação ao pleno juízo. O Senhor havia enviado antes Elias e depois Eliseu para admoestar a nação, mas foi em vão. Oseias, cujo nome significa “salvação”, era mais uma vez a voz de Deus ao povo de Israel; embora o povo não tivesse nenhum interesse em ouvir a mensagem que lhes era dirigida. Israel estava andando na sua “liberdade”; mas essa liberdade a levou para longe de Deus e de Sua Palavra. Essa liberdade se transformou em libertinagem.

Não é de mais liberdade que precisamos hoje, e sim, de mais lealdade. Não entregue a Deus planos feitos para que Ele os abençoe. Não faça os seus planos para depois buscar a aprovação divina. Deixe que Ele faça os planos. Loucamente, Israel tinha tomado as suas próprias decisões. Eles tinham se endurecido. Deus não fará coisa alguma com um espírito rebelde e desobediente [3].

Esse quadro da situação de Israel narrada em Oseias é uma representação legítima de nossos dias. A igreja atual, assim como a nossa nação, está totalmente longe do Senhor. Poucos são os que verdadeiramente se importam com a Palavra de Deus e procuram andar em santidade de vida. A corrupção toma conta dos nossos noticiários todos os dias. Não se fala em outra coisa. Parece um buraco sem fundo. E isso não ocorre somente nas instâncias superiores, isso ocorre todos os dias entre o povo e, infelizmente, dentro de muitas nossas igrejas também; principalmente dentro de convenções onde a politicagem prevalece em lugar do verdadeiro espírito de temor e tremor. Olhe para sua convenção e você verá isso. E isso reflete muitas vezes o que há dentro da igreja.

VAMOS ANALISAR O TEXTO DE OSEIAS PARA VERMOS MELHOR ESSE QUADRO EM OSEIAS 4.1-3.

Oseias descreve Israel como uma nação que tinha entrado em um colapso moral. Não havia em Israel nem verdade, nem misericórdia e muito menos conhecimento de Deus. Pelo contrário, mentir, matar e roubar era os verbos do dia. É significativo que as preocupações do profeta não eram econômicas nem políticas. Ele queria que compreendêssemos que o fracasso moral é a fonte primária do colapso de uma nação [4]. As relações do homem para com Deus são, sempre, o princípio orientador se seu comportamento para com seus semelhantes; a ética sempre repousa na teologia [5].

1º - Antes de revelar o pecado da nação o Senhor se apresenta (Os 4.1). O profeta Oseias não falava de si mesmo, mas ele era o instrumento de Deus levantado para aquela geração. Ele era boca de Deus, instrumento dEle para corrigir o Seu povo.

Hoje, muitos profetas têm se levantado em nossas igrejas. Esses são conhecidos como apologetas – Aquele que tem por fim defender a verdade cristã. E esses apologetas são, na maioria das vezes, mal vistos e até mal interpretados, pois tais pessoas denunciam o pedado e o desvio doutrinário dentro das igrejas. Isso ocorre porque muitos pastores, ou fazem vista grossa ao pecado, ou pecam deliberadamente contra o Senhor e Sua Palavra. Destorcem a Palavra de Deus para se beneficiar e manter a igreja cheia de pessoas vazias. Muitas dessas pessoas têm o nome escrito no rol de membros da igreja, mas não tem o nome escrito no Livro da Vida.

E, infelizmente, a nação, é o reflexo da igreja institucionalizada. Olhe para dentro de muitas igrejas hoje e você verá isso. Olhe para o testemunho de muitos crentes e você verá que isso é uma grande verdade. Crentes que vivem à margem da verdade da Palavra de Deus. Crentes que são fiéis aos seus líderes, mas desconhecem ao Senhor.

E qual é o resultado disso? Vejamos o que prevalecia:

2º - Assim como Israel havia abandonado a verdade, a igreja a tem abandonado também (Os 4.1,2). Israel havia abandonado a verdade. A verdade é a honestidade habitual ou confiabilidade, o primeiro ingrediente que exigimos em qualquer negócio, mesmo impessoal, que realizamos com o nosso próximo [5]. Observe o versículo dois: “O que só prevalece é perjurar, mentir...”.

Perjúrio - Juramento falso ou violação de juramento. É maldizer os outros, enquanto mentir é violar os direitos pessoais e legais dos outros, especialmente quando envolve falso testemunho em decisões legais, transações financeiras ou votos religiosos [7].

A verdade tem sido abandonada na vida e nos lábios de muitos “homens e mulheres de Deus”, isso sim é que é triste. Muitas vezes vemos mais fidelidade e compromisso na vida de gente ímpia do que dentro de nossos arraiais.

A Bíblia sempre nos orienta a usarmos da verdade, ainda que soframos por isso. Veja o que ela nos fala:

“Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros” (Ef 4.25).

“Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do homem velho com os seus feitos” (Cl 3.9).

“Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?... o que jura com dano próprio e não se retrata” (Sl 15.1;4).

Onde impera a mentira Satanás é que tem reinado, pois o diabo é o pai da mentira. Ele mente desde o princípio, como disse Jesus (Jo 8.44).

3º - Assim como em Israel, a igreja tem abandonado o amor (Os 4.1,2). Quando as pessoas rejeitam a aliança de Deus começam a explorar umas às outras, pois os dez mandamentos tratam de nosso relacionamento com nosso próximo bem como com Deus. Se amarmos ao Senhor, então amaremos a nosso próximo (Mt 22.34-40; Rm 13.8-10). No entanto, não havia misericórdia na terra, nenhum amor ao próximo, nenhuma compaixão pelos pobres e necessitados. As pessoas eram desleais a Deus e cruéis uma com as outras [8].

Observe o verso 2: “O que só prevalece é [...] matar [...], e homicídios sobre homicídios”.

A falta de amor leva o homem à destruição de seu semelhante. Veja que o texto nos diz que em Israel a vida humana era descartável. Matar e homicídios sobre homicídios, com isso eles estavam quebrando o sexto mandamento: “Não matarás” (Êx 20.6). O crime e a violência sem controle barbarizavam a sociedade israelita. As pessoas viviam sobressaltadas e neurotizadas por essa onda de violência [9].

Aliás, estava sendo quebrado o sexto, o oitavo e o sétimo mandamento nessa ordem. Com isso vemos que onde não prevalece a Palavra de Deus e fidelidade a Sua aliança, o que predomina é a lei do mais forte. A lei do diabo que veio para matar, roubar de destruir.

No entanto, dentro de nossas igrejas não tem sido diferente. Onde não prevalece a graça do Senhor, prevalece a vontade do homem. E, geralmente, essa vontade é totalmente distorcida da vontade de Deus.

Dentro de nossos arraiais prevalece, muitas vezes, a desunião. A falta de amor. Há homicídios, pois a Bíblia nos fala que quem odeia a seu irmão é assassino (1Jo 3.15).

Pessoas que vivem em pé de guerra com seu próximo, deixando de por em prática a Palavra de Deus que nos diz que devemos perdoar os nossos ofensores. De que no que depender de nós devemos viver em paz com todos os homens.

Mas quantas pessoas preferem deixar a comunhão com os irmãos porque tem alguma birra com outro irmão. Gente que só vê defeito nos outros, mas não consegue ver os seus.

O espelho não serve para vermos como estamos bem, mas para vermos as nossas imperfeições e nos acertarmos. Para isso que serve o espelho.

4º - Assim como em Israel a igreja tem sido desonesta e opressora (Os 4.2; 7.1). Veja o que nos diz o texto de Oseias sobre isso: “O que prevalece é [...] furtar [...], e há arrombamentos”.

A quebra da aliança levou o povo de Israel a desprezar a lei e a ordem. O que prevalecia era a lei do mais forte como já falamos. A falta de amor gerou a falta de respeito para com a propriedade privada. Era um abismo chamando outro abismo.

O que o homem planta colhe. Se não houver arrependimento as consequências do pecado serão desastrosas. No ano 722 a.C. o rei da Assíria invadiu Israel e a levou cativa:

Porque o rei da Assíria passou por toda a terra, subiu a Samaria e a sitiou por três anos. No ano nono de Oséias, o rei da Assíria tomou a Samaria e transportou a Israel para a Assíria; e os fez habitar em Hala, junto a Habor e ao rio Gozã, e nas cidades dos medos. Tal sucedeu porque os filhos de Israel pecaram contra o SENHOR, seu Deus, que os fizera subir da terra do Egito, de debaixo da mão de Faraó, rei do Egito; e temeram a outros deuses. Andaram nos estatutos das nações que o SENHOR lançara de diante dos filhos de Israel e nos costumes estabelecidos pelos reis de Israel. Os filhos de Israel fizeram contra o SENHOR, seu Deus, o que não era reto; edificaram para si altos em todas as suas cidades, desde as atalaias dos vigias até à cidade fortificada. Levantaram para si colunas e postes-ídolos, em todos os altos outeiros e debaixo de todas as árvores frondosas. Queimaram ali incenso em todos os altos, como as nações que o SENHOR expulsara de diante deles; cometeram ações perversas para provocarem o SENHOR à ira e serviram os ídolos, dos quais o SENHOR lhes tinha dito: Não fareis estas coisas (2Rs 17.5-12).

Eles que estavam furtando e arrombando, agora eram eles que estavam sendo invadidos e sendo saqueados pelo inimigo.

Tudo isso nos serve se aviso para olharmos para a história e revermos as nossas atitudes. A igreja hoje tem entrado em muitas casas, e em nome de Deus, tem furtado e arrombado a fé, a esperança e levado o dinheiro de muitas pessoas que acreditam em suas falsas promessas.

Eu sei que muitas dessas pessoas são tão culpadas como seus opressores, pois são gananciosas e gulosas como esses líderes. Mas há muita gente inocente nesse meio. Há pessoas que com uma fé pura tem sido tripudiadas e roubadas de seus poucos benefícios diante de falsas promessas de cura, de libertação, de restauração familiar. Tais líderes são indesculpáveis e sofrerão consequências de seus atos. Não pense que isso ficará sem julgamento. O Senhor há de se levantar em breve e julgará esses lobos devoradores e serão condenados. 

 5º - assim como em Israel a igreja está envolvida na quebra da aliança do casamento (Os 4.2,11). O que prevalece [...] adulterar. O adultério é a quebra da aliança no casamento. E esse adultério era duplo, eles adulteravam indo atrás de outros deuses, assim como adulteravam traindo os seus cônjuges.

Foi isso que ocorreu com Oseias quando se casou com Gômer que vivia o traindo e ele sempre a buscava de volta para casa. Assim o Senhor estava mais uma vez tentando despertar a consciência do seu povo revelando os seus pecados. Com isso, tentando fazê-los cair em si e se arrependerem de seus atos.

A Bíblia é clara quando nos diz que o Senhor abomina o divórcio (Ml 2.14-16). Mas alguns líderes não têm autoridade para falar sobre isso, pois não prevaleceram em seus relacionamentos conjugais. Eu conheço um que já está no terceiro casamento. Mas continua na mesma igreja. Outros não se separam, mas apoiam os que estão agindo assim.

Meus irmãos, quando ligamos a TV e olhamos certos líderes midiáticos ficamos escandalizados com tanta adulteração também da Palavra. São pessoas que não permanecem firmes na aliança com o Senhor. Eles, com a cara mais deslavada, deturpam o que o Senhor falou para se beneficiarem. Vivem de seus adultérios e acham que estão certos em seus atos.

Estamos vivendo um evangelho sincrético onde o que prevalece é o sal grosso, o galho de arruda, é a venda de objetos consagrados... São cenas das mais grotescas. Coisas que ocorrem em algumas igrejas tem uma enorme semelhança com os cultos afros.

Isso sem contar a imoralidade de muitos que sobem nos altares de muitas igrejas para cantar, pregar, testemunhar. Gente que vive na imoralidade fora da igreja. Escândalo atrás de escândalo. Algum tempo atrás um pastor abandonou a esposa e fugiu com madrasta. Não demorou muito tempo e ele já estava com uma igreja montada e havia mais de mil membros. Onde iremos parar?

6º - Assim como em Israel a igreja tem abandonado o conhecimento de Deus (Os 4.1;6 ). O conhecimento experimental de Deus, em um andar diário e espiritual com o Senhor, tinha cedido lugar ao aprendizado dos caminhos dos deuses como Baal. O conhecimento vinha da Lei, pois era ali que o Senhor revelava a Sua vontade [10]. No entanto a população havia deixado essa observância e seguia outros deuses e seus ensinamentos.

O pecado fundamental era a ignorância; não havia conhecimento de Deus na terra. “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6). Isso significa muito mais que informação sobre Deus; refere-se ao conhecimento pessoal do Senhor. A palavra hebraica descreve a relação íntima do marido com a mulher (Gn 4.1; 19.8). Conhecer a Deus é ter um relacionamento pessoal com Ele pela fé em Jesus Cristo (Jo 17.3) [11].

Conhecer é mais do que conhecer algo sobre Ele, ou até mesmo ter alguma experiência espiritual. Conhecer envolve relacionamento. Intimidade. Proximidade. É mais do que ouvir falar. Porque que tantos filhos de crentes se desviam quando vão para a faculdade? É porque muitos conhecem o Deus de seus pais, mas não tiveram uma experiência pessoal com Ele. Conhecem de ouvir, mas não de se relacionar. Vivem das experiências dos pais, mas não tiveram as suas próprias experiências com o Senhor.

Outra coisa, uma boa teologia nos leva a conhecer melhor ao nosso Deus. Uma teologia firmada em experiências sobrenaturais nem sempre nos levará a um conhecimento profundo do Senhor. Jesus falando com os saduceus lhes disse que eles erravam por desconhecerem as Escrituras e o poder de Deus (Mt 22.29).

Há hoje em dia um grande analfabetismo bíblico em nossas igrejas, e o pior, atrás dos púlpitos. Líderes que não estudam a Bíblia. Alguns até fizeram algum seminário, mas a maioria nem perto passaram e se passaram, não concluíram os estudos. Gente preguiçosa. E ainda dizem que a letra mata. Mata realmente. Mata o conhecimento sério do que se está sendo falado. Crentes que vivem de revelação sem parâmetro teológico. Gente que vive de emocionalismo piegas. Gente que quer sentir, mas não quer conhecer.

O resultado está espalhado por aí. Igrejas cheias atraídas pelo show gospel, pelo pop star, mas com a mente vazia do conhecimento de Deus.
      
7º - Assim como em Israel a igreja tem deixado uma marca desastrosa na sociedade (Os 4.3). Não há sociedade humana que possa prevalecer onde estão ausentes a verdade, o amor e o conhecimento de Deus. Esses são os fundamentos da piedade e da moralidade. Esses são os alicerces da família, da igreja e da sociedade [12].

A força do pecado é destruidora. As pessoas não se dão conta disso. Até o ecossistema sofre diante do pecado (Rm 8.22). Observe quantas calamidades ocorreram no passado devido ao pecado do povo (2Cr 7.13,14). Isso era e é até hoje as consequências do pecado; Deus não mudou. A nossa realidade não é diferente. Estamos destruindo a casa onde moramos. E as consequências estão sendo desastrosas.

A igreja que deveria ser a guardiã da sã doutrina a está abandonando. Esta deveria vivê-la testemunhando diante da sociedade, no entanto, está tão manchada que mal se consegue distinguir o que é uma igreja e o que é uma boate. O que é uma igreja ou que é um botequim. Se é uma igreja ou um culto afro. Isso sem contar a sensualidade com que se veste muitas moças.

A igreja perdeu o parâmetro do que é certo e do que é errado. Do que é conveniente e do que não é conveniente. A igreja se mundanizou.

A igreja hoje está igual a história do homem que tinha um comércio. Mas o movimento estava fraco; então ele teve uma brilhante ideia. Ele passou a comprar frango por um valor e passou a vendê-lo por um valor inferior. Quando ele foi questionado a respeito do que estava fazendo e que ele estava levando prejuízo, ele disse:

- E o movimento! Vocês viram como aumentou o movimento?

Essa é a questão. Estão barateando a graça de Deus em prol do movimento.

CONCLUSÃO 

Nesses poucos versículos do capítulo quatro de Oseias tantas coisas nós vemos que nos mostram as consequências de uma vida longe de Deus; de uma nação que quebrou a aliança com o Senhor. Mas isso é um retrato para nós hoje também. Devemos, como igreja, reavaliar a nossa vida para não sermos julgados com o mundo.

Torno a afirmar, o que tem ocorrido hoje no mundo e porque não dizer, em nosso país, a culpa é da igreja que está totalmente corrompida com o pecado. Eu sei que existe um remanescente fiel ainda hoje; e é por causa desse remanescente fiel que o Senhor ainda não agiu com mais vigor em nossa terra. Eu creio que o Senhor tem ouvido a oração desse pequeno rebanho que clama a Ele dia e noite.

Meu irmão e minha irmã, não se deixe levar pelo pecado, mas busque ao Senhor e tenha sempre as suas vestes sempre alvas e que nunca falte óleo sobre a sua cabeça (Ec 9.8).

Pense nisso!

Fonte
    
1 – Gardner, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. Ed. Vida, São Paulo, SP, 1999: p. 500.
2 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, vol. 5. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2ª Edição 2001: p. 3.439.
3 – Mears, Henriqueta. Estudo Panorâmico da Bíblia. Ed. Vida, São Paulo, SP, 15ª impressão, 2003: p. 251.
4 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, vol. 5. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2ª Edição 2001: p. 3.455.
5 – F. Davidson. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 6ª Reimpressão, 1987: p. 836.
6 – Kidner, Derek. A Mensagem de Oseias. E. ABU, São Paulo, SP, 1988: p.40.
7 – Lopes, Hernandes Dias. Oseias, o amor de Deus em ação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 79.
8 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo, vol. 4 – Proféticos. Ed. Geográfica, Santo André, SP, 6ª impressão, 2012: p. 397.
9 – Lopes, Hernandes Dias. Oseias, o amor de Deus em ação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 80.
10 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, vol. 5. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2ª Edição 2001: p. 3.455.
11 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo, vol. 4 – Proféticos. Ed. Geográfica, Santo André, SP, 6ª impressão, 2012: p. 397. 
12 – Lopes, Hernandes Dias. Oseias, o amor de Deus em ação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 78.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

E se teu cônjuge não atende aos teus desejos?


Por Josemar Bessa 

Vivemos numa cultura totalmente e extremamente auto-orientada. Todos nós somos bombardeados de maneira contínua pela mesma mensagem com várias formas diferentes, de que o que precisamos é de uma maior autoestima. Naturalmente começamos a pensar, preciso fazer isso por mim mesmo, preciso ser validado, preciso me sentir bem comigo mesmo, preciso pensar mais nos meus desejos...

Naturalmente, quando as pessoas casam, elas levam isso para o seus casamentos. Podemos então pensar que precisar de uma série de coisas de nosso cônjuge. O problema, é que na realidade, tomamos nossos desejos, que muitas vezes podem não estar errados, e o elevamos ao nível de NECESSIDADE. “Eu quero”, rapidamente se torna, “Eu não vou ser feliz a menos que eu...”

Naturalmente, numa vida a dois, há lugar para falar com nosso esposo (a) sobre nossos desejos. Há coisas que esposas e maridos devem fazer uns pelos outros. Devemos servir um ao outro. Devemos abençoar um ao outros. Cada um deve suportar a sua parte da carga de cuidar de um lar...

Mas tenha sempre cuidado com os desejos. E se teu cônjuge não atende aos teus desejos?

Devemos perguntar primeiro: Quanto verdadeiros cristãos realmente precisam de seus esposos e esposas? Gostaria de apresentar o que você não precisa do seu cônjuge.

Para te completar,
Para te servir,
Para te fazer se sentir bem consigo mesmo,
Para satisfazer todas as tuas expectativas,
Para te satisfazer...

É realmente maravilhoso se você tem um esposo ou esposa que cuida de você, ser e abençoa voe... Mas lembre-se, em última análise, nenhum ser humano pode satisfazer todas as necessidades de outro ser humano. NENHUM ser humano pode satisfazer outro ser humano. Simplesmente não vai acontecer... Somente Deus pode satisfazer todas as nossas necessidade e nos satisfazer verdadeiramente... só Ele é uma fonte que você bebe e nunca mais tem sede.

Fizemos votos diante de Deus de amarmos nosso cônjuge no melhor ou no pior... na fartura ou na escassez... nos bons e maus momentos... O que você vai fazer se o teu cônjuge ficar ferido ou doente e for completamente incapaz de fazer qualquer coisa por você? É preciso um poder sobrenatural para ser paciente. Essa é a razão porque Paulo parece até mesmo estar exagerando na forma como ora por nossa paciência:

Sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e paciência; com alegria (Cl 1.11).

B. B. Warfield (1851-1921), por exemplo - Benjamin B. Warfield foi um renomado e mundialmente conhecido teólogo que ensinou no Seminário de Princeton por quase 34 anos, até sua morte em 16 de fevereiro de 1921. Muitos conhecem seus famosos livros, como A Inspiração e Autoridade da Bíblia. Mas o que muitas pessoas não sabem é que, em 1876, com a idade de 25 anos, ele casou-se com Annie Kinkead e viajaram para a Alemanha, em lua de mel. Durante uma violenta tempestade Annie foi atingida por um raio e ficou permanentemente paralisada. Após cuidar dela por 39 anos, Warfield sepultou-a em 1915. Em função das grandes necessidades de sua esposa, ele raramente se ausentava de casa por mais de 2 horas, durante todos os anos de seu casamento. Ele morreu 6 anos ( 1921 ) depois de sua esposa, sem ter se casado de novo. (Great Leaders of the Christian Church, 344.) – é isso que é solidez no casamento – e ela é possível quando Deus é Deus de fato, e não por exemplo, quando o sexo toma esse lugar.

Se colocamos a confiança em qualquer outra coisa para garantir algo, já estamos andando em areia movediça e sem alicerces que fazem o homem ter o único Deus verdadeiro como o sustentador de sua vida, prazer e felicidade. Quando fazemos assim – temos então feito, como diz Paulo do “ventre o nosso deus” – Paulo está dizendo que nossas vidas estão maculadas pela cobiça – o desejo por coisas boas ou más – que controlam e dão significado as nossas vidas. Desejos esses que claramente mostram a nossa não satisfação em Deus como o todo necessário para a plenitude da vida, gozo e felicidade.

E isso sempre está presente quando eu digo – “sem isso a minha vida não será plena e completa” – Se uma vida está presa a essa cadeia – não pode viver uma vida que de fato honra Deus e faz dele o seu único Deus. Deus é Deus quando só ele é indispensável e tudo mais se nos faltar, não quebrará a razão da vida plena em nós.

Do que você tem dependido como apoio na vida? Deus está falando como você – “Não terás outros deuses diante de mim”.

Então o que você realmente precisa?

Você precisa…
Amar o seu cônjuge. Maridos, por exemplo - Deus ordena que você ame a sua esposa, assim como Cristo amou a igreja e deu a vida por ela. Os crentes são todos chamados a amar uns aos outros e olhar para os interesses dos outros. Não somos chamados para nos certificarmos de que os outros estão nos servindo e olhando para os nossos interesses.

Você precisa…
Ser um servo. Em vez de pensar em quanto seu cônjuge está lhe servindo, determine ser o maior servo da casa. E servir como ao Senhor, sabendo que ele vai recompensá-lo.

Você precisa ...
Ser paciente e sofrer...
Para perdoar,
Para pedir perdão,
Para orar...

Você precisa de graça.

E você também precisa...
Ter baixas expectativas. Sim, há coisas que os maridos e esposas devem fazer uns pelos outros. A maioria de nós os faz muito imperfeitamente. Se você tiver grandes expectativas, então você vai ser constantemente decepcionado e frustrado.

Você precisa…
Esperar que seu cônjuge tenha muitas fraquezas e falhas.

Você precisa…
Esperar que seu cônjuge demore a mudar. Mesmo os crentes que buscam Deus de todo o coração mudam lentamente. A santificação é um processo longo. O caráter não muda durante a noite.

Se você está frustrado, examine o que é que você não está recebendo. Você tomou um desejo, talvez um legítimo, e elevou-o ao status de uma necessidade? Você está procurando um ser humano para satisfazê-lo ou você está procurando estar satisfeito em Cristo?

Fonte: Josemar Bessa

terça-feira, 25 de abril de 2017

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE COMER CARNE?


Por Fabio Campos

Texto base: “No qual havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come.” - Atos 10:12,13 (AFC)

INTRODUÇÃO

Há diversas vertentes que tomam como regra a abstenção de carnes e produtos que envolvem, no seu processo de fabricação, o uso de animais. O veganismo e o vegetarianismo talvez sejam as principais. Em suma, o vegetarianismo pode ser adotado por algumas razões, como, por exemplo, a questão ética, saúde ou religião; o veganismo, por sua vez, tem como cerne a questão ética, de luta pela libertação e não exploração de animais.

Os vegetarianos rejeitam todo tipo de carne (de vaca, porco, peixe, frango etc) e seus derivados (presuntos, embutidos etc). Os Veganos, porém, não consomem nenhum produto de origem animal. Esta vertente também não consome produtos que são testados em animais, como são a maioria dos remédios e cosméticos em geral.

Muitos cristãos têm adotado a esses movimentos (o que não vejo problema). A questão, contudo, é que grande parte deles têm se tornado militantes, e querem a qualquer custo (ainda que seja contrário as Escrituras) fazer prosélitos e angariar discípulos para estes movimentos.

Feita a introdução, qual o posicionamento da Bíblia referente ao trato com os animais? Podemos abatê-los para nos alimentarmos? Por que e para que Deus criou os animais? Qual a relação entre os homens e os animais?

1. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS ANTES DO DILÚVIO

Muita coisa se perdeu com o dilúvio; os registros paleontológicos (estudo dos fósseis) trazem evidencias que tanto a flora (estudo das plantas), como a fauna (estudo dos animais) pré-diluvianas, eram abundantes.

Com efeito, o homem só passou a comer carne após o dilúvio, e não antes (Gn 1.29). Os vegetais, entretanto, já não ofereceriam os nutrientes necessários para a sobrevivência. A vida já não era a mesma como era antes do dilúvio. Deus, então, permite ao homem que agora também se alimente, além dos vegetais, dos animais:

“Todos os animais da terra tremerão de medo diante de vocês: os animais selvagens, as aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles estão entregues em suas mãos. Tudo o que vive e se move lhes servirá de alimento. Assim como lhes dei os vegetais, AGORA lhes dou todas as coisas”. – Gênesis 9.2-3 (NVI)

A Bíblia faz uma distinção entre “animais domésticos”, “aves do céu” e “animais do campo” (Gn 2.20). Antes que Deus houvera permitido o consumo de carne, os animais já eram usados para sacrifícios; seja para a propiciação pelo pecado ou por ofertas de gratidão (Gn 4.4). Antes do pecado, nenhum animal fora sacrificado e nem abatido para servir de alimentação.

Com a queda do homem, a primeira pessoa a sacrificar um animal foi o próprio Deus, quando fez roupas de peles para Adão e Eva cobrirem sua nudez (Gn 3.21). Quem ousaria dizer que Deus errou ao matar um animal qual Ele mesmo houvera criado?

Quando o Senhor ordena a Noé que entrasse na arca com a sua família, Ele também o orienta a levar consigo um macho e uma fêmea de todas as espécies de aves, de todas as espécies de animais e de todas as espécies de seres que se arrastam pelo chão, para conservá-los vivos (Gn 6. 19,20), pois o objetivo era preservar as espécies (Gn 7.2-4), e conservar aqueles que seriam usados para o sacrifico após o dilúvio (Gn 8.20). Por conta deste ato de Nóe, Deus não mais enviaria outro dilúvio sobre a terra (Gn 8.22,22).

2. A RELAÇÃO COM OS ANIMAIS APÓS O DILÚVIO

Após o dilúvio, houve uma alteração no relacionamento do homem com os animais (Gn 9.2). Os animais, por ordem do próprio Deus, passaram a fazer parte da alimentação do homem (Gn 9.3). O que fica subtendido é que, o homem não poderia usar os animais para satisfazer seus maus desígnios. Não é admitido em hipótese alguma judiar, maltratar ou matar os animais simplesmente por lazer e diversão. O uso dos animais deve ser conforme as ordenanças do próprio Deus, da forma como Ele determinou que fosse.

C. S. Lewis, em seu livro “O problema do sofrimento”, gasta um capítulo inteiro para falar somente a respeito do sofrimento dos animais. Como alguém que tinham um grande apreço pelos bichinhos (talvez por influência dos escritos de Francisco de Assis, qual Lewis muito estimava), muito lúcido, ele diz:

“O homem foi designado por Deus para que tivesse domínio sobre os animais, e tudo o que homem faça a um animal ou é um exercício legitimo ou um abuso sacrílego de uma autoridade concedida por direito Divino.” 1

Alguns veganos e vegetarianos usam a Bíblia para fundamentar sua posição de que a Escritura condena o abate de animais para consumo, com base em Gênesis 9.5.

Se estudarmos o texto ainda que superficialmente veremos que significado da passagem se opõe justamente a ideia de que o homem é quem deve ser punido caso ele mate um animal.

“Eu acertarei as contas com cada ser humano e com cada animal que matar alguém.” – Gênesis 9.5 (NTLH)

Veja que a Bíblia condena o derramamento de sangue do HOMEM, e não do animal. Ou seja, se um homem matar (com dolo) outro homem, Deus lhe pedirá contas; se um animal matar um homem, neste caso o animal deverá ser punido pelo seu ato (Ex 21. 28-32).

As pessoas que possuem, por exemplo, cachorros de grande porte (tipo Pitbull, Hot Valley Etc), se porventura o animal atacar seu dono ou algum membro de sua família – este cachorro, como acontece na maioria dos casos – é entregue a outra pessoa ou instituição ou sacrificado (entendo que este último caso seja um pouco mais cruel).

Portanto, o animal foi criado para servir o homem, e não homem para servir o animal. Como foi dito aqui, a Escritura não aborda possíveis punições ao homem caso ele mate um animal, mas traz as punições caso um animal matasse o homem.

3. O ANIMAL COMO ALIMENTO

Em diversas partes, a Bíblia afirma que os animais são dádivas de Deus entregue ao homem também para o alimento (pois há também uma relação de afeto e carinho entre o homem e animais [2 Sm 12.3; Pr 12.10]): A Bíblia não proíbe o consumo de carne:

“Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus...” (Rm 14.6).

“Comam de tudo o que se vende no mercado...” (1 Co 10.25). [no mercado também se vende carne].

“Pois tudo o que Deus criou é bom [grifo nosso: incluindo carne, conforme citado no verso anterior; 1 Tm 4.3], e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças.” – 1 Tm 4.4

O primeiro Concílio da igreja [e talvez o mais importante] aconteceu em Jerusalém, e tratou de assuntos essenciais para que cristãos gentios e judeus pudessem viver em harmônio. A questão central foi o consumo de carne vendidas em açougues que se utilizavam dos restos dos sacrifícios aos ídolos para a venda e comércio.

Este era o momento crucial – se fosse pecado abater e comer os animais – de restringir o consumo. Porém não foi o que aconteceu. Ficou acordado que a carne deveria ser consumida, entretanto, sem o sangue. Também não podia ser carne sufocada (quando o animal não é degolado ao ser abatido, mas sufocado).

A preocupação dos apóstolos não era com os animais que seriam usados, mas com os judeus que se escandalizavam com as práticas dos gentios. Tudo era feito por amor as pessoas, para que nenhuma barreira fosse erguida a fim de atrapalhar a chegada do evangelho àqueles que pensavam deste modo (At 15. 19-22).

Portanto, tudo o que foi criado por Deus – seja comida seja bebida – deve ser consumido para o Louvor da Sua glória (1 Co 10.31).

CONCLUSÃO

Eu amo animais, e louvo a Deus por sua sabedoria e criatividade pela diversidade com a qual Ele os criara. A inteligência, os instintos, os afetos e etc. Às vezes, esses bichinhos parecem gente. Risos... Deus fez tudo perfeito, inclusive os animais. Por diversas vezes, enquanto escrevia este artigo, nossa cachorrinha, Polly Plummer (nome dado a ela carinhosamente em referência a menina Polly, das Crônicas de Nárnia, na história do “O Sobrinho do Mago”), esteve aos meus pés fazendo-me companhia. Deus é perfeito!

Sobre o amor que as pessoas têm por seus animais, a este respeito me solidarizo com o sentimento de C. S. Lewis:

“Nunca rirei de alguém que esteja sofrendo por causa de um animal querido. Acho que Deus quer que amemos mais a Ele, não que amemos menos as criaturas (até mesmo os animais).” 2

De verdade, respeito às pessoas que aderiram um estilo de vida: “... aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus”(Rm 14.6).

No entanto, o meu protesto é direcionado aquele que pensam estar moralmente acima dos outros pelo simples fato de não consumirem carne:

“A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.” – 1 Co 8.8

Como disse o filósofo Luiz Felipe Pondé, isto são “modas de comportamentos”, criações de gente que, na maioria das vezes, preservam os animais, entretanto, são a favor do aborto; não querem ter filhos porque filho dá muito trabalho.

É interessante notar que a natureza é a maior besta fera de todas. Por que estes ativistas não vão para a selva a fim de adestrar os leões para que eles comam apenas vegetais? Será que o problema está nos animais que se auto-devoram? O que muita gente não sabe é que, muitos animais foram extintos não por causa do homem, mas por causa da própria natureza.

De fato, a mãe natureza é a maior besta fera de todas. Ninguém ensinou os animais que comer outros bichos é certo; não se trata de ética, mas de instinto; a questão não é moral, mas sobrevivência. (até porque se os animais não comessem outros animais muitas das espécies existentes já estariam extintas devido a desnutrição).

Pois bem.

Conta-se que, uma mulher judaica atravessava uma fome muito severa junto com seus filhos. A única coisa que ela tinha para alimentar ela e seus filhos era uma galinha que vivia em seu quintal. Os judeus são austeros no critério para sua alimentação. Antes de comer algo, principalmente carne, eles fazem uma avaliação rigorosa (conforme listado no livro de levítico) para saber se aquele alimento é casher, isto é, se é próprio ou não para consumo.

A mulher, não tendo mais alternativa, levou a galinha até o rabino, para verificar se tratava-se de um alimento casher. O rabino verificou; olhou; analisou; olhou de novo; sua esposa preocupada com aquela senhora, perguntou com muita ansiedade ao seu marido se aquela galinha poderia servir de alimento para aquela família. O rabino havia encontrado uma mancha no animal, o que, no entanto, tornava a galinha impura para o consumo.

A esposa do rabino corajosamente tomou a galinha das mãos do marido e a entregou à mulher. O rabino ficou furioso com ela, e perguntou o por que ela havia feito aquilo. Ela, por sua vez, respondeu:

– Você estava olhando a galinha; eu, porém, estava olhando a mulher e seus filhos.

Como disse o próprio Jesus, o que tornar alguém impuro não é o que se come, mas o que se fala e faz. Pois a maldade dos homens – isto é, os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, asimoralidades, os roubos, as fofocas e calúnias – se encontra no coração do ser humano, e não nos alimentos que ele consome (Mt 15. 17-20).

Em Cristo Jesus, considere este artigo e arrazoe isto em seu coração.

Soli Deo Gloria!
_________________

Citações:

1 LEWIS, C. S. O problema do Sofrimento. Editora Vida, 2009. São Paulo, SP; p. 155
2 LEWIS, C. S. Cartas a uma senhora americana. Editora Vida, 2006. São Paulo, SP; p. 75

Fonte: Fabio Campos

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Suicídio: um velho novo capítulo



Por Maurício Montagnero

Nessa última semana eu assisti uma série no NetFlix chamada 13 Reasons Why. Não só eu, mas muitas pessoas a tem assistido, especialmente os adolescentes. Essa série é uma espada de dois gumes, pois pode prevenir alguém do suicídio o mostrando o quão desnecessário é, ou pode incentivar a isso. Dependerá muito do estado existencial e de maturidade que o indivíduo, especialmente o adolescente, estará no momento ao assisti-la. Mas afinal, do que se trata? Segue a sinopse: 

“A série gira em torno de Clay Jensen, um estudante tímido do ensino médio, que encontra uma caixa na porta de sua casa. Ao abri-la, ele descobre que a caixa contém sete fitas cassete gravadas pela falecida Hannah Baker, sua colega que cometeu suicídio recentemente. Inicialmente, as fitas foram enviadas para um colega, com instruções para passá-las de um estudante para outro. Nas fitas, Hannah explica para treze pessoas como eles desempenharam um papel na sua morte, apresentando treze motivos que explicam porque ela se matou. Hannah deu uma cópia das fitas para Tony, um de seus colegas da escola, que avisa para as pessoas que, se elas não passarem as fitas, as cópias vazarão para todo mundo, o que poderia levar ao constrangimento público e vergonha de algumas pessoas, enquanto outros poderiam ser ridicularizados ou presos”.

Para quem assisti esta série, especialmente aos adolescentes que sentem predisposição para o suicídio, é importantíssimo que veja o quarto trailer que está anexo com ela – além dos porquês –, onde há um bate-papo entre o elenco e profissionais da saúde falando sobre o tema e a série. Além de visitar o próprio site deles para buscar ajuda (tem os telefones para as regiões) e conhecer mais sobre: http://www.13reasonswhy.info/#bra.

Infelizmente, na mesma época em que a série está em alta, apareceu uma “brincadeira” ou “desafio” nas redes sociais, a saber: Baleia Azul. Essa brincadeira que começou na Rússia em 2015, já faz sucesso no Brasil em 2017. A mensagem deste jogo está baseada em 50 desafios, dentre eles há: o de desenhar uma baleia no papel e depois no braço, fazer cortes no corpo, ver filmes de terror e assim por diante; mas o último desafio (quinquagésimo) é o SUICÍDIO. E sim, já existem histórias de adolescentes que comentem tal barbárie. Sem vacilar eu creio que esses adolescentes passam por um perturbado momento existencial ou de maturidade, logo, são facilmente influenciados ou conquistados pela brincadeira. Em contraponto, há algumas manifestações nas redes sociais que ocorrem e dentre elas eu deixo como recomendação:

Por favor, ao menos três dos meus amigos do Facebook, poderiam copiar e colar essa informação? Linha de prevenção ao suicídio: 0800-273-8255 #NaoABaleiaAzul.

Ou ainda pesquisar e aplicar o desafio da baleia rosa que é uma resistência ao da baleia azul, propondo 50 desafios saudáveis para a pessoa.

PROBLEMA X SOLUÇÃO:

Com essas duas citações acima nós vemos de uma maneira inusitada um velho inimigo existencial, male da alma ou conflito da vida, voltar com tudo – se um dia deixou de ser tão ativo. Existem já várias estatísticas sobre o tema, várias conclusões em cima dele, vários motivos articulados do porque ocorre tal e assim por diante. O problema é visível, infelizmente. Porém, qual a solução para ele?

Já foram passadas três fontes que buscam ajudar a resolver o problema para que as pessoas não cometam o suicido. Vários estudos bíblicos já existem para tratar do tema. Contudo, aqui nesse espaço, quero destacar um principio que se completa em três partes que tenho por certeza que soluciona definitivamente este problema, ou os problemas que originam o tal. Esse princípio se encontra no verso, o qual eu tenho como meu favorito, que Paulo escreveu para uma igreja localizada na Europa, muitos séculos atrás, na cidade de Filipos: Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos (Fl 3.10a).

Mas porque um princípio que se completa em três partes? Bem, o princípio eu vou chamá-lo de Intimidade com Cristo, é este que vemos no versículo. Em três partes, pois este verso só tem um artigo definido – no grego –, portanto, sugere que todas as ideias serão expressas em uma só. É uma completude! Exemplificando, podemos dizer que é um tipo de trilogia – termos usado em artes gerais que diz que uma arte quando é dividida em três obras e, só poderá ser compreendida quando essas três forem vistas. O princípio visto só pode ser compreendido quando as três partes forem conhecidas, compreendidas e vividas. Destarte, só conheço a Cristo se conhecer o poder de ressureição e a participação nos sofrimentos dEle. Vamos entender cada uma dessas partes:

1. Quero conhecer a Cristo: Essa palavra conhecer que já se encontra no verso 8 como conhecimento é de uma raiz que não fala sobre conhecimento teórico ou racional, mas, sim, de um conhecimento adquirido pela experiência, de relacionamento. Neste caso o texto afirma um relacionamento pessoal com a pessoa de Cristo, de intimidade como dois amigos que se conhecem profundamente depois da amizade ter se firmado e permanecido. Augusto Cury, o escritor, era ateu e acabou crendo em Jesus depois que se dedicou aos estudos dos evangelhos para examinar quem era Jesus e escrever sobre Ele. Interessante que um ateu se converte quando conheceu Jesus de Nazaré, revelado nos evangelhos. Melhor forma de conhecer a Cristo é lendo sobre Ele, mas, também, O buscando em oração e na tentativa de ser semelhante a Ele no dia após dia.

Mas o que isso tem haver com o tema? Paulo quando expressa esse desejo na carta que escreveu a igreja de Filipos, ele escreve em um tempo de “crise” na sua vida. Paulo estava preso, provavelmente em Roma, e com a grande possibilidade de ser condenado a morte. Contudo, nesse momento da sua vida de pressão e dificuldade o que ele quer é ser intimo da pessoa de Cristo. Da mesma maneira você, lendo esse artigo, talvez esteja passando por algum conflito interno ou externo, alguma tempestade em sua vida, saiba que não é a automutilação ou o suicídio que trará a solução, no entanto, será o se aproximar de Jesus, conhecê-lo, ser intimo dEle. Para isso é bom vermos as outras duas partes que completarão esse princípio.

Obs.: A bíblia fala de vários homens de Deus que desejaram a morte ou amaldiçoaram o momento que nasceram, porém Deus concedeu as providências que necessitavam e suas histórias foram transformadas (Moisés – Nm 11.10 – 15; Elias – 1Rs 19; Jó – Jó 3). Todos esses tiveram um principio igual, que foi: Conhecer intimamente ao Senhor!

2. O poder da Sua ressurreição: Aqui Paulo, no original grego, coloca um pronome pessoal genitivo que se refere a Cristo – o da sua ressurreição –, transmitindo o sentido acerca dos efeitos que essa ressurreição traz, e, também, a qualifica e a defini. A ressurreição de Cristo é causa de sermos cotidianamente regenerados e salvos, além de nos produzir esperança (Jo 16.7 – 9; Rm 4.25; 1Co 15.13 – 17; 42 – 44; Hb 4.14 – 16); 1Jo 2.1). Os textos citados nos indicam que pela ressurreição o Espírito Santo foi enviado para nos convencer e conduzir a obra da salvação e do livramento; que fomos justificados; que a nossa fé seria útil e levaria a esperança; que temos um Sumo Sacerdote e Advogado que intercede por nós para sermos restaurados sempre – alguns entendem que o poder da ressurreição seria o fato da própria ressurreição final, mas não é, a ressurreição final se refere o verso 11, logo, a ressurreição deste versículo (com o conhecer a Cristo e a participação dos seus sofrimentos) serve para nos levar a ressurreição final. Então, o de fato é de se tornar nova criatura (Rm 6.4; Ef 2.5; Cl 2.12), porém não se limita a tal, mas, também, ao renovar constantes da vida da pessoa (Rm 8.11; Cl 3.1), pois Paulo que já era salvo nEle ainda desejava o prosseguimento deste conhecimento. Tal definição é admitida conforme segue um dos sentidos de ressurreição (anastaseos) no original – ser sarado e ter seu altar. 

Então, amado leitor, se a situação está difícil e a desesperança se faz presente em sua vida o levando a desejar a morte, eu digo a você: conheça o poder da ressurreição, pois essa lhe possibilitará dia após dia ser renascido, começar de novo, dar novo sentido em cada amanhecer – RENOVAR! Como Leonardo Gonçalves canta em sua música (Ele Vive): E hoje sou livre, pois Ele vive… E eu sou livre, eu sou livre enfim, de mim… Da água renasci e faz sentido servir Alguém melhor que eu… Todo dia de manhã quero renascer…

3. A participação em Seus sofrimentos: Interessante destacar essa palavra sofrimento. Os jovens que se cortam/se mutilam têm buscado evidenciar um sofrimento interno, um tipo de comunicação que não é verbal. E assim, consequentemente, participa de algum sofrimento proposto (pela baleia azul).

Em contraste com isso podemos participar dos sofrimentos de Cristo. Isso não se refere a mutilação, a penitências físicas ou a estigmas. Refere-se à renúncia diária, as aflições externas constantes por causa do evangelho (que traz a paz interna), como também a possível perseguição. Isso é visível quando o apóstolo escreve, pois estava preso, além da verdade que ele deixa no capítulo 4.11 e 12, como também outros textos: 1Co 9.1 – 15; 2Co 11.25 – 27. Aqui vale deixar para a reflexão: Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês (Mt 5.11). Essa palavra participação refere-se e se unir, associar-se com os sofrimentos de Cristo, de renúncia e consequências de tais, já que uma vez estamos unidos ao seu corpo. Acompanha a essa palavra o artigo “tw/n/ton” que é um dativo que transmite o sentido de proveito/dano recaído, ou seja, tal participação é um dano, a principio, que recai sobre quem deseja isso, porém é um proveito para quem vive tal.

Contudo, vale constar, que a participação deste sofrimento traz paz e satisfação ao coração de quem participa. Não é cruel! Não gera desesperança! É maravilhoso! Traz paz!

Jesus certa vez disse: Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve – (Mt 11.28 – 30).

FINALIZANDO

Existe um vazio em nosso coração que só pode ser preenchido pela cruz de Cristo, através da compreensão dela. Há uma falta de sentido em nossa vida que só pode ser satisfeita quando Ele se torna o centro de nossas vidas. É como um jogo de quebra cabeça que só terá sentido quando todas as peças estiveram definidamente em seus devidos lugares. Para muitos, Jesus é a peça que falta para trazer sentido a esse jogo chamado vida!

“Dá-me Jesus, Ele é tudo que preciso para continuar!”

(Gregório Mcnutt).

“Não há um único centímetro quadrado, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: ‘É meu!’”

(Abraham Kuyper)

Fonte: NAPEC

sábado, 15 de abril de 2017

POR QUE JESUS MORREU NA CRUZ?



Por Pr. Silas Figueira

Antes de respondermos esse questionamento gostaria de compartilhar com você quatro pontos que definem que a morte de Cristo na cruz foi algo singular, passo a transcrever quatro pontos que parecem resumir bem esse acontecimento. Esse argumento se encontra no livro de Arthur W. Pink, Os Sete Brados do Salvador na Cruz. Ele nos fala assim:

A MORTE DO SENHOR JESUS CRISTO é um assunto de interesse inexaurível para todos os que estudam em oração a escritura da verdade. Tal é assim não somente porque tudo do crente — tanto no tempo como na eternidade — dela dependa, mas também devido à sua singularidade transcendente. Quatro palavras parecem resumir as características salientes desse mistério dos mistérios: a morte de Cristo foi natural, não natural, preternatural e sobrenatural. Uns poucos comentários parecem ser necessários à guisa de definição e amplificação.

Primeiro: a morte de Cristo foi natural. Com isso queremos dizer que ela foi uma morte real. É porque estamos tão familiarizados com o fato dela que a declaração acima parece simples, corriqueira; todavia, o que abordamos aqui é um dos principais elementos de admiração para a mente espiritual. Aquele que foi “tomado, e pelas mãos de injustos” crucificado e assassinado não era outro senão o “Companheiro” de Jeová. O sangue que foi derramado sobre o madeiro maldito era divino — “A igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20.28). Como diz o apóstolo: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19).

Mas como o “Companheiro” de Jeová poderia sofrer? Como o eterno poderia morrer? Ah, aquele que no princípio era o Verbo, que estava com Deus, e que era Deus, “se fez carne”.   Aquele que era em forma de Deus tomou sobre si a forma de um servo e foi feito semelhante aos homens; “e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.8). Dessa forma, tendo se encarnado, o Senhor da glória foi capaz de sofrer a morte, e assim foi que ele “provou” a própria morte. Em suas palavras, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”, vemos quão natural foi sua morte, e a realidade dela se torna ainda mais aparente quando ele foi posto na sepultura, onde permaneceu por três dias.

Segundo: a morte de Cristo foi não natural. Por isso queremos dizer que ela foi anormal. Acima dissemos que, ao se encarnar, o Filho de Deus tornou-se capaz de sofrer a morte, todavia, não deve ser inferido daí que a morte tinha, portanto, um direito a reclamar sobre ele; longe disso, o contrário mesmo era a verdade. A morte é o salário do pecado, e ele não tinha nenhum. Antes de seu nascimento foi dito a Maria: “[que] o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Não somente o Senhor Jesus entrou neste mundo sem contrair a contaminação da natureza humana caída, mas ele “não cometeu pecado” (1Pe 2.22), “não [tinha] pecado” (1Jo 3.5) e “não conheceu pecado” (2Co 5.21). Em sua pessoa e em sua conduta ele foi o Santo de Deus “imaculado e incontaminado” (1Pe 1.19). Como tal, a morte não tinha nenhum direito a reclamar sobre ele. Até mesmo Pilatos teve que reconhecer que não pôde encontrar “nenhuma culpa” nele. Por conseguinte, dizemos que o Santo de Deus morrer foi não natural.

Terceiro: a morte de Cristo foi preternatural. Por meio disso queremos dizer que ela foi marcada e determinada para ele de antemão. Ele era o Cordeiro morto antes da fundação do mundo (Ap13.8). Antes que Adão fosse criado, a Queda foi antecipada. Antes de o pecado entrar no mundo, a salvação dele havia sido planejada por Deus. Nos eternos conselhos da Deidade, foi ordenado de antemão que haveria um Salvador para os pecadores, um Salvador que sofreria, o justo pelos injustos, um Salvador que morreria para que pudéssemos viver. E “porque não havia nenhum outro suficientemente bom para pagar o preço do pecado”, o Unigênito do Pai se ofereceu como o resgate.

O caráter preternatural da morte de Cristo leva o bom termo de o “sustentáculo da Cruz”. Foi em vista da aproximação dessa morte que Deus “justamente ignorou os pecados anteriormente cometidos” (Rm 3.25). Não tivesse sido Cristo, no conceito de Deus, o Cordeiro morto desde antes da fundação do mundo, toda pessoa pecadora nos tempos do Antigo Testamento teria sido lançada no abismo no momento em que ela pecasse!

Quarto: a morte de Cristo foi sobrenatural. Por isso queremos dizer que ela foi diferente de qualquer outra morte. Em todas as coisas ele tem a preeminência. Seu nascimento foi diferente de todos os outros nascimentos. Sua vida foi diferente de todas as outras vidas. E sua morte foi diferente de todas as outras mortes. Isso foi claramente anunciado em sua própria declaração sobre o assunto: Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai (Jo 10.17, 18) [1].

Com isso vemos que a cruz de Cristo não foi um acidente, mas um apontamento de Deus desde a eternidade. Cristo veio para morrer. Ele foi morto desde a fundação do mundo. Ele nasceu para ser o nosso substituto, representante e fiador. A cruz sempre esteve incrustada no coração de Deus, sempre esteve diante dos olhos de Cristo. Ele jamais recuou da cruz. Ele marchou para ela como um rei caminha para a coroação. O amor de Deus por nós é eterno. A causa do amor de Deus está nele mesmo.

Em sua mensagem no dia de Pentecostes, Pedro afirmou esta verdade quando disse que Jesus fora “entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). Pedro se achava presente quando tudo aconteceu; ele sabia que o Calvário não foi uma surpresa para Jesus. Anos mais tarde, quando escreveu a sua primeira epístola, Pedro chamou Jesus de Cordeiro que foi “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo” (1Pe 1.20). Pode alguma coisa ser mais clara? [2].

Apesar de Jesus ter se dado em nosso lugar, e isso é claro como temos visto até aqui, no entanto nós somos culpados por sua morte na cruz. É muito fácil culpar o povo judeu, Herodes, Pilatos e até os soldados romanos, mas saiba de uma coisa, se nós estivéssemos no lugar deles teríamos feito a mesma coisa. Deveras, nós o fizemos. Pois sempre que nos desviamos de Cristo, estamos “crucificando” para nós mesmos o Filho de Deus, e o “expondo à ignomínia” (Hb 6.6). Nós também sacrificamos Jesus à nossa ganância como Judas, à nossa inveja como os sacerdotes, à nossa ambição como Pilatos. Estávamos lá quando crucificaram o meu Senhor. Não apenas como espectadores, mas também como participantes, participantes culpados, tramando, traindo, pechinchando e entregando-o para ser crucificado. Como Pilatos, podemos tentar tirar de nossas mãos a responsabilidade por meio da água. Mas nossa tentativa será inútil quanto foi a dele [3]. 

A pergunta persiste, por que Cristo morreu na cruz?

Em primeiro lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para nos dar vida. Jesus no Evangelho de João 10.10 nos diz que Ele veio para nos dar vida e vida em abundância. Só necessita de vida quem está morto e o apóstolo Paulo nos fala em Ef 2.1: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”. A condição do homem sem Deus é desesperadora. O diagnóstico que Paulo faz se refere ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em todos os lugares. Esse é um retrato da condição humana universal. O pecado não é uma dessas enfermidades que alguns homens contraem e outros não. É algo em que todo ser humano está envolvido e de que todo ser humano é culpado [4]. A Bíblia nos fala que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a), e não há graus de morte, só graus de decomposição. O pecador perdido que diz: “Não sou tão mau quanto outras pessoas”, não está captando a mensagem. A questão não é decadência, é morte [5].

Jesus morreu para que tivéssemos vida! Mas se o salário do pecado é a morte, nos diz Rm 6.23b que “o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. O pecado paga salários a seus escravos – e o salário é a morte. Deus nos dá, não salário, mas algo melhor e muito mais generoso: por sua graça, ele nos dá a vida eterna como dom – a vida eterna que nos pertence por nossa união com Cristo [6]. A palavra grega Charisma, por sua vez, é uma dádiva da graça de Deus. Portanto, se estamos prontos a receber aquilo que merecemos, só pode ser a morte; já a vida eterna é uma dádiva de Deus, inteiramente gratuita e absolutamente imerecida. Ela se alicerça unicamente na morte expiatória de Cristo, e a única condição para recebê-la é que nós estejamos em Cristo Jesus nosso Senhor, isto é, unidos pessoalmente a Ele pela fé [7].

Em segundo lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para vivermos para Ele. No momento em que me uno a Cristo eu estou me rendendo a Sua vontade, como disse o apóstolo Paulo em Gl 2.19,20:

“Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

Uma coisa é ter Cristo como Salvador outra é tê-lo como Senhor. Um bom exemplo disso nós também encontramos em 2Co 5.14,15:

“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”.

Porque Cristo morreu por nós, agora devemos viver para Ele. Isso é serviço. O Salvador não morreu por nós para vivermos uma vida egoísta e centrada em nós mesmos, mas morreu para vivermos para Ele. Obviamente, não servimos a Cristo para sermos salvos, mas porque já fomos salvos. As nossas boas obras não são a causa da nossa salvação, mas sua consequência [8].

Em terceiro lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para que pudéssemos viver com Ele. O céu sempre foi real para Jesus, “o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). Foi a sua visão do céu que o sustentou quando a caminhada se tornou árdua. Séculos antes, a garantia do céu encorajou Abraão, Isaque e Jacó. Eles mantiveram os olhos fixos na cidade e país que Deus estava preparando para eles (Hb 11.13-16) [9]. Jesus em seu ministério sempre procurou renovar no coração de seus discípulos essa viva esperança.

A esperança do céu para os cristãos repousa sobre três pilares inabaláveis, o primeiro dos quais é a promessa feita por Jesus: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”.

O segundo pilar é a oração feita por Jesus: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24).

O terceiro pilar é o preço que Jesus pagou. Paulo consolou os crentes perturbados de Tessalônica, ainda jovens na fé, dizendo-lhes que, quer vivessem ou morressem, Jesus os levaria para céu. Foi por isso que Ele morreu e ressuscitou. Quando os crentes morrem, eles vão estar com Cristo; “estar ausente do corpo” significa “estar presente com o Senhor” (2Co 5.6-8). Se Jesus voltar quando ainda estivermos vivos, Ele irá então nos arrebatar para nós o encontrarmos nos ares, e ficarmos com Ele para sempre (1Ts 4.14-18) [10]. Essa viva esperança é que manteve firme a Igreja no seu início, mesmo diante de tanta perseguição, pois para o cristão primitivo o viver era Cristo e o morrer era lucro, como deixou bem claro o Apóstolo Paulo em Fl 1.21.

Jesus morreu para que pudéssemos viver por meio dEle, que é salvação; para que pudéssemos viver por Ele, que é dedicação; e para podermos viver com Ele, que glorificação. Não importa quão difícil seja nosso caminho como peregrinos na terra, pois sabemos que iremos “habitar na Casa do Senhor para todo o sempre” (Sl 23.6). Como disse o apóstolo Paulo em 1Co 15.19: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” Mas a nossa esperança está enraizada nas palavras do Nosso Salvador que deixou bem claro para a Sua Igreja que em breve voltaria para estarmos com Ele para todo e sempre.

Em conclusão, a cruz reforça três verdades: acerca de nós mesmos, a cerca de Deus e acerca de Jesus Cristo.

Primeiro, nosso pecado deve ser extremamente horrível. Nada revela a gravidade do pecado como a cruz. Pois, em última instância, o que enviou Cristo ali não foi a ambição de Judas, nem a inveja dos sacerdotes, nem a covardia vacilante de Pilatos, mas a nossa própria ganância, inveja, covardia e outros pecados, e a resolução de Cristo em amor e misericórdia de levar o juízo desses pecados e desfazê-los. É impossível que encaremos a cruz de Cristo com integridade e não sintamos vergonha de nós mesmos. Apatia, egoísmo e complacência vicejam em todos os lugares do mundo, exceto junto à cruz. Aí, essas ervas nocivas secam-se e morrem. São vistas como as coisas mais horríveis e venenosas que realmente são. Pois se não havia outro modo pelo qual o Deus justo pudesse justamente perdoar a nossa injustiça, a não ser que a levasse em Cristo, deve ela, deveras, ser séria. Só quando vemos essa seriedade é que, desnudados da nossa autojustiça e autossatisfação, estamos prontos para colocar nossa confiança em Jesus Cristo como o Salvador de quem urgentemente necessita.

Segundo, a maravilha do amor de Deus deve ir além da compreensão. Deus podia, com justiça, ter-nos abandonado ao nosso próprio destino. Ele podia ter-nos deixado sozinhos para colhermos o fruto de nossos erros e perecermos em nossos pecados. É isso que merecíamos. Mas Ele não nos condenou. Por causa do seu amor por nós, Ele veio procurar-nos em Cristo. Ele nos foi ao encalço até na desolada cruz, onde levou o nosso pecado, a nossa culpa, o nosso juízo e a nossa morte. É preciso que o coração seja duro e de pedra para não se comover face a um amor como esse. É preciso mais do que amor. Seu nome correto é “graça”, que é amor aos que não merecem.

Terceira, a salvação de Cristo deve ser um dom gratuito. Ele a “comprou” para nós com o alto preço de seu próprio sangue. De modo o que nos resta a pagar? Nada! Visto que Ele reivindicou que tudo estava “consulado”, nada há com que possamos contribuir [11].

Todos nós estávamos sob a lei, que diz: "Faça isto, e viva". Éramos escravos dela; Cristo pagou o preço do resgate e a lei não é mais o nosso mestre tirano. Estamos completamente livres dela. A lei tem uma terrível maldição: qualquer que violar um de seus preceitos deve morrer. "Cristo nos redimiu da maldição da lei, tendo sido feito maldição em nosso lugar" (Gl. 3.13). Pelo temor de sua maldição, a lei infligia um contínuo pavor àqueles que estavam debaixo dela; eles sabiam que a tinham desobedecido, e permaneciam todo o tempo de suas vidas sujeitos à escravidão, temendo que a morte e a destruição viessem sobre eles a qualquer momento. Nós, porém, não estamos sob a lei, mas sob a graça, e consequentemente "não recebemos o espírito da servidão novamente para temer, mas recebemos o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba, Pai" (Rm. 8.15).

Nós não tememos a lei agora; seus piores trovões não podem nos atingir porque não são proferidos contra nós! Seus mais tremendos raios não podem nos tocar, porque estamos protegidos sob a cruz de Cristo, onde o trovão perde seu terror e o raio sua fúria. Agora lemos a lei de Deus com prazer; nós a vemos como na arca, coberta com o propiciatório, e não trovejando tempestuosamente como se procedesse do monte Sinai.

Feliz é o homem que conhece a completa redenção da escravidão à lei, de sua maldição, de sua penalidade e do seu terror. Meus irmãos, a vida de um judeu poderia ser considerada feliz se comparada à dos gentios, porém era a perfeita escravidão quando a comparamos com a sua vida e a minha. Ele estava cercado por centenas de mandamentos e proibições, suas formalidades e cerimônias eram muitas, e seus detalhes minuciosamente arranjados. Ele estava sempre em perigo de se tornar impuro. Se se sentasse numa cama ou num banco poderia se contaminar, se bebesse água de uma vasilha ou mesmo se tocasse as paredes de uma casa, onde antes um homem leproso tivesse também tocado, ele Ficaria contaminado.

Milhares de pecados por ignorância eram como muitas armadilhas preparadas em seu caminho; ele deveria viver perpetuamente temendo, se não quisesse ser cortado do povo de Deus. Quando ele fazia o melhor no seu dia-a-dia, sabia que ainda não terminara; nenhum judeu poderia considerar sua obra terminada. O novilho fora oferecido, mas ele deveria trazer outro; o cordeiro fora imolado pela manhã, mas outro deveria ser oferecido à tarde e outro amanhã, e ainda outro no dia seguinte. A Páscoa é celebrada com ritos sagrados, isto deveria se repetir da mesma maneira a cada ano. O sumo sacerdote havia entrado além do véu uma vez, mas deveria entrar lá novamente; a coisa nunca terminava, pelo contrário, estava sempre recomeçando. Ele nunca estava próximo de um fim. "A lei nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem". (Hb. 10.1).

Mas, vejamos nossa posição. Somos livres dessas coisas. Nossa lei está cumprida, pois Cristo é o fim da lei para a justiça; nosso cordeiro pascal foi imolado, pois Jesus morreu: nossa justiça está terminada, pois somos completos nEle; nossa vítima está morta, nosso sacerdote entrou além do véu, o sangue foi aspergido, estamos limpos e livres de qualquer contaminação, "Porque (Ele) aperfeiçoou para sempre os que são santificados" (Hb. 10.14). Valorize este precioso sangue, meus amados, porque foi assim que Ele os redimiu da escravidão e de cativeiro que a lei impôs sobre Seus seguidores [12].

Pense nisso!

Fonte:

1 – Pink, Arthur W. Os Sete Brados do Salvador na Cruz. Modo de Compatibilidade, Semeadores da Palavra e-books evangélicos, 2006: p. 3 a 5.
2 – Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 11.
3 - Stott, John R. W. A Cruz de Cristo. Ed. Vida, São Paulo, SP, 9ª impressão 2002: p. 51.
4 – Lopes, Hernandes Dias. Efésios, Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 48.
5 - Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 25.
6 – Lopes, Hernandes Dias. Romanos, o evangelho segundo Paulo. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 254.
7 – Stott, John R. W. Romanos. Ed. ABU, São Paulo, SP, 2007: p. 222.
8 - Lopes, Hernandes Dias. 2 Coríntios, O triunfo de um homem de Deus diante das dificuldades. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 134.
9 - Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 40.
10 – Ibid, p. 40,41.
11 - Stott, John R. W. A Cruz de Cristo. Ed. Vida, São Paulo, SP, 9ª impressão 2002: p. 72.
12 – Spurgeon, C. H. O Precioso Sangue de Cristo. http://www.ebooksgospel.com.br/, p. 7-10.